Simão Hossi conta como foi
agredido, humilhado e expulso de estabelecimento na Ilha de Luanda. Ao invés de
desculpar-se, "Café Del Mar" justifica o ato. Ativista ouvido pela DW
África exige encerramento do restaurante.
O episódio registou-se no domingo
(26.08), quando a alegada vítima e um grupo de colegas escolheram o restaurante
"Café Del Mar", na Ilha de Luanda, uma das zonas mais turísticas da
capital angolana, para um encontro. O objetivo era despedirem-se de um amigo
norte-americano, em fim de missão de serviço em Angola.
O ativista cívico e fotógrafo
angolano Simão Hossi Sajamba explicou à Rádio Despertar, na noite desta
segunda-feira (03.09), que foi interpelado pelo corpo de segurança quando
regressava do banheiro.
"Transportaram-me até o
exterior do restaurante e um deles deu-me algumas bofetadas. Para além de
proferir aquelas palavras como “estás a ficar maluco, aquele não é lugar para
mim, que eu não tenho juízo," descreveu a vítima.
Racismo, "ato
deplorável"
A situação está a gerar polémica
na sociedade angolana e está a ser entendida como um ato racista. O ativista
Jeremias Benedito, do conhecido "caso 15+2", é um dos amigos de Hossi
Sajamba que também estava presente no restaurante.
"Aquilo foi um ato
deplorável, indignante e de falta de respeito para com o ser humano. Não se
pode permitir que no nosso país haja indivíduos, estabelecimentos e
instituições que pratiquem racismo," critica.
O restaurante "Café Del
Mar" veio a público justificar o sucedido, sem se desculpar. Num
comunicado, o estabelecimento afirma que o ativista e fotógrafo angolano estava
"mal apresentado". Ou seja, "sujo".
Entretanto, o caso já é do
conhecimento das autoridades angolanas. Nesta segunda-feira (03.09), a suposta
vítima que diz tencionar intentar uma ação judicial contra os agressores, já
recebeu da polícia a cópia do processo.
Jeremias Benedito não acredita
que os implicados venham a ser responsabilizados. Mas pede das autoridades o
encerramento do restaurante.
"O racista tem rosto e voz em Angola. O racista sabe
que aqui a justiça não funciona. Racismo é o maior perigo à humanidade. Racismo
enterra milhões e milhares de pessoas em todo mundo," avalia.
Reflexão necessária
Ainda é tabu falar sobre
racismo em Angola apesar de ser uma realidade visível. Rappers como MCK e
Yanick Afroman já abordam o assunto nos seus temas.
Na música "Realista",
Afroman descreve como vê a situação. "Há sítios em que negro é barrado,
mesmo bem apresentado. Mas o branco pode entrar de chinelo,
calção," canta o rapper.
Mas, uma ampla reflexão sobre o
racismo em Angola tarda acontecer, segundo Jeremias Benedito.
"Nós não estamos contra quem
quer que seja que venha para o nosso país investir e conviver connosco - de
forma harmoniosa, respeitando as regras estabelecidas e também as pessoas tal
como são. No entanto, situações do género remetem-nos à seguinte reflexão: Quem
é que está a sustentar o racismo em Angola? Qual é a sua origem? De onde
parte?" questiona o ativista.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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