quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Portugal | Pobre não é de Esquerda, nem de Direita, é pobre


Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião

O populismo, que se alimenta de gente que leva décadas a ser esquecida, é que pode ser de Esquerda ou de Direita. Mas o perigo nunca é real por vir da Esquerda ou da Direita, é real porque os populismos crescem dividindo os mais frágeis, colocando uns contra os outros. Desempregados contra imigrantes ou brancos pobres contra pretos pobres são o conflito mais comum, num discurso que acaba sempre por apelar aos eleitores para se revoltarem contra os eleitos, todos corruptos.

Em Portugal não temos ainda terreno fértil para semear e colher rapidamente conflitos anti-imigração ou conflitos raciais, mas o potencial existe. O que garantidamente seria um êxito eleitoral era um partido anticorrupção, liderado, por exemplo, pelo juiz Carlos Alexandre. Sem outra agenda que não fosse o combate a esta chaga, que os portugueses acreditam ser generalizada na elite política e económica, um partido com Carlos Alexandre como cabeça de cartaz estaria em condições de ganhar as eleições. Se não já em 2019, na seguinte. Sem uma liderança forte, podem ambicionar, ainda assim, eleger vários deputados e formar um grupo parlamentar.

E sabem porque é que os pobres acabam sempre por dar a mão aos populistas de Direita, ou aos populistas de Esquerda? Porque os políticos "sérios" nunca se preocupam em resolver estruturalmente os problemas dos mais pobres. Os que são verdadeiramente pobres demoram décadas para ver uma pequena parte do seu exército entrar no elevador social, mas estão sempre a vê-lo avariar-se e a ter que voltar para baixo, quando há uma crise. Em Portugal, o salário dos gestores não desceu com a última crise e a Função Pública não perdeu emprego, perdeu salário que já recuperou, mas os milhões que vivem com menos de 800 euros por mês são sempre precários no acesso ao direito de ganhar a vida com trabalho. Se a política gosta de brincar com os mais frágeis, é da mais elementar justiça que os mais frágeis gostem de brincar com a política. Foi assim nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa... e haverá de ser assim em Portugal.

*Jornalista

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