Jorge Rocha | opinião
1. Eu sei que Marcelo pensa que
os portugueses são maus. Se não pensasse assim não imaginava uma estratégia,
que consistiu em trata-los como tolos, dando-lhes «papas e bolos» numa fórmula
sinónima - a de «abraços e selfies» - chegando à presidência, que jurara
nunca vir a ser o seu objetivo (o discurso de quando tomou posse na Fundação da
Casa de Bragança assim o pressupôs!), com um competente domínio da arte da
burla. Por isso não admira que a língua lhe fuja amiúde para a verdade: quando
disse à seleção de futsal que “mais uma vez os portugueses demonstraram
que quando são bons são os melhores”, o que está a sugerir senão
que, normalmente, somos maus, só saindo desse registo, quando, de longe em
longe, conseguimos um brilharete?
2. Amanhã, Dia de Carnaval, ainda
não é feriado, mas quem irá trabalhar perante o reconhecimento desse substituto
eufemístico, que é a tolerância de ponto?
Vale a pena, ainda assim, lembrar
aquele infecto personagem, dito economista, que veio em tempos demonstrar a
justeza da redução dos feriados e das pontes, porque cada dia perdido por essa
razão, significaria o custo de 37 milhões de euros para o Estado. Na altura
tudo valia para fazer passar o programa político de ir além da troika…
Agora recuperaram-se feriados e
as receitas do Estado não páram de crescer. Que dirá nesta altura o iluminado
em causa?
3. Algumas semanas atrás, na
sequência de um encontro com o Presidente da República, o mandão da Associação
das empresas de Turismo reclamou como verdadeiro travão ao crescimento do setor
a inexistência de um aeroporto que contemple o afluxo de interessados em virem
visitar o nosso país. E, no entanto, o personagem em causa pertence àquele
estrato social, que alimentou o enorme clamor desencadeado pelas direitas para
que, fosse na Ota, fosse em Alcochete, o governo Sócrates tomasse uma decisão
sensata sobre a sua rápida concretização.
Na época disseram-se os maiores
disparates a começar pela hipótese de a Portela comportar o dobro dos que dela
partiam ou a ela chegavam anualmente. Quantos inocentes, habitualmente votantes
socialistas, e até comunistas, se deixaram embalar por essa conversa criminosa
de o país não ter meios para avançar para tão grande investimento? Eu conheço
uns quantos, que nem se atrevem a lembrar o que então lhes ouvi dizer.
Agora que é mais do que evidente
o carácter de remendo da solução Montijo, quem poria em causa essa necessidade
que, no entanto, mesmo se já decidida, levaria anos a concretizar?
Como de costume as direitas vêem
o horizonte pela curteza das suas vistas e as esquerdas tendem a ter
dificuldade em fazerem prevalecer a capacidade para se projetarem num futuro
mais distante, mas inevitável.
Daí que soe a rendição
incompreensível a afirmação de António Costa na entrevista ao ABC segundo a
qual os TGV’s ainda serão tabu por muito tempo em Portugal. Os disparates dos
detratores igualam os que terão proferido a propósito do aeroporto dez anos
atrás, mas há que os combater. Ou não ocorre já a incompreensível situação de
os passageiros do Sud Express com destino a Paris terem de saír do comboio na
fronteira espanhola obrigando-se a apanharem táxis para garantirem o de ligação
a Paris do outro lado da fronteira?
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