Vítor Santos | Jornal de Notícias
| opinião
Os cenários mais apocalípticos já
apontam a nova crise financeira no espaço de dois anos, mas a pujança do
edifício bancário indica-nos, pelo menos em Portugal, um horizonte em sentido
oposto.
Os bancos estão de volta aos
lucros fabulosos. Só nos primeiros nove meses do ano, triplicaram os ganhos
para 1,5 mil milhões de euros, isto antes de serem conhecidos os resultados do
Novo Banco, a instituição financeira mais transversal à sociedade portuguesa,
se pensarmos que é financiada por todos os contribuintes nacionais - a
comprová-lo está o facto de o Orçamento do Estado de 2019 reservar uma injeção
de 400 milhões de euros a este filho do BES. Ou seja, nem todos somos clientes,
mas, ainda que de forma indireta, somos todos investidores.
De volta aos dias dourados,
importa perceber quem está a alavancar o biorritmo bancário. A resposta é
simples: os portugueses, porque os lucros da atividade doméstica
multiplicaram-se cinco vezes, representando dois terços do bolo total.
Traduzido em euros, são mil milhões. Coisa muita, portanto. Cruzando estes
números com o facto de o crédito ao consumo ter atingido o valor mais alto dos
últimos 14 anos, a surpresa nem é grande. Depois de pagarmos o buraco dos
bancos durante a crise, estamos, agora, a sustentar o seu crescimento, o que
também não teria mal nenhum se o Banco de Portugal não tivesse feito uma série
de alertas sobre o tema, procurando colocar travão na euforia.
Mas ninguém pára os bancos,
sobretudo nas políticas agressivas de sedução ao consumo, que são, depois do
que vivemos nos anos da troika, pura, mas compreensível, irresponsabilidade.
Compreensível porque, no fim de contas, o negócio bancário acaba por andar ali
pela fronteira do "win-win": quando há lucros, é fantástico e são distribuídos
pelos acionistas; quando não há, é uma tragédia e os prejuízos são distribuídos
pelos contribuintes.
*Editor-executivo do JN
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