sábado, 17 de novembro de 2018

O Reino Unido viola flagrantemente as normas de um comportamento decente


Peter Korzun

A Rússia e a Venezuela encontram-se entre os países a quem a União Europeia, incluindo a Grã-Bretanha, impôs sanções. Esses dois países foram alvo de vigorosos ataques de Londres, acusados de inúmeras coisas nefandas que, alegadamente, terão feito. O Reino Unido insiste que todos obedeçam às regras. Entretanto, Londres troça das normas comummente aceites nas relações internacionais.

O governo da Venezuela procura repatriar , pelo menos 14 toneladas de ouro, guardadas no Banco de Inglaterra. Há pouco tempo, pediu para libertar as barras de ouro, no valor de 420 milhões de libras esterlinas, ou seja, 550 milhões de dólares. Foi um pedido correto e atempado, quando ocorreu a nova ronda de medidas punitivas que Washington impôs recentemente a Caracas. O Banco recusou-se a satisfazer esse pedido!

Segundo noticiado, os funcionários do Reino Unido insistiram em que a Venezuela clarificasse as suas intenções em relação ao ouro. Londres suspeita que o presidente Maduro, da Venezuela, congemina planos para vender o tesouro nacional em benefício próprio. Também usa um subterfúgio para explicar porque é que a propriedade venezuelana não foi devolvida ao seu dono. O Reino Unido diz que é muito difícil obter um seguro para o embarque duma carga tão grande. Mesmo que a Venezuela consiga reaver o ouro, será muito difícil usá-lo, encontrar uma divisa forte por causa da nova ronda de sanções norte-americanas anunciadas a 1 de novembro. Com as punições em curso, será impossível vender o ouro diretamente a partir do Banco de Inglaterra.

O Reino Unido sabe muito bem quem deverá ser o suspeito do quê e quem poderá ser de confiança para devolver a propriedade ao seu dono. Se não é roubo, então o que é? As regras do comportamento civilizado, dizem vocês? Esqueçam, compete a Londres, obedecendo fielmente às instruções emanadas de Washington, decidir o que é civilizado e o que não é.

Segundo John Bolton, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA (NSA), "As novas sanções visarão redes que funcionam no interior de setores económicos venezuelanos corruptos e negam-lhes acesso à riqueza roubada". A NSA explicou que: "Com efeitos imediatos, as novas sanções impedirão que pessoas dos EUA se envolvam com agentes e redes cúmplices em transações corruptas ou fraudulentas do ouro venezuelano". Portanto, a administração dos EUA é o supremo juiz a decidir exatamente quais são as transações "corruptas" ou "fraudulentas". Londres presta atenção, cumprimenta e corre a cumprir o que os seus "superiores" lhe dizem.

Hoje é a Venezuela; amanhã será qualquer outro detentor na lista de mais de 30 países que guardam as suas reservas de ouro nos cofres do Banco de Inglaterra.

A Venezuela, um membro da "troika da tirania" , está a tentar ser um importante exportador de ouro. Está empenhada em certificar umas 32 jazidas de ouro e a construir 54 fábricas de transformação.

A flagrante violação dos direitos de um estado soberano afeta outros países, que também têm os seus interesses em perigo. Um deles é a Rússia. Moscovo prefere o precioso metal às notas de dólar e, por isso, tornou-se num grande importador mundial de ouro. No ano passado, comprou um récorde de 92,2 toneladas para constituir reservas queexcedem as 2000 t . Poderá em breve alcançar a Itália (2451,8 t) e a França (2436 t) – os terceiro e quarto detentores mundiais de ouro. As atividades britânicas ilegais são uma ameaça direta aos interesses nacionais da Rússia.

A Alemanha, o segundo maior detentor mundial de ouro, a seguir aos EUA, com 3378 toneladas, acabou de repatriar, no ano passado, 300 toneladas de ouro que estavam nos EUA. Mas os EUA demoraram vários anos a fazê-lo!Noticiou-se que as barras de ouro recebidas no Bundesbank tinham etiquetas diferentes, o que levou a pensar que os EUA podiam ter substituído o ouro alemão por outras barras de ouro compradas no mercado. Significa que o ouro não estava guardado, na altura em que a Alemanha fez o pedido de devolução. Porventura, o Reino Unido não pode satisfazer o pedido da Venezuela pela mesma razão – o ouro não está nos cofres de Londres e é preciso tempo para o comprar.

Koos Jansen, colaborador da BullionStar, pôs em dúvida se o ouro do Fort Knox ainda lá se encontrará. Ron Paul , antigo Representante, tentou perceber alguns dos mistérios que envolvem o Federal Reserve, questionando a organização e interrogando representantes do Fed. Nunca obteve uma resposta clara. O governo dos EUA não faz auditorias ao ouro.

Ainda há uma outra razão que afeta a Rússia – a Venezuela é o seu maior parceiro económico. Caracas paga as suas contas. Moscovo quer que ela se mantenha em solvência.

É um absurdo a Grã-Bretanha ter perguntado à Venezuela "Para que querem o ouro?". É um comportamento inaceitável e escandaloso. Será que Londres se recusará a pagar o fornecimento de gás da Rússia , perguntando a Moscovo "Para que querem o dinheiro?" Desta vez, a Grã-Bretanha foi longe demais. Este precedente é suficientemente importante para justificar o lançamento do alarme na comunidade internacional. Ou respeitamos as normas de comportamento comummente aceites ou vivemos numa selva. Em vez de atacar a Rússia e outros países sem qualquer prova que justifique as suas acusações, seria bem melhor que o governo dos EUA olhasse para o espelho. Agora, todos vemos que o Reino Unido é um parceiro pouco fiável com quem negociar. Será necessário um esforço longo e difícil para restaurar a reputação de Londres. 

10/novembro/2018

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

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