Paula Ferreira | Jornal de Notícias
| opinião
O direito à greve está consagrado
na lei laboral. Fazer greve é, cada vez mais, um ato de coragem. Como o prova,
sem qualquer subterfúgio, o mail enviado pela Ryanair aos funcionários que
paralisaram nos últimos dias 25 e 26 de julho. Além de perderem os prémios de
produtividade relativos a esse mês, a empresa deixa claro que eventuais
promoções na carreira desses trabalhadores estão postas de parte. Essas
benesses não são, obviamente, para quem se atreve a fazer greve.
Nada que outras empresas não
pratiquem, apenas se escusam a avisar de forma tão transparente os
trabalhadores. Este é apenas um episódio que vem mostrar, de forma inequívoca,
quão débil é a situação de quem trabalha, precário ou não. Afinal, hoje em dia,
bem vistas a coisas, somos todos precários, "redundantes".
Havia dúvidas? Se as havia, o
inquérito do Instituto Nacional de Estatística, divulgado na segunda-feira pelo
JN, dissipa-as. Os patrões - quase metade dos inquiridos, mais precisamente 47
por cento - consideram que despedir trabalhadores continua a ser fácil. Os
obstáculos aos despedimentos, afirmam, são muito reduzidos, ou até
inexistentes.
Michael O" Larry, da
Ryanair, sabe o que faz quando envia um mail aos grevistas a alertá-los do
risco de não serem promovidos ou verem rejeitados pedidos de transferência. Se
quiser, ele sabe, com grande facilidade substitui os grevistas por outros, de
preferência mais dóceis.
A troika já não anda por Portugal
e, aparentemente, no poder há um Governo de Esquerda. Todavia, pouco ou nada
mudou na legislação do trabalho, o setor que levou o mais rude golpe no período
de crise que vivemos. Bem pode António Costa, primeiro-ministro, vangloriar-se
da taxa de desemprego ter descido. É verdade, não à custa da melhoria da vida
das pessoas. Estamos num tempo em que o importante é ter emprego, já não
importa que emprego e em que condições. Salazar, o poderoso presidente do
Conselho, no Estado Novo, considerava a greve "um crime". Ainda não
recuamos tanto, mas é preciso ficar atento.
* Editora-executiva-adjunta
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