sexta-feira, 2 de março de 2018

A Otan já votou antes de nós


Manlio Dinucci*

Existe um partido que, mesmo sem aparecer, participa de fato nas eleições italianas: O Partido da Otan, formado por uma maioria transversal que apoia explicitamente ou consente tacitamente o pertencimento da Itália na Grande Aliança sob o comando dos Estados Unidos.

Isto explica por que, em plena campanha eleitoral, os principais partidos aceitaram tacitamente os compromissos assumidos pelo governo no encontro dos 29 ministros da Defesa dos países membros da Otan (pela Itália, Roberta Pinotti), em 14 e 15 de fevereiro em Bruxelas.

Primeiramente, os ministros participaram do Grupo de Planificação Nuclear da Otan, presidido pelos Estados Unidos, cujas decisões sempre são ultrassecretas. Reunidos como Conselho do Atlântico Norte, os ministros anunciaram, depois de apenas duas horas, importantes decisões (já tomadas em outra sede) para “modernizar a estrutura de comando da Otan, espinha dorsal da Aliança”.

Fica estabelecido um novo Comando conjunto para o Atlântico, situado provavelmente nos Estados Unidos, com o escopo de “proteger a linha marítima de comunicação entre a América do Norte e a Europa”. De tal modo, cria-se o cenário de submarinos russos que poderiam afundar os navios mercantes nas rotas transatlânticas.

Também se estabelece um novo Comando logístico, situado provavelmente na Alemanha, para “melhorar o movimento na Europa de tropas e equipamentos essenciais à defesa”. Desse modo, inventa-se o cenário de uma Otan obrigada a defender-se de uma Rússia agressiva, enquanto é a Otan que acumula forças agressivamente nas fronteiras com a Rússia. Sobre tal base serão instituídos na Europa outros comandos da componente terrestre para “melhorar a resposta rápida das nossas forças”.

Também está previsto um novo Centro de Operações Cibernéticas para “reforçar a nossa defesa”, situado no quartel general de Mons (Bélgica), sob a chefia do Comandante supremo aliado na Europa que é sempre um general estadunidense nomeado pelo presidente dos Estados Unidos.

Confirmou-se o empenho para aumentar as despesas militares: nos últimos anos os aliados europeus e o Canadá aumentaram em conjunto a despesa militar em 46 bilhões de dólares, mas isto é apenas o começo. O objetivo é que todos alcancem ao menos dois por cento do PIB (os EUA gastam quatro por cento), de modo a ter “mais dinheiro e portanto mais capacidade militar”. Os países europeus que até agora atingiram e superaram essa meta são: Grécia (2,32%), Estônia, Grã Bretanha, Romênia, Polônia.

A despesa militar da União Europeia – repetiu-se em um encontro com a representante exterior da União Europeia Federica Mogherini – deve ser complementar à da Otan.

A ministra Pinotti confirmou que “a Itália, respeitando a exigência dos EUA, começou a aumentar a despesa para a Defesa” e que “continuaremos nesse caminho que é o caminho da responsabilidade”. Assim, a rota está traçada. Mas não se fala disto na campanha eleitoral.

Enquanto sobre o pertencimento da Itália na União Europeia os principais partidos têm posições diversificadas, sobre o pertencimento da Itália na Otan são praticamente unânimes. Isto distorce todo o quadro.

Não se pode discutir sobre a União Europeia ignorando que 21 dos 27 países do bloco (depois do Brexit), com cerca de 90% da população, fazem parte da Otan sob o comando dos EUA. Não podem ser ignoradas as consequências políticas e militares – e ao tempo econômicas, sociais e culturais – do fato de que a Otan está transformando a Europa em um campo de batalha contra a Rússia, apresentada como um inimigo ameaçador: o novo “império do mal” que ataca por dentro “a maior democracia do mundo” com o seu exército de troll.

*Manlio Dinucci | Voltaire.net | Tradução José Reinaldo Carvalho Editor do site Resistência | Fonte Il Manifesto (Itália)

Foto: Gavin Williamson (UK) & James Mattis (USA)

*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

ANGOLA | Acabe-se de vez com o outra vez!


Víctor Silva | Jornal de Angola | opinião

No momento presente o que se pede a todos os agentes políticos são, sobretudo, práticas responsáveis, quer a quem decide, quer a quem se opõe a essas decisões!

A generalidade da população angolana tem estado arredada dos “milagres económicos” que de vez em quando emergem no País. Essa mesma população vive num contexto de pobreza aviltante, e no momento presente os dirigentes tentam soluções arrojadas para que o investimento regresse de forma a inverter um desemprego que já ultrapassa, e muito, os 30% da população activa, e tenta controlar uma inflação que começa a minar a economia periclitante e com falta de dinamismo e de futuro assombrado pela inação.

Uma das soluções apresentadas pelo Executivo foi a apresentação de um pacote legislativo que possibilitasse aos cidadãos angolanos que tivessem dinheiro no estrangeiro, que o repatriassem quase sem restrições para que assim se pudessem dinamizar políticas de recuperação económica e social indispensáveis para a tentativa de esbater as diferenças abissais que há na sociedade angolana.

Com o discurso demagógico, nalguns casos a raiar a irresponsabilidade, alguma oposição vem a terreiro e pede que a penalização seja de 45%. Na realidade a falta de sentido de Estado manifesta-se neste tipo de atitudes, que num contexto em que se faz um apelo a que alguns biliões de dólares saídos de Angola sejam repatriados vêm estes “arautos da legalidade” exigir um mundo e o outro. 

Esta fórmula proposta não é virgem num conjunto de países no mundo inteiro. Em Portugal, há poucos anos, foi aplicada uma taxa de 5% sobre o dinheiro que voltasse ao país, e foi executado numa situação excepcional, num curto período de tempo, para que possibilitasse uma injecção de capital na economia. A Irlanda, Grécia, Itália e até a Espanha, em alguns períodos, trabalharam legislação específica para o retorno seguro de capitais, para fazer face à débil situação económica com que se confrontaram.

A principal força da oposição, a UNITA, além daquele valor que não é devidamente fundamentado, propõe ainda que se investigue os detentores desse dinheiro, posição que parece irreal!

Os cidadãos que voluntariamente aceitarem este repatriamento têm que merecer o respeito de todos, porque o fazem de livre e espontânea vontade e dão um contributo decisivo ao desenvolvimento do Pais e uma aposta na recapitalização de empresas angolanas de capital privado.

Não vale a pena voltar à liça, mas era bom que a UNITA se lembrasse que para se conseguir a paz em 2002, o governo de então do MPLA não andou a pedir investigação a capitais de membros do partido do Galo Negro, nem tampouco pediu uma “sindicância” aos diamantes de sangue com que se pagou grande parte da guerra.

Não é importante falar de algo que não precisa de ser lembrado, mas que os próprios deveriam ser os primeiros a não esquecer o que aconteceu nessa altura, e retirarem daí as devidas ilações, porque a política se faz também de experiências passadas, umas para evitar, outras para repetir!

Temos que saber que há momentos em que o sentido de Estado e a responsabilidade de decidir e de dar contributos razoáveis para as decisões exigem amplos consensos nacionais, e a UNITA se pretender mobilizar as pessoas para um projecto credível de alternativa ao governo, tem que assumir uma postura de seriedade, despir a demagogia e, acima de tudo, corporizar uma proposta de oposição  assente numa responsabilidade partilhada de uma angolanidade, que tem que deixar de andar à deriva e a servir interesses pessoais ou de grupo.

A licitude desta decisão sobre os recursos de angolanos no estrangeiro é sublinhada pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, na apresentação da proposta: “Do país saíram não apenas recursos financeiros obtidos de forma lícita, como também outros que se podem considerar estar associados à prática de ilícitos penais e de infracções administrativas de natureza fiscal, aduaneira, cambial e financeira e de outros tipos de delitos de fórum comum”. Na primeira fase da proposta, do repatriamento voluntário, será dado um período de moratória de 6 meses, e os que aderirem “não precisam de justificar a origem dos fundos”, não incidindo qualquer encargo tributário ou outro sobre os valores repatriados. Numa segunda fase, quem não repatriar voluntariamente os recursos no exterior, o Estado reserva-se no direito de accionar todos os mecanismos e procedimentos legais ao seu dispor, proceder a sanções administrativas ou penais e recuperação dos montantes.

Pede-se a todos os agentes económicos e políticos que esta medida possa resultar sem o sobressalto cívico que a proposta da UNITA pretendia, com objectivos pouco transparentes e indiciar porventura o regresso aos tempos do “quanto pior melhor”, com as consequências que essa política trouxe e ainda bem presente no quotidiano dos angolanos.

Angola é mais importante que os partidos, e a maior riqueza que tem o País são as pessoas e é para elas e com elas que se vai fazer uma Pátria que não os envergonhe e que não traga períodos tão grandes de melancolia e desesperança.

ANGOLA | Até onde irá a ação da PGR no caso Sonangol?

Atuação da PGR no caso das supostas irregularidades na anterior administração da Sonangol é vista como uma iniciativa encorajadora pelo jurista Albano Pedro, embora lembre que há igualmente ceticismo.

Em Angola, a PGR abriu um inquérito contra a anterior administração da Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente do país, José Eduardo dos Santos. Em causa estão várias irregularidades na gestão da petrolífera estatal, denunciadas esta quarta-feira (28.02.) pela atual administração.

Por exemplo, um dos ex-administradores terá desviado 38 milhões de dólares um dia depois de ter sido exonerado. E um dos bancos pertencentes a Isabel dos Santos terá sido usado para o efeito. Outro caso tem a ver com o pagamento de 135 milhões de dólares a consultores em apenas um ano e meio. O presidente da Sonangol, Carlos Saturnino, disse que as consultoras eram em número excessivo e que subalternizavam os trabalhadores angolanos. A DW África falou sobre o caso com Albano Pedro, jurista angolano.

DW África: A seu ver, o inquérito é realmente sinónimo de empenho da PGR ou não passa, como se costuma dizer "de um gesto para o inglês ver"?

Albano Pedro (AP): O procedimento é legal, agora o problema está na coerência do processo, ou seja, na possibilidade desse processo avançar, ser desenvolvido e avançar em sede de tribunal, porque estamos habituados a uma situação em que os crimes públicos e atos praticados por governantes e pessoas da confiança de governantes, como é o caso. Trata-se de uma gestora [Isabel dos Santos] que teve a confiança de um gestor público, estamos habituados a ver esses casos sem avançarem a lado nenhum. Temos poucos exemplos de casos desses que tiveram sucesso, daí esse caso levantar ceticismo. De qualquer forma responde a uma iniciativa encorajadora tendo em conta que ao ser instaurada agora dá um sinal diferente, um sinal que as palavras do Presidente da República, que é o combate à corrupção, não estão a ser veiculadas em vão.

DW África: A serem comprovadas as irregularidades durante o mandato de Isabel dos Santos na Sonangol, um processo contra ela e a sua equipa seria algo próximo da realidade?

AP: Eu penso que sim, e aqui havemos de dividir os tipos de responsabilidade: civis e criminais seriam apuradas enquanto gestores de uma empresa pública e aqueles atos que foram praticados depois de terem cessado o mandato, porque se fala de uma transferência de 38 milhões de dólares, operada já numa altura em que não estava a exercer o mandato. E aqui obviamente aqui o tipo de responsabilidade, seja criminal ou cível, seria apurada de forma diferente. Portanto, estaríamos perante atos imputáveis aos gestores da empresa e os atos imputados às pessoas que exerceram essa gestão. É óbvio que o Ministério Público ao avançar com o processo terá de olhar para essas duas perpetivas, numa em que serão responsabilizados como gestores públicos, e aqui estaríamos a exercer orientações normativas da Lei de Probidade Pública, e não situação em que já não eram gestores públicos seriam responsabilizados no âmbito do direito penal e civil comum, como indivíduos que terão cometido crimes de furto, e no caso até furto qualificado, se se chegar a essa conclusão.

DW África: Os bancos onde Isabel dos Santos tem participações terão sido os bancos preferenciais da Sonangol. Neste caso em que há suspeitas de irregularidades, Isabel dos Santos fica numa situação muito mais complicada...

AP: Penso que a função que ela assumiu como presidente da Sonangol lhe deu a possibilidade de estabelecer uma rede com várias empresas, várias instituições em que havia interesses diretos dela. E uma dessas instituições era o BESA, que era o banco que entra neste circuito, e não só. Isso significa que as irregularidade que foram operadas nessas instituições de alguma forma também responsabilizam Isabel dos Santos, porque acaba sendo no fundo a placa giratória pela qual todas essas instituições geriram meios financeiros de forma ilícita. Portanto, isso não conforta a Isabel dos Santos, muito pelo contrário, coloca-lhe numa situação muito difícil se a PGR e outros interessados avançarem com o processo a fundo.

DW África: E do ponto de vista político, que leitura se faz desta ação da PGR se considerarmos as relações entre o Presidente João Lourenço e o ex-Presidente José Eduardo dos Santos?

AP: Do ponto de vista político as coisas ainda não estão muito claras. Lançou-se uma campanha de combate à corrupção, mas se formos honestos o Presidente da República ainda não avançou com atos vigorosos que demonstrem que efetivamente já se está a combater a corrupção. Basta ver a lei de branqueamento de capitais que foi discutida recentemente e aprovada na generalidade. Denuncia uma espécie de favor para as pessoas que estiverem na condição de detentores de ilícito de capitais. E portanto, nós não estamos ver uma lei que efetivamente penalize, não há ai um sinal de rigoroso de que se está a combater a corrupção. E ao se vir com essa bandeira de se avançar contra Isabel dos Santos, no sentido de se avançar com um processo contra ela, de facto, vai ser o primeiro grande sinal, caso venha a funcionar, de que o Presidente está realmente a combater a corrupção. Quanto à relação com o José Eduardo dos Santos provavelmente aí virá o sinal de que efetivamente a bandeira da bicefalia que se levanta agora é um facto, e de que há, de facto, crispações entre a linha de José Eduardo dos Santos e João Lourenço. Porquanto há outras situações que devíamos ver investigadas e responsabilizados os devidos autores, como é o caso de Manuel Vicente em que o Presidente está e esteve do seu lado, ao passo que para a filha essa situação já não ocorre. Então, o sinal mais evidente é que, de facto, isso há-de demonstrar que há um clima de crispação entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Angola | JOÃO LOURENÇO E A TEMPESTADE. QUEM É CARLOS JORGE?

JOÃO LOURENÇO, UM OUTRO CORRUPTO QUERENDO FAZER TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA?

Fernando Vumby | opinião

O bom na política, mesmo parecendo às vezes ser um jogo muito sujo, é a vantagem que as pessoas têm em poder mudar de opinião quando os factos aconselham a ninguém estar condenado ter que morrer com ideias fixas.

Em tão pouco tempo quantos mudaram de opinião em relação á pessoa de João Lourenço aconselhados pelos factos que falam por si mesmos de que o teórico combate contra a corrupção proclamado por João Lourenço, não ser nada diferente do que já havia sido quase como decretado da outra vez por José Eduardo dos Santos, um dos grandes mentores se não mesmo o sustentáculo desta pratica em Angola?

Perante todo este documentário que temos assistido desde que João Lourenço foi proclamado presidente da republica pelo mais vergonhoso, fantoche, manipulado e partidarizado sistema judiciário, julgo não ser necessário assistirmos ao filme todo para percebermos o fim desta brincadeira de mau gosto promovida ao estilo já característico e quase natural do MPLA.

João Lourenço é tão corrupto quanto os outros, pois se assim não fosse das 28694 vezes somadas por estudos qualificados que foi apontado e mencionado como tal, até hoje nunca conseguiu uma única vez provar o contrário, por ter com certeza um tremendo peso lhe apertando a consciência.

Este problema do combate á corrupção jamais em Angola será feito de forma séria e credível pelo MPLA, pois precisamos não esquecer que este partido cresceu e foi sobrevivendo até aos dias de hoje graças á corrupção.

O MPLA é constituído por várias famílias e gerações de corruptos de toda a espécie, com grandes ramificações, solidários uns com os outros, que na hora dos assaltos aos cofres públicos até de olhos fechados se percebem tão bem e obedecem ao mais pequeno pormenor para dar sempre tudo certo como tem dado ao longo destes perto de 50 anos no poder.

O grande se não mesmo o maior obstáculo para João Lourenço e seu MPLA no tal imaginado combate contra á corrupção é o facto de mesmo entre eles nunca se terem relacionado de forma transparente uns com os outros, e dai, é o que eu digo repetidas vezes, "o rosto de um raramente não ser o cú do outro", numa meia palavra para qualquer bom entendedor.

ALGUMA VEZ TINHA QUE VOS RESPONDER, QUEM É AFINAL ESTE TAL CARLOS JORGE?

Somei - e foram (1037) - o total das vezes que esta pergunta me foi feita por jovens meus leitores nos meus mais de 72 textos sobre os acontecimentos do 27 de Maio de 1977 escritos até agora sem imaginar quando terminarei, porque ainda há tanta coisa para contar. Algumas nem sequer passam pela cabeça de muita gente, geralmente tida por muito bem informada.

Sendo a maioria da população angolana hoje constituída por jovens, quer dizer que uma grande parte da população quando isto aconteceu ainda não estava nascida ou se já, não tinham mais do que 3, 4 ou 5 anos de idade, dai a justa e compreensível curiosidade dos mesmos e nossa obrigação moral e patriótica, como kotas, contarmos como tudo aconteceu sem que nos achemos com o direito reservado para deturparmos os factos históricos deste triste acontecimento.

1) - QUEM É AFINAL ESTE TAL CARLOS JORGE?

Dado o bizarrismo tamanho e raridade da brutalidade utilizada pelo mesmo contra os presos não é fácil encontrar palavras para descrever aquele que foi na opinião geral de todos os presos que o conheceram nas cadeias de S. Paulo e C.R (Casa da Reclusão) - locais onde operava com maior frequência e deixou a fama da sua gula e fúria pelo sangue alheio - como um dos maiores assassinos.

Curioso, conheci tanta gente da tenebrosa DISA, polícia secreta de Agostinho Neto, que alguns ate que se julgavam dos mais embarrados antes dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977, muitos deles foram meus companheiros de farda em Cabinda, enquanto outros desde a infância no nosso saudoso Sambizanga, amigos das andanças no Marçal, Sumba Futá, Matopá, Bairro Alfredo, Kaputo e outros bairros, mas nunca tinha ouvido falar nele  antes.

2 ) - QUEM È AFINAL ESTE TAL CARLOS JORGE?

Carlos Jorge foi um dos mandões das cadeias políticas de Luanda uma espécie de diretor-geral promovido á moda atípica onde a cor da pele, familiarismo, amiguismo e padrinho na cozinha contou como vai contar sempre tudo indica, que frequentou as escolas dos serviços secretos cubanos.

Quando regressou de Cuba, se calhar fanatizado com o nome de algum seu professor das escolas da secreta cubana, gostava que lhe chamassem por Mariguelas -nome este que não pegou - acabando por ficar a ser mesmo mais conhecido por Kajó.

O tipo perseguia as suas vítimas como um caçador furioso cobiçando o sangue, os gritos, gemidos e a dor dos que ele sabia em tão pouco tempo os transformaria em cadáver.

Carlos Jorge ele mesmo seguido de alguns dos seus mais próximos comandados nas horas da caça ao homem bateu e ponteou as portas de grande parte das suas vitimas, até de alguns que nem sequer na altura se encontravam em Luanda, como foi o caso do Feio (Breganha) que mesmo estando na altura no Moxico em serviço não escapou e foi atirado ao rio depois de amarrado num saco de fibra.

Até hoje a sombra de Carlos Jorge ainda mete medo, no dizer de pessoas que o viram há uns dois anos aqui na Europa, onde as vezes aparece acompanhando sua esposa em tratamento.

O tipo está velho, cansado, meio louco ou fingindo, ninguém sabe. Fala muitas vezes sozinho e caminha descontraidamente com uma Bíblia debaixo dos braços. Tem sido visto em Luanda com um tal mais conhecido por Cansado, um outro assassino nos acontecimentos do 27 de Maio de 1977 que nunca se cansava na hora de torturar os presos.

Segundo algumas investigações feitas, o mesmo deve ter uma residência na África do Sul, em seu nome ou não. Ainda estamos para saber. Mas não morreu como já se tentou vender por noticia ai no país, para consumo interno dos angolanos como habitualmente.

O número certo de quantos ele matou ou mandou matar nunca os angolanos vão saber, porque ate nisto somos um povo de um país especial, onde os assassinos em série, desde que ao cumprimento de ordens superiores nunca confessão seus crimes. E quem são os angolanos - estes vistos como um meros detalhes para as estatísticas - para os obrigar a confessarem?

Carlos Jorge, Veloso, Cansado, Xavier e outros assassinos ainda estão vivos. Bem vividos, porreirinhos da vida, bem protegidos e confiantes pelos vistos, sem nunca terem respondido pelos seus crimes, e esperando pela próxima oportunidade quando forem chamados, se o barril de pólvora explodir e for necessário eliminar mais uns tantos...

Quem sabe, manos(as), tudo é possível em África!

Fernando Vumby - Fórum Livre Opinião & Justiça 

Tribunal da Guiné Equatorial ordena dissolução de partido da oposição


O partido opositor Convergência para a Democracia Social da Guiné Equatorial recebeu “com choque” a decisão da justiça de dissolver o partido Cidadãos para a Inovação, que considera obedecer a um plano do Presidente para “acabar com a oposição crítica”.

A justiça da Guiné-Equatorial ordenou, segunda-feira (26),  a dissolução do principal partido da oposição, Cidadãos para a Inovação (CI), e condenou a 44 anos de prisão 34 dos seus militantes, num processo que envolvia 146 opositores, acusados de sedição, atentado contra a autoridade, desordem pública e estragos.

“Apesar de ser possível recorrer da sentença para o Tribunal Supremo de Justiça, a condenação dos arguidos e a dissolução do CI respondem a um plano intencionalmente traçado pelo general Obiang para acabar com a oposição crítica no país e regressar ao sistema de partido único”, afirma o partido liderado por Andrés Esono Ondo, que na anterior legislatura tinha o único deputado na oposição no parlamento, contra os 99 eleitos do Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder).

Para a Convergência para a Democracia Social (CPDS), as eleições gerais de 12 de Novembro passado “tinham como objectivo expulsar a CPDS das instituições, e, uma vez terminadas, apagar do cenário político a CI”.

Nas últimas eleições, foi a CI que elegeu o único deputado da oposição no parlamento, que entretanto foi um dos detidos neste processo.

O partido de Esono Ondo expressa a sua “profunda indignação em relação à sentença ditada pela Audiência Provincial de Mongomo contra o CI e os seus militantes” e pede a revogação da decisão e a libertação dos condenados.

“Tendo em conta que o poder judicial não é independente na Guiné Equatorial, esta sentença é injusta, obedece a razões políticas e responde à vontade, expressa pelo chefe de Estado de acabar com os partidos que não querem aderir à sua linha política sob a forma de uma coligação eleitoral”, considera, no comunicado.

O partido opositor lança um apelo à comunidade internacional, “em particular aos países ocidentais com interesses na Guiné Equatorial, e às Nações Unidas, em cujo Conselho de Segurança este país é membro não permanente” para que instem o Presidente, Teodoro Obiang Nguema, “a iniciar um verdadeiro diálogo com todos os atores políticos da Guiné Equatorial, tanto no país como no exílio”, com mediação internacional.

Neste processo, o Ministério Público tinha pedido inicialmente a pena de morte para todos os réus no julgamento.

Os opositores foram acusados de “sedição, desordem pública, atentados contra a autoridade e ferimentos graves”, na sequência dos confrontos ocorridos no dia 05 de Novembro do ano passado em Akonibe (no centro da parte continental do país), durante a campanha para as eleições gerais de novembro.

A tensão aumentou na Guiné Equatorial no final de Dezembro passado, na sequência de um alegado golpe de Estado supostamente frustrado pelo Governo de Obiang, no poder desde 1979.

O Governo disse que mercenários do Chade, Sudão e República Centro-Africana entraram no passado dia 24 de Dezembro em várias localidades da Guiné Equatorial com o intuito de derrubar o chefe de Estado. O Presidente disse que o alegado golpe foi “organizado em território francês”.

Poucos dias depois, o CI denunciou um cerco militar às suas sedes, que se prolongou por vários dias, deixando centenas de militantes no interior sem água nem comida.

A Guiné Equatorial aderiu em 2014 à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mediante um compromisso de abolir a pena de morte – até agora, mantém-se em vigor uma moratória sobre a pena máxima –, de promover uma maior abertura democrática e o uso do português.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, manifestou-se no início do mês “seriamente preocupada” com as “restrições contínuas de liberdades e detenções” na Guiné Equatorial desde as eleições de novembro último.

A Guiné Equatorial é um dos maiores produtores de petróleo da África subsariana, mas a grande maioria dos 1,2 milhões de habitantes vive na pobreza.

Lusa/Inforpress | em África 21 Digital

Foto: RFI

GUINÉ-BISSAU | Consenso dos partidos para realização das legislativas em outubro ou novembro

Presidente da Guiné-Bissau José Mário Vaz termina auscultação às forças políticas legalizadas no país sobre a marcação da data das eleições. Outubro ou novembro reúne consenso dos partidos.

Outubro ou novembro do corrente ano são dois meses propostos pelos partidos políticos da Guiné-Bissau ao Presidente da República para a realização das eleições legislativas. A atual legislatura que teve início em 2014 termina oficialmente a 23 de abril.

Foram quatro anos de uma prolongada crise política que resultou na queda de seis primeiros-ministros, sendo apenas o primeiro Governo liderado por Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, partido vencedor das eleições legislativas de 2014, que conseguiu submeter ao Parlamento o seu Programa de Governação e o Orçamento Geral do Estado.

Recorde-se que o primeiro-ministro, Artur Silva, proposto por José Mário Vaz, a 30 de janeiro, ainda não conseguiu formar Governo, porque as forças políticas não lhe reconhecerem legitimidade.

Com o fim da legislatura, o Presidente do país, José Mário Vaz ouviu nos últimos dois dias um total de quarenta e três partidos políticos legalizados no país. A maioria foi unânime em admitir que as eleições só se poderiam realizar no segundo semestre deste ano. O mês de novembro foi o que mais reuniu consenso dos partidos.

Formação de um Governo de consenso?

Vários partidos entendem que José Mário Vaz, antes de avançar para a marcação da data para a realização das legislativas, deveria preocupar-se com a formação de um Governo de consenso que terá a missão de realizar atos prévios a marcação da data para ida as urnas.

Domingos Simões Pereira afirmou ter sublinhando perante o Presidente guineense que o PAIGC "quer as eleições ainda este ano", desde que fossem cumpridas todas as etapas previstas na lei. Para o Presidente do PAIGC, o chefe de Estado guineense quer que o escrutínio só venha a ter lugar em 2019, ano das presidenciais.

"O Presidente da República deve cumprir o Acordo de Conacri ou a Constituição da República e proceder a nomeação de um Governo de consenso em função dessas disposições. Feito isso, deverá exigir desse Executivo, num prazo mais rápido possível, que lhe seja apresentado um calendário que permita fixar uma data ainda este ano. Isto permitirá que o Parlamento possa nomear novos órgãos da Comissão Nacional das eleições. Agora, não respeitar os pressupostos leva-nos a ponderar que lá no fundo o Presidente não quer eleições em 2018, tal como anunciou no seu roteiro", destacou Simões Pereira.

Condições técnicas inexistentes

À saída da audiência com o Presidente guineense, o porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS), Victor Pereira, disse que partido entende que, obedecendo a realidade no terreno, as eleições poderão decorrer entre 23 de outubro à 25 de novembro do corrente ano.

"Dadas as condições técnicas que não existem, segundo informaram as autoridades competentes, para o PRS as eleições far-se-ão já, mas propomos que decorram entre 23 de outubro à 25 de novembro de 2018. Seria mais sensato".

Agnelo Regalla, presidente da União para Mudança (UM), com um assento no Parlamento, disse ter lembrado a José Mário Vaz que tal como a comunidade internacional exige que as eleições legislativas tenham lugar este ano da mesma forma que exorta para que o Presidente respeite o Acordo de Conacri.

"A primeira entidade a ser ouvida pelo Presidente no quadro das consultas para eleições é o Governo. Um governo inexistente. Portanto, está a colocar a carroça à frente dos bois. Uma coisa é certa, nós queremos as eleições este ano. Não há condições para que elas  decorram em maio. Para tal, o Presidente teria que marcar eleições a 20 de fevereiro, o que não aconteceu".

Presidente quer eleições em 2018?

A ideia de que José Mário Vaz não quer as eleições legislativas em 2018, foi também defendida, perante os jornalistas, por Idirssa Djaló, líder do Partido da Unidade Nacional (PUN, extraparlamentar), com a justificação de que o Presidente inicia as consultas com os partidos "sem ter um Governo".

Com o termo das consultas aos partidos políticos, o Presidente guineense, José Mário Vaz deverá fixar através de um decreto presidencial a data para a realização das próximas eleições legislativas na Guiné-Bissau.

Braima Darame (Bissau) | Deutsche Welle

Ministro cabo-verdiano acusado de favorecer grupo empresarial a que está ligado


O ministro das Finanças e vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, tem uma participação de 10% num grupo empresarial em que foi administrador e que está a ser acusado de favorecer através do aumento de taxas alfandegárias. O PAICV, maior partido da oposição, já levantou a questão no parlamento.

Nos registos de interesses depositados no Tribunal Constitucional, consultados pela agência Lusa, Olavo Correia declarou ligações ao grupo, até agora o principal beneficiário do aumento das taxas de importação de leite decretadas pelo atual governo.

Na declaração relativa a 2017, o ministro indicou uma participação de 5% na Tecnicil SGPS e 5% na Tecnicil Indústria, sendo que, neste caso, a acionista é a companheira com quem referiu viver em regime de união de facto.

Em 2016, no registo também consultado pela Lusa, Olavo Correia declarou-se titular da participação de 10% nas referidas empresas.

O atual membro do Governo foi também, até à sua tomada de posse, a 22 de abril de 2016, administrador das empresas Tecnicil Indústria e Tecnicil Trading e administrador não executivo da Tecnicil SGPS e da Tecnicil Imobiliária, tendo nessa altura renunciado aos cargos, segundo informação publicada no Boletim Oficial.

A legislação cabo-verdiana não prevê incompatibilidade na participação dos membros do Governo no capital de empresas privadas, mas o ministro das Finanças está a ser acusado pelo maior partido da oposição (PAICV) de favorecimento à empresa no aumento das taxas de importação sobre os laticínios em vigor desde 01 de janeiro.

Em causa está, o facto de, coincidindo com a nova legislação, ter surgido no mercado cabo-verdiano uma nova marca de leite e sumos produzida pela Tecnicil Indústria.

O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que, em dezembro, votou favoravelmente a medida no parlamento, veio posteriormente pedir a sua revogação, depois da contestação dos consumidores ao aumento do preço do leite e de militantes do próprio partido, que criticaram o sentido de voto.

O PAICV questionou, esta semana, no parlamento, a “bondade da medida”, considerado que as ligações do ministro à empresa levantam questões éticas.

Confrontado recentemente com as acusações de que terá promovido uma proposta de lei à medida de uma empresa onde teve responsabilidades no passado, Olavo Correia rejeitou qualquer conflito de interesse ou problema ético.

O jornal A Nação noticiou, na semana passada, que o Ministério Público abriu uma investigação para apurar se houve favorecimento à empresa.

A informação não foi confirmada oficialmente até ao momento, mas em resposta anterior a uma pergunta da agência Lusa, fonte da Procuradoria Geral da República adiantou que o Ministério Público “está a acompanhar o caso”, a recolher e a analisar informações.

Reagindo à notícia, Olavo Correia mostrou-se “agradecido” pela investigação, considerando que permitirá “clarificar” e “esclarecer” todas as calúnias contra a sua pessoa.

Questionada está a ser também a decisão de mudar as instalações da repartição Especial dos Grandes Contribuintes (REGC), serviço dependente do Ministério das Finanças, para um edifício propriedade da Tecnicil Indústria, na Achada de Santo António, na cidade da Praia.

A agência Lusa enviou ao gabinete do ministro das Finanças e vice-primeiro-ministro um pedido de esclarecimento sobre este tema, não tendo obtido resposta até ao momento.


Foto: Inforpress

Despesas de guerra levam os EUA à bancarrota

O complexo militar-industrial ataca de novo

John W. Whitehead [*]

"Para quê gastar dinheiro em despesas militares quando tudo está a ruir em torno de nós? Será que precisamos de gastar mais dinheiro com as nossas forças armadas (cerca de US$600 mil milhões este ano) do que o conjunto dos sete maiores países seguintes? Precisamos de 1,4 milhões de pessoal militar no activo e 850 mil reservistas quando o inimigo de momento – ISIS – conta escassas dezenas de milhares? Se assim é parece que há algo radicalmente errado na nossa estratégia. Deverão 55% dos gastos discricionários do governo federal irem para despesas militares e apenas 3% para os transportes quando há mais mortos e feridos americanos devido à falta de infraestruturas do que ao terrorismo? Será que a Califórnia necessita quase tantas bases militares ativas (31, de acordo com militarybases.com), como tem de universidades do Estado (33)? E o Estado precisa de mais pessoal militar em serviço ativo (168 mil, segundo a revistaGoverning ) que professores nas escolas públicas (139 mil)?"  - Steve Lopez, Los Angeles Times

Registem as minhas palavras:   as despesas militares da América levarão a nação à bancarrota. Mas os gastos da América em guerras já levaram a nação a uma bancarrota de 20 milhões de milhões de dólares.

Agora, a administração de Trump está a pressionar por um orçamento 4,4 milhões de milhões de dólares no ano fiscal de 2019 . Um plano que irá acrescentar 7 milhões de milhões de dólares ao já insustentável défice federal durante os próximos dez anos, a fim de manter o império militar dos EUA no exterior e expandir dramaticamente oestado policial interno . Trump também quer que os contribuintes americanos paguem o custo de construção daquela infame muralha fronteiriça .

Na verdade, Trump pode vir a ser considerado, como o analista político Stan Collender advertiu, "o Presidente com maior aumento de défice e dívida de todos os tempos" .

Num rápido esclarecimento: " Um défice orçamental é a diferença entre o que o governo federal gasta e o que recebe . A dívida nacional, também conhecida como dívida pública, é o resultado de o governo federal pedir dinheiro para cobrir anos e anos de défices orçamentais".

Agora, o governo dos EUA está a operar no negativo em todas as frentes: gasta muito mais do que o que obtém (e cobra aos contribuintes americanos) e pede emprestado a governos estrangeiros e à Segurança Social para manter o funcionamento do governo e o financiamento das suas intermináveis guerras no exterior.

É desta forma que os impérios militares fracassam e caem: por expandirem-se até ao limite e consumirem-se até à morte. Assim aconteceu em Roma . Está a acontecer de novo.

Não satisfeito em meramente servir de polícia do mundo, nas últimas décadas os EUA gradualmente transformaram o seu próprio território num campo de batalha com polícias militarizadas e armas mais adequadas a uma zona de guerra.

Desde a tomada de posse, o presidente Trump – tal como os seus antecessores – tem marchado ao ritmo das forças armadas. Agora Trump quer 716 mil milhões de dólares para expandir no exterior o império militar da América e milhares de milhões de dólares mais para contratar polícias, construir mais prisões e financiar mais programas de guerra – às drogas/ ao terrorismo/ ao crime – que corroem a Quarta Emenda Constitucional e não deixam o país mais seguro.

Mesmo as verbas solicitadas para infraestruturas pouco farão para remediar a desintegração de estradas, pontes, ferrovias, rodovias, redes eléctricas e barragens do país.

Não importa em quanto irá recortá-lo, este não é um orçamento que vise aperfeiçoar a União, estabelecer justiça, garantir a tranquilidade interna, providenciar a defesa comum, promover o bem-estar geral ou garantir as bênçãos da liberdade para o povo americano .

Não, este orçamento que visa favorecer os poderosos interesses do dinheiro (militares, grandes empresas e segurança) que controlam o Estado profundo e mantêm o governo preso nas suas garras.

No entanto, a campanha de Trump prometera equilibrar o orçamento e drenar os pântanos da corrupção .

A gritante verdade económica é que basicamente é o complexo militar-industrial – e não os doentes, os idosos ou os pobres – que estão a empurrar os EUA para a falência.

Como mostra o jornalista de investigação Uri Friedman, já há mais de 15 anos que os Estados Unidos têm estado a combater o terrorismo com um cartão de crédito , "essencialmente a financiar as guerras por meio de dívidas, sob a forma de compras de títulos do tesouro dos EUA por entidades baseadas nos EUA como fundos de pensões, Estados e governos locais e por países como a China e o Japão.

A fusão ilícita entre a indústria de armamentos e o Pentágono, contra a qual o presidente Dwight Eisenhower advertiu há mais de 50 anos, hoje talvez represente a maior ameaça à frágil infraestrutura da nação.

Tendo sido cooptada por gananciosos fornecedores de armamento, políticos corruptos e governantes incompetentes, os EUA ao expandirem o seu império militar estão a sangrar o país a uma taxa de mais de 15 mil milhões de dólares por mês (ou 20 milhões por hora) – e isto é só o que o governo gasta em guerras no exterior. Não incluindo o custo de manutenção e de pessoal militar dos EUA nas mais de 1 000 bases espalhadas por todo o globo .

Incrivelmente, embora os EUA constituam apenas 5% da população mundial, têm quase 50% das despesas militares totais do mundo , gastando mais em despesas militares do que as 19 maiores nações seguintes no seu conjunto .

Na verdade, o Pentágono gasta mais em guerra do que todos os 50 Estados federados juntos gastam em saúde, educação, bem-estar e segurança .

As guerras não são baratas.

Embora o governo federal obscureça tanto os seus gastos militares que números exatos são difíceis de obter, sabemos que desde 2001 o governo dos EUA gastou mais de 1,8 milhões de milhões de dólares nas guerras do Afeganistão e do Iraque (isto é, 8,3 milhões por hora ).

Isso não inclui guerras e exercícios militares travados por todo o globo, que se espera aumentarem a factura total para mais de 12 milhões de milhões de dólares até 2053 , incluído as despesas com veteranos e juros de dívidas.

Lembrem-se, estas guerras em curso – crivadas de corrupção, trapalhadas e incompetência – pouco têm feito para proteger o país, enquanto enriquecem o complexo militar-industrial e fornecedores privados da defesa, às custas dos contribuintes.

Recentemente, por exemplo, uma das principais empresas de contabilidade concluiu que uma das maiores agências do Pentágono "não contabiliza centenas de milhões de dólares dos seus gastos" .

Considere-se apenas o facto de que cada soldado deslocado no Afeganistão custa aos contribuintes americanos 2,1 milhões de dólares por ano . Imagine o que poderia ser feito com esse dinheiro se fosse gasto nas necessidades internas aqui no país.

Infelizmente, isso não vai acontecer tão cedo. Não enquanto os interesses do dinheiro em Washington continuarem a tomar as decisões e ter lucros com os despojos das guerras.

A guerra tornou-se uma enorme oportunidade de ganhar dinheiro e os EUA, com o seu vasto império militar, são um dos melhores compradores e vendedores. Não só têm o maior orçamento de defesa , também ocupam o primeiro lugar como o maior exportador de armas do mundo .

O complexo militar-industrial americano ergueu um império insuperável na história pela sua amplitude e alcance, dedicado à perpétua realização de guerras por toda a parte da terra.

Por exemplo, ao erigir um estado de vigilância securitária nos Estados Unidos, o complexo militar-industrial tem perpetuado um império mundial militar com tropas americanas estacionadas em 177 países (mais de 70% dos países do mundo). Neste processo, foram gastos milhares de milhões construindo instalações militares de luxo através do mundo.

Por exemplo, a embaixada dos EUA, construída no Iraque, apelidada de "Fortaleza Bagdade", abrange 104 hectares e possui uma "cidade dentro de uma cidade", o que inclui seis edifícios de apartamentos, um aquartelamento de Marines, piscina, lojas e paredes com a espessura de 4,5 metros O campo Anaconda no Iraque, como muitas bases militares americanas espalhadas por todo o globo, foi estruturado para se assemelhar a uma mini-cidade com piscinas, restaurantes fast-food, campos de golfe em miniatura e cinemas.

Enquanto a maioria dos americanos dificilmente pode arcar com o custo de aquecimento e arrefecimento de suas próprias casas, o governo americano gasta 20 mil milhões de dólares por ano só para fornecer ar condicionado a instalações militares no Iraque e no Afeganistão .

No essencial, o que estamos a fazer é "instalar ar condicionado lá nos desertos do Afeganistão, Iraque e outros lugares", observou o general de brigada reformado Steven Anderson, especialista em logística, antigo chefe logístico do general David Petraeus no Iraque.

Há uma boa razão para que "excessivo", "corrupto" e "ineficiente" estejam entre as palavras mais comummente aplicadas ao governo, especialmente ao departamento de defesa e seus fornecedores. Por exemplo, um estudo do Government Accountability Office descobriu US$70 mil milhões de sobrecustos do Pentágono causados por falhas de gestão. Para colocar isto em perspectiva, equivale a uma vez e meia todo o orçamento anual do Departamento de Estado, de 47 mil milhões de dólares.

A fraude é galopante.

Uma auditoria do governo, por exemplo, descobriu que o fornecedor militar Boeing tem maciçamentesobrecarregado os contribuintes com os custos das peças sobresselentes, resultando em dezenas de milhões de dólares de gastos excessivos. Como observado no relatório, o contribuinte americano paga:

US$71 por um pino de metal que deveria custar apenas 4 cêntimos; US$644,75 por uma pequena engrenagem menor que uma moeda de dez centavos vendida a US$12,51, um aumento de preço superior a 5 100 por cento; US$1 678,61 por outra minúscula peça, também menor que uma moeda, que poderia ter sido comprada internamente no Departamento de Defesa por US$7,71: um aumento de 21 mil por cento; US$71,01 para um delgado pino de metal que o Departamento de Defesa tinha em stock, não utilizados às dezenas de milhares, por 4 centavos, um aumento de mais de 177 000 por cento.

A burla nos preços tornou-se uma forma aceite de corrupção dentro do império militar americano. E se os contribuintes acham que os preços dos combustível são altos, considere-se apenas o que estão sendo forçados a desembolsar, uma vez que as despesas de entrega de combustível para as tropas no exterior são facturadas internamente entre 18 e 30 dólares por galão (4,76 a 7,93 dólares por litro) no Iraque e Afeganistão.

Incrivelmente, apesar dos relatos de corrupção, abuso e desperdício, às mega-corporações por trás de grande parte desta inépcia e corrupção continuam a ser adjudicados contratos militares de milhares de milhões de dólares.

Os argumentos podem mudar para justificar as razões pelas quais forças militares americanas estão no Afeganistão, no Iraque ou em quaisquer outros lugares, mas o que permanece constante é que aqueles que governam estão a alimentar o apetite do complexo militar-industrial.

O que começou em 2001 como parte de um alegado esforço para eliminar a al-Qaeda transformou-se numa mina de ouro para o complexo militar-industrial e o seu exército de fornecedores privados.

Considere-se que o Pentágono em 2008 gastou mais dinheiro a cada cinco segundos no Iraque do que o salário médio anual nos EUA . Mesmo assim o Congresso e a Casa Branca querem que os contribuintes aceitem que a única maneira de reduzir a subida do défice da nação é cortar em programas como a Segurança Social e o Medicare.

Como Martin Luther King Jr. reconheceu, sob um império militar a guerra e os seus lucros tomarão sempre a precedência sobre as necessidades básicas do povo.

Simplesmente, não podemos manter o nosso excessivamente extenso império militar.

"O dinheiro é o novo gorila de 400 quilos" , comentou um oficial sénior da administração envolvido no Afeganistão. "Isto desloca o debate de: "está a estratégia a funcionar?", para "Podemos poupar isto?" Quando se vê as coisas desta forma, o âmbito da missão que temos agora é muito, muito menos defensável".

Ou como um comentador observou: "Hipotecar o futuro do nosso país não deve ser confundido com defendê-lo."

Inevitavelmente, os impérios militares entram em colapso.

Como escreve Cullen Murphy, autor de Are We Rome? e editor-geral da revista Vanity Fair:

"Daqui a um milénio, a América será difícil de reconhecer . Pode não existir como um Estado-nação na forma como existe atualmente – ou até mesmo não existir. Serão as transições futuras graduais e pacíficas ou abruptas e catastróficas? Nossos descendentes irão viver vidas produtivas numa sociedade melhor do que a que vivemos agora? Aconteça o que acontecer, irão os valiosos aspectos do legado da América permanecer através do tecido das civilizações que virão? Será que os historiadores, um dia, terão razão para perguntar: o que fez a América realmente cair?

O problema com que lutamos não é senão um império americano distorcido, com mega-empresas, complexos industriais-militares e de segurança e crescente militarização. Com os olhos postos no domínio absoluto.

Contudo, todos os impérios militares acabam por cair.

No auge de seu poder, até mesmo o poderoso Império Romano não poderia ignorar uma economia em colapso e militares florescentes. Períodos prolongados de guerra e falsa prosperidade económica levam à derrocada. Como o historiador Chalmers Johnson prevê:

"O destino de impérios democráticos anteriores sugere que tal conflito é insustentável e será resolvido numa das duas maneiras. Roma tentou manter seu império e perdeu sua democracia . Grã-Bretanha optou por permanecer democrática e no processo perdeu o seu império. Intencionalmente ou não, o povo dos Estados Unidos já foi levado bastante longe na via de um Império não-democrático".

Gostaria de sugerir que o que temos é uma confluência de fatores e influências que vão além de meras comparações com Roma. É uma união do 1984 de Orwell com o seu sombrio governo totalitário – isto é, fascismo, a união do governo com os poderes corporativos – e um estado de vigilância total com um Império militar que se estende por todo o mundo.

Como temos visto com a militarização da polícia, o crescimento da confiança no militarismo como solução para nossos problemas tanto no interior e como no exterior afecta os princípios básicos sobre os quais a sociedade americana deve funcionar. Devemos ter em mente que um império militar será governado não por nobres ideais de igualdade e de justiça, mas pelo poder da espada. Os militares estão treinados principalmente para conduzir a guerra, não para preservar a paz.

Aqui bate o ponto: se o império americano cair e a economia americana entrar em colapso – e com isto os últimos vestígios da nossa República constitucional – a culpa será o governo e seus orçamentos de guerra de milhões de milhões de dólares. Claro que o governo já antecipou esta ruptura.

É por isso que o governo transformou a América numa zona de guerra, a nação num Estado de vigilância e rotulou "nós, o povo" como combatentes inimigos. Durante anos, o governo tem trabalhado com os militares a preparar-se para agitação civil generalizada provocada por "colapso económico, perda do funcionamento político e da ordem legal , resistência ou insurgência interna deliberada, intensificação de emergências na saúde pública, desastres naturais e humanos catastróficos".

Tendo passado mais de meio século a exportar guerra para terras estrangeiras, a lucrar com a guerra e a criar uma economia nacional aparentemente dependente dos despojos de guerra, os falcões da guerra há muito voltaram sobre nós os seus apetites pelo lucro, trazendo para casa os materiais de guerra – tanques militares, lançadores de granadas, capacetes de Kevlar, metralhadoras de assalto, máscaras de gás, munições, aríetes, binóculos de visão noturna, etc. – e entregando-os à polícia local, transformando assim a América num campo de batalha.

Como deixei claro no meu livro Battlefield America: The War on the American People , esta é assim que a polícia vence e "nós o povo" perdemos.

Há mais de 50 anos, o presidente Dwight Eisenhower advertiu-nos para não deixar que a máquina de guerra conduzida pelo lucro pusesse em perigo as nossas liberdades e processos democráticos. Fracassámos em prestar atenção a esta advertência.

Como Eisenhower reconheceu num discurso na American Society of Newspaper Editors, em 16 de abril de 1953, as consequências de permitir que o complexo militar-industrial empreendesse guerras, exaurisse os nossos recursos e ditasse as nossas prioridades nacionais, vão além da vida.

"Todas as armas que são fabricadas, cada navio de guerra lançado, cada foguetão disparado, representa, no seu significado final, um roubo aos que têm fome e não são alimentados, àqueles que têm frio e não são vestidos. Este mundo em armas não está a gastar dinheiro sozinho. Está a gastar o suor dos seus trabalhadores, o génio dos seus cientistas, as esperanças dos seus filhos. O custo de um bombardeiro pesado moderno é isto: uma escola moderna em mais de 30 cidades. São duas centrais elétricas, cada uma servindo uma cidade de 60 mil habitantes. São dois hospitais totalmente equipados. São umas cinquenta milhas de estradas alcatroadas. Pagamos por um único avião de combate meio milhão de alqueires ( bushels ) de trigo. Pagamos por um único destróier com casas novas que poderiam ter abrigado mais de 8 000 pessoas... Isto não é um modo de vida, no sentido verdadeiro. Sob as nuvens de guerras ameaçadoras, a humanidade está suspensa numa cruz de ferro".

17/Fevereiro/2018

[*] Procurador constitucional dos EUA, fundador e presidente do Rutherford Institute. Seu último livro é Battlefield America: The War on the American People . Contacto: johnw@rutherford.org 

O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/48814.htm

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Passos | ÚLTIMO DIA


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Num contexto de circo a arder, leia-se PSD a arder, Passos Coelho despediu-se do Parlamento. Escassos dias depois de se ter despedido da liderança do PSD. Deixará saudades entre as hostes laranjas, como se vê pelas dificuldades que a orfandade do ex-primeiro-ministro coloca à nova liderança, desde logo a começar pela própria liderança da bancada parlamentar, com o Presidente a conseguir o pior resultado de que há memória.

De resto, Rui Rio que aparentemente quer romper com a herança deixada por Passos Coelho sente a sua vida particularmente dificultada por quem vê na mediocridade e naquela espécie de neoliberalismo de pacotilha o caminho a seguir - o único caminho a seguir.

Passos Coelho, diz-se por aí, com manifestas dificuldades em esconder um sorriso jocoso, fará o seu caminho no mundo académico e dificilmente regressará ao partido: deixou seguidores da sua espécie de ideologia, mas seguidores que estão disponíveis para seguir um outro líder, com a mesma base ideológica, mas com um menor desgaste. Afinal de contas, embora deixe herdeiros, Passos Coelho sai desgastado aos olhos de um país que vê a esquerda tomar decisões bem menos gravosas e com resultados incomensuravelmente melhores. Passos Coelho representa para o país um capítulo encerrado que encontrou a sua justificação numa falsa premissa: uma bancarrota e um resgate forçado por si próprio e pelo inefável Paulo Portas. Nem um nem outro deixam saudades para um país que quer respirar novamente. 

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Foto: Rio Cruz, em Expresso

ESTORIL x PORTO | O futebol de elite não é um logro... Pois


“Há sempre alguém que nos diz, tem cuidado”. Pois. Assim mesmo, o dito é cantado e faz parte da imensa panóplia de qualidade dos Trovante, “Saudade” é o título. Cuidado, pois claro. Muito cuidado com as jigajogas do futebol de elite – que não é bom exemplo para ninguém. E o FC Porto… Oh, o Porto. Oh, o Papa da Costa. Oh, e os tais Três Grandes… Oh, e agora o Estoril, pequenino e atrevido. Oh, e outros. É uma soda estragada estas coisas do futebol dos milhares de milhões e de elite que encerra vigarices e golpadas, ditos e mexericos, imoralidades e nojeiras. Terreno próprio da antidemocracia e albergue de luxo de ditadores que brincam e engordam financeiramente à custa dos papalvos ingénuos que dão milhões para verem uns quantos aos pontapés a uma bola que só falta possuir um dispositivo teleguiado para entrar na baliza ou não, conforme os acordos e as verbas da compra disto e daquilo… Talvez a isso cheguem, no cumulo da falta de verdade do tal futebol précozinhado e de elite. Pois por isso há sempre alguém avisado que nos diz: “tem cuidado”.

O tema nem é caricato. Admira que tenha vindo a público. Então não é que se entende que o FC Porto comprou o Estoril para ter um resultado satisfatório, pelo lido. Verdade que os jogadores do Estoril naquela segunda parte do jogo só pareciam que ali estavam pela bodega que faziam, não sendo nem sombra de jogadores experimentados. Pois. Ora, aconteceu, às vezes é assim… Pois.

O Estoril comprado? Que não, dizem os mais que tudo naqueles clubes. Claro. Não. Pois não. Ora, pode lá ser. Afinal o FCP só pagou a dívida que tinha para com o Estoril. Que bem. E todos os que ouvem, vêem os alegados responsáveis declarar isso mesmo, lêem, acreditam. O quê? São todos gente de bem, muito honestos. Muito do futebol transparente. Os mal intencionados é que duvidam destas coisas tão honestas de pagar as dívidas de mais de 700 milhares de euros. Pois. E sujam bons nomes de dirigentes desportivos em conformidade com as suas clubites. Está mal. Errado.

Deixemos o caso para a justiça no Ministério Público. E depois… Arquivado ou até improcedente. Isso ou qualquer outro palavrão dos nossos sábios das leis e ilhargas das mesmas. Ou talvez não.

Para ficarem mais sabedores das tricas e laricas, recomendamos, por exemplo, que leiam a “novela” aqui, no Diário de Notícias. Mas leiam também o Curto do Valdemar que vem a seguir, do Expresso do tio Balsenão... Perdão, Balsemão.

Caríssimos. Este é o balanço para o Expresso Curto que às vezes incluímos no PG. Bom dia e boa sexta-feira. Bom fim-de-semana. Boa saúde. Boa digestão dos sapos que engolirem. E nem por sombras pensem que o futebol de elite é um logro… Pois. Que coisa! Inté. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A parábola do elefante e os massacres na Síria

Valdemar Cruz | Expresso

Um dia, um príncipe indiano chamou ao seu palácio seis cegos de nascença. Reuniu-os num pátio e de seguida mandou trazer um elefante, animal cuja existência ignoravam. De seguida convidou-os a apalpá-lo. Cada um ateve-se a uma parte do corpo do paquiderme. Quando tiveram de descrever como era o elefante, as opiniões dividiram-se conforme a parte que cada um tocara. A discussão assumiu proporções inesperadas, ao ponto de uns começarem a acusar os outros de desonestidade. O príncipe interrompeu a algazarra criada para lhes dizer que nada do que cada um deles dizia era mentira. Porém, constituía apenas uma parte da verdade. Sugeriu-lhes a humildade de experimentarem juntar a experiência por cada um deles vivida para, então sim, conseguirem imaginar como a junção daspartes poderia formar o todo que é o elefante.

Não deverá haver, na história recente, conflito ao qual com tanta e dolorosa veemência se possa aplicar a parábola dos cegos e do elefante como a tragédia vivida na Síria desde há vários anos. Todos os dias, a todas as horas, são disparadas bombas letais, responsáveis por incontáveis mortes de homens, de mulheres, de crianças.

Quando o sofrimento é tanto, quando a dor é tão indescritível, quando a indiferença é tão cruel, quando a morte é o banal respirar de um quotidiano rasgado por veredas afogadas em tanto sangue, tanta raiva, mais absurda se torna ainda a outra guerra, a decorrer em simultâneo. Não no longe de uma Síria devastada. Mas frente ao nosso olhar. Muito perto. À distância de um ecrã de televisão, de uma primeira página de jornal. É uma guerra mediática sem espaço para a memória, sem inocência, sem tempo para a reflexão, sem lugar para perceber como na Síria decorre “uma guerra com muitas guerras dentro”.

A citação que fecha o parágrafo anterior é parte do título de um dos trabalhos publicados na notável edição especial gratuita do Expresso Diário integralmente dedicado à Síria. É indispensável ler. Para quem se contenta com o retrato fragmentado. Ou para quem prefere o retrato inteiro. Desde artigos de opinião, a depoimentosreportagens e textos de enquadramento, está lá tudo. Ou quase tudo. Outras perspetivas seriam ainda possíveis. O tudo é a impossibilidade de que fala a personagem masculina no primeiro diálogo de “Hiroshima Meu Amor”, de Marguerite Duras (filme de Alain Resnais)? – "Tu não vista nada em Hiroshima. Nada". Ela responde: "Vi tudo. Tudo".

O filósofo britânico, economista e defensor do liberalismo político Jon Stuart Mill (1806-1873), dizia que aquele que só conhece o seu lado do problema, na verdade não conhece nada. E a Síria é um problema com muitos lados. Demasiados lados.

Daí a relevância desta edição do Expresso Diário. Ficará como documento. Como registo de uma memória. Essa mesma memória que nos faz recordar a fala da mulher em “Hiroshima Meu Amor”, quando diz: “Como tu, também eu tentei lutar com todas as minhas forças contra o esquecimento. Como tu, esqueci. Como tu, desejei ter uma memória inconsolável, uma memória de sombras de pedra”.

O esquecimento é tão poderoso como a morte. Por isso é crucial não esquecer. Já que, como se diz no Diário, a Síria é o tabuleiro e os sírios os peões de uma guerra de xadrez que, um dia, será lembrada como o grande conflito mundial deste milénio. Entre motivações estratégicas, financeiras, políticas e religiosas há todo um mapa de interesses que, direta ou indiretamente, contribuíram para a morte de centenas de milhares de pessoas nos últimos sete anos.

OUTRAS NOTÍCIAS (DE OUTRAS GUERRAS)

A guerra é a guerra. Mesmo quando julgamos viver um simulacro de paz, há sempre alguém a pensar na pretérita, na presente e nas futuras guerras. Porque a guerra não para. Nunca parou. Agora foi a vez de falar Vladimir Putin. No seu discurso sobre o estado da Nação, o último antes das eleições, anunciou que a Rússia possui novas e invencíveis armas nucleares. Garantiu ter sido testado um míssil nuclear capaz de atingir qualquer ponto do mundo. Putin Assegurou que o novo projétil não pode ser detetado pelos sistemas antimíssil. A guerra é a guerra. Aguardemos a resposta. Chegará do outro lado do Atlântico. Para já, uma amostra. Os EUA acusam Putin de violar os tratados sobre armas de 1987. A guerra segue dentro de momentos.

A guerra encarna muitas variantes. A económica não é das mais brandas. A União Europeia já anunciou uma “resposta firme” às taxas de importação prometidas por Washington sobre o aço (25%) e o alumínio (10%) que entrem nos EUA. Jean-Claude Juncker afirmou que a União não ficará sentada a ver os efeitos de uma medida que, diz, coloca “em risco milhares de postos de trabalho na Europa".

Na guerra pela independência catalã, Carles Puigdemontdá um passo ao lado, e renuncia à investidura como presidente da Generalitat para permitir a candidatura de Jordi Sánchez, número dois da sua lista (Junts per Catalunya) e atualmente em prisão preventiva.

A guerra pela igualdade humana é feita de avanços e recuos. (Veja em baixo O que ando a ler). O Guardian publica um artigo de fundo intitulado “O indesejável regresso da ‘ciência da raça’”. É, de alguma forma, a mancha humana de que também falava Philip Roth. O texto explora a defesa que tem vindo a ser feita por alguns antropólogos, psicólogos, ou investigadores, segundo os quais algumas raças são, por inerência, mais inteligentes que outras. Os autores da tese intitulam-se a eles próprios “nobres dissidentes”.

A guerra do clima agrava-se dia a dia. Não é pelas ocasionais chuvas, ainda assim raras e pouco eficazes. Não é pelos ocasionais e inesperados nevões, por exemplo em Londres, como mostra este vídeo do The Independent. É sobretudo por uma política global de cegueira que pode estar a conduzir o planeta para o abismo. Os sinais estão aí. Todos os dias. Como se vê, neste bom artigo de The New Yorker, sobre o que se passa com a seca na cidade do Cabo e as ameaças do dia zero, ou seja, sem água. Ou como o comprova este fantástico trabalho da NASA sobre os efeitos de um inverno invulgarmente quente no Ártico.

POR CÁ

Mais de 73% dos trabalhadores da Autoeuropa aprovaram em referendo o novo acordo laboral, que prevê aumentos salariais de 3,2%, com um mínimo de 25 euros. O pré-acordo abrange várias questões que faziam parte do caderno reivindicativo da Comissão de Trabalhadores, mas nada adianta em relação aos novos horários de trabalho que entram em vigor a partir de agosto, quando a fábrica passar a um regime de laboração contínua.

A EDP continua a dar lucro. Mas é um lucro que já não reverte a favor dos cofres do Estado português. Isto é, de todos nós. Fechou 2017 com um lucro de 1113 milhões de euros, mais 16% do que em 2016, naquele que foi o melhor resultado dos últimos seis anos.

É a principal notícia do JN. Milhares de trabalhadores portugueses foram burlados com a promessa de empregos falsos no Qatar. Há um réu a ser julgado no Tribunal de S. João Novo, no Porto. A pretexto do Mundial de Futebol de 2022 no Qatar, prometia ordenados entre quatro e seis mil euros. Pelo caminho exigia uma joia de inscrição aos candidatos. O burlão, que usava identidades falsas, tem 15 processos em todo o país.

Já conhece a Biblioteca de Literacia em Saúde? O objetivo é promover o acesso à informação sobre saúde, de modo a podermos ser mais autónomos em relação à nossa saúde e à dos que nos rodeiam. Permite pesquisa por vários temas e abre logo com uma seleção de seis grandes grupos de interesse: nascer com saúde; crescer em segurança; juventude à procura de um futuro saudável; vida adulta produtiva; envelhecimento ativo e fim de vida.

Se gostava de possuir uma aldeia, tem aqui a sua oportunidade. Foi posta à venda uma aldeia na zona de Arouca, que tem o Geopark como Património Geológico da Humanidade, a Serra da Freita ou a muito visitada Frecha da Mizarela. O património em venda é constituído por 11 casas típicas, algumas destinadas a reconstrução. Porventura o único óbice para o comum dos leitores será o preço: 600 mil euros.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Portugueses da Califórnia zangados vão ter Costa mas queriam Marcelo – DN

Desemprego real é o dobro do que mostram os números oficiais – Público

Altice acusa Vodafone de colocar pessoas e bens em risco – I

Milhares de trabalhadores burlados com empregos falsos no Qatar – JN

Putin declara-se na posse de um arsenal invencível - El País

Governo sem dinheiro para pagar a professores – Correio da Manhã

Hospitais privados e ADSE chegam a acordo parcial – Negócios

Quarto clássico entre Dragões e Leões aquece a corrida ao título – O Jogo

O clássico é redondo – A Bola

Fome de Título – Record

FRASES

"Não há nenhuma aproximação ao PS, a aproximação é a mesma que há ao CDS”. Rui Rio, presidente do PSD, após almoço com Assunção Cristas

"Este grupo parlamentar foi insultado, maltratado e desrespeitado”. Paula Teixeira da Cruz, deputada do PSD

“Todos nós fizemos uma catarse”. Fernando Negrão, líder da bancada do PSD após ter pedido desculpa aos deputados por algum excesso de linguagem

“Vieira da Silva foi de longe o ministro com quem avançámos com políticas de ‘direita’”. Francisco van Zeller, ex-presidente da CIP em entrevista ao Negócios

O QUE ANDO A LER

Não somos racistas. Não somos racistas? Ou será que gostamos de acreditar que não carregamos a mancha, mesmo se a mancha anda por aí? A relação dos portugueses com o racismo e a ideia muito generalizada de que não alimentamos o gérmen racista é um dos maiores mitos urbanos com o qual convivemos no dia-a-dia.

Duas leituras recentes ajudam a recentrar o problema. Na edição desta semana da revista do El País há um texto dedicado ao preconceito. Aquele preconceito sub-reptício, do qual podemos nem ter consciência, mas que condiciona muitas das nossas decisões. Ou seja, o preconceito que nos leva a excluir ou marginalizar todos quantos não se enquadrem nos nossos esquemas mentais.

Como somos subjetivos, podemos socorrer-nos de mil e uma justificações, mas, na verdade, escreve Pilar Jericó, “a maior parte das vezes movemo-nos por critérios inconscientes”, que nos levam a tomar decisões sem fundamento. Como dar por adquirido que os homens estão melhor qualificados que as mulheres para cargos diretivos. Ou rejeitar alguém no acesso a um emprego devido à sua orientação sexual”.

O preconceito leva-nos a excluir outras pessoas pelo simples facto de serem diferentes. Como os ciganos. E isso leva-nos a dois bem mais longos textos. Estão publicado na edição de janeiro do Le Monde Diplomatique, e confrontam-nos com dados arrepiantes. Daqueles capazes de abalar consciências.

Conhece-se o contexto. Ao longo de séculos os ciganos têm vindo a ser perseguidos. As acusações são, invariavelmente, sempre as mesmas. São catalogados como ladrões e intrujões, desordeiros e preguiçosos. Ou então traficantes e criminosos.

No artigo intitulado “Comunidades ciganas: consistências sociais ao longo dos tempos”, Manuel Carlos Silva e Sílvia Gomes, sociólogos da Universidade do Minho, responsáveis por um estudo sobre o tema em comunidades de Braga e Guimarães, demonstram que a perseguição aos ciganos, materializada em práticas de descriminação e racismo, é ancestral.

As comunidades ciganas vivem em pobreza relativa e, em alguns casos, em pobreza absoluta, “pois estão sujeitas a numerosas formas de estigmatização, marginalização e segregação socioespacial”.

Embora sejam conhecidos casos de envolvimento no tráfico de droga e haja uma percentagem considerável de famílias a receber o Rendimento Social de Inserção, os sociólogos concluem que “a disseminação generalizada de que as famílias ciganas vivem exclusivamente desse rendimento e estão envolvidas no tráfico de drogas é abusiva e estereotipada, uma vez que os dados mostram que a grande maioria vive das suas atividades profissionais”.

Num outro trabalho, Piménio Ferreira, ativista cigano, mestre em Engenharia Física e dirigente do SOS Racismo, defende que “o racismo institucional é sistémico", e assegura que Portugal tem sido profícuo "em produzir leis e decretos que perseguem explicitamente ciganos desde o século XV até ao século XXI, inclusive. Com efeito, é possível encontrar leis ou regulamentos anti-ciganos datados de 2015…”.

Numa nota ao texto, Piménio Ferreira especifica que o regulamento a que se refere é a proibição de usufruto, a pessoas ciganas, das piscinas públicas por parte da Câmara Municipal de Estremoz.

Portugal é muito mais complicado que as três sílabas que o verbalizam. Já o dizia – neste poema – Alexandre O’Neill.

Tenha um bom dia. Para quem gosta, logo há um FC Porto – Sporting. Como aperitivo, leia este belo poema sobre o mágico momento do golo, assinado pelo grande poeta brasileiro Ferreira Gullar, Prémio Camões 2010.

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