Operadora Angola Cables defende
mais digitalização e eficiência para fazer baixar os custos para o consumidor.
É preciso mudanças e mais investimento na educação para elevar a taxa de acesso
às novas tecnologias.
A inclusão digital em Angola
ainda é uma miragem, apesar da cotação que o país detém em África. Os
preços de acesso à internet em Angola não são acessíveis. Atualmente, na rede
móvel, o custo de 100 megabytes (MB) é de cerca de 1,60 dólares americanos (o
equivalente a cerca de 0,016 dólares por megabyte). Confrontado pela DW África
com estes dados, António Nunes, administrador da operadora de telecomunicações
Angola Cables, reconhece que os tarifários ainda são caros, comparado com os
preços praticados no mercado internacional.
"Hoje não. Mas eu
perguntaria o que é que é hoje acessível? Um dos grandes dilemas que nós temos
em África na sua generalidade é que o preço da internet continua muito alto.
Não é uma questão só de Angola especificamente", afirma.
Ainda são preços proibitivos,
admite, recordando que os africanos pagam duas vezes mais os serviços de acesso
aos conteúdos através da Europa. "O facto de termos alguns países que
ainda bloqueiam a entrada de players (operadores) no mercado faz com
que o valor dos serviços seja mais alto", explica.
Baixar as tarifas aplicadas no
mercado
E será possível baixar os custos
no acesso a dados ou à informação digital? "Possível é sempre. Uma das
ideias e uma das propostas de valor que estamos a realizar é, efetivamente, ao
podermos trazer esta internet para África e ela ser algo que nós possamos
entregar aos mercados africanos com maior eficiência. Passando a ser mais
local, nós conseguimos reduzir o preço do custo da internet",
responde António Nunes.
É por esta razão que a operadora
angolana, há nove anos no mercado, está a investir em infraestruturas
internacionais, com o objetivo de otimizar o valor do custo. "Por exemplo,
desde que a Angola Cables entrou no mercado, os custos da transmissão
internacional baixaram mais de 100%. Portanto, temos vindo a trazer valor para
o mercado",destaca.
Por outro lado, ainda de acordo
com o administrador da Angola Cables, quanto maior for o número de operadores
mais eficiente será o processo de redução dos preços ao consumidor. "O que
temos que fazer é conseguir por um lado arquivar o conteúdo em África – e esta
é uma das razões pelas quais nós estamos a desenvolver data centers - e, por
outro lado, como estamos a consumir este produto em África maioritariamente,
pagarmos em África e não termos que transportar este mesmo conteúdo da Europa
até aqui", explica Nunes.
"Só estes fatores
diferenciadores fazem com que o preço do custo da internet desça
significativamente. Portanto, isso traz valor para o mercado e traz uma
diminuição brusca da utilização deste tipo de produto", explica.
"Esta é uma das propostas de valor que nós queremos trazer para
Angola", precisa.
Inclusão digital em marcha
Angola está a passar por uma
crise profunda devido à dependência do petróleo, com efeitos no plano social.
No entanto, reconhece que a inclusão digital no país é um desiderato entre as
prioridades do Estado angolano, com o envolvimento de parceiros tecnológicos
como a Angola Cables.
Além disso, António Nunes
considera que, apostando na recuperação da economia, também é necessário
investir mais na educação da população. "Um dos fatores fundamentais é
ensinar a população", sublinha. "Sem dúvida nenhuma que a digitalização
de todo este processo é uma forma de nós conseguirmos acelerar a inclusão desta
população. Através dos sistemas de informação e da internet, podemos capacitar
as populações de uma forma muito mais acelerada."
Foram já construídas várias
infraestruturas de telecomunicações e o país já dispõe de mais de 15 mil
quilómetros de fibra instalada, o que vai permitir o acesso à informação pela
população de forma mais acelerada em comparação com o processo tradicional.
Angola como centro de
conetividade de África
O gestor da multinacional
angolana, formado na Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, foi um dos
oradores, esta quarta-feira (24.10), no Portugal Digital Summit, num painel que
apresentou projetos destinados a acelerar a inovação com tecnologias digitais
avançadas. Nunes deu a conhecer operações e investimentos em curso de
instalação de cabos de fibra ótica de alta velocidade, o que poderá transformar
Angola no centro da conectividade entre África, o Ocidente e o Oriente.
"O facto de colocarmos
Angola dentro da arena com estas infraestruturas, teremos que ter benefícios
relativamente a isso, porque estamos dentro do processo. Até agora já
investimos cerca de meio bilião de dólares em cabos submarinos. Por isso, nesta
fase, é uma fase de recuperação do investimento feito. Mas estamos atentos
àquilo que venha a ser a próxima evolução dentro deste tipo de
infraestruturas", diz.
Com a ligação Sul-Sul, entre
África e a América Latina, a Angola Cables passou a alimentar os data centers
do continente africano através do Brasil ou da Europa. Alexandre Fonseca,
presidente da Associação da Economia Digital de Portugal (ACEPI), sustenta que
o desenvolvimento do digital terá impactos no crescimento da economia africana,
em particular dos países lusófonos.
"Quanto melhor for a infraestrutura
que liga África à América Latina e à Europa, mais rápido e melhor se fará o
desenvolvimento destes países. E essa é uma das grandes oportunidades, até na
perspetiva de acesso à informação, e pela importância da democracia",
conclui.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
Foto: Portugal Digital Summit
apresentou projetos destinados a acelerar a inovação com tecnologias digitais
avançadas
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