quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Cinema, bombas e Cavaco


Bom dia à tarde porque já é uma hora da dita. Hora do almoço para os que almoçam, que são cada vez menos.

Cinema, bombas e Cavaco (Silva). O i o ai, é esse o título que emprestámos mas que não vamos “explorar”. É adiantada a hora e vamos deixar correr o marfim da escrita no Curto pela Cristina Figueiredo, senhora do burgo Balsemão. Que andam a enviar "encomendas estranhas" lá pelos EUA, com explosivos. Bombas. Tem sido uma remessa catita com destino a actores, políticos, gentes da Justiça... Epá, muitos foram os destinatários! Tantos mas não o Zé da Esquina. A pátria dos ianques anda agitada mas não sabemos de encomendas que tivessem explodido e vitimado destinatários. Obama, Casa Branca, Clinton... Golpada, ou era mesmo a sério? Não digam que os "cérebros" apoiantes de Trump não eram capazes de fazer uma daquelas de gastar em barda nos correios dos EUA e despachar as encomendas. Só que a do Trump continha barro ou plasticina para brincar em vez de C4 do bum! Pois. Do Trump é de esperar tudo, até dizem (as que viram) que ele tem três testículos. Pois e adiante.

Fiquemos por aqui e com a careta tão original de Cavaco que data de há uns tantos anos. E não diga que é uma cara de parvo porque de parvo é que o sujeito não tem nada. Parvos e outras coisas foram os que nele votaram massivamente de modo a o manter nos poderes durante cerca de duas décadas.  Lixámo-nos. Pois, está bem, sabemos que o fenómeno deve-se ao "sindroma de méééééé"...

Avante. Amanhã há mais. Adeus e até ao nosso regresso. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Os ódios que os consomem

Cristina Figueiredo | Expresso

Começo este Curto com uma informação útil que, fosse este um dia normal, apareceria apenas no final da newsletter: a oitava temporada de Homeland ("Segurança Nacional") só estreia em junho de 2019. Quem é fã da série norte-americana, que eleva as teorias da conspiração a níveis nunca antes imaginados, perceberá porque me lembrei dela ontem, à medida que se ia sabendo que, depois do casal Clinton, ainda na terça-feira, também o casal Obama, a sede da CNN em Nova Iorque, o antigo procurador-geral Eric Holder e as congressistas Debbie Wasserman Schultz e Maxine Waters - todos alvos recorrentes das críticas de Donald Trump e dos seus apoiantes - receberam ameaças de bomba, sob a forma de pacotes contendo explosivos enviados pelo correio.

Nenhuma das "encomendas" chegou aos destinatários: foram interceptadas a tempo pelo FBI. Mas rapidamente se percebeu que eram semelhantes à bomba artesanal (ainda não há certeza se construídas apenas para parecerem explosivas, sem o serem efetivamente) que, essa sim, chegara mesmo à caixa de correio do multimilionário George Soros (um apoiante de longa data da causa Democrata) na segunda-feira. A New Yorker defende a tese que "se estas bombas foram, de facto, enviadas pela mesma pessoa ou grupo, a inclusão de Soros [que não é assim tão conhecido] na lista sugere que o remetente (...) tem estado atento." E explica: "Recentemente, Donald Trump responsabilizou Soros pelos protestos contra a nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal. O senador Chuck Grassley, do Iowa, presidente do Comité Judicial do Senado, quando perguntado se acreditava que Soros estava a pagar aos manifestantes, disse "inclino-me a acreditar que sim". E ainda na semana passada o deputado Matt Gaetz, da Florida, culpou Soros pela caravana de migrantes que vem da América Central para os EUA pela fronteira mexicana."

O filho de Soros, Alexander, tem pelo menos duas certezas: seja de quem for a responsabilidade direta pelo envio das bombas, estas "não podem ser dissociadas do novo normal dessa praga atual que é a demonização política" e representam "uma ameaça não apenas para as pessoas, mas para o próprio futuro da democracia americana", escreve num artigo publicado no New York Times e em cujo título ("The hate that is consumming us") me inspirei para intitular este Curto.

Claro que o Presidente norte-americano e os principais líderes Republicanos se apressaram a condenar o sucedido e a decretar tolerância zero para com "atos de violência política de qualquer género". Não tanto por que é politicamente correto (olha quem!) fazê-lo. Mas sobretudo porque tudo isto ocorre em plena campanha para as "mid-term elections", a 6 de novembro - em que estão em causa os 435 lugares do Congresso e 35 dos 100 do Senado, sendo que o equilíbrio nas duas câmaras resultante deste ato eleitoral é fundamental para a reeleição (ou não) de Trump nas presidenciais de 2020.

Podia muito bem ser apenas o (imaginativo) trailer da nova temporada de Homeland. Mas, num fenómeno que começa preocupantemente a banalizar-se, há momentos em que a realidade supera a ficção. E este foi mais um.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

Continuam as ondas de choque do segundo volume das memórias do antigo Presidente da República Cavaco Silva, que se começou a conhecer na segunda-feira e ontem foi apresentado (por Leonor Beleza) na fundação Gulbenkian. Na plateia destacou-se a presença de Pedro Passos Coelho, também ele a escrever as suas memórias, e vários outros sociais-democratas afetos ao antecessor de Rui Rio. António Costa, em visita ao Porto, perguntado se já tinha lido o livro onde é descrito como "um hábil profissional da política de pendor taticista, um artista da arte de nunca dizer não", comentou... não comentando. E não foi meigo nesse 'não-comentário', secundando (ainda que com maior subtileza) o presidente do PS, Carlos César - que, na véspera, acusara Cavaco de "delação" e "falta de sentido de Estado". Sobre isto escreve Henrique Monteiro, na sua coluna de opinião na última edição do Expresso Diário. Se a continuação do 'folhetim' lhe interessa, não perca a entrevista que Cavaco vai dar à SIC na próxima sexta-feira, durante o Jornal da Noite conduzido por Clara de Sousa.

Com a saída de Azeredo Lopes do ministério da Defesa e a demissão do Chefe de Estado Maior do Exército o chinfrim sobre o caso Tancos diminuiu substancialmente mas a controvérsia não desapareceu. Ontem, o Parlamento discutiu a proposta do CDS para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ao roubo (e posterior devolução) das armas do paiol de Tancos no início do verão de 2017. Apesar das reservas de alguns, nenhum partido se vai opor à iniciativa, que será votada amanhã. Ontem ainda ficou a saber-se que o antigo chefe de gabinete de Azeredo Lopes, o tenente-general Martins Pereira, que foi ao DCIAP prestar declarações no âmbito do inquérito, não foi constituído arguido. Mas hoje o Público e o Correio da Manhãfazem manchete com o que o antigo responsável contou aos investigadores: que assim que recebeu o memorando que denunciava a operação de encobrimento na devolução das armas informara ministro. Uma "confissão" que, a saber-se antes, teria imediatamente feito cair o governante... não fosse este ter percebido há duas semanas que era melhor mesmo sair pelo próprio pé.

Amanhã há greve da função pública. Mas já hoje os guardas prisionais prosseguem o quarto dia de greve e as forças policiais também se manifestam no Terreiro do Paço. Assunção Cristas (que dá uma extensa entrevista ao Público e à Rádio Renascença), que já reuniu com os sindicatos da polícia diz compreender os protestos: "Há promessas que foram feitas pelo Governo que não são cumpridas". Aqui fica a saber o que uns pedem e o que outros já deram.

O Presidente da República convocou para dia 7 de novembro uma reunião do Conselho de Estado. Ponto único na agenda: o Brexit. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, está convidado.

É dia de Liga Europa, O Sporting recebe o Arsenal, às 17h55, e o jogo vai ser transmitido pela SIC. Ontem, na Champions, o FC Porto foi até Moscovo para vencer por 3-1 o Lokomotiv e, assim, ficar isolado na liderança do grupo D e mais próximo dos oitavos de final. O feito faz o pleno das primeiras páginas dos desportivos. A Tribuna conta-lhe como foi.

...E LÁ FORA

Contagem decrescente para as presidenciais no Brasil. O antigo presidente Lula da Silva escreveu, a partir da prisão, uma carta em que apela ao voto em Haddad: "Não podemos deixar que o desespero leve o Brasil na direção de uma aventura fascista", argumenta. Numa entrevista ao Diário de Notícias, o comediante Gregório Duvivier (da "Porta dos Fundos") admite que o receio pela vida o pode levar a sair do Brasil caso Jair Bolsonaro vença as eleições. Noutra entrevista, o empresário Luciano Hang, um dos envolvidos no escândalo das notícias falsas difundidas pelo Whatsapp para prejudicar o candidato do PT, explica ao Expressoporque apoia Bolsonaro: "É necessário por ordem no país". Já o Diário de Notícias conta-lhe por que é que o Rio de Janeiro está em vias de se tornar "a cidade mais à direita do mundo". O eurodeputado socialista Francisco Assis, que está no Brasil a acompanhar a campanha eleitoral, volta ao tema no seu artigo semanal no Público para afirmar que a escolha em quem votar é clara e simples: "De um lado, um democrata de provas dadas; do outro, um antidemocrata de convicções assumidas."

Ainda o assassínio do jornalista saudita Jamal Kashoggi, dentro do consulado do seu país em Istambul. Donald Trump admitiu o envolvimento do príncipe saudita, Mohammed bin Salman, no violento homicídio: se há alguém que possa ter estado envolvido "é ele", disse o Presidente dos EUA ao Wall Street Journal. Já no Reino Unido, o Governo de Theresa May está a ser acusado de cumplicidade com a "ditadura assassina" do regime saudita. "Shame on us", escreve-se no The Guardian. Se quer tentar perceber a importância deste caso, a revista norte-americana The Atlantic sistematiza-lhe (quase) toda a informação essencial aqui.

Pedro Sanchez e Pablo Casado estão de candeias às avessas. Ontem o Parlamento espanhol reuniu-se para discutir o último Conselho Europeu mas a crise na Catalunha acabou por dominar o debate, com o líder do PP, a acusar o chefe do Governo de ser "parte ativa e responsável no golpe de Estado que se está a perpetrar no país"; Sanchez não gostou: "Se não retira a acusação de que sou um golpista, o senhor e eu não temos nunca mais nada sobre que falar”. Até a esta hora não havia notícia de reatamento das relações.

Preocupação para os investidores: as bolsas continuam em queda. O Eco explica-lhe aqui porquê. Se preferir uma visão geograficamente mais próxima de Wall Street, tem a do New York Times (com um impressionante gráfico a mostrar as perdas abruptas dos últimos dias) aqui.
Na Argentina, a austeridade contida nas medidas do Orçamento do Estado para 2019 está a fazer crescer a violência nas ruas. Ontem pelo menos 26 pessoas foram detidas na sequência de confrontos entre polícia e manifestantes, em frente ao Parlamento em Buenos Aires.

AS MANCHETES
DOS JORNAIS E REVISTAS

"Autarca de Viseu investigado por ligações a corrupção no turismo" (Jornal de Notícias)
"Ex-chefe de gabinete diz que informou Azeredo da encenação" (Público)
"Socialistas furiosos com livro de Cavaco" (i)
"Como o Rio de Janeiro se pode tornar a cidade mais à direita do mundo " (Diário de Notícias - versão digital)
"Azeredo sabia da farsa de Tancos" (Correio da Manhã)
"Bónus para emigrantes pode violar Constituição" (Jornal de Negócios)
"Sítios mágicos para caminhadas de outono" (Visão)
"Vinte escapadas de outono" (Sábado)
"Locomotiva azul" (A Bola)
"Embalados" (Record)
"Dragão em fuga" (O Jogo)

O QUE ANDO A LER

O que havia de ser?! "Quinta-feira e outros dias - da coligação à geringonça", pois claro. Confesso ter as maiores dúvidas sobre se um ex-Presidente da República deveria revelar, e ainda para mais nos termos adjetivados em que Cavaco Silva o faz, o conteúdo de conversas que manteve na "intimidade" do seu gabinete, quando passou tão pouco tempo sobre os acontecimentos relatados e tantos daqueles que são referidos no livro ainda são protagonistas ativos da vida do país. Mas, reservas à parte, impossível para quem gosta de política não ler com apetite o relato do que se passou durante os anos de Governo de Passos Coelho, dos embates com o Tribunal Constitucional à crise precipitada pelo "irrevogável" de Paulo Portas, da tentativa falhada de um acordo de salvação nacional entre a coligação e o PS de António José Seguro ao "parto" (a expressão é do autor) da "geringonça". Há momentos no livro que resultam em puro "voyeurismo": somos convidados a ser "moscas", a estar lá. Até podemos corar um bocadinho de vergonha mas o regozijo, não há como não assumir, é inegável.

Outra leitura, esta mais ligeira: "Penas de Pato" (nas livrarias há cerca de um mês) colige algumas das crónicas quinzenais de Miguel Araújo na Visão. Lê-se... de uma penada. O compositor e cantor tem um talento ímpar para lidar com as palavras, o que já é bem visível nas letras das suas canções, e aqui se revela em prosas despretensiosas mas só aparentemente singelas. Uma das minhas preferidas chama-se "Deus" (está na página 72).

E por aqui me fico. Neste dia, há precisamente 100 anos, morria, com apenas 30, o genial Amadeo de Souza Cardoso. E, há 137, nascia Pablo Picasso. Curiosamente, lembra o Diário de Notícias, Amadeo não gostava de Picasso (artigo para assinantes). Dizia o pintor andaluz haver pessoas que transformam o sol numa mancha amarela e outras que transformam uma mancha amarela no sol. Ora aqui está uma perspetiva interessante para observar a humanidade nesta quinta-feira... e (n)outros dias.

Sem comentários:

Mais lidas da semana