Pequim acolhe esta segunda e
terça-feira o Fórum de Cooperação China-África. A terceira edição do FOCAC
junta dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano,
incluindo dos países de língua portuguesa.
Para o chefe da diplomacia
chinesa, Wand Yi, esta é a maior cimeira de
sempre, "uma manifestação de importância mundial que a China aguarda com
entusiasmo".
Há nove anos que o país é o
principal parceiro comercial de África. E os números são impressionantes:
segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as
trocas comerciais entre a China e o continente africano rondavam os 10 mil
milhões de dólares no ano 2000. Dezassete anos mais tarde, o número chega quase
aos 200 mil milhões. E, ao mesmo tempo, aumenta o investimento directo chinês
nos países africanos.
"A China tem sido muito
importante no âmbito do nosso novo programa de desenvolvimento", confirma
o ministro da Economia e Finanças da Libéria, Augustus Flomo. "A Libéria
precisa sobretudo de infraestruturas, de desenvolver a rede eléctrica, de
modernizar o sistema de saúde", especifica.
Em entrevista à emissora estatal
chinesa CGTN, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, sublinha que o Fórum
China-África significa grandes oportunidades: "Tem um enorme potencial
para beneficiar todos os envolvidos. É por isso que estamos muito empenhados em
criar uma parceria forte com a China nesta iniciativa."
Na mesma entrevista, Kenyatta
apela à abertura dos mercados entre a China e África, frisando que as políticas
proteccionistas terão um impacto negativo na vida dos africanos.
Chineses destruíram mercados
africanos
Mas se os produtos chineses
entram com facilidade no continente, o mesmo não se pode dizer dos produtos
africanos no mercado chinês, lembra o economista da Universidade de Leipzig
Robert Kappel.
"Na verdade, Uhuru Kenyatta
teria de criticar a China, que subsidiou exportações de empresas estatais e
multinacionais que destruíram os mercados africanos - com produtos baratos -
desde bicicletas a lanternas, velas e frigoríficos", sublinha o
especialista, lembrando ainda que o comércio livre com a China também
prejudicou a industrialização dos países africanos.
Robert Kappel alerta ainda para
a dependência
dos Estados africanos em relação à China, devido aos empréstimos concedidos
por Pequim para a realização de grandes projectos: "A China está a fazer
grandes empréstimos para projectos de infraestruturas como as linhas
ferroviárias Djibouti-Addis Abeba e entre Mombasa e Nairobi. Estas obras são
muito caras e os Estados têm de as pagar, os chineses não estão a dar
presentes". O problema, salienta, é que "muitos países africanos
estão a cair na armadilha da dívida."
Cooperação com os PALOP
O Fórum de Cooperação
China-África arranca com promessas de investimentos millionários de Pequim.
Angola, por exemplo, espera o culminar das negociações para uma nova
linha de crédito de 11 mil milhões de euros, para financiar vários
projetos, entre eles, o novo aeroporto internacional de Luanda.
Em Pequim, onde a cooperação
bilateral centrou o encontro que o Presidente de Angola, João Lourenço, manteve
este domingo (02.09), com o homólogo da China, Xi Jiping, na véspera do III
Fórum de Cooperação China-África. Segundo a agência noticiosa angolana Angop,
que não adianta mais pormenores, o encontro decorreu no Palácio do Povo.
Entidades de Moçambique e da
China já assinaram em Pequim oito memorandos de entendimento, nas áreas das
infraestruturas, indústria, telecomunicações, agricultura e serviços
financeiros, durante um fórum de negócios inaugurado pelo Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi. A construção de uma estrada entre a província do
Niassa e a Tanzânia e parques industriais em Boane e Marracuene, na província
de Maputo, são alguns dos projectos previstos nos memorandos.
São Tomé e Príncipe estreia-se
nesta cimeira, juntamente com o Burkina Faso e a Gâmbia, que elevam assim para
53 o número de nações africanas com relações com a China. O primeiro-ministro
são-tomense, Patrice Trovoada, leva na bagagem um projeto para a construção de
300 apartamentos para funcionários públicos e espera conseguir investimento chinês.
António Cascais, mjp, Agência Lusa
| em Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário