Várias pessoas têm sido
perseguidas e espancadas alegadamente por seguranças da Kenmare, que
explora areias pesadas na província de Nampula, segundo a ONG Solidariedade
Moçambique. A multinacional nega as acusações.
A Solidariedade Moçambique está
preocupada com o recrudescimento das violações dos direitos humanos em Topuito,
no recém-criado distrito de Larde, província nortenha de Nampula. Segundo a
organização, tem havido perseguição e espancamento de cidadãos na região por
parte de seguranças da Kenmare, que controlam a exploração clandestina de
minerais.
E já há mortes entre a população,
afirma António Mutoa, diretor-executivo da organização que opera no norte de
Moçambique: ''Trabalhamos com o Governo e as empresas para ver até que ponto os
direitos humanos têm sido acautelados na exploração dos recursos
minerais."
E Mutoa revela:
"Infelizmente, há dois meses, em Topuito fomos surpreendidos com o
baleamento mortal de duas pessoas daquela comunidade e isso nos constrangeu
bastante. Na comunicação que tivemos com a própria empresa [para saber as
causas] é que soubemos que membros das Forças Armadas estavam em patrulha na
mineração''.
ONG indignada
O diretor questiona por que
motivo uma empresa privada é guarnecida pelas Forças de Defesa do país,
violando igualmente as convenções internacionais. E assegura que já pediu
a intervenção urgente das entidades competentes para pôr fim à violência.
''Nós falamos com a Comissão
Nacional dos Direitos Humanos e falamos também com a quinta comissão da
Assembleia da República, porque nós estamos indignados. Esperávamos que a
exploração de recursos minerais não fosse uma maldição, porque até este ponto
para nós é complicado'', lamentou.
A Kenmare nega as alegadas
perseguições e os espancamentos, mas admite uma morte na região. No entanto,
diz que os seguranças da empresa não são responsáveis pelo que aconteceu.
Regina Macuacua é a responsável
pela área social da mineradora, que explora areias pesadas no distrito há
cerca de dez anos: "Nós não espancamos ninguém na comunidade, é uma
pura mentira. Tivemos incidentes, sim, de segurança que foram devidamente
comunicados e foram envolvidas as próprias comunidades e a Polícia, mas não há
nenhum espancamento. Infelizmente, não sabemos onde é a que a Solidariedade foi
buscar essas informações."
Mas Macuacua reconhece que
"houve sim, infelizmente, um incidente em que foi baleada uma pessoa pelos
militares e é um assunto conhecido e outro cidadão faleceu a fugir, estava a
roubar combustível''.
Há mesmo militares a fazerem
patrulha
Mas há, de facto, militares a
patrulhar as áreas de exploração da mineradora? Foi o que a DW África perguntou
à responsável dos assuntos sociais da multinacional Kenmare.
''Temos seguranças nossos que são
contratados na própria comunidade e que não têm sequer armas, os militares
estão lá, não guarnecem as instalações da empresa, eles estão lá na base de um
acordo assinado com a empresa [e o Ministério da Defesa Nacional] por causa dos
problemas de pirataria que houve e, por isso, o Ministério da Defesa deslocou
alguns dos seus efetivos justamente para olhar por estas questões'', conta
Macuacua.
Por seu turno, Zacarias Nacute,
porta-voz da Polícia, assume que "a Polícia da República de Moçambique a
nível da província de Nampula já teve conhecimento da ocorrência de alguns
casos de homicídio naquela região. No entanto é prematuro avançar que
sejam casos perpetrados pela segurança da empresa Kenmare, mas a Polícia já
está a investigar o caso e temos agentes a trabalhar no mesmo e assim que
tivermos os resultados havemos de solicitar aos órgãos de comunicação socia
para o devido esclarecimento''.
Sitoi Lutxeque (Nampula) |
Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário