Martinho Júnior | Luanda
1- Faz 20 anos que em Angola e na
República Democrática do Congo, sob impulso do choque neoliberal, as batalhas
se sucediam em frentes relativamente voláteis com a definição dos campos de
manobra:
Angola havia-se tornado aliada da
RDC sob a Presidência de Laurent Kabila, no seguimento da tomada do poder pela
força do mais antigo rebelde congolês, apoiado na altura (1ª fase de operações
militares) pelo Uganda e o Ruanda.
Com Laurent Kabila à frente do
novo governo que havia apeado Mobutu, quer o Uganda, quer o Ruanda, aliando-se
ao“Rassemblement Congolais pour la Démocratie », provocam a 2ª guerra do
Congo (que ocorreu entre 1998 e 2003), na tentativa de colocar em Kinshasa
alguém identificado com seus propósitos, sob a influência do “lobby” dos
minerais com tentáculos internacionais desde os Estados Unidos.
Os dois países dos Grandes Lagos
estabeleceram assim uma plataforma de aproximação a Savimbi, pelo que Angola,
tirando partido da aliança com o novo governo congolês, com a noção
geoestratégica da expansão das linhas, passou a ser militarmente parte activa
na guerra dentro da RDC, para além da guerra que ocorria dentro do seu próprio
território.
Há 20 anos o objectivo no leste,
contra as Forças Armadas do Congo, era Kindu, a capital do Maniema (a noroeste
dos lugares por onde em 1965 se estabeleceu a guerrilha do Che no Congo, a sul
de Kisangani e situada na margem esquerda do caudaloso rio Congo), por causa do
seu estratégico aeroporto…
2- A partir dum discreto gabinete
de apoio, fora das estruturas oficiais, eu e dois outros patriotas angolanos,
José Herculano Pires e Alberto José Barros Antunes Baptista, ambos já
falecidos, passámos a dar apoio ao Estado Maior Geral das FAA, com informação e
análise, de forma a contribuir para defender o estado angolano e o da RDC,
contra a plataforma que então integrava, entre outros, Savimbi, Paul Kagame e
Yoweri Museveni…
A síntese que se segue, então
produzida, refere-se a acontecimentos de há precisamente 20 anos,
acontecimentos que refiro hoje como choque neoliberal, na tentativa do
capitalismo financeiro transnacional tomar, sem quaisquer obstáculos de
natureza humana, o miolo mais suculento de África, instrumentalizando aqueles
três protagonistas.
3- Enquanto na Venezuela se
assistia ao início da afirmação socialista e bolivariana contra o
neoliberalismo, tendo à frente o Comandante Hugo Chávez e o Pólo Patriótico, em
África (Angola e República Democrática do Congo) uma poderosa onda de choque se
abatia, tocando em toda a extensão o tecido humano de ambos os países,
devassados desde o passado de trevas e da Conferência de Berlim.
É na esteira desses
acontecimentos que haveria em consequência e mais tarde, com geometrias
variáveis, de ser instalada a terapia neoliberal, vocacionada para os campos
político, económico e financeiro, debilitando-os ainda mais e, apesar dos seus
esforços, alimentando o caudal das vulnerabilidades e incertezas que se
arrastam desde o passado… até nossos dias, com todas as consequências humanas
que isso tem acarretado.
Martinho Júnior - Luanda, 12 de Outubro de 2018
Ilustrações:
Localização de Kindu, no leste da
RDC;
O Presidente Laurent Kabila;
Aeroporto de Kindu;
Porto de pirogas em Kindu
(travessia do rio Congo);
O Presidente Paul Kagame, do
Ruanda (ainda nas vestes dum guerrilheiro).
A BATALHA DE KINDU
1 ) TÍTULOS:
Rebeldes Congoleses capturam
localidades do LESTE; (GOMA).
Os rebeldes do CONGO visam a
queda do Governo – HRVOJE HRANJSKI – “API”, (KALIMA).
Combatentes rebeldes no LESTE do
CONGO – HRVOJE HRANJSKI – “API”, (KALIMA).
Rebeldes Congoleses têm como
objectivo a base aérea – HRVOJE HRANJSKI – “API” – (KALIMA).
Avião a jacto abatido no CONGO.
2 ) SÍNTESE:
No início do mês, a 03 OUT 98,
o “WASHINGTON POST” dava a conhecer uma ofensiva em várias frentes
dos rebeldes, a NORTE e SUL de KISANGANI:
A NORTE, com o objectivo em BUTA,
a meio caminho entre a fronteira Ugandesa e a Capital da REPÚBLICA CENTRO
AFRICANA, BANGUI (na estrada do NORTE).
A SUL, com a tomada de UBUNDU e
KALIMA, de forma a preparar o ataque sobre KINDU, a estratégica base aérea com
que as FAC contam para atingir todo o LESTE do País.
O Correspondente da “API” refere
a presença do Batalhão do Comandante ARTHUR MULUNDA, com 1.500 homens, que
teria chegado de BUKAVU para a área de combate, tomado KALIMA e aparentemente
recebido reforços nessa localidade, onde podem aterrar transportes ANTONOV AN –
72.
Notícias contraditórias foram
dadas sobre KINDU, mas os rebeldes parece terem tomado posições em áreas
periféricas, cercando a localidade e a base aérea, utilizando capacidade anti
aérea e acabando por abater um avião civil duma Companhia Congolesa (não referenciada),
a 10 OUT 98.
O tipo de actividade táctico –
operativa assemelha-se à normalmente empregue pela Organização Armada de
SAVIMBI, mas é de supor que a ofensiva em várias frentes esteja simultaneamente
a ser apoiada pelas UPDF, a NORTE e pelas FPR a SUL, (com o reforço de
efectivos seus).
As notícias da “API” corroboram
as divulgadas pela “ZA NOW”, da ÁFRICA DO SUL e pelos jornais Ugandeses.
3 ) MAIS ALGUMAS
CONCLUSÕES:
A ameaça sobre KINDU por parte da
coligação rebelde, é uma ameaça que é tida como “podendo determinar o
futuro da guerra Congolesa que dura há dois meses”, retirando ou diminuindo, no
caso da sua perda, a capacidade das FAC e aliados de atingir alvos importantes
na FRENTE LESTE, com a utilização da sua arma aérea.
A sua perda colocará em risco o
sistema de defesas que rodeia o KATANGA e a ligação LUBUMBASHI – LIKASI –
KAMINA – KIKWIT – KINSHASA, que em relação a ANGOLA constitui o “cinturão
de segurança”possível à volta da nossa fronteira LESTE.
Por conseguinte, garantir que
KINDU se mantenha em poder das FAC e dos aliados é também importante para o
escalonamento do conjunto das Forças que mantêm a acção da coligação rebelde na
RDC longe das nossas fronteiras, evitando a ligação física com as linhas da
Organização Armada de SAVIMBI no LESTE do nosso País.
Se estabelecermos um paralelo
entre o cerco a KINDU e o esforço de cerco que está a ser feito sobre SAURIMO,
parece-nos evidente que a estratégia da coligação rebelde passou a ser
reconhecidamente comum: cercar as maiores bases aéreas de forma a procurar que
a aviação Angolana não possa ter alternativas para atingir o LESTE e de forma
a, pelo menos, diminuir a pressão da arma aérea sobre a possibilidade da
coligação rebelde vir a estabelecer ligação dos GRANDES LAGOS à REGIÃO DAS
GRANDES NASCENTES, no centro do nosso País.
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