quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

PORTUGAL | Atos falhados e outros que o não são...


Jorge Rocha | opinião

1. Eu sei que Marcelo pensa que os portugueses são maus. Se não pensasse assim não imaginava uma estratégia, que consistiu em trata-los como tolos, dando-lhes «papas e bolos» numa fórmula sinónima - a de «abraços e selfies» - chegando à presidência, que jurara nunca vir a ser o seu objetivo (o discurso de quando tomou posse na Fundação da Casa de Bragança assim o pressupôs!), com um competente domínio da arte da burla. Por isso não admira que a língua lhe fuja amiúde para a verdade: quando disse à seleção de futsal que “mais uma vez os portugueses demonstraram que quando são bons são os melhores”,  o que está a sugerir senão que, normalmente, somos maus, só saindo desse registo, quando, de longe em longe, conseguimos um brilharete?

2. Amanhã, Dia de Carnaval, ainda não é feriado, mas quem irá trabalhar perante o reconhecimento desse substituto eufemístico, que é a tolerância de ponto?

Vale a pena, ainda assim, lembrar aquele infecto personagem, dito economista, que veio em tempos demonstrar a justeza da redução dos feriados e das pontes, porque cada dia perdido por essa razão, significaria o custo de 37 milhões de euros para o Estado. Na altura tudo valia para fazer passar o programa político de ir além da troika…

Agora recuperaram-se feriados e as receitas do Estado não páram de crescer. Que dirá nesta altura o iluminado em causa?

3. Algumas semanas atrás, na sequência de um encontro com o Presidente da República, o mandão da Associação das empresas de Turismo reclamou como verdadeiro travão ao crescimento do setor a inexistência de um aeroporto que contemple o afluxo de interessados em virem visitar o nosso país. E, no entanto, o personagem em causa pertence àquele estrato social, que alimentou o enorme clamor desencadeado pelas direitas para que, fosse na Ota, fosse em Alcochete, o governo Sócrates tomasse uma decisão sensata sobre a sua rápida concretização.

Na época disseram-se os maiores disparates a começar pela hipótese de a Portela comportar o dobro dos que dela partiam ou a ela chegavam anualmente. Quantos inocentes, habitualmente votantes socialistas, e até comunistas, se deixaram embalar por essa conversa criminosa de o país não ter meios para avançar para tão grande investimento? Eu conheço uns quantos, que nem se atrevem a lembrar o que então lhes ouvi dizer.

Agora que é mais do que evidente o carácter de remendo da solução Montijo, quem poria em causa essa necessidade que, no entanto, mesmo se já decidida, levaria anos a concretizar?

Como de costume as direitas vêem o horizonte pela curteza das suas vistas e as esquerdas tendem a ter dificuldade em fazerem prevalecer a capacidade para se projetarem num futuro mais distante, mas inevitável.

Daí que soe a rendição incompreensível a afirmação de António Costa na entrevista ao ABC segundo a qual os TGV’s ainda serão tabu por muito tempo em Portugal. Os disparates dos detratores igualam os que terão proferido a propósito do aeroporto dez anos atrás, mas há que os combater. Ou não ocorre já a incompreensível situação de os passageiros do Sud Express com destino a Paris terem de saír do comboio na fronteira espanhola obrigando-se a apanharem táxis para garantirem o de ligação a Paris do outro lado da fronteira? 

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