segunda-feira, 19 de março de 2018

Venezuela | CARACAS, UMA CAPITAL-SANTUÁRIO


Martinho Júnior | Luanda
   
1- A cidade de Caracas foi fundada no vale do pequeno rio tributário que se chama Guaire, a 25 de Julho de 1.567, num planalto 15 km a sul da costa do Mar do Caribe, com o nome de Santiago de León de Caracas.

O casco da cidade estende-se entre os 760 m e os 1.140m de altitude, o que por si implica uma amenização do clima tropical, bastante quente e húmido, conforme o que acontece no litoral próximo.

A cidade de São Paulo da Assumpção de Luanda, capital de Angola, foi fundada apenas 9 anos depois, a 25 de Janeiro de 1.576 e o seu clima aproxima-se do clima das cidades do litoral venezuelano.

Qualquer das cidades foi instalada com a visão dos navegadores que chegaram por mar, todavia Caracas está um pouco no interior, fruto da exploração do espanhol que está na sua criação, Diego de Losada, pois era necessário colocar a capital numa região que, sendo próxima do mar, estivesse fora do alcance das razias dos piratas holandeses, ingleses e franceses que infestavam a região do Mar das Caraíbas, algo muito menos frequente em Luanda (que apesar disso esteve tomada pelos holandeses entre 25 de Agosto de 1.641 e 12 de Agosto de 1.648).

Em ambos os casos, a instalação da capital do território sob colonização junto ao mar, revela quanto a geoestratégia colonial incidia na perspectiva de ocupar as orlas costeiras a fim de fazer progredir as linhas de penetração e intervenção, geoestratégia essa que ainda é a dominante, apesar do exercício de independência e soberania, algo que urge reverter, pondo fim às assimetrias decorrentes.


2- A outra característica de Caracas distinta de Luanda, é a existência de nós dos enormes dedos dos Andes do nordeste no seu entorno, o que faz com que a cidade fique no interior duma bacia abraçada por elevadas montanhas, com média de altitude acima do nível do mar de 2.200m, enquanto Luanda espreguiça-se por uma grande planície do litoral angolano, com uma altitude média de 150m acima do nível do mar, planície essa sulcada de rios muito mais caudalosos que o Guaire (Dange, Bengo, Cuanza e Longa).

Caracas está assim por dentro dum enorme cinturão refrigerador e saneador, por dentro dum santuário, cuja expressão maior é o Parque Natural de Ávila, que a norte resguarda a cidade dos efeitos directos do mar e a enche de oxigénio como um poderoso pulmão.

A cidade-santuário de Caracas, actualmente com menos de metade da população de Luanda, cresceu desde a sua origem cultivando os cuidados para com a natureza envolvente e, mesmo assim, possui vários parques no seu interior, que complementam, em termos ambientais, a refrigeração proveniente das montanhas; para termos uma ideia:

La Candelária: é uma zona da cidade, que conta com trilhos empedrados e restos dos carris do carro elétrico que uma vez cruzou a área. Tem ganhado grande fama por sua diversidade gastronómica, podendo-se encontrar excelentes restaurantes especializados em comida espanhola, canária e italiana;

Passeio Los Próceres: é uma extensa avenida que consta de monumentais estátuas, calçadas, escadas, fontes e muros elaborados em mármore, para render honra e tributo aos venezuelanos que lutaram pela liberdade da nação durante a luta pela Independência;

Parque Francisco de Miranda: conhecido popularmente como o Parque do Leste é um lugar predileto para os "trotadores" de Caracas, com charmosas áreas verdes, um pequeno zoológico, uma laguna artificial e suas distintas atrações e recreações como o muito conhecido barco de Cristóbal Colón; tudo isso torna o parque mais concorrido nos fins de semana na capital venezuelana;

Parque de Recreação Jóvito Villalba: melhor conhecido como o Parque do Oeste, um espaço de desfrute para todos os caraquenhos que vivem no lado oeste da cidade; possui quadras desportivas, jogos infantis, uma laguna artificial, o anfiteatro e concha acústica, lanchonete e seus lugares para caminhar, tudo isto dentro de suas belas áreas verdes;

Jardim Botânico de Caracas: nos espaços da Cidade Universitária o jardim botânico constitui um dos principais reservatórios de fauna em Caracas e preserva a qualidade do ambiente na área capitalina;

Parque Zoológico Caricuao: o zoológico de Caricuao mostra uma grande variedade de animais africanos e americanos. O que faz muito das especialidades do parque – é que alguns animais podem passear livremente entre as pessoas;

Parque Zoológico El Pinar: o Par El Pinar é um dos parques preferidos das crianças, pela variedade de animais e por sua zona de contato. É um verdadeiro oásis em plena cidade. Também tem uma zona especial onde se podem admirar diferentes espécies de borboletas;

Parque Los Caobos: este é um dos parques mais antigos de Caracas. Nele se encontra uma das mais importantes coleções de árvores centenárias da cidade; caracteriza-se por ser refúgio de desportistas e de todo aquele que deseje relaxe. Nele podem-se presentear nos fins-de-semana, obras teatrais infantis. Próximo do Museu de Belas Artes, do Museu de Ciências, da Galeria Nacional, do Ateneu de Caracas e do Teatro Teresa Carreño.

Em função dessas características em Caracas foram desenvolvidas redes rodoviárias com um eixo que percorre longitudinalmente a cidade, a partir do qual se disseminaram as transversais, sem que isso acarrete índices de poluição atmosférica satirantes.

Esse eixo acompanha em parte o curso do pequeno rio Guaire, que em área urbana se apresenta contudo contaminado.

Comparativamente a Luanda: se para arquitectos especialistas e históricos Luanda é “um desastre arquitectónico”, para os ambientalistas Luanda é de facto, com o aquecimento global e os regimes de chuvas equatoriais que a açoitam entre Janeiro e finais de Abril, um verdadeiro desastre ambiental!...


3- No dia 5 de Março de 2.018, a chuva e o mau tempo no mar marcaram o Estado de Vargas, em nada impedindo a cerimónia em La Guaira, assinalando o 5º aniversário do desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez na ampla praça Bolivar-Chavez.

Quando iniciámos a subida para Galipan em pleno Parque Natural de Ávila, juntou-se uma bruma espessa que impediu a caravana de visitantes de apreciar a vista sobre o litoral e sobre a capital, a partir de mais de 2.200m de altitude.

Não impediu todavia da caravana internacional de visitantes ver as florações típicas dessas alturas, só habitadas pelos habitantes autóctones, mas um Parque guarnecido com uma eficiente Guarda Florestal.

Numa estrada estreita, serpenteante, mas segura, que em alguns troços possui inclinações superiores a 10%, os autocarros estão banidos e só veículos com tracção estão aconselhados… fez-me imediatamente lembrar a “escadaria” da serra da Leba em Angola!

Em todos os circuitos e a partir da excelente gare rodoviária de Catia La Mar, até Caracas, o Governador do Estado de Vargas, general Jorge Luis Garcia Carneiro, segundo me constou um luso-descendente, que presidiu à cerimónia em La Guaira, acompanhou a caravana internacional que preencheu a rota nº 2 das 4 previstas para os visitantes no dia 5 de Março de 2.018.

No Parque Natural Ávila constatou-se os avanços na reconstrução do Hotel Humboldt, instalado no cimo duma das montanhas dominantes (2.155m) e servido por teleférico (2.130m) a partir de Caracas.

O almoço foi num retiro em Galipan (1.910m de altitude), bem no interior do Parque Natural Ávila.

O Parque é uma bem-cuidada e protegida maravilha da natureza, preenchendo os vários nós dos dedos dos Andes que a noroeste da cordilheira fazem directo contacto com o Mar das Caraíbas entre Caracas e os Estados de Vargas e Miranda e onde o pico Naguaita (2.765m) é o mais elevado.


4- As colinas de Caracas onde a migração de pobres atraídos às miragens da capital foi instalando arraiais, beneficia do santuário que é Caracas, em resultado do cuidado que na Venezuela existe para com a natureza, em época de aquecimento global.

Não estou por dentro de como está a ser feito o enfrentamento às prementes necessidades humanas, em termos de energia e águas nessas colinas tão íngremes e onde ruelas estreitas se assemelham a autênticos “caminhos de cabras” montanha acima…

Da janela do meu quarto em “calle 13” (13º andar do hotel onde fui hospedado), à noite verifiquei que havia iluminação profusa nessas colinas, enquadrando-se na vasta paisagem urbana que podia visionara perder no horizonte…

Mas, cuidados com os povos e com a natureza é um ponto assente com a revolução socialista bolivariana…

O Parque Natural de Ávila não é apenas dum santuário para Caracas…

Ainda esta semana encerrou a XXIII reunião da Associação de Estados do Caribe, AEC, ficando patente a solidariedade que une a Venezuela às nações que integram a vasta região do Caribe, que em função das alterações climáticas e outros fenómenos da natureza, têm sofrido o impacto de cada vez mais frequentes furacões, com ventos cada vez mais poderosos, assim como de terremotos demolidores.

Um fenómeno físico-geográfico similar acontece também em África, no Golfo da Guiné: as regiões insulares da Guine Equatorial e de São Tomé e Príncipe, são um prolongamento da cordilheira que tem seu ponto mais elevado no Monte Camarões.

Os furacões típicos das Caraíbas contudo, não têm tido paralelo no Golfo da Guiné…

Os arquipélagos no Mar das Caraíbas correspondem ao prolongamento dos nós dos Andes que derivam dos dedos da cordilheira no norte de Venezuela, algo que “atrai” o país, sob os pontos de vista físico-geográfico-ambiental e também humano, ao vasto Caribe.

A solidariedade bolivariana e socialista está patente em inúmeras iniciativas não só no âmbito desta Associação por parte da Venezuela, mas também do Petrocaribe.

Entre 2018 e 2019, é a Nicarágua que recebeu o encargo de, “pro tempore”, assumir a presidência dessa Associação, nevrálgica para aquela tão vulnerável região, melhor poder enfrentar a vicissitude e as características do aquecimento global, de que nenhum dos seus componentes tem responsabilidade própria!...

Caracas, capital-santuário da Venezuela Bolivariana, tem múltiplos aspectos que a prendem inexoravelmente a um vasto horizonte, no imenso Mar das Caraíbas, tanto quanto no continente a sul!

Além da ideologia que une os homens e os coloca numa trincheira feita colar de sonhos, ávido de futuro, até o ambiente físico-geográfico se propicia à unidade e à coesão!...

Martinho Júnior - Luanda, 17 de Março de 2018

Fotos de Martinho Júnior (5 de Março de 2018):
As duas primeiras: o Governador do Estado de Vargas, camarada general Garcia Carneiro, parte de sua comitiva e integrantes da caravana internacional, em Galipan;
Flores do Parque Natural de Ávila: quanto a bruma e a chuva inundam o horizonte típico das grandes alturas dos Andes entre a costa e a capital, as flores tornaram-se num outro horizonte.

Catalunha | Sonho independentista está a perder apoio popular


Joana Almeida*

Os três partidos a favor da independência, que se candidataram às eleições de dezembro, ainda não chegaram a acordo para formar Governo e o antigo presidente da Generalitat da Catalunha, Carles Puigdemont, assumiu que se fosse hoje não teria suspendido a independência catalã.

O sonho independentista na Catalunha está cada vez mais a perder apoio popular. Os três partidos a favor da independência, que se candidataram às eleições de dezembro, ainda não chegaram a acordo para formar Governo e o antigo presidente da Generalitat (Governo regional) da Catalunha, Carles Puigdemont, assumiu que se fosse hoje não teria suspendido a independência catalã.

Três meses se passaram desde as eleições convocadas pelo Governo espanhol para a região da Catalunha. Embora as eleições tenham dado vitória ao partido de Albert Rivera e Inés Arrimadas, o Cidadãos (C’s), os partidos independentistas levaram a melhor ao conseguirem, em conjunto, a maioria absoluta no Parlamento catalão. Mas até agora o partido Juntos pela Catalunha, o Esquerda Republicana Catalã (ERC) e a Candidatura de Unidade Popular (CUP), ainda não chegaram a acordo.

O impasse político criado na Catalunha está a gerar uma onda de descontentamento entre os cidadãos. De acordo com uma sondagem do Centro de Estudios de Opinión da Catalunha, a percentagem de apoiantes da independência da região rondava os 48,7% em outubro, sendo que os últimos dados, registados em fevereiro, colocam a aprovação da independência em torno dos 40,8%. Quer isto dizer que se verificou uma queda de quase 8% na aprovação de uma Catalunha independente.

O próprio Carles Puigdemont veio este domingo considerar que, se fosse hoje, não teria suspendido a independência da Catalunha. “A 10 de outubro tínhamos previsto proclamar a independência, mas decidi suspender os seus efeitos para deixar aberta uma porta ao diálogo com o Governo espanhol. Foi o que me sugeriu Madrid”, contou Carles Puigdemont, ao jornal suíço “Tribuna de Genebra”. “Lamentavelmente, era uma armadilha, já que não houve nenhuma reação positiva por parte do Governo. Se pudesse voltar atrás não suspenderia a proclamação de independência”.

* Jornal Económico

Síndrome holandês’ | Como a Noruega escapou à ‘maldição’ do excesso de riqueza


António Freitas de Sousa*

Maioria dos países produtores de petróleo não são um bom exemplo de economias e de sociedades saudáveis. A Noruega é o contrário dessa maioria. Mas, apesar de toda a riqueza, está já a preparar outro futuro.

A abundância de petróleo e gás natural pode tornar-se numa maldição nacional se a riqueza daí gerada não for usada corretamente. Os exemplos planetários são variados: entre países onde essa riqueza deu lugar a uma espécie de preguiça endémica e outros onde a corrupção passou a imperar, passando por aqueles onde as rendas são tremendamente mal distribuídas, há de tudo.

De tal maneira é assim, que o jargão económico chegou mesmo a produzir um termo para o caraterizar: o síndrome holandês – criado nos anos 60 do século passado depois de a indústria daquele país ter sofrido um duro golpe após a descoberta de grandes reservas de gás natural perto do Mar do Norte.

Na Holanda dessa altura, os recursos da economia foram-se focando cada vez mais num único setor, ao mesmo tempo que a forte procura pelos florins holandeses (para comprar o gás) apreciou fortemente a moeda, prejudicando o resto dos setores do país, que enfrentou enormes dificuldades em exportar.

Um pouco mais a norte, a Noruega, um país com apenas cerca de cinco milhões de habitantes, era outro candidato ao sucumbir ao síndrome – mas não foi nada disso que sucedeu. Desde logo porque os seus sucessivos responsáveis políticos (ao longo de cinco décadas) souberam a tempo, e desde o início, criar barreiras a que isso sucedesse.

Após quase 50 anos de produção, os economistas do banco central norueguês produziram um documento, citado pela revista “El Economista”, em que provam, que o síndrome holandês não penetrou as sólidas fronteiras sociais e económicas do país.

Segundo o documento, da responsabilidade dos economistas Hilde Bjornland, Leif Anders Thorsrud e Ragnar Torvik, a descoberta do petróleo aumentou a produtividade de toda a economia nórdica como um todo.

O “valor agregado por trabalhador na economia aumentou com o boom do petróleo, uma vez que existe uma aprendizagem prática nas indústrias de serviços ligadas ao petróleo que se estende a outras indústrias”, refere o estudo.

De acordo com o documento, o mesmo pode observar-se, aliás, com o boom de produção do chamado petróleo de xisto por parte dos Estados Unidos, que rapidamente transformou o país num largo produtor e exportador de petróleo e gás.

Na Noruega, a riqueza obtida pelo petróleo serviu para transformar este setor num dos mais competitivos do mundo. Ao mesmo tempo, o resto da economia baseou-se nessa riqueza para investir e melhorar a produtividade. A Noruega exporta muito petróleo, mas também exporta máquinas relacionadas com esse setor e outros tipos de tecnologia de alto valor acrescentado que conseguiram segurar a força histórica da moeda norueguesa.

Embora a Noruega tivesse precisado de grandes doses de investimento com o recurso a empréstimos estrangeiros para iniciar a grande indústria do petróleo no final da década de 1960, transformou grandes áreas de sua indústria e tornou-se num fornecedor global de tecnologia para a indústria do petróleo e o gás, substituindo setores menos produtivos.

Por outro lado, o país criou – para proteger e diversificar o futuro comum de todos os seus cerca de cinco milhões de habitantes – um fundo de investimento soberano para onde é canalizada uma grande parte do dinheiro proveniente da venda do petróleo, que já totaliza cerca de 900 mil milhões de euros, quase cinco vezes o PIB português.

O fundo serve, entre outras coisas, para garantir os benefícios sociais das gerações futuras e de almofada para tempos difíceis. O governo recorreu ao fundo pela primeira vez em 2016, quando o país foi afetado pela queda no preço do petróleo, mas apenas usou os lucros e nunca o capital. É que o fundo gera lucros substanciais – sendo certo que os seus administradores apenas os aplicam em empresas, quando é caso disso, acima de qualquer suspeita, seja de crimes ambientais, fugas aos fiscos, branqueamentos de capitais e por aí adiante. Um exemplo, portanto, que outros países, como Angola, não conseguiram replicar.

A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, do Partido Conservador, fez da redução da dependência da Noruega em relação ao petróleo um dos seus principais objetivos políticos – o que fez com que o país aposte agora nas energias renováveis. Paralelamente, o banco central está a produzir um estudo sobre que impacto terá na economia o fim da produção de petróleo.

Um exemplo de boas práticas, portanto, a que bem se poderia chamar síndrome norueguês, e que desgraçadamente afeta muito poucas economias.

*Jornal Económico, 22 fev 2018

PORTUGAL | O supremo anestesista da nação


Paulo Morais* | Jornal de Notícias | opinião

Marcelo Rebelo de Sousa celebrou, por estes dias de março, dois anos de mandato, com níveis invejáveis de popularidade. Mas, não tendo resultado dessa atividade nada de significativamente positivo para o quotidiano dos cidadãos, toda esta popularidade é um desperdício.

O presidente comenta todos os assuntos, importantes ou banais. Desta forma, transforma os assuntos banais em relevantes e vice-versa. Os temas de facto importantes ficam diluídos na voracidade noticiosa. Assim, temas como a limpeza das florestas, ou o excesso de IVA na eletricidade (23%), podem ser preteridos, em termos políticos e noticiosos, pela inauguração duma exposição de um pintor local de Cascais, tão-só porque o artista convenceu Marcelo a marcar presença no evento. E assim, a falta de manutenção de pontes e vias-férreas ou o desvio de centenas de milhões de fundos públicos da Misericórdia para o Montepio - todas estas situações calamitosas ficam reduzidas à condição de episódios quotidianos com efémera vida mediática.

Marcelo, para além da condição de comentador permanente, assume ainda a condição de juiz que a todos absolve. Quando os cidadãos se revoltam porque morrem, estupidamente, mais de cem pessoas em incêndios evitáveis, Marcelo anuncia que "foi feito tudo o que se podia", abraça e consola as famílias das vítimas, apelando à solidariedade dos portugueses. Assim, anestesia a opinião pública, previne quaisquer reivindicações de justiça, evita tumultos e desculpa os verdadeiros responsáveis pelas tragédias. Se roubam armas no paiol de Tancos, Marcelo anuncia, mais uma vez, que "se fez tudo o que se podia", prevenindo críticas mais ferozes.

Quando veta - e bem - a lei de financiamento partidário que permite transformar partidos em máquinas de lavar dinheiro, Marcelo é contrariado pelos partidos e, incompreensivelmente, cede. Pior, é ele próprio quem vem depois justificar a lei que havia vetado. Esta atitude do presidente - que tudo desculpabiliza a um Estado de que é primeiro responsável - coloca-o na posição de anestesista-mor da sociedade.

Apesar de tudo, Marcelo vê aumentar a sua popularidade, graças à sua hiperexposição televisiva. Talvez assim continue, enquanto os portugueses preferirem políticos que os consolem na desgraça, que assumem como uma qualquer fatalidade; em vez de escolherem representantes que de facto lhes resolvam os problemas.

* Presidente da Frente Cívica

GALP, ENI, OUTRAS | GOVERNOS DÃO PERDÕES FISCAIS PARA FARTAR A VILANAGEM

Carlos Narciso, jornalista, salienta no Facebook os perdões fiscais a grandes empresas. Atente-se. 

E depois vêm os governos dizer que não têm dinheiro para aumentos das reformas (quando o faz é mixaria), para atualizar carreiras de funcionários, de professores, etc. etc. Mas para bancos e grandes empresa “distribui” ao desbarato o que pertence a todos os portugueses. No minimo é um abuso. Porque o fazem?

Claro que até podemos admitir que os políticos nos poderes dão perdões fiscais em troca de benesses a receberem em momento oportuno. Se assim acontecer, isso é o quê? Não seria de admirar tal suspeição, já que a honestidade e transparência de muitos dos políticos se tornou dúbia a partir do momento em que tantos casos vão caindo nas mãos do judiciário. 

Os perdões fiscais em questão constituem um fardo muito mais pesado para cada um dos portugueses. Porém, esta ausência de vergonha e decência continua ano após ano. (MM | PG)

PERDÃO PARA ALGUNS, FARDO MAIS PESADO PARA MUITOS OUTROS

Os ambientalistas da Climáximo denunciaram, agora, os sucessivos perdões fiscais que os últimos três governos concederam às petrolíferas GALP e ENI. Segundo as contas que os tipos da Climáximo fizeram, a coisa soma mais de 270 milhões de euros.

“Entre 2010 e 2016 as petrolíferas GALP e ENI (através da sua subsidiária SAIPEM) receberam, respetivamente, mais de 70 milhões e de 201 milhões de euros em benefícios fiscais”, lê-se no comunicado dos ambientalistas disponível no Facebook e no site da organização.

A SAIPEM é uma das empresas que anda a prospetar petróleo em Portugal, nomeadamente na costa alentejana e no Algarve.

A exploração de hidrocarbonetos é um dos mais rentáveis negócios existentes, talvez ultrapassado apenas pela industria farmacêutica, pela venda de armas e pelo tráfico de droga.

Gostava de perceber qual a lógica que preside aos perdões fiscais a empresas altamente lucrativas e que sacrificam o ambiente ao mesmo ritmo que engordam os seus acionistas. Se isto não é subserviência perante o poder económico, digam-me como lhe posso chamar.

Uma coisa é uma empresa qualquer achar que pode vir a ganhar dinheiro num negócio, outra coisa é fazê-lo sem qualquer responsabilidade social. Nenhum governo devia embarcar nestes esquemas. Em Portugal, neste caso das petrolíferas, três governos sucessivos (o segundo governo de José Sócrates, o governo de Passos Coelho e o atual governo de António Costa) permitiram a estas empresas receber benefícios fiscais que ultrapassam os 270 milhões de euros, o que faz destas empresas as maiores beneficiárias de perdões fiscais em Portugal.

PORTUGAL | Ministério Público pede 5 anos de prisão para ex-ministro Miguel Macedo


O MP pediu a condenação de todos os arguidos do processo Vistos Gold

O Ministério Publico pediu, esta segunda-feira, a condenação do ex-presidente do Instituto Registo e Notariado António Figueiredo a uma pena até oito anos de prisão no processo Vistos Gold e para o ex-ministro Miguel Macedo uma pena até cinco anos.

Nas alegações finais do julgamento, o procurador do Ministério Público (MP) deu como provados os crimes de que António Figueiredo estava acusado, pedindo ainda, como pena acessória, a suspensão de funções públicas durante dois a três anos.

Para os restantes arguidos, incluindo o ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo, o procurador José Nisa pediu que fossem condenados a uma pena única não superior a cinco anos de prisão, admitindo, contudo, que esta possa ser suspensa na execução.

A exceção foi para o empresário Jaime Gomes para quem pediu prisão efetiva.

Lusa | em TSF | Foto: Miguel Silva

Bruxelas e Londres chegam a acordo sobre transição pós-brexit


O anúncio foi feito em Bruxelas pelo negociador da UE, Michel Barnier. Fronteira na Irlanda é tema a concluir mais tarde

A União Europeia e o Reino Unido chegaram a acordo sobre os termos do divórcio, o que significa que Londres vai conseguir um acordo para a transição depois do brexit.

O anúncio foi feito em Bruxelas pelo negociador da UE, Michel Barnier. "Temos um acordo de transição", confirmou.

Em relação à fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, um dos principais obstáculos ao acordo, ambas as partes decidiram deixar para futuras discussões a fórmula a adotar.

Adam Marshall, diretor-geral das câmaras de comércio britânicas referiu, citado pela Reuters, que a decisão "é um marco que muitas empresas em todo o Reino Unido esperaram. O acordo de um período de transição do statu quo é uma ótima notícia para empresas comerciais em ambos os lados do Canal, pois significa que enfrentarão poucas ou nenhumas mudanças no dia-a-dia a curto prazo".

Keir Starmer, porta-voz do Partido Trabalhista, disse que o acordo é "bem-vindo" e que agora o Governo britânico "deve priorizar a negociação de um acordo final que proteja empregos, economia e garantias, e que evite uma fronteira rígida com a Irlanda do Norte".

Em conferência de imprensa, Michel Barnier revelou que "as negociações intensivas" que decorreram em Bruxelas nas últimas horas, incluindo durante a madrugada, permitiram um entendimento distendido entre as partes, nomeadamente quanto ao período de transição.

"A transição será de duração limitada, como era desejado pelo Reino Unido e pela UE. Durante esse período, o Reino Unido não vai participar na tomada de decisões da UE, simplesmente porque deixará de ser um Estado-Membro em março de 2019. Todavia, conservará todos os benefícios do mercado único, da União Aduaneira e Monetária, e das políticas europeias, sendo obrigado a respeitar todas as regras comunitárias como qualquer outro Estado-Membro", esclareceu.

"Trabalhamos num acordo internacional, com a precisão, o rigor e a certeza jurídica exigida a todos os acordos internacionais. O que apresentamos é um texto jurídico conjunto, que constitui, a meu ver, uma etapa decisiva. Esta manhã, entendemo-nos sobre uma larga parte do que será o acordo internacional para a saída ordenada do Reino Unido", anunciou o negociador chefe da UE para o 'Brexit'.

Ladeado por David Davis, responsável do governo britânico para o 'Brexit', Barnier ressalvou, contudo, que "uma etapa decisiva é apenas uma etapa decisiva". "Ainda nos resta muito caminho, e ainda temos muito trabalho a fazer em assuntos importantes, nomadamente em relação à Irlanda e Irlanda do Norte", notou.

Este período de transição, que deverá terminar a 31 de dezembro de 2020, pretende evitar as consequências que acarretaria uma rutura brutal no final de março de 2019, permitindo que o Governo e as empresas britânicas se preparem para um futuro fora do bloco comunitário.

Barnier indicou ainda que Londres reconsiderou a sua posição quanto aos cidadãos que cheguem ao país durante o período de transição, com estes a poderem beneficiar dos mesmos direitos e garantias daqueles que o tenham feito antes do 'Brexit'.

No entanto, o negociador comunitário apontou a gestão do acordo de saída e a questão da Irlanda como os dois principais pontos de divergência remanescentes entre as partes.

Barnier esclareceu que na terça-feira irá encontrar-se com os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 e que na sexta-feira os chefes de Estado dos 27 irão avaliar e julgar o ponto de situação das negociações, de modo a adotar as 'guidelines' para a relação futura entre as duas partes.

Também David Davis considerou que o novo texto representa um "passo significativo" para o acordo final, mostrando-se confiante de que este será apoiado pelos chefes de Estado dos 27, que se vão reunir em Conselho Europeu, na quinta e sexta-feira, em Bruxelas.

O negociador britânico revelou que ambas as partes acordaram a constituição de uma comissão para resolver qualquer conflito que ocorra durante o período de transição.

"Temos de aproveitar o [bom] momento e prolongá-lo", acrescentou Davis.

Diário de Notícias/Lusa | Foto: Reuters/Francois Lenoir

PUTIN | Presidente russo reeleito com 76,67% dos votos


O presidente russo, Vladimir Putin, foi reeleito para um quarto mandato com 76,67% dos votos, quando estavam contabilizados quase todos os boletins (99,8%), nas eleições deste domingo, que contaram com uma participação de 67,4%, segundo a comissão eleitoral.

De acordo com os últimos dados da Comissão Eleitoral Central, Putin obteve o apoio de 56,1 milhões de cidadãos, mais 10,5 milhões que na eleição de 2012, quando regressou ao Kremlin após um mandato de quatro anos como primeiro-ministro.

A votação, que permite a Vladimir Putin permanecer no Kremlin até 2024, também foi melhor do que previam as sondagens nas últimas semanas.

A participação foi de 67,47%, dois pontos acima da registada há seis anos, mas a diferença em relação a eleições anteriores foi maior em grandes cidades como Moscovo, habitualmente as mais desencantadas com processos eleitorais.

Putin recebeu mais de 90% dos votos em cinco regiões ou repúblicas do país, entre as quais a Crimeia, que celebra o quarto aniversário da anexação russa e cujos habitantes participaram pela primeira vez nas eleições presidenciais russas.

Também alcançou 70% dos apoios nas duas principais cidades do país, Moscovo e São Petersburgo, tradicionais focos da oposição mais radical ao Kremlin.

Na sua primeira aparição perante a imprensa após ter declarado vitória nas eleições, Putin negou que se pense, "neste momento", reformar a Constituição para que possa permanecer no poder daqui a seis anos.

Putin, de 65 anos, venceu as suas primeiras eleições em março de 2000, três meses depois de receber o poder das mãos do primeiro Presidente eleito democraticamente na história da Rússia, Boris Ieltsin.

Nestas eleições, o milionário comunista Pavel Grudinin teve uma votação de menos de 12 por cento, seguido pelo ultranacionalista Vladimir Jirinovski, com 5,66%.

A única candidata que criticou abertamente o Presidente durante a campanha eleitoral, a estrela de televisão e jornalista Ksenia Sobchak, obteve menos de dois por cento dos votos (1,67%).

O líder da oposição, Alexei Navalny, foi afastado da corrida presidencial.

O opositor "número um" do Kremlin, Alexei Navalny, o único com capacidade de mobilizar dezenas de milhares de pessoas, foi acusado pelas autoridades de "repetida violação" da lei sobre a organização de manifestações e proibido de concorrer ao escrutínio devido a uma antiga condenação judicial, que considera encenada pelo Kremlin.

Os outros três candidatos presidenciais não superaram a barreira de 1%.

Grupos da oposição planeiam uma manifestação para hoje na capital russa, Moscovo.

Cerca de 110 milhões de russos estavam convocados para irem às urnas numas eleições consideradas "transparentes" pela CEC, mas que, segundo o candidato comunista, foram "sujas" e, de acordo com a oposição, estiveram marcadas por várias irregularidades.

Lusa | em Diário de Notícias | Foto: Vladimir Putin no discurso de vitória, junto ao Kremlin, em Moscovo |  EPA/Yuri Kochetkov

Apoio à independência de Taiwan cai para 38,3% - sondagem


Pequim, 19 mar (Lusa) - O apoio à independência de Taiwan baixou de 51,2% para 38,3%, desde maio de 2016, altura em que a atual Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, assumiu o cargo, segundo uma sondagem divulgada hoje pela fundação Opinião Pública Taiwanesa.

"É uma mudança rara e inesperada", afirmou o presidente da fundação, You Ying-long, ao apresentar os resultados numa conferência de imprensa, em Taipei.

O apoio à unificação com a República Popular da China alcançou também um apoio recorde, de 20,1%, enquanto 24,1% optou por manter o status quo, e 17,5% não respondeu.

A sondagem foi feita com uma amostra de 1.071 pessoas, com idade superior a 20 anos, entre os dias 11 e 13 deste mês.

A atual política de Pequim, de antagonizar o Governo taiwanês liderado por Tsai, do Partido Democrático Progressista (DPP), pró-independência, enquanto oferece incentivos a indivíduos ou empresas de Taiwan, poderá ter contribuído para elevar o apoio à unificação da ilha, segundo vários especialistas.

Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China, mas Pequim considera-a uma província chinesa e ameaça usar a força caso declare independência.

JPI // SB

O FIM DO MUNDO É CERTO - previsão de um génio


Stephen Hawking previu o fim do mundo duas semanas antes de morrer

No seu legado, o mais famoso físico do mundo deixa os planos necessários para a humanidade descobrir universos paralelos ao nosso

"Uma saída suave da inflação eterna", é este o título do mais recente estudo que o recém-desaparecido físico Stephen Hawking concluiu e deu à apreciação dos seus pares académicos apenas alguns dias antes de morrer, noticia este domingo o jornal britânico Sunday Times.

No documento, realizado durante as suas duas últimas semanas de vida, o cientista descreve como o nosso universo vai acabar por se transformar em nada à medida que as estrelas forem gastando a sua energia.

Ao mesmo tempo, Hawking apresenta os cálculos matemáticos necessários para construir uma sonda espacial que poderá descobrir indícios da existência do multiverso - isto é, da existência de universos paralelos ao nosso.

O trabalho do físico inglês - "A Smooth Exit from Eternal Inflation", no seu título original - está agora a ser estudado pelos meios académicos e por uma publicação científica, mas já houve vários cientistas a classificar a derradeira investigação de Hawking como sendo, possivelmente, "um avanço revolucionário e pioneiro" no campo da cosmologia, escreve o jornal.

Recorde-se que Stephen Hawking, na sua teoria do Universo sem limites (que desenvolveu juntamente com James Harte) defende precisamente que o universo não tem fronteiras ou limitese foi criado no Big Bang. Só que, sugeria o cientista, terão ocorrido em simultâneo diversos Big Bangs que terão dado origem a um número infinito de universos, a que chamou multiverso.

É a existência deste que o seu último trabalho - feito em colaboração com o físico teórico Thomas Hertog, da Universidade de Leuven (Bélgica) - pretende provar. "Queríamos transformar a ideia de um multiverso num quadro científico comprovado", explicou Hertog.

Se tais provas tivessem sido encontradas enquanto Stephen Hawking foi vivo, decerto o cientista teria sido distinguido com o Prémio Nobel, que nunca chegou a receber. "Ele foi nomeado para o Nobel muitas vezes e devia tê-lo recebido. Agora nunca o fará", lamentou Thomas Hertog.

Stephen Hawking morreu no passado dia 14 de março, em sua casa em Cambridge, com 76 anos, devido a complicações resultantes da esclerose lateral amiotrófica de que sofria. A doença foi-lhe diagnosticada aos 21 anos e os médicos deram-lhe então apenas três anos de vida.

Diário de Notícias

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