quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Portugal | O Orçamento que as direitas detestam


Jorge Rocha* | opinião

Hoje é o dia da aprovação final do Orçamento Geral do Estado para 2019. Confirma-se, na prática, aquilo que as direitas nunca quiseram acreditar, quando, três anos atrás, previram fátua a duração da maioria parlamentar liderada por António Costa. Não vieram os diabos, mormente os enviados pelas instituições europeias, que terão julgado suficientemente fortes para derrubarem a vontade maioritária do eleitorado português, nem as divergências entre os partidos à esquerda justificaram qualquer hipótese de rutura. Nos quatro anos de legislatura ocorrem outros tantos orçamentos sem se justificarem os tão comuns retificativos, quando eram Vítor Gaspar ou Maria Luís Albuquerque os titulares do cargo, que tem vindo a ser assumido pelo competentíssimo Mário Centeno.

Da discussão dos últimos dias, a pretexto das propostas de alteração do documento elaborado pelo governo, sobressaem dois por terem justificado maior polémica: o IVA das touradas e a contagem do tempo de carreira dos professores.

Sobre o primeiro já zurzi o bastante na barbárie do espetáculo pelo que me resta lamentar que 43 deputados socialistas, e todo o grupo parlamentar do PCP, se tenham associado aos partidos das direitas para me obrigarem, enquanto contribuinte, a subsidiar algo que me repugna. Os defensores da tradição marialva, há muito obsoleta, ter-se-ão iludido com a breve vitória, mas apenas podem recorrer ao tipo de fanfarronada daquele vetusto deputado, que desrespeitou a casa da Democracia com a música das arenas no momento da votação. Porque corresponde ao sentimento da grande maioria dos portugueses, a tourada definhará até morrer sem glória nem ruidosos lamentos.

A respeito da pretensão corporativa dos professores volta a constatar-se a incapacidade estratégica de Mário Nogueira em cumprir as promessas aos associados, deixando-os continuamente com uma mão vazia e a outra cheia de nada. Se, a partir de janeiro, todos os visados iriam receber a percentagem definida pelo governo como exequível para a conciliar com a situação financeira do país, a lógica do tudo ou nada do provecto sindicalista deixou-os precisamente na segunda situação. É caso para questionar por quanto tempo mais os professores se deixarão iludir pela conduta irresponsável do seu dirigente, que ora tendendo para as direitas, quando são os socialistas a liderarem o governo, ora resguardando-se a bom recato, quando é tempo de decisão das direitas, mais tem parecido um agente provocador dentro do meio sindical para prejudicar as esquerdas do que contribuir para serem elas a perdurarem no poder.

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