quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Guernica, guerra psicológica e “guerras civis”


Martinho Júnior | Luanda 

Ao invés de multiplicar a educação, a saúde, o pão, a casa, a sustentabilidade e a longevidade feliz da vida, os bárbaros multiplicaram Guernica, transpondo-a para todas as áreas de domínio psicológico humano e mantendo o homem refém do mais tenebroso obscurantismo medieval como refém da pesada droga ideológica reitora da alienação formatada globalmente nas mentalidades agora tão intensa e tão profusamente bombardeadas!...

Lentamente, passo a passo e de modo cada vez mais reforçado, os bárbaros estão a descaracterizar ingloriamente, sem remissão e sem alternativa saudável, o planeta bonito e azul que é a Terra, nossa casa-comum e nosso ambiente natural finalmente preso ao abismo de o deixar de ser! 

1- Desde o início da Revolução Industrial enquanto motor de capitalismo e império, que os interesses dominantes mantêm inerentemente à sua essência, com toda a “naturalidade” do termo, a necessidade de guerra psicológica para com os dominados, por que a expressão pública desse domínio, visando a psique dos dominados, não podia existir de outro modo…

Para dominar, a guerra psicológica esteve sempre presente, por que para defender interesses e impô-los sobre os outros, necessário se torna “dourar a pílula”, influindo, persuadindo, manipulando, pressionando, subvertendo ou até mentindo, pelo que quem domina só emprega a força militar quando ela é estritamente necessário e até lá há um imenso leque de acções “representativas” a coberto de correntes dóceis disponíveis com o rótulo mais ou menos (tornado) “atraente” sob a pílula liberal, neoliberal, trotsquista, social-democrata, cristã-democrata, “revolucionária” (segundo o “colorido” do“filantropo global” George Soros), ou “primaveril” (segundo os apaniguados que bebem dos fundamentalismos sunitas-wahabitas) e até neo-fascista, ou neo-nazi, tal o universo de caos que se foi instalando e inculcando na mente das nações e de amplos sectores das contemporâneas sociedades, impotentes face à barbárie.

O “soft power” das potências capitalistas e do imp+ério da hegemonia unipolar, assenta nessa base de forma mais ampla possível, nas vias de relacionamento cultural, por que também assim se torna mais fácil aos “mass media” como às religiões instrumentalizadas de sua conveniência, ao seu “4º poder”, passar as tão necessárias mensagens públicas, aproveitando para em função desse tipo de “correntes dominantes” vincular uma parte substancial da actividade tentacular dos seus serviços de inteligência.

Assim, ao “desnudar” a actividade de quem domina por dentro do capitalismo e do império, obtém-se uma radiografia do estado da globalização e de suas instrumentais “tendências” que não param de afectar o planeta e toda a humanidade, até ao mais obscuro rincão terráqueo, uma barbárie devassa sem precedentes, na agora (finalmente) tornada “aldeia global”!

Com essa radiografia, mais agora com a nova Revolução Tecnológica, os serviços de inteligência aumentaram nos termos de suas capacidades e potencialidades, os seus “jogos operativos”, transferindo para o campo da “guerra cibernética” parte do espectro e dos níveis do domínio e da confrontação.

2- A guerra psicológica enquanto conceito inerente ao próprio domínio, é por tabela inerente à infraestrutura tecnológica do seu poder, como também inerente à superestrutura doutrinária, filosófica e ideológica, em função da necessidade de sua expressão, cujas correntes se transmitem instrumentalizando a própria globalização.

A definição do tipo de tensões, conflitos, rebeliões e guerras, passou a ser feita obedecendo aos pressupostos do domínio capitalista e do seu império cuja tendência essencial se tornou hegemónica e unipolar a partir do momento em que soçobrou o campo coberto pelo esforço vocacionado para o socialismo, que não foi capaz de competir ao seu nível e minguou, mas já antes, desde os alvores da Revolução Industrial que o termo “guerra civil” correspondia à manipulação de conveniência.

Na “guerra civil” de Espanha, entre as duas Grandes Guerras Mundiais, os poderes dominantes em competição experimentaram em uníssono essa definição tão conveniente, aproveitando o facto da luta armada acontecer em território espanhol, a fim de esconder os instrumentos de domínio empregues, desde os que se distenderam em função de conceitos doutrinários, filosóficos e ideológicos, até aos interesses económicos, financeiros, tecnológicos, de inteligência e, por fim, militares.

Em território espanhol foram assim testadas novas tecnologias e novos conceitos económicos, financeiros, de inteligência e militares, um deles tão essencialmente imortalizado por Pablo Picasso: Guernica.

Em Guernica os fascistas e os nazis inauguraram pela primeira vez o bombardeamento aéreo de comunidades civis, um facto que inspirou uma nova aquisição das potencialidades da guerra psicológica tão bem aproveitada em nossos dias, quando um Nobel da Paz, como o Presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama se tornou autor moral dos bombardeamentos com drones, que entre suas vítimas aumentaram exponencialmente a morte e o ferimento de civis, sob o rótulo apassivante de “danos colaterais”!

Quando ninguém mais consegue parar o tráfico e o consumo de droga que se distendem desde um Afeganistão habilitado à heroína e uma Colômbia habilitada à cocaína, o próprio conceito de guerra psicológica, por tabela de“guerra civil”, torna-se policromática, primaveral e… psicadélica!

Desde Guernica que a guerra psicológica se tornou cada vez maus cínica, hipócrita e ao mesmo tempo surrealista, tal qual quanto à carga de cinismo, de hipocrisia e de vassalagem que é inerente a um dos instrumentos militares e de inteligência tornados dilectos enquanto exercício do domínio do império da hegemonia unipolar: a NATO!

Não é por acaso que a NATO tem tão férteis fronteiras no Afeganistão e na Colômbia!

3- Todas as tensões, conflitos, rebeliões e guerras incrementadas após o colapso do campo socialista que se reduziu ao farol heróico de Cuba e à expressão socialista e bolivariana da Venezuela, absorveram os conceitos de guerra psicológica inerentes ao capitalismo e ao império, “expandindo o sinal” desde 1991, com a expansão globalizadora das novas tecnologias, elas mesmo sustentadas pelos procedimentos capitalistas financeiros transnacionais e suas imensas capacidades “transversais” ao serviço da hegemonia e do império!

As tensões, os conflitos, as rebeliões e as guerras em África trazem em si o sinal dessa barbaridade cultural e foi assim no Ruanda, no Congo, em Angola, na Líbia, na Somália, no Quénia, na Líbia… em todo o tipo de fronteiras onde as disputas pela sobrevivência se foram agarrando ao espaço vital e à água interior, com todas as riquezas disponíveis e à mercê do mais forte, nas regiões mais suculentas e mais férteis do continente!

Também foi assim nos Balcãs, onde ao domínio foi necessário neutralizar qualquer potencialidade de resistência na Jugoslávia, ou no Oriente Médio Alargado: a “guerra civil” foi estalando de cogumelo em cogumelo, passando por osmose para o Cáucaso, para a Europa do Leste, para dentro da imensa Rússia e muitos dos seus exemplos estalaram artificiosamente em função de rebeliões com enormes cargas psicológicas “fundamentalistas” e “radicais” como as“revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”.

A substância da IIIª Guerra Mundial em curso nutre-se dessa guerra psicológica manipuladora e como um expansivo vírus invasor da psique individual e colectiva, produz até a carga essencial do conceito difundido, como mentira repetida mil vezes que o domínio procura passar como verdade, de “guerra civil”!

O termo “guerra civil” tem sido utilizado pelo domínio capitalista como um poderoso conceito-droga, para realmente esconder os interesses, as conveniências, as ingerências, as manipulações, as implicações e a subversão inerentes à guerra psicológica movida pelo poder hegemónico unipolar no seu estertor, sobretudo desde 1991 quando as novas tecnologias colocaram à disposição das correntes capitalistas financeiras transnacionais potencialidades cibernéticas para o exercício do seu poder fundamentalista, radical e transversal!...

Em pleno século XXI, o bombardeamento sobre Guernica foi multiplicado e distendido à maioria das áreas essenciais dos processos de domínio hegemónico e unipolar manipuladores da globalização!

Por que a maior parte dos alvos das guerras psicológicas contemporâneas são território nacionais,ou culturas milenares com expressão em nações intyeiras e com vista a subverte-las e aos estados mais débeis, o termo “guerra civil” é utilizado por uma panóplia de historiadores incapaz de ganhar a consciência crítica que vença a mentalidade que lhes foi formatada em relação ao termo, prestando eles próprios, dessa maneira, um serviço “útil”, dócil e grátis a quem domina recorrendo aos procedimentos culturais, sociais e psicológicos do império da hegemonia unipolar… voluntariamente eles tornam-se assim vectores existenciais da guerra psicológica de 1% sobre o resto da humanidade!

Bárbaro planeta o nosso, quando são tão débeis os poderes capazes de civilização, mas essa é, quer queiram os conscientes, os humanistas e todos aqueles que se regem pela lógica com sentido de vida, quer não, os parâmetros balizadores da imensa batalha de ideias que se está a travar!

Percebe-se assim a máxima “A LUTA CONTINUA”!

Martinho Júnior - Luanda, 21 de Outubro de 2018

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