Em meio a manifestações de
extrema direita no leste do país, chanceler federal condena xenofobia e
violência contra minorias. No mesmo debate parlamentar, Martin Schulz acusa AfD
de recorrer a "meios do fascismo".
Os temas imigração e violência de
extrema direita dominaram um debate mais acalorado que o de costume no
Parlamento alemão nesta quarta-feira (12/09). Membros do partido populista
de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e de outras legendas trocaram farpas,
e a chanceler federal Angela Merkel se posicionou claramente contra a
xenofobia.
O debate, cujo tema principal era
o orçamento federal, ocorreu poucos dias após protestos convocados por
extremistas de direita no leste do país. Na
cidade de Chemnitz, manifestações foram motivadas pela morte de um alemão
de 35 anos numa briga. Três requerentes de refúgio são suspeitos do crime. Em
Köthen, foi realizada uma marcha
de luto pela morte de um homem após uma briga com imigrantes afegãos.
Merkel lamentou as mortes em
Chemnitz e em Köthen e afirmou que os responsáveis devem ser punidos. Ela disse
compreender que muitas pessoas estejam com raiva de supostos crimes cometidos
por imigrantes, mas condenou expressões nazistas e ataques a estrangeiros que
teriam ocorrido nos recentes protestos.
"Não há desculpa para uso de
violência e de palavras de ordem nazistas ou para atacar pessoas com aparência
diferente", disse a chanceler federal, ressaltando ser necessário haver um
consenso sobre valores básicos da sociedade alemã.
"Não vamos permitir que
grupos inteiros sejam clandestinamente excluídos da nossa sociedade. Judeus e
muçulmanos pertencem tanto quanto cristãos e ateus à nossa sociedade, a nossas
escolas, a nossos partidos, à nossa vida em sociedade", afirmou.
Antes de Merkel se pronunciar, a
AfD, o maior partido de oposição no Parlamento, abriu o debate, atacando a
chanceler federal e as recentes críticas feitas por seu governo à violência nos
protestos de extrema direita em Chemnitz
.
Alexander Gauland, copresidente
da AfD, afirmou que a maioria dos que participaram das manifestações na cidade
alemã era simplesmente de "cidadãos preocupados". Ele reconheceu
que alguns chegaram a fazer a saudação de Hitler durante os protestos – o que é
ilegal na Alemanha –, mas disse que se tratou de uma minoria.
"Não houve perseguição a
pessoas em Chemnitz", disse Gauland, negando alegações de que imigrantes
foram perseguidos durante as manifestações na cidade. "Quem coloca a paz
interna em nosso país em perigo? Nós não", afirmou em tom provocativo.
A fala de Gauland levou a uma
intervenção acalorada de Martin Schulz, ex-líder do Partido Social-Democrata
(SPD). Ele criticou o fato de o copresidente da AfD reduzir questões complexas
a um único tema, a imigração.
Schulz acusou a legenda populista
de direita de recorrer aos "meios do fascismo", afirmando que as
palavras e a estratégia de Gauland remetem aos tempos do nazismo.
"Os migrantes são culpados
por tudo. Já houve uma dicção semelhante neste Parlamento", disse
Schulz, em referência ao nazismo. "É hora de a democracia lutar contra
esse tipo de gente", afirmou.
Colegas social-democratas e
membros dos partidos Verde e A Esquerda levantaram-se para aplaudir o discurso
de Schulz.
Protestos da extrema direita
A AfD foi uma das organizações
envolvidas na recente série de manifestações em Chemnitz. Milhares
de apoiadores do partido e do Pegida (sigla em alemão para "Patriotas
europeus contra a islamização do Ocidente") saíram às ruas da cidade.
O fato de suspeitos pelo
crime serem estrangeiros acirrou os ânimos na cidade e teriam levado
extremistas a perseguirem e atacarem pessoas que aparentavam ser estrangeiras
durante os protestos, algo que foi questionado pelo presidente do
Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV, na sigla em alemão),
Hans-Georg Maassen.
Após os incidentes em Chemnitz,
ganhou força no país o debate sobre um possível monitoramento
pelas autoridades federais da AfD. Políticos defendem que partido populista
de direita deve ser vigiado por incitar violência e xenofobia.
Apenas duas semanas depois da
morte que motivou as manifestações em Chemnitz, um alemão de 22 anos foi morto em Köthen. Os dois
imigrantes afegãos envolvidos na briga que resultou na morte, de 18 e 20 anos,
foram detidos e estão sendo investigados. Um deles aguarda deportação, e o
outro obteve status de refugiado.
Após o crime, cerca de 2.500
pessoas participaram no último domingo de uma marcha de luto em Köthen. A marcha foi convocada
por conhecidos extremistas de direita, e vídeos mostram manifestantes entoando
cânticos e palavras de ordem nazistas, o que foi duramente criticado pelo
governo alemão.
Autoridades afirmaram que o jovem
de 22 anos não morreu em consequências de ferimentos causados durante a
briga, mas por insuficiência cardíaca aguda.
LPF/dpa/rtr | Deutsche Welle
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