quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Portugal | Ninguém pára os bancos


Vítor Santos | Jornal de Notícias | opinião

Os cenários mais apocalípticos já apontam a nova crise financeira no espaço de dois anos, mas a pujança do edifício bancário indica-nos, pelo menos em Portugal, um horizonte em sentido oposto.

Os bancos estão de volta aos lucros fabulosos. Só nos primeiros nove meses do ano, triplicaram os ganhos para 1,5 mil milhões de euros, isto antes de serem conhecidos os resultados do Novo Banco, a instituição financeira mais transversal à sociedade portuguesa, se pensarmos que é financiada por todos os contribuintes nacionais - a comprová-lo está o facto de o Orçamento do Estado de 2019 reservar uma injeção de 400 milhões de euros a este filho do BES. Ou seja, nem todos somos clientes, mas, ainda que de forma indireta, somos todos investidores.

De volta aos dias dourados, importa perceber quem está a alavancar o biorritmo bancário. A resposta é simples: os portugueses, porque os lucros da atividade doméstica multiplicaram-se cinco vezes, representando dois terços do bolo total. Traduzido em euros, são mil milhões. Coisa muita, portanto. Cruzando estes números com o facto de o crédito ao consumo ter atingido o valor mais alto dos últimos 14 anos, a surpresa nem é grande. Depois de pagarmos o buraco dos bancos durante a crise, estamos, agora, a sustentar o seu crescimento, o que também não teria mal nenhum se o Banco de Portugal não tivesse feito uma série de alertas sobre o tema, procurando colocar travão na euforia.

Mas ninguém pára os bancos, sobretudo nas políticas agressivas de sedução ao consumo, que são, depois do que vivemos nos anos da troika, pura, mas compreensível, irresponsabilidade. Compreensível porque, no fim de contas, o negócio bancário acaba por andar ali pela fronteira do "win-win": quando há lucros, é fantástico e são distribuídos pelos acionistas; quando não há, é uma tragédia e os prejuízos são distribuídos pelos contribuintes.

*Editor-executivo do JN

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