quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Que papel 'Grande Rússia' desempenhou na demissão do chanceler holandês?


A ministra holandesa do Comércio Exterior e Cooperação para o Desenvolvimento, Sigrid Kaag, foi nomeada chefe interina do Ministério das Relações Exteriores após o ex-chanceler Halbe Zijlstra ter se demitido por inventar um encontro com Vladimir Putin.

Anteriormente, Halbe Zijlstra admitiu em entrevista ao jornal Volksrant não ter participado de uma reunião com o presidente russo em 2006, durante a qual Putin teria dito que considerava Bielorrússia, Ucrânia, países Bálticos e Cazaquistão como parte da "Grande Rússia".

Segundo o diplomata, ele soube das afirmações de Putin de um colega seu e mentiu para não comprometer o verdadeiro participante do encontro. Após a confissão, Zijlstra decidiu deixar o cargo.

Mais tarde, foi informado que além de inventar um encontro com Putin, o ex-chefe da diplomacia holandesa interpretou mal as palavras do líder russo.

Ex-dirigente da petrolífera Shell, Jeroen van der Veer, afirmou que foi ele quem participou do encontro com Putin e afirmou nunca ter dito o que Zijlstra falou sobre a ideia expansionista do presidente russo. De acordo com Veer, Putin disse que "historicamente a 'Grande Rússia' é maior do que a Rússia atual", mas Zijlstra interpretou como o desejo de Putin de influenciar nos territórios ex-soviéticos.

A embaixada da Rússia na Holanda, por sua vez, declarou que o incidente em questão é um assunto interno da Holanda, mesmo assim Moscou acredita que as supostas "ambições expansionistas" da Rússia não passam de falsas notícias.
Segundo um comunicado da embaixada, as tentativas de atribuir à Rússia "ambições da Grande Rússia" são infundadas e só podem vir "daqueles que estão interessados em mostrar a Rússia como um inimigo […] e que está expandindo a infraestrutura da OTAN para o leste, provocando um confronto militar".

Em 14 de fevereiro, Zijlstra deveria ter se encontrado com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, mas devido ao incidente a reunião foi adiada.

Mortes de guineenses na fronteira com Senegal gera forte descontentamento


Polícia de Bissau proibiu esta quarta-feira (14.02) uma vigília dos Cidadãos Inconformados frente à embaixada do Senegal para protestar contra assassinatos de guineenses na fronteira entre os dois países.

A morte de um cidadão guineense pelas forças de seguranças senegalesas na linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e o Senegal a 8 de fevereiro deixou as organizações da sociedade civil guineense revoltadas.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos enviou uma carta aberta as autoridades senegalesas para exigir a abertura urgente de um inquérito, "transparente e conclusivo”, com vista a responsabilização criminal e disciplinar dos autores morais e materiais da morte do cidadão guineense Amadu Tidjane Baldé, 58 anos, assim como de 3 outros assassinatos cometidos nas florestas de Borofaye, no território senegalês.
Como aconteceu o assassinato?

Agentes senegaleses do controlo fronteiriço entre os dois países teriam alegadamente disparado contra cidadãos da Guiné-Bissau que se dirigiam para uma cerimónia religiosa no Senegal.

Segundo testemunhas, citadas por uma fonte do Governo, os guineenses teriam considerado injusta uma taxa que era exigida pelos guardas senegaleses para os deixar seguir viagem em direção à localidade de Madina Gounas, onde iriam assistir a uma cerimónia religiosa no sábado (10.02). A alegação dos passageiros guineenses seria de que há 30 anos que atravessam a mesma fronteira em direção a Madina Gounas sem que nunca lhes fosse exigido o pagamento de qualquer taxa monetária.

Na missiva enviada pela Liga Guineense dos Direitos Humanos e que a DW-África teve acesso, lança-se um alerta sobre os perigos da inação das autoridades senegalesas face aos sucessivos atos abusivos das forças sob suas ordens, capaz de pôr em causa os princípios de boa vizinhança e da convivência pacífica entre os dois países e exige a adoção de medidas céleres e adequadas, para pôr fim à impunidade no seio das forças de segurança afetas às zonas fronteiriças, criando assim condições para a existência de um ambiente de paz e tranquilidade entre os dois povos.

Proibição da vigília

Na capital da Guiné-Bissau estava agendada para esta quarta-feira (14.02) uma vigília organizada pelos Cidadãos Inconformados frente à embaixada do Senegal para protestar contra os assassinatos dos guineenses nas regiões da fronteira entre os dois países, mas acabou por ser impedida pela polícia.

O porta-voz dos Inconformados, Sumaila Mané, considera "ser lamentável” que as autoridades guineenses tenham impedido manifestações desse género, ao mesmo tempo que não têm a capacidade de resposta perante os ataques contra os seus cidadãos na fronteira.

"Impedir a manifestação de guineenses no exercício livre dos seus direitos contra um ato bárbaro é uma vergonha. Reunimo-nos à frente da embaixada do Senegal como estava previsto. Mas, antes, informamos as autoridades competentes. De manhã, havia um grupo de policiais a garantir segurança à vigília, mas, de repente, chegou um outro grupo para dispersar os cidadãos que estavam preparados para uma vigília pacífica e ordeira”, explica o porta-voz dos Cidadãos Inconformados.

Falta tomada de posição

Sumaila Mané lamenta o silêncio das autoridades nacionais face aos sucessivos casos de assassinatos e agressões por parte das forças de segurança de Senegal. Ele firma que, da parte guineense, "nem sequer houve um questionamento quanto mais um pronunciamento público”. Mas, mesmo assim, sublinha, que "as autoridades decidem impedir que cidadãos conscientes e inconformados demonstrem a sua revolta junto da representação diplomática senegalesa em Bissau, face ao que aconteceu na semana passada”.

O porta-voz dos Inconformados, movimento que já organizou várias ações de rua nos últimos dois anos, para, entre outros, exigir ao Presidente guineense, José Mário Vaz, que renuncie ao cargo, por ser o principal responsável pela crise política no país, afirma que a inércia das autoridades se deve ao facto de o Presidente do Senegal, “Macky Sall ser o principal aliado do seu homólogo guineense” .

“Este silêncio nos surpreende, infelizmente. Nós temos um Presidente da República que não sabe tomar uma decisão, sem viajar para o Senegal. Ou seja, escolhemos um Presidente que tem o seu Presidente e que para governar precisa das orientações de Macky Sall”, afirma Sumaila Mané.

Entretando, este cidadão defende que a Guiné-Bissau não pode estar a “reboque” de nenhum outro Estado do mundo. E lamenta que, “quando temos um Presidente que não sabe tomar uma decisão e não deixa os cidadãos tomarem conscientemente as suas decisões é vergonhoso”. 

Braima Darame (Bissau) | Deutsche Welle

Guiné-Bissau: Investir na educação para erradicar a mutilação genital feminina


Os casos de mutilação genital feminina na Guiné-Bissau estão a diminuir, mas, para acabar com a prática, é preciso apostar na escolarização das pessoas, principalmente, das mulheres, defende especialista.

Assinala-se esta terça-feira (06.02), o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. A mutilação genital é uma prática que retira o clitóris e, por vezes vezes, outras partes do órgão genital feminino. Esta ação pode causar hemorragias, o que pode levar à morte ou a vários problemas de saúde, como, por exemplo, a infertilidade. Dados da Nações Unidas revelam que cerca de 200 milhões de mulheres e de meninas foram submetidas ao fenómeno, comum em vários países.

A Guiné-Bissau é um dos vários Estados onde mulheres e meninas continuam a ser submetidas a esta prática. No entanto, o número de casos tem diminuído, graças às campanhas de sensibilização levadas a cabo pelas autoridades guineenses e organizações internacionais e a criação, em 2011, da lei que criminaliza a mutilação genital feminina.

Segundo Fatumata Djau Baldé, ex-ministra guineense dos Negócios Estrangeiros e presidente do Comité para o Abandono das Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau, cada vez mais as comunidades estão a abandonar a prática. Fatumata Baldé explica que até ao dia 15 de dezembro de 2017,  67 comunidades  declararam publicamente o abandono deste prática no país. No entanto, sublinha que "nessas comunidades, provavelmente, nem todas as pessoas abandonaram. Acima de 80 por cento eliminaram, até porque tiveram a coragem de o dizer publicamente".

Uma questão cultural

Por ser considerada por muitos como parte da sua identidade cultural, não é possível abandonar a prática da mutilação genital feminina de uma hora para a outra, sublinha Fatumata Djau Baldé. A aposta na escolarização das pessoas, em particular das mulheres, seria uma forma eficaz de combater este fenómeno.

Fatumata Djau Baldé acredita que a escolarização terá um papel fundamental neste processo. "Se começarmos a falar destes aspetos nas escolas, aos jovens que serão mães e homens de amanhã, obviamente, que tendo conhecimento dessas práticas, eles terão mais instrumentos para poderem proteger as sua filhas e não submeterem elas à mutilação", explica.

O caso do Senegal

No vizinho Senegal, os efeitos das campanhas contra a mutilação genital feminina também já se fazem sentir, embora a prática continue a ser uma realidade em regiões mais conservadoras, como Kolda, no sul do país. Ainda assim, mulheres como Dieynaba Sowa, que praticavam excisões, abandonaram a tradição com a ajuda de uma campanha da Associação Senegalesa para o Bem-Estar das Mulheres.

Sowa lembra que percorreu muitas aldeias para fazer excisões genitais. Até mesmo na fronteira com a Guiné-Bissau. "Mas abandonámos a prática nas meninas. Temos seis meninas aqui, mas não foram submetidas à excisão", afirma.

Em maio de 2017, cento e dezassete aldeias proibiram a mutilação genital feminina na região. E a prática está a ser erradicada no Senegal.
Evolução no universo masculino

A Guiné-Bissau regista uma evolução também entre os homens. Se antes eram a favor da mutilação genital - principalmente os líderes religiosos - hoje, o cenário é bem diferente, diz Fatumata Djau Baldé.

Publicamente, são poucos os homens que defendem a prática, porque antes os que defendiam a mutilação justificavam a mesma como uma recomendação religiosa. Hoje em dia, muitos desses líderes já saíram a público para dizer que a prática não é uma recomendação religiosa, realça.

Embora os casos de mutilação na Guiné-Bissau tenham diminuído, as preocupações continuam em relação à diáspora. Fatumata Djau Baldé lamenta o facto de muitas pessoas continuarem a seguir este caminho.

A mutilação genital feminina é considerada pelas Nações Unidas Unidas uma violação dos Direitos Humanos. Por isso, a organização lembra neste Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina que as vítimas têm vários direitos violados, como o direito à saúde, à integridade física e o direito a estar livre de tortura e tratamentos cruéis ou desumanos.

A erradicação da prática da mutilação genital feminina é um dos elementos que compõem a Agenda 2030 e vários Estados assumiram o compromisso da sua eliminação.

Ângelo Semedo | Deutsche Welle

ÁFRICA DO SUL | Jacob Zuma demite-se se moção de censura for aprovada


Zuma abandonará a presidência da África do Sul se o Parlamento votar, quinta-feira, a favor da moção de censura apresentada pelo ANC, no poder, admitiu em entrevista ao canal público SABC. "Não fiz nada de mal", afirmou.

Jacob Zuma quebrou finalmente o silêncio, em mais um dia de tensão na África do Sul. Em entrevista à televisão pública sul-africana SABC, o Presidente sul-africano disse que aceitaria a decisão do Parlamento. Mas rejeitou a exigência do Congresso Nacional Africano (ANC) para se demitir antes da votação de uma moção de censura, antecipada para esta quinta-feira (15.02) à tarde.

Zuma, que prometeu dirigir-se à nação antes do final do dia, considerou "injusta" a decisão do ANC e sublinhou que o partido não apresentou "razões claras" para a sua saída. "Preciso de ser informado sobre o que fiz. Infelizmente, ninguém conseguiu ainda dizer-me. Porquê tanta pressa?", questionou.

O poder de Zuma tem vindo a diminuir desde que Cyril Ramaphosa lhe sucedeu, em dezembro, à frente do partido, e prometeu guerra contra a corrupção. No entender do chefe de Estado, Ramaphosa deveria preparar-se para as eleições de 2019, altura em que concluiria o seu último mandato permitido. Só então, quando fosse eleito, aconteceria a transferência de poderes e não antes.

"Alguns líderes têm dito que não precisamos de dois centros de poder na África do Sul, mas isso não é um motivo porque não existem dois centros de poder", sublinhou Zuma na sua primeira aparição pública após o ultimato do partido.

Na entrevista ao canal público, Jacob Zuma vestiu o papel de "vítima" para dizer que não fez "nada de mal". O chefe de Estado é acusado desde 2016 de vários atos de corrupção, que continua a negar. "Estamos a passar muito tempo a discutir 'Zuma deve sair' e não entendo porquê."

Oitava moção de censura

O ainda Presidente da África do Sul admitiu que ponderou demitir-se, mas depois decidiu ficar "mais uns meses" no cargo que vigora até 2019. Constitucionalmente, o Presidente não é obrigado a aceitar a decisão do seu partido.

Mas se não o fizer, o ANC marcou já para a tarde de quinta-feira (15.02) a apresentação, no Parlamento, de uma moção de censura - a nona que Zuma enfrenta. O anúncio foi feito pelo tesoureiro-geral do partido, Paul Mashatile, após uma reunião do grupo parlamentar do ANC. "Não podemos manter a África do Sul à espera", disse.

"O Comité Executivo Nacional do ANC decidiu recordar ao Presidente Zuma que termina hoje (14.02) o prazo (para ele se demitir). Vamos agora avançar com a moção de censura no Parlamento, para que o Presidente Zuma seja afastado do cargo e possamos eleger Cyril Ramaphosa como Presidente da República", revelou em conferência de imprensa.

"O melhor que o Presidente tem a fazer é fazer o que é certo. E o que é certo é que o Comité Executivo Nacional (NEC) do ANC pediu humildemente ao Presidente que se demita", afirmou Magomela Mako, membro do partido, após a entrevista de Zuma.

Buscas em casa dos Gupta

Na manhã desta quarta-feira (14.02), nos arredores de Joanesburgo, uma unidade de elite da polícia sul-africana fez buscas na casa da família Gupta, aliada de Zuma, no âmbito de investigações sobre tráfico de influências que envolvem o Presidente. Em 2016, a família de empresários, de origem indiana, foi acusada de envolvimento na gestão dos assuntos do Estado sul-africano, desde a nomeação de ministros à pressão para a obtenção de contratos públicos.

Foram detidas três pessoas, cuja identidade não foi revelada. O advogado da família disse à agência Reuters que "nenhum dos irmãos Gupta foi detido".

Tessa Turvey, vizinha da família, aplaude as detenções. "Finalmente está a ser feito algo. Estes homens devem sair do nosso país e deixar-nos em paz. Já fizeram demasiados estragos", disse aos jornalistas.

Tanto Zuma como a família Gupta, que também está a ser investigada pelos serviços secretos norte-americanos, negam quaisquer ilegalidades. Dizem-se vítimas de uma "caça às bruxas".

Madalena Sampaio, Reuters, AFP, Agência Lusa, EFE | em Deutsche Welle

ANGOLA | A crítica ou um Estado falhado

Altino Matos* | opinião

Pela frente ainda temos um caminho por percorrer, dentro do amplo plano traçado por “todos nós” para se atingir o grande objectivo: tornar o país um bom lugar para se viver! E não importa a linha de orientação política ou ideológica, tão-pouco importa o sentido emocional do voto feito nas últimas eleições porque por uma ou outra razão, queremos todos - angolanos e angolanas - concretizar o sonho de prosperidade familiar e institucional.

E, mais importante do que a certeza de tornar o país um bom lugar para se viver, é a certeza de que só será possível conquistar esse grande feito se se aceitar a convivência entre iguais, sabendo que a diferença é a base de tal relacionamento e, a partir de dela, dar-se lugar a circulação de ideias, tanto na sua forma oral ou escrita. Com isso, todos os actos, concretizados ou não, devem se sujeitar a um processo de discussão, quer ao nível técnico, sob domínio de inspiração especializada - em campo de debate fechado -, quer ao comum-técnico, sob domínio da curiosidade, em campo de debate aberto - portanto no espaço público. Aqui, é fundamental aceitar a razão da crítica, permitindo os arranjos plausíveis à concretização de ideias em projectos e de políticas em programas, mantendo os sentidos despertos sobre o resultado, a fim de aferir a sua eficácia.  

De outra forma não será possível. Aliás, o tempo que transpusemos, cujas marcas ainda estão bem presentes na nossa retina, prova que o impedimento da manifestação de ideias, através do encerramento dos canais habituais, as aproximações de carácter intimidatório, o assédio moral, a desmoralização, a sabotagem, enfim, apenas convergem para a redução da força de prosperidade e tornam o Estado um objecto sem organização política, sobrando daí a pobreza mental e material, a bajulação e toda ordem de injustiças contra pessoas e bens. Em boa verdade, gestos de compaixão e humanismo desaparecem. O Estado, no sentido filosófico, morre. 

Depois de um olhar a esse quadro, faz todo sentido colocar-se a questão: A crítica ou um Estado falhado? A resposta, convenhamos, é muito simples, a crítica. Pois apenas com debates, partilha de informação, alinhamento  de ideias, cruzamento de fontes, será possível construir-se um pensamento colectivo capaz de ajudar o país a manter o rumo. Significa, entretanto, que temos que dar lugar a crítica. Porém, uma observação oportuna se impõe. Todo esse exercício deve ser acompanhado de valores como honestidade, seriedade e compromisso com o Estado-Nação. 

Assim se deve julgar a opinião daquele que se manifesta em relação a algo, buscando as suas motivações com base real e não com insinuações absurdas e tendenciosas. Pelo menos, “eu”, quando me predisponho discorrer sobre assuntos da governação ou a bicefalia no MPLA, aliás por demais tentadores, faço-o com grande sentido de responsabilidade e usando todos os mecanismos técnicos e políticos organizados na minha mente. Nunca o fiz com tendências macabras nem ao serviço de alguém. 

Por isso, quando falo do presidente José Eduardo dos Santos, faço-o como se estivesse a tratar um pai, como um filho preocupado em preservar o que de melhor ficou do seu mandato, mas ciente que ele deve se recolher para ajudar o esforço de preservação do seu legado. Assim acontece quando falo do MPLA, faço-o sempre com base nos meus valores de ordem ideológica e de simpatia política, mas centrado na sua responsabilidade política perante o país, por ser o partido que dá suporte ao governo. A honestidade e seriedade, bem como a responsabilidade e compromisso com a ordem e a convivência sã sempre serviram-me de barómetro quando enfrento os meus desafios, muitos dos quais podem ser comum a todos, apesar de estarem sujeitos a apreciações diferentes, algo tão normal na convivência entre iguais. Por conseguinte, os sinais, apesar de tímidos, denunciam pequenos truques de pessoas ardilosas empenhadas em fechar os canais à crítica. A acontecer, todos sabemos o que vai custar ao país.

*Jornal de Angola

ANGOLA | Cabinda: Padre Casimiro Congo garante que não foi "comprado"


"Não fui comprado". É assim que Jorge Casimiro Congo reage às críticas à sua entrada no Governo de Cabinda. A decisão deixou de boca aberta muitos dos seus companheiros da luta pela independência do enclave angolano.

Jorge Casimiro Congo era provavelmente o rosto mais visível da contestação ao partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no enclave de Cabinda. Esteve sempre na "linha da frente" dos independentistas que se consideram colonizados por Luanda e, por isso, reivindicam há mais de duas décadas a autonomia daquele território, rico em petróleo e madeira.

A entrada do padre no Governo de Cabinda, como secretário provincial da Educação, Ciência e Tecnologia, tem gerado muitas críticas: Será uma nova forma de luta ou a submissão dos seus ideais a uma "oferta milionária"?

Em entrevista à DW África, Casimiro Congo assegura que aceitou o convite, porque a governação do Presidente João Lourenço lhe inspira confiança.

"Eu fui sempre de opinião que Cabinda não podia fazer a sua luta de forma isolada e que era preciso encontrar uma saída em cada momento", afirma. "Quando, em 2008, pedi ao povo de Cabinda para participar em eleições angolanas, fui torturado e acusado de tudo. Fizeram até panfletos contra mim. Mas, depois disso, as pessoas começaram a entender o que eu defendia. Foi isto que levou Raúl Danda a concorrer pela lista da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e, mais tarde, o padre Raul Taty e tantos outros, que têm hoje assento no Parlamento."

Acusações de traição

Mas com a entrada no aparelho governativo, o padre Congo "trai" os ideais de Cabinda, afirmam antigos "companheiros de trincheira" como o advogado e ativista cabindês Arão Bula Tempo.

"Qual é a honra e a dignidade de quem lutou todos os dias, de quem foi um dos mentores desta luta, e hoje aceita uma função de secretário provincial da Educação?", questiona o ex-presidente do conselho provincial da Ordem dos Advogados de Angola (OAA), que chegou a ser detido e acusado de crimes contra a segurança de Estado, em 2015.

"Lamentavelmente, hoje os quadros de Cabinda interessam-se mais pelas funções do que pela própria causa que assola o território de Cabinda, que empobrece o povo de Cabinda, que continua a assistir a perseguições e à própria degradação social", acrescenta Arão Bula Tempo.

"Só a História me poderá julgar"

Jorge Casimiro Congo diz, no entanto, que está preparado para ouvir todas as críticas dos inteletuais de Cabinda. O antigo pároco da Igreja Católica em Cabinda, expulso por Dom Filomeno Vieira Dias, então bispo da diocese, refere que já liderou conversações entre a sociedade civil cabindesa e os dois principais partidos na oposição, UNITA e Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), e desta vez, decidiu sentar-se à mesma mesa com o MPLA para tentar melhorar a situação política, económica e social no enclave.

"Para mim, é preciso sempre encontrar novas maneiras de abordar a questão de Cabinda e creio que posso discutir com o Presidente João Lourenço", diz Casimiro Congo. "Penso que este é o momento de dar a minha contribuição, sobretudo na educação, que se encontra num estado de degradação terrível."

A nomeação do padre Congo pelo governador de Cabinda, o general Eugénio César Laborinho, foi discutida no "Kremlin", como também é conhecida a sede do MPLA em Luanda, através de contactos e reuniões ao mais alto nível entre o ativista cabindês e o secretário para as Relações Exteriores do partido, Julião Paulo "Dino Matross", e o secretário-geral, António Paulo Kassoma.

Jorge Casimiro Congo garante que a sua entrada no Governo de Cabinda não dilui as suas convicções: "Não recebi dinheiro nenhum. Só a História me poderá julgar. É possível melhorar as condições de Cabinda a partir de dentro. Se eu falhar, não me vou frustrar, o importante é que tentei. Agora, já não tenho idade para estar sozinho, a gritar - não posso estar permanentemente a assumir um povo que não se quer libertar."

Nelson Francisco Sul (Luanda) | Deutsche Welle

As raízes filosóficas da destruição do mundo


As corporações globais destroem o planeta. Mas apoiam-se numa ideia que nasce em Platão, cresce em Santo Agostinho e reverbera em Descartes: a de que a Alma, ou a Razão, devem vencer a Natureza e nossos sentidos

George Monbiot | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Sandro Boticelli, Agostinho de Hippo

Sabemos para onde estamos indo. Faz muitos anos os cientistas avisam que estamos explodindo os limites  ecológicos da Terra. Sabemos bem que estamos no meio de uma ruptura climática e um colapso ecológico. Apesar disso, parecemos fisicamente incapazes de agir a partir desse conhecimento.

Os Estados Unidos elegeram para presidi-los um homem que prometeu desencadear um gigantesco ataque ecológico, e infelizmente cumpriu a promessa. O governo do Reino Unido produziu 150 páginas de greenwash que chama de Plano Ambiental de 25 Anos: a mesma tagarelice que governos covardes vêm publicando nos últimos 25 anos. Como sempre, foi descrito em determinados círculos como “um bom começo”. Nenhuma política, em lugar nenhum, é proporcional à escala do desafio que temos diante de nós.

O que nos impede de responder à ameaça? Durante anos suspeitei que a causa fosse ainda mais profunda que o poder das grandes corporações e a obsessão oficial pelo crescimento econômico, apesar de serem forças tão poderosas. Agora, graças ao livro mais profundo e de amplo alcance que jamais li, sinto que começo a entender o que pode ser.

The Patterning Instinct  (O Instinto de Modelagem, em tradução livre), de Jeremy Lent, foi publicado há alguns meses, mas demorei um tempo para processá-lo, já que quase cada página me fez repensar o que considerava verdade. Unindo história cultural e neurociência, Lent desenvolve uma nova disciplina que denomina história cognitiva.

Desde a infância, nossas mentes são modeladas pela cultura em que crescemos – o que produz trilhas que aprendemos a seguir, como se fossem caminhos através de um campo de grama alta. Ajudam a construir esses padrões de significado poderosas metáforas de raiz encravadas em nossa linguagem. Sem conhecimento consciente, elas guiam as escolhas que fazemos.

Lent argumenta que o caráter peculiar ao pensamento religioso e científico do Ocidente, que dominou o resto do mundo, empurrou a civilização humana e todo o mundo vivo para a beira do colapso. Mas mostra também como, compreendendo suas metáforas e padrões, podemos sair de nosso caminho e desenvolver novas trilhas através do campo de grama, o que nos afastaria da beira do precipício.

Há muitas questões pelas quais poderíamos começar, mas talvez uma das mais cruciais seja entender a influência do pensamento de Platão no início da teologia cristã. Ele propôs um mundo ideal percebido pela alma, existente numa esfera apartada do mundo material vivido pelo corpo. Para alcançar o conhecimento puro que existe acima do mundo material, a alma precisa separar-se dos sentidos e dos desejos do corpo. Platão ajudou a firmar uma profunda moldura no entendimento ocidental, associando capacidade de pensamento abstrato com alma, alma com verdade, verdade com imortalidade.

Alguns dos primeiros pensadores cristãos, em particular Santo Agostinho, levaram mais longe essas metáforas, até um ponto em que não apenas o corpo humano, mas todo o mundo natural passou a ser visto como anátema, que distrai e corrompe a alma. Deveríamos odiar nossa vida neste mundo para assegurar a vida no próximo.

O cristianismo, por sua vez, exerceu influência poderosa sobre o conhecimento científico moderno. Longe de romper com padrões de pensamento anteriores, a famosa crença de René Descartes – de que este consistia em “uma substância cuja essência ou natureza inteira é pensar e cujo ser não requer lugar e não depende de coisas materiais” – foi uma extensão das cosmologias platônicas e cristãs, com uma diferença crucial: substituiu a alma pela mente.

Se nossa identidade está estabelecida somente na mente, então, como insistiam os cristãos, nosso corpo e o resto da natureza, sendo incapazes de ter razão, não têm valor intrínseco. Descartes foi explícito sobre isso: ele insistiu que não há diferença “entre as máquinas feitas por artesãos e os vários corpos criados pela própria natureza”. A mente ou alma era sagrada, enquanto o mundo natural não possuía nem valor inerente nem significado. Existia para ser dissecado e explorado sem remorso.

Essa visão de mundo sustentou a revolução científica, que nos trouxe espantosas maravilhas e benefícios que transformaram nossas vidas. Mas também incorporou em nossas mentes metáforas de raiz catastróficas, que ajudam a explicar nossa atual relação com o mundo vivo. Entre elas estão as noções do humano desconectado da natureza, do nosso domínio sobre a natureza, da natureza como máquina e, mais recentemente, da mente como software e o corpo como hardware.

Essas metáforas de raiz continuam a informar o discurso público. O biólogo britânico Richard Dawkins, por exemplo, argumentou  que “um morcego é uma máquina, cuja eletrônica interna está tão ligada que os músculos de sua asa miram automaticamente os insetos”. Se uma máquina com a complexidade, auto-organização e autoperpetuação de um morcego foi desenvolvida, o professor Dawkins deveria nos dizer onde encontrá-la.

Num mundo em que falta supostamente valor inerente, mas no qual muitos de nós perderam a crença na alma imortal ou na santidade da razão pura, estamos diante de um vazio de significado. Buscamos preenchê-lo com um consumismo desenfreado. Para mudar nosso comportamento, afirma Lent, é preciso mudar nossas metáforas de raiz.

Isso não significa que deveríamos abandonar a ciência: longe disso. O estudo de sistemas complexos revela a natureza como uma série de sistemas auto-organizados, auto-regenerativos, cujos componentes estão conectados uns aos outros de maneiras até há pouco inimagináveis. Isso mostra que, como propôs o grande conservacionista John Muir, “Quando tentamos selecionar uma coisa por si só, descobrimos que está atrelada a tudo o mais no universo.” Longe de estarmos afastados da natureza ou poder dominá-la, estamos incorporados nela, intimamente conectados a processos que nunca podemos controlar completamente. Potencialmente, isso nos possibilita ver o próprio universo como uma teia de significados: uma poderosa nova metáfora de raiz que poderia, talvez, mudar a maneira como vivemos.

Há muito trabalho a fazer até traduzir esses insights em políticas práticas. Mas me parece que Lent explicou por que, a despeito de nosso conhecimento ou mesmo de nossas intenções, continuamos a seguir o caminho do precipício. Para resolver um problema, precisamos primeiro entendê-lo: “um bom começo” é assim. Não podemos mudar o destino até que mudemos o trajeto.

*George Monbiot - Jornalista, escritor, acadêmico e ambientalista do Reino Unido. Escreve uma coluna semanal no jornal The Guardian.

BRASIL | Agenda da Agricultura com Monsanto sugere aprovação do 'Pacote do Veneno'


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Para professor da Universidade Estadual de Goiás, governo Temer costura mais um acordo: a liberação geral de agrotóxicos em troca de apoio para reformas envolvendo Previdência, terras e mineração

Cida de Oliveira, da RBA | em Carta Maior

São Paulo – Em busca de apoio a suas reformas, como a da Previdência, e para o afrouxamento de regras para a mineração e para a venda de terras a grupos empresariais estrangeiros, o governo Temer deve oferecer como moeda de troca a aprovação do chamado "Pacote do Veneno". O conjunto de projetos apensados que revogam a atual Lei dos Agrotóxicos e facilitam o registro desses produtos, inclusive banidos em outros países, é o agrado que faltava aos fabricantes de agroquímicos e sementes transgênicas.

Para eles, foi insuficiente a liberação pela Anvisa, em novembro, do agrotóxico perigoso benzoato de emamectina. E a resolução baixada em janeiro pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que facilita a adoção de novas biotecnologias, ainda pouco estudadas, pelo agronegócio nacional.

A análise é do professor do curso de Geografia da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e coordenador do Grupo de Trabalho Agrotóxicos e Transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Murilo Mendonça Oliveira de Souza. Para ele, o avanço do pacote, travado pela agenda das "reformas", é alvo de pressão por parte de executivos das empresas.

No dia 1º, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, se reuniu com o presidente da Monsanto no Brasil, Rodrigo Santos, acompanhado de diretores da área jurídica e de negócios da multinacional, conforme cópia da agenda no final desta reportagem. No mesmo dia, pela manhã, esteve com ruralistas em um seminário que discutiu desafios e alternativas para garantir o crescimento do agronegócio. 

"Como ministro, Blairo Maggi cumpre bem essa função de articulação com representantes das indústrias de sementes transgênicas e agrotóxicos, como a Monsanto", afirmou, lembrando que em março passado Maggi havia se reunido com o presidente mundial da Monsanto.

"Já estava sendo desenhada essa aproximação que vem se fortalecendo com a presença dele no Ministério. Essa proximidade com o setor empresarial, com a Bayer e outras, ocorre justamente quando a Europa impõe restrições ao glifosato desenvolvido pela Monsanto. Então os fabricantes estão se articulando em países onde há condições políticas favoráveis", disse Murilo Souza.

Conforme destacou, os projetos que compõem o chamado "Pacote do Veneno" são favoráveis à imagem das empresas, cada vez mais desgastadas. É o caso do Projeto de Lei 3.200/2015, do deputado federal Luis Antonio Franciscatto Covatti (PP-RS), que veta o termo "agrotóxico" e o substitui por "fitossanitário", além de criar a Comissão Técnica Nacional de Fitossanitários (CTNFito) que será composta basicamente por integrantes do Ministério da Agricultura.

Outro projeto de peso no pacote, o PL 6.299/2002, de autoria do próprio Maggi, altera regras para a pesquisa, experimentação, produção, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda, utilização, importação, exportação, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, inspeção e fiscalização. Se for aprovado, a embalagem dos agroquímicos deixará de ter, por exemplo, a presença da caveira – símbolo de veneno conhecido universalmente, até mesmo por pessoas analfabetas e crianças.

Murilo Souza observa ainda o lobby das indústrias nos estados para a flexibilização das regras para entrada e utilização dos produtos, como em Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. "São ações integradas para ir facilitando a aprovação do pacote mesmo em doses homeopáticas, enquanto pressionam a aprovação geral. Embora haja resistência dos movimentos, como a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e da própria ABA, as empresas têm grande apoio no governo."

As vantagens concedidas ao setor, como incentivos fiscais e tributários, com isenções que chegam a 100% em alguns estados, também foi um ponto destacado pelo professor da UEG. "Além de tudo isso eles ainda querem mais. Não têm limites, querem o controle sobre os recursos. Por isso defendemos o fim das isenções."

Recreio

Na manhã de 3 de maio de 2013, uma aeronave da empresa Aerotex Aviação Agrícola sobrevoou a Escola Municipal Rural São José do Pontal, na área rural do município de Rio Verde (GO), pulverizando o veneno Engeo Pleno, da Syngenta, sobre mais de 100 pessoas, entre elas crianças que estavam no pátio. Era hora do recreio. 


Para saber mais, assista ao filme Pontal do Buriti – Brincando na Chuva de Veneno:

A AVAAZ LUTA PARA COMBATER ATAQUE SECRETO À AMAZÓNIA, COLABORE


Da Avaaz recebemos o alerta e a solicitação para os apoiarmos como possível na divulgação sobre o ataque secreto à Amazónia. Pedimos a vossa importante atenção e colaboração. (PG)

Queridos amigos e amigas,

A Amazônia colombiana se transformou na "terra de ninguém" em destruição ambiental: madeireiros e plantadores ilegais de folha de coca estão invadindo e destruindo tudo o que encontram pela frente!

O governo insiste que o desmatamento não é tão grande assim. Mas fotos de satélite custeadas por membros da Avaaz mostram que a situação é pior do que nunca.

Temos que parar esse ataque secreto à Amazônia!

Com as eleições chegando, este é o momento perfeito para colocar essa investigação como prioridade na agenda dos políticos, e chamar a atenção de toda a imprensa colombiana. Quando tivermos um milhão de assinaturas, a Avaaz vai exigir que os candidatos à presidência assumam o compromisso de proteger a Amazônia e acabar com o desmatamento:

A Amazônia é fundamental para a resistência ambiental do planeta, além de produzir quase ¼ do oxigênio que respiramos! A Amazônia brasileira é mais conhecida que a porção colombiana, mas tudo faz parte do mesmo maravilhoso e complexo ecossistema -- o que faz desse um ataque gravíssimo.

A proximidade das eleições faz com que o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, esteja mais vulnerável à pressão. Em 2016, ele defendeu planos ambiciosos para proteger a Amazônia: um corredor transnacional e o compromisso de alcançar desmatamento zero até 2020. Mas ele está na contramão para cumpri-las.

Isso nos dá a chance de transformar a denúncia dos cidadãos colombianos no estopim político que force o presidente Santos a agir. Quando chegarmos a um milhão de assinaturas, a Avaaz vai colocar um painel digital na frente da residência presidencial, contando cada assinatura em tempo real. Isso vai causar um frenesi na imprensa, e o presidente não conseguirá mais ignorar o tema.

Clique para impedir o ataque secreto à Amazônia

Nosso movimento tem liderado a mobilização de milhões de pessoas ao redor do mundo contra as mudanças climáticas, e atingimos importantes vitórias para nossos oceanos e florestas -- até compramos uma porção de floresta tropical para proteger os orangotangos na Indonésia! Vamos apoiar o povo da Colômbia para trazer paz para a floresta Amazônica e salvar os pulmões do planeta.

Com esperança,

Ana Sofía, Danny, Meetali, Diego, Luisa e toda a equipe da Avaaz

Mais informações:

Desmatamento aumenta na Colômbia após desmobilização das Farc (The Guardian) (em inglês)
https://www.theguardian.com/world/2017/jul/11/colombia-deforestation-farc

‘É um sistema perverso’: como fazendeiros colombianos estão reflorestando suas terras exploradas (The Guardian) (em inglês)
https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/29/its-a-perverse-system-how-colombias-farmers-are-reforesting-their-logged-land

Com orçamento desfalcado, Colômbia quer expandir áreas protegidas (O Eco)
http://www.oeco.org.br/reportagens/com-orcamento-desfalcado-colombia-quer-expandir-areas-protegidas/

A Avaaz é uma rede de campanhas global de 46 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas nacionais e internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 18 países de 6 continentes, operando em 17 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

PORTUGAL | Atos falhados e outros que o não são...


Jorge Rocha | opinião

1. Eu sei que Marcelo pensa que os portugueses são maus. Se não pensasse assim não imaginava uma estratégia, que consistiu em trata-los como tolos, dando-lhes «papas e bolos» numa fórmula sinónima - a de «abraços e selfies» - chegando à presidência, que jurara nunca vir a ser o seu objetivo (o discurso de quando tomou posse na Fundação da Casa de Bragança assim o pressupôs!), com um competente domínio da arte da burla. Por isso não admira que a língua lhe fuja amiúde para a verdade: quando disse à seleção de futsal que “mais uma vez os portugueses demonstraram que quando são bons são os melhores”,  o que está a sugerir senão que, normalmente, somos maus, só saindo desse registo, quando, de longe em longe, conseguimos um brilharete?

2. Amanhã, Dia de Carnaval, ainda não é feriado, mas quem irá trabalhar perante o reconhecimento desse substituto eufemístico, que é a tolerância de ponto?

Vale a pena, ainda assim, lembrar aquele infecto personagem, dito economista, que veio em tempos demonstrar a justeza da redução dos feriados e das pontes, porque cada dia perdido por essa razão, significaria o custo de 37 milhões de euros para o Estado. Na altura tudo valia para fazer passar o programa político de ir além da troika…

Agora recuperaram-se feriados e as receitas do Estado não páram de crescer. Que dirá nesta altura o iluminado em causa?

3. Algumas semanas atrás, na sequência de um encontro com o Presidente da República, o mandão da Associação das empresas de Turismo reclamou como verdadeiro travão ao crescimento do setor a inexistência de um aeroporto que contemple o afluxo de interessados em virem visitar o nosso país. E, no entanto, o personagem em causa pertence àquele estrato social, que alimentou o enorme clamor desencadeado pelas direitas para que, fosse na Ota, fosse em Alcochete, o governo Sócrates tomasse uma decisão sensata sobre a sua rápida concretização.

Na época disseram-se os maiores disparates a começar pela hipótese de a Portela comportar o dobro dos que dela partiam ou a ela chegavam anualmente. Quantos inocentes, habitualmente votantes socialistas, e até comunistas, se deixaram embalar por essa conversa criminosa de o país não ter meios para avançar para tão grande investimento? Eu conheço uns quantos, que nem se atrevem a lembrar o que então lhes ouvi dizer.

Agora que é mais do que evidente o carácter de remendo da solução Montijo, quem poria em causa essa necessidade que, no entanto, mesmo se já decidida, levaria anos a concretizar?

Como de costume as direitas vêem o horizonte pela curteza das suas vistas e as esquerdas tendem a ter dificuldade em fazerem prevalecer a capacidade para se projetarem num futuro mais distante, mas inevitável.

Daí que soe a rendição incompreensível a afirmação de António Costa na entrevista ao ABC segundo a qual os TGV’s ainda serão tabu por muito tempo em Portugal. Os disparates dos detratores igualam os que terão proferido a propósito do aeroporto dez anos atrás, mas há que os combater. Ou não ocorre já a incompreensível situação de os passageiros do Sud Express com destino a Paris terem de saír do comboio na fronteira espanhola obrigando-se a apanharem táxis para garantirem o de ligação a Paris do outro lado da fronteira? 

Portugal | HOSPITAIS PRIVADOS: PAGAMOS, NÃO USAMOS E NÃO BUFAMOS


Na saúde os hospitais privados são pagos em mais de metade por todos os portugueses. É aquilo a que se cola o dito: “com o mal dos outros ganham eles”. Usem ou não aqueles serviços de saúde todos pagam e… não bufam. Chama-se negócio da treta. Aliás, se não fosse um negócio lucrativo os parasitas não mostrariam interesse na exploração daquele setor. Os mais saudáveis dizem que pensar nisso até nos põe doentes. (PG)

Prestadores de saúde privados dependem de dinheiros públicos para funcionarem

Hospitais privados: 51% das receitas vêm do Estado

Mais de metade das receitas dos hospitais privados saíram dos cofres públicos, no último ano do anterior governo. Contas do Negócios confirmam dependência acentuada do Estado, ao mesmo tempo que eram impostos cortes no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Os dados publicados na edição de hoje do Jornal de Negócios confirmam a dependência económica e financeira dos prestadores de Saúde privados do Estado: 51% das receitas têm origem nos cofres públicos, particularmente no SNS e na ADSE.

A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) tem vindo a contestar a revisão da tabela de preços da ADSE, que deverá entrar em vigor em Março. O presidente da APHP, Óscar Gaspar (secretário de Estado da Saúde, entre 2009 e 2011, e ex-dirigente do PS), deu voz a essa contestação, ameaçando com represálias por parte do sector dirigidas ao sub-sistema de saúde dos trabalhadores da Administração Pública.

O peso do financiamento público nos privados é ainda superior nas unidades residenciais de cuidados continuados e nos prestadores auxiliares (laboratórios, transporte de doentes), com 66% e 71%, respectivamente.

AbrilAbril

FC PORTO x LIVERPOOL: CONFIANÇA APONTA PARA VENCER ELIMINATÓRIA


O FC Porto joga hoje, em casa, com o Liverpool. No futebol europeu vai ser uma quarta-feira em cheio. Sérgio Conceição mantém a sua (e bem) na “confiança” que tem acerca dos seus jogadores. E não é só declarações de trinta-e-um de boca. Os jogadores do FCP têm demonstrado que Sérgio está com a razão. Passar nesta eliminatória é o objetivo. Oxalá. Mas leia mais, a seguir. Sérgio foi um muito bom jogador e presentemente vem lavrando um caminho que está a desembocar num grande treinador. Não tarda vão querer Sérgio a treinar equipas no estrangeiro em troca de “potes” de euros ou de dólares. E ele abandonará o FCP? Carago! (PG)

SÉRGIO: "Jogadores dão-me a confiança de pensar que é possível passar a eliminatória"

O treinador português admitiu que Aboubakar dificilmente poderá jogar, ao contrário do espanhol Marcano, que está recuperado.

O treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, destacou a importância de "aproveitar as lacunas" do Liverpool no jogo de quarta-feira, da primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões de futebol.

Na antevisão ao jogo com a formação inglesa, o técnico dos 'azuis e brancos' admitiu que será importante aproveitar as falhas da equipa adversária, mas, do mesmo modo, potenciar as virtudes próprias.

"Quando preparamos um determinado jogo, olhamos para os pontos fortes e mais frágeis que a equipa adversária possa ter. Tentamos olhar para nós, sabendo que todas as equipas têm momentos do jogo em que são mais frágeis. Mas definimos a estratégia não abdicando da nossa identidade como equipa", referiu o treinador.

Sérgio Conceição revelou ainda o que espera do adversário: "O Liverpool é o segundo melhor ataque e a sexta melhor defesa da liga inglesa, mas também disputa um campeonato diferente do nosso. Na Liga dos Campeões, penso que foi o segundo melhor ataque da fase de grupos e sem derrotas. É uma boa equipa, consistente e que cria muitas dificuldades aos adversários. Se tem pontos fracos que devemos explorar? Tem, sem dúvida: todas as equipas têm."

Sobre a presença do camaronês Aboubakar, que falhou os últimos dois jogos do FC Porto devido a fadiga muscular, Sérgio Conceição mostrou-se pouco otimista em relação a essa hipótese: "É difícil, é difícil."

Apesar de querer passar mais esta fase da prova, Sérgio Conceição não escondeu as suas prioridades e deu ainda as boas-vindas aos adeptos ingleses.

"Trabalhamos diariamente com grande exigência e rigor. O objetivo sem dúvida nenhuma é a Liga. Os jogos vão passando, o grupo está confiante, existe espírito fantástico de ambição e determinação. E temos um público fantástico, sempre com a equipa. Espero mais uma vez que amanhã sejam uma mais-valia. E dou também as boas-vindas ao público inglês, que é apaixonado, ferve no bom sentido e faz do jogo uma festa. São assim os adeptos do Liverpool. Espero que venham contentes e saiam menos contentes. Contentes só pelo vinho do Porto que possam levar para Inglaterra. Há todos os ingredientes para ser um bom jogo", disse ainda.

O defesa-central espanhol Marcano, recuperado de lesão, revelou, por seu turno, não gostar de estatísticas (que ditam que o FC Porto nunca venceu a equipa inglesa em jogos da UEFA), desvalorizando a situação.

"Não gosto muito de estatísticas. São jogos diferentes e o que o FC Porto quer é ir o mais longe possível. Vamos encarar este jogo com a máxima ambição", disse.

Lusa | em TSF | Foto: Matthew Childs/Reuters

PORTUGAL | Carnaval, apanhado pelo clima

Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

Era uma vez o Entrudo. Este é um texto para as pessoas que odeiam o Carnaval. Também para aqueles que o amam. Não para aquelas pessoas que, como eu, lhe são indiferentes, olhando-o com enfado ou com a cínica bondade de quem sabe transportar um feriado na bainha do pierrot, colombina ou arlequim. Os três últimos dias foram passados em desfiles, ribomba que há festa, festividades alegóricas, mistura de cores e trapos capaz de fazer inveja à cena mais turística de um filme promocional a tintas. O que é mais espantoso é assistir ao contraste de tanta gente a quente e frio, como aquelas duas bolas de gelado do início da carta das sobremesas, aqui servido com uma cobertura hipnótica de plumas, lantejoulas e penas. O público confunde-se com mirones de gabardina a céu aberto.

Se há algo fascinante é ver nas ruas espectadores de sobretudo e cachecol a animar sambadores com pele eriçada em suores frios a curtir como demónios sem escola. E o empenho, o trabalho de grupo meses a fio, as juntas e as colectividades, as comissões de serviço, as noites sem dormir e a ocupação de tempos livres. Notável. Aquela notícia que surge sempre como um lembrete de higienização contra o cinzentismo: o Carnaval, para alguns, é a prova de que não podemos deixar morrer a criança que existe dentro de nós. Um fora do espaço, outro fora do tempo. Olho para o verde-amarelo Carnaval português e sinto-o tão moribundo como o teatro de revista.

A questão climatérica importa. Até ao momento em que alguém me acorde para um sambódromo inundado de kispos anorak, terei sempre no meu pensamento que somos nós e a nossa tendência para importar coqueiros para o cume da serra da Estrela. Não aspiro pelo dia em que o Rio de Janeiro se encha de máscaras venezianas ou pela madrugada em que o Recife se engalane com um bloco de Galo em vestes romanas, momento em que o "adeus à carne" trairá o seu estupendo e feérico Carnaval. Aspiro pela tarde em que a nossa apropriação do Carnaval brasileiro não saia do Parque Mayer, desafiando o frio de Fevereiro.

A animação é, por si só, um sentimento maravilhoso. Como aquelas pessoas que, ao descrever o estado de alguém em convalescença, se referem ao doente com uma condescendência esperançosa: "nem bem, nem mal mas... animado". É um pouco como a palavra "encantadora", uma mistura de simpatia e tédio. Na cidade maravilhosa da Mealhada, a nossa "Las Vegas dos Leitões", a chuva cancelou o Carnaval da tarde de domingo. Cheia de encantos mil.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* Músico e jurista

CARNAVAL É TODO O ANO

O Curto do Expresso saúda com um bom dia, o PG também. Bom dia, neste Carnaval de todo o ano. Ali em São Bento é um ver se te avias, os mascarados à Pim e outros que constituem a parte da cáfila preparam-se para iniciar as cegadas do costume. Cegadas pagas a peso de ouro pelos plebeus que neles até votam e se necessário se digladiam em palavras e nuns tabefes com mão meio fechada (ou será meio aberta?). É a tal coisa, aquela do copo meio cheio ou meio vazio. Bem, mas aqui o que se trata é de conteúdo com cafeína, Expresso e Curto, hoje servido por uma senhora do burgo Bilderberg Balsemão da Marinha Impresa, ou coisa que o valha. Senhores e senhoras, criancinhas, cegos e pernetas, temos a honra de apresentar a ilustre senhora dona (do que lhe pertence) Luísa Meireles!

Aí está a lauda da senhora Luísa a abrir com o Carnaval, que por engano ou ignorância considera mais em baixo que a dita quadra só dura por uns dias curtos e não todo o ano. Está mal. Assim, os mais distraídos até são capazes de julgar que é verdade. Mas leiam porque melhor perceberão.

Na prosa existe a preocupação de que temos em Portugal um vírus europeu que nos anda a contagiar com a sisudez, ou seja: pele seca, arrepanhada, feiosa… De trombas, oh senhora! Pois, mas isso deve ser devido à porca da vida que temos, em que se fala tanto dos índices positivos que enchem os papéis do INE e de outros mas que não correspondem exatamente à realidade dos que nada tinham e continuam a não ter. Se uns troquinhos mais contam para as estatísticas o raio das estatísticas devem fazer constar exatamente isso e não pintar tudo do tipo arco-iris. Até porque esse arco não pertence aos mais carenciados, aos de baixas reformas – a quem aumentaram mais 10 ou 15 euros mensais mas que as contas também aumentadas levam e ainda mais que antes. São contas à dótores. Claro! Lá está: dos fracos não reza a história. Até os deuses devem ser cegos porque nem esses produzem justiça social real, só de faz de conta. O costume. Pois. E por isso estamos sisudos. De trombas. E ainda mais de trombas por vermos certos e incertos sujeitinhos e inhas a gastarem à moda da Barbuda e que nos custam esta miséria em que se sobrevive na democracia da treta, na justiça da treta e em outras coisas más ou indevidas mas que continuam a ser da treta. E lá andam os jornalistas, os médicos, os deputados, os das ilhargas desses, os da justiça, os militares e etc., a lamentarem-se que não são aumentados, que as carreiras estão congeladas. Ora porra! Descongelem tudo, mas primeiro as reformas de miséria, os salários mínimos que não dão para quase nada… Desculpem, mas se forem avessos podem fazer o favor de ignorar o tal porra que está aí mesmo atrás. Pois. Estamos entendidos sobre este Carnaval dos Tesos a Sério, também sobre estes tais Carnavais da Treta. Aleluia.

Ainda sobre o Carnaval, escreve a dona Luísa que lhe pareceu ter visto um polvo com a cara de Marcelo, o PR. Pois, viu. Mas olhe que aquele polvo cheirava a Cavaco à farta, e a outros do PSD, do CDS e até do PS. Ah! Cá está outro grupo de mascarados do Carnaval de todo o ano, os do Arco da Governação, todos mascarados de colarinho branco, aperaltados, a arrotar a milhões e a impunidade. Mais coisa, menos coisa, parece e está tudo na mesma. Caça a esses foliões é que não se faz nas devidas porporpoções. Aliás, o setor da Justiça até está a aprender umas coisas com o Brasil Judiciário e anda a dar uns passitos. Pé ante pé… está a andar. Ai. Mas que poder tão independente que é. Mascarado. É Carnaval, não se deve levar a mal. Pois.

Aíóó, ou comeste aveia estragada? Basta. Até amanhã, outro novo dia de Carnaval.

Leiam o Curto - que nem está nada mal e ficamos a saber umas coisitas e até tendências válidas. Onde se aprende, pela positiva e pela negativa Fixe. Pois.

MM | PG

E o Carnaval, já é levado a mal?

Luísa Meireles | Expresso

Já ninguém liga ao Carnaval e tenho pena. Estamos cada vez mais europeus e, se calhar, ainda mais sisudos. Será? O maior Carnaval do mundo já não nos espanta (as imagens de sempre) e nem em Portugal, onde se finge que é verão debaixo de chuva e frio, conseguiu abrir os telejornais na terça-feira gorda. Eu por mim, confesso que gostei bastante desta história de primeira, “Como o Brasil tirou o Carnaval do Povo, na Renascença. E hoje, primeiro dia a caminho da Quaresma, estamos como sempre: preocupados. Até com o dinheiro que ele (Carnaval) custou!

Isto apesar de ter chegado o ano em que a imprensa internacional noticiou o Carnaval de Torres Vedras (et pour cause), esse verdadeiro “oceano de folia”…! Ups! Eu vi bem? Há um polvo com cara de Marcelo?!?!?!

Por isso, falemos de coisas sérias. E sem alarmismos, para já. Nas redes, nos jornais, na televisão, começa a espalhar-se um receio difuso: sismos. O trauma dos incêndios calou fundo e os portugueses não têm a certeza se os nossos males (ou defeitos) endémicos estejam curados, o comando restabelecido, a coordenação refeita e a gestão em pleno.

As notícias sobre o que se está a passar nos Açores inquietam. Surgiram depois dos abalos de Arraiolos, que já deram para assustar. Em S. Miguel, que registou cerca de 300 abalos num só dia, a dúvida é – sabendo que tiveram origem na mesma falha tectónica que destruiu a ilha há 500 anos – vieram para ficar, que é como quem diz, por quanto tempo? Dias, semanas ou meses, perguntava o Público. Ui!

Por estas e outras razões, não acharia nada mal se alguém no Estado que nos governa se desse ao trabalho de lançar uma pequena campanha informativa, rigorosa, sem alarmes nem ameaças de tsunamis, sobre o que se deve fazer, as zonas de risco as medidas que já foram tomadas, as precauções a tomar, enfim, o que se pode fazer. Vale? Por mim, aqui está uma achega, mas pouco atraente. Convenhamos que ler mais 100 páginas, só relativamente a Lisboa, para me inteirar do plano de emergência, naa, não dá.

OUTRAS NOTÍCIAS

Da Política, por exemplo. Hoje é dia de debate quinzenal na Assembleia da República e o Primeiro-ministro quer começar a levar à discussão o Roteiro Conhecimento e Inovação para mostrar o que a economia tem de bom (onde é que eu já ouvi isto?).

Hoje, o Presidente da República começa a receber os partidos políticos, numa primeira ronda depois da entrada em vigor do orçamento, no quadro dos contactos regulares. Já fez entretanto um Conselho de Estado, mas era sobre o futuro que nos espera na União Europeia, desta vez é o já e o agora. O calendário dos encontros foi feito de molde a que o novo líder do PSD, Rui Rio, possa ir a Belém no dia 19, já depois de entronizado no respetivo Congresso do partido, que começa na sexta-feira. Marcelo está preocupado, lê-se aqui (para assinantes do Expresso, desculpe). Os encontros inauguram-se com o PAN e os Verdes.

A última novidade sobre o PSD é que a moção que o diretor de campanha do futuro líder apresentou foi rejeitada pela mesa do Congresso (e veja esta opinião sobre ele). Quem será o líder da bancada parlamentar ou quem integrará a direção são tudo interrogações que dentro em pouco deixarão de o ser. Tenha calma portanto. Hoje, no fim do debate quinzenal a bancada do PSD vai reunir-se e está tudo na expectiva para saber o que dirá Hugo Soares, o atual líder parlamentar e que não apoiou Rio.

Quanto a Carlos Abreu Amorim, homem do norte e vice-presidente do grupo, diz que não assumirá cargos e avisa que nenhum dos deputados disponíveis para a liderança reúne "consensos mínimos". No grupo, só 28 apoiaram Rui Rio. Para saber mais coisas de fundo, leia esta entrevista de alguém que não quer andar por aí. Ou este texto (também para assinantes, lamento), sobre as parecenças de um líder que faz lembrar outro, porque esconde o jogo enquanto a oposição se prepara. Aberto, tem este, no Público e também já tem uns dias.

De Política Externa. A nossa com Angola, que não para de subir patamares cada vez mais altos, tudo por causa do julgamento do ex-vice-presidente Manuel Vicente. Luanda procura aliados contra Lisboa, fez subir a parada e levou o caso à CPLP. Leia aqui(se ainda não sabia).

De Defesa, que também é política, claro. Hoje é o dia da reunião dos ministros de Defesa da NATO, que vão decidir sobre se vão criar um novo comando para o Atlântico (claro que sim!) e, depois disso, aonde. Alô! Alô Portugal, está a ouvir? As coisas não são assim tão simples, é verdade, há duas semanas o próprio secretário-geral deu uma entrevista ao Expresso, que está aqui resumida (e os Açores estão out). A original é fechada, sorry, e nela se dizia que "se Portugal quiser a NATO no Golfo da Guiné, faça a proposta”. Ontem, em conferência de imprensa, Jens Stoltenberg voltou a repetir que Portugal tem margem para aumentar os gastos com a defesa e Azeredo Lopes a confirmar (são aviões, sr., são aviões).

De Economia – A bomba já tinha estourado com o anúncio da venda da Partex (a petrolífera da Gulbenkian) aos chineses, agora há mais: a Fundação perdeu 22% do património entre 2006 e 2016. Foi uma década amarga. António Costa Silva, o presidente da Partex, vai com os chineses, em princípio. É mesmo?

E que tal ouvir o sr. Pingo Doce, que é como quem diz, Alexandre Soares dos Santos, dizer que “esta solução governativa não é má para o país?”. Estranho, não é? E logo ele – reconhece – que não era a favor. Não duvidamos. Muitos dias tem cem anos! Para a estima em alta, e no setor automóvel, boa nota para a PSA, que detém as marcas Peugeot, Citroën, DS e Opel, e anunciou quevai produzir três novos veículos em Mangualde. Também ficámos a saber que no dia em que o Tesouro avança para o primeiro leilão de dívida de longo prazo do ano, os EUA, Ásia e Reino Unido estão com apetite pela dívida portuguesa.

De Sociedade. Parece anedota, um guião de comédia, o que for, mas não é, foi mesmo a sério e aconteceu em Lourel (Sintra), durante um assalto em que tudo o que podia correr mal, correu mesmo. Assaltantes que dão tiros nos próprios dedos, perdem o dinheiro, estampam o carro, não conseguem roubar mais nenhum mas matam um homem, enfim, a lei de Murphy em todo o seu esplendor. E sabe que esta lei está comprovada? Pois veja aqui: o azar está mesmo programado para nos atormentar.

De Desporto, há muita coisa, para variar (digo eu). A primeira é que hoje há bola. O Porto recebe o Liverpool no Dragão a contar para os oitavos de final da Liga dos Campeões. É às 19h45. A Tribuna explica o que podemos esperar. Depois, o Sporting, que já chegou a Astana, no Casaquistão, por esta altura. A viagem equivale a fazer Lisboa e Porto 23 vezes seguidas.

Eu própria já fiz uma até à antiga capital desta ex-República soviética, Almaty, mas no sentido inverso e demorei 24h, contando com a diferença horária. Não foi por motivos desportivos mas fiquei bastante cansada – por isso estou em crer que os receios da falta de descanso dos jogadores se justificam. E por falar em Sporting, já sabe da última polémica, não sabe? A UEFA advertiu Bruno de Carvalho por causa dos comentários nas redes sociais e este respondeu: “pura ironia”! Souplesse!

Obituário. De uma grande escritora e de uma grande mulher: Natália Nunes, ontem, aos 96 anos. O funeral será hoje. O Expresso entrevistou-a há cinco anos: “O amor é um estado de graça”. Releia, vale sempre a pena. Era uma feminista que lutou contra a ditadura.

LÁ FORA

Alemanha. Instalou a confusão depois da negociação do acordo de uma nova grande coligação, a que se seguiu a demissão de Martin Schulz de líder do SPD e do cargo que deveria assumir num eventual futuro governo e a sucessora – será uma mulher, Andrea Nahles, que foi ministra do Trabalho e pertence à ala esquerda do partido, a "pegar o boi pelos cornos”.

Assim sendo, serão duas mulheres a liderar os dois maiores partidos alemães: Merkel versus Nahles (e esta será a primeira em 150 anos de história do partido - os tempos mudam mesmo). O pior é que nada está fácil. Porque, para já, não é garantido que o acordo vença (os militantes ainda têm que o referendar), muito por causa deste senhor (o líder da Jusos, a J do SPD); porque a queda de Schulz pode arrastar a de Merkel e pode ser o fim do “complexo Mutti”, a forma carinhosa como os alemães a tratam. Há quem antecipe que é mesmo o seu fim. Veremos.

África do Sul. O gigante sul-africano agita-se e isso não é uma boa notícia. O Presidente Jacob Zuma, acusado de corrupção já acedeu em sair antes de ser defenestrado, mas põe condições que podem colocar o seu partido em maus lençóis. O ANC governou sempre «o país desde a libertação de Mandela, mas Zuma, apesar das provas e do mau desempenho, ainda tem muita força. Hoje vai ter que se decidir. Tem a África do Sul refém.

França. De onde vem uma surpreendente notícia. O candidato Emmanuel Macron tinha anunciado que queria fazer regressar o serviço militar obrigatório… mas por um mês, o que pôs os chefes militares de cabelos em pé. Depois de eleito reconsiderou e, afinal, vai ser uma espécie de serviço cívico durante uma semana. Veja como. Será universal e obrigatório. Ponto.

Holanda. A notícia levou à demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros. Pode contar-se assim: há uns políticos que nem querem ouvir falar de encontros com Putin - e tiveram-nos - e outros que querem falar e inventam-nos. A incrível capacidade do ser humano surpreender!

Migrações. Preste atenção no que diz este homem a propósito da situação migratória na Europa. É William Lacy Swing, diretor da Organização Internacional de Migrações (OMI), cargo a que concorre António Vitorino. E diz: a falta de unidade dos europeus é mais responsável pela crise no continente que o número de refugiados. Pode ler em francês ou inglês.

Horror. Mais um. Envolvendo organizações não governamentais. Desta vez é a Oxfam, uma das mais reputadas ong britânicas de ajuda humanitária. Os seus funcionários que foram (supostamente) ajudar a seguir ao terramoto promoveram “orgias dignas de Calígula” com prostitutas e menores. O presidente foi preso, a diretora-geral adjunta demitiu-se, a organização está em vias de perder todos os financiamentos.

Oxfam gastava mil milhões de euros ao ano a fazer lobing juntos das instituições europeias, de onde recebia uma boa parte do dinheiro Os bons rapazes não são todos bons. Reflita como se pode chegar aqui. Porque o pior é que escândalos destes não são únicos. E histórias como esta doem: "Às vezes, quando estou sozinha com o meu bebé, penso em matá-lo. Ele lembra-me o homem que me violou".

Espaço. Esta é que é uma notícia lá de fora mesmo: o Tesla elétrico descapotável vermelho, que foi mandado para Marte com um boneco-astronauta a conduzi-lo, desviou-se da sua rota e agora ninguém sabe onde está. Para mim a notícia não é onde, é porquÊ? O que passou pela cabeça de Elon Musk, fabricante dos Tesla?

FRASES

“Não faço comentários sobre o futuro do partido porque é um futuro a que eu não concorri”, Pedro Passos Coelho

"Decidimos não investir mais em Portugal. Não vale a pena", António Costa Silva, presidente da Partex, ao Público

"Toda a gente fala do petróleo e do gás, há uma espécie de demonização, e ninguém fala do elefante na sala, o carvão", Idem

"Amamos com o cérebro e não com o coração. E morre-se por amor", Leandra Cordeiro, psicóloga e professora universitária, ao I

O QUE ACABEI DE LER

Um romance seco, duro, violento, mas enxuto, esculpido palavra a palavra e fabulosamente belo. Chama-se “Intempérie” (Marcador, 2014), é do espanhol Jesús Carrasco, e foi considerado em 2013 o melhor romance do ano. Passa-se algures num mundo sem nome nem data, onde – como se diz – “a moral se escapou pelo mesmo lugar por onde se sumiu a água”. Um rapaz que foge e encontra um pastor que o ensina e cura da violência que sofreu. Não sei se nos transforma depois de ler, mas sim, não nos sai da cabeça. E vale muito a pena.

Se quiser algo pra já, já, e (não) tiver insónias leia este estudo: o suicídio demográfico europeu. Há uma espécie de manto de silêncio que envolve estas notícias. São más, sim. Mas vale sabê-lo que desconhece-lo.

E se gosta e quiser começar a preparar-se para o festival da Eurovisão, comece pela canção apurada pela Itália. Não direi que a escola Salvador fez escola, mas pelo menos algo está a mudar. O tema não é só o amor, mas o que se passa na Europa. “Non mi avete fatto niente” é sobre os ataques terroristas no Cairo, nas Ramblas, em França, em Londres…

Assim me despeço. Ah, não se esqueça: hoje é o Dia dos Namorados - aproveite e namore, que o amor faz bem à saúde! Mas cuide-se. Este dia sucede-se a um outro, assim como que relacionado (o Dia Mundial do Preservativo) e aí Portugal não prima pelo melhor: mais de 60% dos jovens estão muito bem informados sobre o assunto, mas assumem que têm relações sexuais sem o dito.

Nós, aqui no Expresso, estamos sempre ao alcance de um clic, a qualquer hora que queira. Tenha um Bom Dia!

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