Martinho Júnior | Luanda
1- Nas últimas semanas foi
desencadeada nos territórios diamantíferos angolanos, abrangendo sete
províncias, a Operação Transparência, incidindo sobre fenómenos confluentes
(imigração ilegal, tráfico ilegal e clandestino de diamantes, assim como
anarquia generalizada no sector dos diamantes aluviais)) que produziu múltiplos
resultados:
- Foram neutralizados muitos
dispositivos de exploração ilegal e clandestina de diamantes aluviais, desde
equipamentos a estruturas, até aos “comptoirs” dos “bosses”, os
centros onde se fazia a compra dos diamantes do tráfico;
- Foram apreendidas elevadas
quantidades de moeda forte, particularmente Dólares dos Estados Unidos e Euros,
para além de avultadas quantias de moeda nacional Kwanza, assim como veículos
que serviam de moeda de troca para o tráfico;
- Foram desactivados em
consequência disso, mais de 260.000 estrangeiros ilegais, na esmagadora maioria
dos casos provenientes da República Democrática do Congo, que ficando sem o
lugar onde vendiam os diamantes, foram regressando ao seu país;
- Foram apreendidos mais de
26.000 diamantes aluviais;
- Foram neutralizados pontos de
apoio do garimpo e do comércio ilegal e clandestino de diamantes, assim como os
respectivos circuitos logísticos dentro do território nacional, aparentemente
sem se tocar nas suas periferias dentro do território congolês circunvizinho;
- Terão sido neutralizados outros
dispositivos desestabilizadores potenciais de outra índole, que estavam
intimamente associados às operações ilegais e clandestinas de exploração e
tráfico de diamantes aluviais, incluindo interesses de entidades angolanas parceiras,
alguns deles utilizando a patente de generais, titulares ilegais de terrenos e
de meios;
- Foram tomadas iniciativas que
visam moralizar e mobilizar os efectivos militares, policiais e administrativos
angolanos implicados no conjunto das medidas aplicadas, que incluíram até (e
isso é de sublinhar) alguns oficiais que antes foram alguns dos protagonistas
no combate ao tráfico de diamantes no tempo do 105/83, que sobreviveram no
activo à artificiosa crise que em 1986 o poder entendeu desencadear contra a
sua própria Segurança do Estado…
- Falta analisar, entre outros
fenómenos e de forma apurada, as consequências e implicações sobre as
comunidades autóctones sujeitas aos impactos dessa anarquia e sobre o ambiente
e os cursos de água, particularmente nas bacias afluentes do Cuango e do
Cassai.
As medidas tomadas no âmbito da
Operação Transparência são um sinal claro que o estado angolano está finalmente
na mesma disposição que animou há 35 anos, em 1983, os oficiais da Segurança do
Estado no sentido de, ao neutralizar os traficantes de diamantes e moeda de
então, inibir potencialidades nocivas de actuação de redes inteligentes que
subvertiam os interesses do próprio estado e do povo angolano.
Ao sublinhar esse facto, muito
embora com distintas motivações e objectivos, saúdo a iniciativa da Operação
Transparência e os termos em que ela está a ser levada a cabo, salvaguardando a
dignidade e os direitos humanos dos garimpeiros e semeando organização em
relação ao futuro.
2- Em 1986, a interpretação que o
poder do estado fez da actuação dos camaradas oficiais que mais combateram o
tráfico ilícito de diamantes (processo 105/83) levando-os à prisão e à
condenação por via do processo 76/86, subvertendo a justiça e as suas profundas
convicções patrióticas, ao fragilizar o aparelho de Segurança, ao prendê-los,
julgá-los e condená-los e comprar silêncios de outros quantos, ao acabar com o
Tribunal Popular Revolucionário e instituir o Tribunal que para o efeito os
haveria de julgar e condenar, abriu caminho à desestabilização e ao caudal de
ingerências primeiro por via do choque neoliberal (na imediata sequência do
Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991), depois por via da terapia neoliberal
praticamente até aos nossos dias, algo que a luta contra a corrupão agora
inaugurada com bastante vigor, tende a finalmente pôr cobro!
Recorde-se que tem sido meu
compreensivelmente fundamentado e experiente argumento (embora quantas vezes
mal compreendido e pior interpretado) que as medidas que recaíram drástica e injustamente
sobre os oficiais que mais tinham combatido o tráfico de diamantes de então
(entre eles eu próprio), afectando todo o aparelho da Segurança do Estado,
entre outros fenómenos contribuíram para permitir a Savimbi, em proveito da sua
continuada subversão e sem obstáculos de maior, organizar a bárbara “guerra
dos diamantes de sangue” entre 1992 e 2002, enquanto choque neoliberal em
Angola, extensivo em função de suas alianças a toda a região.
Nesse aspecto ele conseguiu com
Mobutu, encontrar a solução para expedientes comuns em relação à exploração e
comércio de diamantes aluviais dentro de território angolano, ao mesmo tempo
que a rectaguarda militar e de inteligência era transferida, com o fim da
ocupação do “apartheid” na Namíbia, para dentro do então Zaíre (hoje
RDC), a fim de levar a cabo a “guerra dos diamantes de sangue” que
protagonizaram.
O apoio que prestei, apesar dos
traumas resultantes dos antecedentes, com os camaradas José Herculano Pires
e Alberto José Barros Antunes Baptista, ambos já falecidos, ao
Estado-Maior Geral das FAA, entre Março de 1998 e Março de 2000, é a
deliberadamente silenciada prova do meu empenho no sentido de, apesar das
avassaladoras injustiças desencadeadas através do processo 76/86 que em Março
de 1986 me levou à prisão e a outros camaradas, não hesitar em continuar
patrioticamente a lutar, quaisquer que fossem os sacrifícios, com as mais
profundas convicções do movimento de libertação em África e pelos superiores
interesses do povo angolano e do estado que deveria ser o fiel depositário
deles.
Notícias há hoje, no momento em
que a luta contra a corrupção ganha proporções, que para silenciarem esse
contributo e esforço de patriotas, alguns receberam chorudas “compensações”,
também na vã tentativa de se apagarem pistas e esconder a verdade e a dignidade
de que o próprio estado no seu exercício tem direito…
A forma como de há vinte e cinco
anos a esta parte, foi tratada uma parte da Comunidade da Segurança deste país,
é um indicador claro que essas notícias não são de desprezar e por isso levei
muito a sério a surda guerra psicológica que os interesses mercenários
produtores da corrupão moveram contra essa Comunidade, até à ascensão do
camarada Presidente João Lourenço!...
Desfeita por seu turno a força de
Savimbi até ao seu fim em 2002, com o período que lhe deu sequência em módulo
de terapia neoliberal, a corrupção, a ilegalidade e a clandestinidade, apesar
da aderência de Angola ao Processo Kimberley, tomou o lugar do espectro da
guerra.
3- A Operação Transparência,
pelas suas implicações humanas, foi desencadeada como um travão, em tempo
oportuno tendo em conta a relativa instabilidade que tem assolado a República
Democrática do Congo, não só em função dum adiado pleito eleitoral de consequências
pouco previsíveis (que finalmente está apontado para a ponta final deste ano),
como também dos factores de desestabilização no Cassai e muitos indícios de
atracção e proliferação, a partir da“plataforma” congolesa, de redes
islamizadas aparentemente filtradas por radicalismos que procuram ganhar
influência a sul do Equador africano, particularmente para dentro de Angola,
atraídas e motivadas pela exploração e comércio desenfreado, ilegal e
clandestino de diamantes nas “minas de Salomão”…
Apesar dessa oportunidade, a
Operação Transparência manteve características defensivas no âmbito dum
paliativo garantido com relativamente curta duração, já que os tentáculos
externos que movimentaram tanta ilegalidade para dentro de Angola, antes, durante
e depois de Savimbi, têm larga experiência em suas recuperações operativas e
fórmulas de rapidamente “refazer as fileiras”…
Julgo que isso vai acontecer,
pondo à prova a reorganização das fileiras angolanas, que passarão pela
reorganização dos processos de exploração artesanal de diamantes aluviais, nas
áreas assim determinadas pelo estado, bem como pela reorganização dos circuitos
legais de compra e comércio de diamantes.
O estado angolano deveria nesse
sentido definir oficial, clara e publicamente, arcos mineiros onde todo o
expediente de exploração e comércio de diamantes aluviais se define (sob o
ponto de vista físico-geográfico e humano).
Julgo que esse é também um
caminho para melhor organizar a sociedade e também um caminho para melhor
definir as percentagens que passem a beneficiar o estado e com isso os fundos
de reserva do Banco de Angola, o banco central, à semelhança do que a Venezuela
tem feito com crescente êxito desde o princípio do século XXI com o Arco
Mineiro do Orinoco.
As ofensivas cíclicas de luta
contra a exploração e tráfico ilegal e clandestino de diamantes aluviais até
hoje, de geração em geração, não impedem a garantida sobrevivência e a muito
satisfatória segurança de acoito no caos de geometria varável que caracteriza a
RDC, pois o subdesenvolvimento crónico agravado, com tão extenso quão caótico
leito humano do outro lado da fronteira, é um caldo que nutre as iniciativas
desse tipo de redes de aventureiros, fazendo-as até renascer das cinzas…
De facto e depois do início dos
impactos capitalistas neoliberais, a Angola socorre apenas a tarimba histórica
dum MPLA que por causa da poderosa esteira de movimento de libertação em África
tem suportado, ainda que tão vulnerabilizado e fragilizado, um estado angolano
devassado por agentes da artificiosa crise das portas escancaradas a que o país
tem sido sujeito… e esta devassa no sector dos diamante é insofismável prova
disso…
À República Democrática do Congo,
na ausência dum suporte sócio-político da envergadura do MPLA, as portas
escancaradas nas suas ingerências e manipulações, atingem o poder sem remissão,
pelo que esse poder, sem suportes sócio-políticos próprios mobilizados ao longo
dum legítimo processo histórico de libertação, nem reformas de âmbito
capitalista consegue realizar, muito menos uma revolução de amplitude cultural
capaz de abrir caminho a uma longa luta contra o subdesenvolvimento!
Assim sendo, Angola deve
organizar suas capacidades no sector dos diamantes aluviais, a contar com o
espectro humano proveniente do Congo, de forma a influir no carácter do próprio
estado congolês e do seu poder, como um exemplo de paz construtiva para toda a
região, até aos Grandes Lagos!
4- Em 1998 e para que houvesse a
instalação dum processo inteligente na fronteira comum de mais de 2000 quilómetros ,
no âmbito do apoio ao Estado-Maior Geral das FAA propus a definição duma linha
de consulados, a funcionar em regime de reciprocidade em torno do território
angolano, todavia desconheço se algo foi feito nesse sentido e se o foi em que
termos e quais os resultados.
Um acordo dessa natureza
implicaria que os dois poderes de estado trabalhassem em módulo de busca de
consensos, antes de mais em conjunto na tão necessária filtragem dos
expedientes de fronteira e isso iria contribuir para que em Kinshasa e nas
capitais provinciais congolesas, pragmática e paulatinamente fosse possível
alterar o carácter do próprio poder.
É evidente que consulados desse
tipo debruçar-se-iam sobretudo sobre as questões migratórias e de controlo de
fluxos de toda a ordem, sendo seu êxito uma relativa incógnita contudo,
conforme tem acontecido com a devassidão das fronteiras, os resultados são
reveladores do que de pior se poderia esperar, pelo que a proposta continua a
ser oportuna!
Por outro lado há a considerar
que nem um inventário das comunidades que têm actividades comuns de ambos os
lados da fronteira está suficientemente feito, muito menos filtrado por razões
de segurança e bem-estar comuns.
Por outro lado ainda, na presente
situação de anarquia e caos, a pressão para o aumento da marginalidade e da
criminalidade constitui um potencial para a eclosão de fenómenos mais fortes de
que espreitam alguns como o Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwe, que
pretende de alguma forma dividir o território angolano.
A decisão sobre o desencadear da
Operação Transparência, inscrevendo-se na luta contra a corrupção, dada a
extensão dos fenómenos nocivos à sociedade e à economia angolana, é de se
saudar, todavia um enorme esforço e trabalho responsável está para ser levado a
cabo nesse sector e isso vai pôr à prova em vastas áreas do país, o carácter do
estado sob liderança do camarada Presidente João Lourenço, assim como pôr à
prova os benefícios que o povo angolano e o congolês vão conseguir, quando
tantos dos seus interesses têm sido, durante décadas atrás de décadas, tão
subversivamente devassados!
Dar a conhecer as actividades de
apoio de há 20 anos ao Estado-Maior Geral das FAA, põe fim a um despropositado
silêncio que em parte até comprado terá sido, responde a uma longa guerra
psicológica que foi movida contra uma parte substancial da Comunidade de
Segurança, mas visa sobretudo juntar ânimo em prol do esforço de todos os que
agora sob a égide do camarada Presidente e Comandante-em-Chefe, João Lourenço,
estão a abrir caminho propondo-se finalmente em revitalizar em termos éticos,
em termos morais, em termos cívico-militares, a pátria de Agostinho Neto!
Pelo profundo significado da
Operação Transparência, as suas implicações e as espectativas que estão agora
criadas, permito-me exaltar o estado angolano a cumprir com responsabilidade,
dignidade, rigor e solidariedade humana, com seus deveres e obrigações enquanto
fiel depositário dos superiores interesses de todo o povo angolano e também do
tão deserdado e maltratado povo congolês!
Honrar o passado e a nossa
história, é também honrar a memória e a heroicidade de Patrice Lumumba e a
memória e os ensinamentos do Dr. António Agostinho Neto!
Martinho Júnior - Luanda, 17 de Outubro de 2018.
Ilustrações:
As quedas de Tázua, no rio
Cuango, um dos mais ricos rios do mundo em diamantes aluviais;
O General Pedro Sebastião, Chefe
da Casa Militar da Presidência da República de Angola, determinante na
geoestratégia da Operação Transparência, cuja 1ª fase vai estender-se até 2020;
O Ministro da Defesa de Angola,
General Salviano Teixeira, que a 25 de Setembro corrente, em Malange, deu
início à Operação Transparência;
O Ministro do Interior, Ângelo da
Veiga Tavares, que responde pelos órgãos policiais que integram a Operação
Transparência;
Garimpeiros de diamantes aluviais
em operação num rio angolano.
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A necessidade de definição dum
bom plano táctico operativo para a RDC, envolvendo várias componentes
Agence France Press, 20 ago 1998
I. CRITÉRIOS
DE INTERVENÇÃO A ESTABELECER COM AS NOSSAS FROÇAS NA RDC
1) As NOSSAS FROÇAS devem
desencadear um conjunto de acções que prevêem na RDC, um desenvolvimento
sincronizado de meios político-diplomáticos, de INTELIGÊNCIA e CONTRA
INTELIGÊNCIA, bem como MILITARES, nas suas várias componentes.
2) Em relação à manobra
político-diplomática, deverá privilegiar o quadro da nossa Embaixada em
KINSHASA, de forma a estabelecer condições para a instalação de todos os nossos
dispositivos mantendo o melhor relacionamento possível com o mais ALTO NÍVEL do
Governo de KABILA.
Deve também, em função das várias
componentes e ajudas no quadro da SADC, privilegiar o relacionamento com as
representações diplomáticas daqueles Países da SADC que estiverem motivados na
ajuda ao Governo de KABILA.
Tendo em conta a vastidão das
fronteiras comuns com a RDC e a tipologia dos problemas existentes, deve melhor
preparar, num regime de reciprocidade nas afectações, a instalação de várias
repartições Consulares Angolanas em povoações do CONGO, que possam
simultaneamente influenciar na recolha de informação sobre os movimentos da
UNITA, das FLEC, dos traficantes de fronteira (em particular de diamantes) e de
outros movimentos clandestinos (por exemplo migratórios), como por exemplo:
TSHELA, BOMA, MATADI ou INKISI (no BAS CONGO); KIKWIT, POPO KABACA ou KASSANDO
LUNDA (no BANDUNDU); TCHIKAPA, KANANGA ou MBUGI MAYI (nos CASSAI); DILOLO,
SANDOA, KAMINA ou KOLWEZI (no SHABA).
Esse esforço deverá criar todas
as condições para a instalação das nossas possibilidades de INTELIGÊNCIA, com
vista a filtrar toda a movimentação nas suas jurisdições, podendo sofrer
adaptações e uma melhor definição das ORDENS DE MISSÃO, tendo em conta o meio e
os objectivos que preconizamos em termos de INTELIGÊNCIA.
A implementação dessas medidas
deve acompanhar a progressão das NOSSAS FORÇAS, após o início do seu movimento
em direcção ao interior de ANGOLA, de acordo com a ORDEM DE MISSÃO militar para
cada Unidade e / ou coluna, mas pode não ser totalmente determinante para as
ORDENS DE MISSÃO de INTELIGÊNCIA, (há a possibilidade de se usarem outras
coberturas para os nossos Oficiais e Agentes).
A nossa Representação Diplomática
em BRAZZAVILLE deve estabelecer acordos em várias disciplinas com a de
KINSHASA, tendo em conta a reciprocidade de movimentos e apoios, assim como as
trocas de INFORMAÇÃO e coordenação das acções das várias componentes da nossa
articulação na REGIÃO (não devemos esquecer que BRAZZAVILLE e KINSHASA são, à
escala MUNDIAL, as duas Capitais de Países que ficam mais próximo uma da
outra).
3) Em relação às componentes
de INTELIGÊNCIA, há fundamentalmente duas linhas de interesse:
A que deve trabalhar na direcção
do estreitamento das relações com a RDC, envolvendo os aspectos políticos,
económicos, sociais e militares, entre outros, (principalmente na Capital e
Províncias de maior representatividade).
A que deve trabalhar na direcção
de detectar, de acompanhar e / ou de neutralizar as acções clandestinas e
operativas de Organizações Armadas (como a UNITA, ou algumas das FLEC), que
pode desdobrar-se em vários aspectos – sistemas logísticos de apoio desses
agrupamentos, movimentos de pessoal (incluindo militares afectos),“bases”,
coordenações e ligações com similares da RDC, traficantes de fronteira afectos
(tendo em vista os diamantes principalmente), etc.
Os sistemas de INTELIGÊNCIA
poderão ser desenvolvidos, na sua fase de instalação, tirando partido da ORDEM
DE MISSÃO MILITAR, mas também poderão ser instalados à posteriori, se
atendermos às várias formas de cobertura que se podem preparar, ou aos Acordos
de reciprocidade de âmbito Consular.
A vantagem de eles tirarem
partido da ORDEM DE MISSÃO MILITAR, está no facto de melhor podermos controlar
o movimento de elementos afectos às Organizações Armadas Angolanas,
imediatamente após a passagem das nossas colunas e Unidades militares e tendo
em conta que elas não poderão permanecer nos lugares, em posição de quadrícula.
4) Em relação às componentes
de CONTRA INTELIGÊNCIA, devem ser elaboradas ORDENS DE MISSÃO para todas as
Províncias com limites com a RDC, tendo em conta as iniciativas de INTELIGÊNCIA,
de forma a realizar, no interior do nosso território, um trabalho similar de
detecção, acompanhamento e / ou neutralização, em relação aos elementos afectos
às Organizações Armadas, tendo em conta os aspectos de interesse enumerados e o
facto das operações militares gerarem movimentos adaptados às situações que se
irão desenrolar.
Deve-se ter em conta que os
nossos centros de CONTRA INTELIGÊNCIA devem ser agrupados, para dar resposta à
clandestinidade típica dos dispositivos das Organizações Armadas Angolanas,
assim como o ambiente com que eles contam nos dois lados da fronteira, por
exemplo:
O agrupamento dos meios de CI das
Províncias de CABINDA – ZAIRE, tendo em vista o empenhamento das Organizações
Armadas principalmente a partir do BAS CONGO e a necessária ligação aos nossos
meios de INTELIGÊNCIA, se for estabelecida a base legal dos Consulados dentro
da RDC.
O agrupamento dos meios de CI das
Províncias de MALANGE – LUNDA NORTE – LUNDA SUL, tendo em conta o empenhamento
da UNITA nos CASSAI, assim como os dispositivos de INTELIGÊNCIA naquelas zonas
da RDC (dando especial relevo à situação corrente das migrações ilegais devido
aos tráficos de fronteira, principalmente o de diamantes).
5) Em relação às componentes
militares, devem-se estabelecer fundamentalmente dois planos para o curto
prazo:
A ORDEM DE MISSÃO inicial (1ª
fase), de forma a proteger o Governo de KABILA e a cidade Capital,
KINSHASA e garantir a preparação logística e táctico operativa das ORDENS DE
MISSÃO posteriores, (incluindo com reconhecimentos em profundidade para
averiguar não só os agrupamentos inimigos, mas melhor definir trajectos,
obstáculos, ambiente natural e humano, etc.).
A ORDEM DE MISSÃO de movimento e
intervenção (2ª fase), de forma a que, ao mesmo tempo que se dá combate às
Unidades rebeldes da FRENTE OESTE, se possa ajudar na instalação das Unidades
das FAC nas localidades de quadrícula de destino e dar combate aos sectores de
apoio, ou mesmo de agrupamentos, das Organizações Armadas Angolanas, da
periferia para o interior do nosso País (principal objectivo para os
reconhecimentos em profundidade, quando se der início à 2ª fase).
II. CONSELHOS
PARA AS ORDENS DE MISSÃO MILITARES
1) Para as diversas armas e
especialidades que irão compor a força tarefa do nosso País, tendo em conta as
condicionantes político-diplomáticas estratégicas que relacionamos noutra
INFORMAÇÃO, podemos enumerar alguns aspectos que deverão ser implementadas, a
fim de melhor podermos realizar as ORDENS DE MISSÃO:
O uso rigoroso de medidas
defensivas de camuflagem, de segredo e das contra medidas electrónicas, não só
tendo em conta as possibilidades dos efectivos inimigos e dos seus sistemas de
detecção TECHINT e HUMINT, mas também dada a presença de meios militares das
várias potências (incluindo com a panóplia técnica que as suportam, como sejam
os satélites, os meios electrónicos, etc.), que podem possuir aliados e / ou
inimigos, em qualquer dos dois lados, principalmente em KINSHASA e em todo o
território do BAS CONGO.
A utilização de planos de
DESINFORMAÇÃO e CONTRA INFORMAÇÃO, tendo em conta por um lado o enorme leque de
FORÇAS favoráveis a KABILA, (não há interesse em dar a conhecer aos componentes
desse leque de forças as nossas verdadeiras intenções, “modus operandi”,
objectivos, etc., principalmente no desenrolar da 2ª fase), por outro o inimigo
(que aparentemente possui componentes muito distintas umas das outras, como
antigas forças de MOBUTU, rebeldes “banyamulengue”, eventualmente
elementos, ou Unidades da UNITA, etc., que podem aumentar a sua versatilidade e
um bom entrosamento com a população).
A procura das concentrações
inimigas, de forma a conseguir neutralizar os meios mais poderosos que ele
possa dispor, a fim de, organizando os nossos próprios meios, com o emprego de
armas decisivas (como o caso da aviação, da artilharia pesada, das Forças
Especiais e / ou Comandos, do apoio de helicópteros, etc.), poder desferir
golpes capazes de criarem as condições para o início do nosso movimento e
intervenção, em perseguição dos nossos interesses internos.
O empenho duma boa articulação de
RECONHECIMENTOS em profundidade e próximos, de forma não só a melhor definir as
características do ambiente e clima, mas também os trajectos, as implantações,
as condições e as características das Unidades inimigas (levando ainda em
consideração a sua possibilidade de clandestinidade e movimento), os seus
planos (principais e alternativos), as suas medidas e contramedidas de CONTRA INFORMAÇÃO,
DESINFORMAÇÃO, electrónicas, ou outras.
A circulação da INFORMAÇÃO
táctico operativa entre as várias componentes das NOSSAS FORÇAS, de acordo com
as normas que previnem o segredo, a compartimentação e a SEGURANÇA dos meios
(humanos e materiais) e controlem os acessos respectivos a cada escalão.
A planificação de ORDENS DE
MISSÃO capazes de garantir os princípios de execução com base na imaginação,
surpresa, discreção e rapidez, de forma a melhor rentabilizar o conjunto das
acções, com a obtenção dos melhores resultados.
Uma boa planificação logística,
de forma a levar em consideração as necessidades da 1ª e da 2ª fases e a que os
efectivos tenham necessidade de garantir, ao longo principalmente do seu
movimento – formas e meios de recepção de víveres, rações, munições e apoios de
toda a ordem para os meios que utilizam, ou possam vir a utilizar (veículos,
helicópteros, equipamentos para a noite, armas, etc.).
2) Paralelamente e tendo em conta
as acções de carácter humano e psicológico que as NOSSAS FORÇAS devem preparar
e realizar, a nossa intervenção deve estabelecer os critérios tirando partido
de recursos imediatos:
Os SAM deverão estar preparados
para prestar uma assistência alargada, incluindo às populações, em termos de
primeiros socorros e combate a doenças tropicais (como o paludismo, a malária e
as diarreias), principalmente se NOSSAS FORÇAS estacionarem junto de áreas
populacionais, dando cobertura a acções de RECONHECIMENTO e mesmo de
INTELIGÊNCIA, levando em consideração que muitas das zonas a percorrer, sendo
de muito difícil acesso, são muito carentes em fármacos.
A ENGENHARIA pode garantir uma
ligação melhor com as autoridades locais, nos trajectos, melhorando as pontes
de pequena dimensão, desimpedindo de minas (anti pessoal, ou anti carro) os
trajectos de toda a ordem, fornecendo melhores possibilidades à utilização de
água (principalmente se forem utilizados sistemas para a água potável), etc.
Eventualmente, no caso de se
conseguirem estabelecer planos mais alargados, as NOSSAS FROÇAS podem trabalhar
no sentido de criar condições iniciais para a recepção desses planos, nos
locais onde se encontram e que sejam seu destino (por exemplo, no caso de ser
decidida a criação de Consulados a curto prazo, contribuir para a sua
instalação, com a limpeza das infra estruturas, a recuperação rápida de
imóveis, etc., a partir dos pequenos postos de comando de coluna e de frente).
III. AS DIRECÇÕES
PRINCIPAIS PARA OS MOVIMENTOS DA 2ª FASE
1) As ORDENS DE MISSÃO para a 2ª
fase devem obedecer a medidas muito eficazes de segredo e de disciplina de
segredo, não só para garantir o êxito delas, mas de forma a melhor garantir os
processos de DESINFORMAÇÃO, CONTRA INFORMAÇÃO e clandestinidade (dos
RECONHECIMENTOS e da INTELIGÊNCIA).
Pensamos que devem ser três as
direcções principais do movimento, como exemplo:
KINSHASA – MATADI – MUANDA (linha
do BAS CONGO), com possibilidade de fazer a ligação para as Províncias de
CABINDA, ZAIRE e UÍGE).
KINSHASA – KENGE – KASSANGO LUNDA
– TEMBO ALUMA (ofensiva da bacia do Rio CUANGO), com possibilidade de fazer a
ligação para as Províncias do UÍGE e MALANGE, podendo ter como objectivo final
(mediante refrescamentos e reforços) SAUTAR.
KINSHASA – KENGE – KIKWIT – GUNGU
– CAMAXILO (ofensiva da bacia do Rio CUÍLO), com possibilidade de fazer a
ligação à LUNDA NORTE, LUNDA SUL e MALANGE, podendo também fechar a sua
actuação em SAUTAR.
2) As ORDENS DE MISSÃO da 2ª fase
poderão obedecer a planos distintos, quando entrarem em território Angolano ,
tendo em conta a nossa quadrícula político – administrativa, militar e
policial, assim como os dados actualizados sobre os dispositivos da UNITA.
Esses planos poderão
eventualmente ser distribuídos na altura devida, tanto quanto possível
levando-se em consideração o “ultimatum” político que se fizer àquela
Organização Armada, tendo em conta os prazos previstos para esse “ultimatum”,
ainda que se tenham que rectificar datas (protelando os prazos de maneira a
melhor poder conjugar o movimento e articulação das NOSSAS FORÇAS e / ou
corrigir as medidas táctico operativas).
3) Apesar de sermos favoráveis ao
movimento de refluxo para o interior do nosso território, em direcção principal
à REGIÃO DAS GRANDES NASCENTES, como aproveitamento das ORDENS DE MISSÃO da 1ª
fase das operações na RDC, pensamos que em relação à 2ª fase das operações
naquele País, podem haver possibilidades de realizar um retorno de algumas das
NOSSAS FORÇAS, desde as nossas fronteiras, para a Capital, KINSHASA,
facilitando algumas missões de ligação e logística, ou um movimento circular à
volta das nossas fronteiras, por exemplo , a partir de LUBUMBASHI – LIKASI –
KAMINA – KANANGA – KIKWIT – KINSHASA.
Esse movimento, pode também
contribuir para aumentar o quadro das medidas de DESINFORMAÇÃO e melhorar as
possibilidades das operações de limpeza, na retaguarda das NOSSAS FORÇAS, na
altura delas estarem a entrar pelas nossas fronteiras.
4) Tendo em conta a possibilidade
de se criar um Comando Operacional Unificado pelas diversas FORÇAS presentes no
teatro operacional da RDC, de predominância SADC, pensamos que o nosso PLANO
TÁCTICO OPERATIVO REAL, assim como as ORDENS DE MISSÃO a ele correspondentes,
devem ser escondidos desse Comando, com a elaboração dum PLANO TÁCTICO
OPERATIVO adequado exclusivamente às necessidades do CONGO, ainda que possam
ter alguns aspectos em comum, o que constituirá por si, conjuntamente com as
respectivas ORDENS DE MISSÃO, uma importante peça de DESINFORMAÇÃO e CONTRA
INFORMAÇÃO, que vai ajudar ao movimento no quadro TÁCTICO OPERATIVO REAL.
Essa é uma das explicações que
dão resposta à necessidade de disciplina de segredo em toda a campanha, assim
como o nosso silêncio político-diplomático, principalmente na altura em que se
estiver a desenrolar o movimento.
Até agora a imprensa
Internacional não deu sinal da presença das NOSSAS FORÇAS na RDC e isso, sendo
um bom começo, é uma necessidade premente do princípio ao fim da campanha, o
que é extensivo também aos meios disponíveis das GRANDES POTÊNCIAS, em
particular os EUA e FRANÇA, ressalvando-se aqueles casos em que possam haver
operações comuns.
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