sábado, 19 de maio de 2018

Venezuela, eleições e sabotagem


Em meio à crise, oposição poderia até ganhar a Presidência neste domingo. Mas o plano dos EUA, e de seus aliados locais, pode ser inviabilizar o país — onde estão as maiores reservas de petróleo do planeta

Alexander Main, em Nacla | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho

Costumava ser censurável apelar abertamente para golpes militares e intervenção dos EUA na América Latina. Não mais. Ao menos quando se trata da Venezuela, um país onde – de acordo com a narrativa dominante na mídia – um ditador brutal  está deixando a população faminta e aniquilando qualquer oposição.

Em agosto passado, o president Trump casualmente mencionou uma “opção militar” para a Venezuela em seu campo de golfe em Nova Jersey, provocando um alvoroço na América Latina, mas nem um pio em Washington. Paralelamente, Rex Tillerson, então Secretário de Estado, manifestou-se favoravelmente  a uma possível deposição militar do presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Recentemente, artigos de opinião sugerindo que um golpe um uma intervenção militar estrangeira na Venezuela pode ser uma boa coisa pontilharam o terreno da mídia: do Washington Post ao Project Syndicate  ao The New York Times. Ocasionalmente um especialista argumenta que um golpe de Estado poderia ter consequências indesejáveis, por exemplo se o regime do golpe decidisse aprofundar as relações com Rússia e China.

Raramente alguém aponta que esse debate é insano, em especial com relação a um país onde as eleições ocorrem frequentemente e são, com poucas exceções, consideradas competitivas e transparentes. No domingo, 20 de maio, Maduro será candidato à reeleição. Pesquisas sugerem que, se o comparecimento for alto, ele poderá ser retirado do posto.

O fato de que golpe, não eleições, são o tema quente é um triste reflexo do rumo distorcido que a discussão mainstream sobre a Venezuela tomou. Durante vários anos, a maior parte das análises e reportagens sobre a nação, rica em petróleo mas conturbada economicamente, tem apresentado uma representação em preto e branco, sensacionalista, de uma situação interna complexa e cheia de nuances. Além disso, tem havido pouca discussão séria sobre as políticas dos governo Trump em relação à Venezuela, mesmo quando estas causam mais danos à economia do país, agravando a carência de alimentos e remédios que salvam vidas, e minando a paz e a democracia.
Lados radicalizados

Não nos esqueçamos, Maduro – frequentemente descrito por especialistas e políticos dos EUA como um ditador – foi eleito democraticamente em eleições relâmpago realizadas um mês após a morte de seu predecessor, Hugo Chávez, no início de 2013. Como o período presidencial na Venezuela é de seis anos, seu mandato constitucional atual terminará no início de 2019.

Desde o início, alguns setores da oposição venezuelana rejeitaram a legitimidade de Maduro e exigiram sua saída imediata do governo. Em 2014 e novamente em 2017, endossaram movimentos de protesto explicitamente voltados a gerar grandes tumultos em áreas urbanas chave, para tentar forçar a queda do governo — por exemplo, exacerbando a pressão popular ou pela intervenção militar interna ou externa.

Embora muitos desses protestos fossem pacíficos, alguns tornaram-se violentos e resultaram em dezenas de mortes, algumas atribuíveis a forças de segurança do Estado e outras a membros do movimento de protesto, de acordo com relatórios confiáveis e provas documentais. Centenas de manifestantes foram detidos e algumas figuras da oposição, incluindo o ex-prefeito de Chacao, Leopoldo López, foram condenados à prisão por supostamente incitar á violência. López atualmente está em prisão domiciliar, depois de cumprir três anos de pena.

Apoiadores da oposição acreditam que os direitos processuais de López e outros envolvidos com os protestos foram violados, e certamente há motivos para esse argumento. Entretanto, alguns adeptos do governo acreditam que esses indivíduos mereceram penas mais pesadas pela tentativa de usurpar o poder popular por meio da desestabilização e da violência, de uma forma que lembra a preparação para o golpe militar de curta duração em 2002 contra Chávez — em que López e outros líderes da oposição estavam envolvidos.

No final de 2015, a oposição da Venezuela conquistou uma grande maioria de cadeiras nas eleições para a Assembleia Nacional. Mas o Executivo e Legislativo do país ficaram logo em desacordo sobre supostos casos de fraude eleitoral que levaram a Suprema Corte da Venezuela, um órgão amplamente visto como leal ao governo, a desqualificar três legisladores da oposição. A remoção desses legisladores significou a perda da maioria de dois terços da aliança de oposição, que lhe dava amplos poderes para intervir no nível executivo.

A oposição gritou e recusou-se a cumprir a decisão do tribunal. Em resposta, a corte recusou-se a reconhecer a legitimidade do parlamento. As instituições da Venezuela deixaram de interagir de acordo com o manual constitucional e os dois lados adotaram táticas cada vez mais radicais para tentar obter superioridade.

Líderes da oposição apoiaram uma nova série de protestos, que foram ficando cada vez mais violentos, paralisando vias públicas em Caracas e outras cidades durante vários dias, a cada vez. Grupos de manifestantes confrontaram-se frequentemente com as forças de segurança e dezenas de pessoas foram mortas, incluindo manifestantes, agentes de segurança do Estado e transeuntes.

O governo Maduro respondeu ao crescente caos nas ruas chamando eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte que iria desenhar uma nova Constituição e, de acordo com Maduro, trazer “ordem, justiça, paz” à Venezuela.

A oposição, denunciando a iniciativa como uma manobra destinada a mudar a Assembleia Nacional, boicotou as eleições. Desse modo, o novo órgão é quase inteiramente pró-governo e os EUA e governos aliados recusam-se a reconhecê-lo. Em seguida às eleições para a Assembleia Constituinte, o movimento de protesto desentendeu-se e a oposição tornou-se mais dividida, com radicais chamando outro boicote  eleições seguintes, regionais e municipais. Como resultado desse e de outros fatores, os eleitores da oposição fracassaram na mobilização e o governo venceu a maioria das disputas, tanto regionais quanto municipais, no final de 2017.

A economia

O pano de fundo da prolongada crise política da Venezuela foi, é claro, o atoleiro econômico do país, que se agrava cada vez mais. Embora a queda dos preços do petróleo tenha certamente desempenhado um papel, Maduro sem dúvida tem parte da responsabilidade pela profunda depressão e hiperinflação que levou centenas de milhares de venezuelanos a emigrar e causaram sua queda nas pesquisas.

Enquanto muitos ideólogos culpam o “socialismo” pelos problemas econômicos do país, a maioria dos economistas aponta uma série de erros políticos que têm pouco ou nada a ver com socialismo.  Mais devastador tem sido o disfuncional sistema de taxa de câmbio, que levou a uma espiral de “inflação-depreciação” cada vez pior no decorrer dos últimos quatro anos, e agora à hiperinflação. A gasolina quase gratuita e um controle de preços que não funcionou também contribuíram para a crise. As sanções financeiras do governo Trump – mais do que todos os esforços de desestabilização anteriores, que foram significativos – tornaram praticamente impossível para o governo sair da confusão sem ajuda externa.

Como se essa situação profundamente agônica não fosse suficiente, a mídia publicou com frequência relatos exagerados sobre as condições na Venezuela, apontando por exemplo fome generalizada. Para ser claro, a escalada de preço dos alimentos aumentou a subnutrição no país, mas isso é bem distante de uma fome em larga escala.

Mais importante, tem havido escassas reportagens na mídia dos EUA sobre os danos econômicos adicionais provocados pelas sanções financeiras do governo Trump, anunciadas em agosto do ano passado (logo depois da declaração sobre uma “opção militar” para a Venezuela).

Como meu colega Mark Weisbrot explicou, o embargo unilateral e ilegal – que exclui a Venezuela da maioria dos mercados financeiros – tem tido duas consequências principais, ambas implicando aumento das dificuldades econômicas para o povo venezuelano. Primeiro, porque causa uma escassez ainda maior de bens essenciais, incluindo alimentos e remédios. Segundo, porque torna a recuperação da economia quase impossível, uma vez que o governo não pode tomar empréstimos ou reestruturar sua dívida externa, e em alguns casos até mesmo realizar transações normais de importação, inclusive para medicamentos.

Além de fomentar maior devastação econômica na Venezuela, Trump e sua corte de conselheiros sobre a Venezuela, incluindo o senador republicano Marco Rubio, têm apoiado opositores de linha dura em seus esforços para impedir tentativas de diálogo e minar as eleições, mesmo quando estas oferecem a possibilidade de uma transição política pacífica.

No caso em questão: as eleições presidenciais deste domingo. O líder da oposição Henri Falcón – um ex-governador e organizador de campanha para o candidato da oposição nas eleições presidenciais de 2013, Henrique Capriles – concorre como candidato independente contra Maduro e outros três candidatos. Vários grandes partidos de oposição estão boicotando as eleições, entre outras razões porque fazem objeção à data próxima do pleito, que segundo eles não lhes dá tempo suficiente para organizar uma campanha forte. Contudo, a autoridade eleitoral concordou com o adiamento por um mês da data inicial. Dois partidos de oposição, Primeiro Justiça e Vontade Popular, também não conseguiram registrar candidatos porque, alega-se, não alcançaram os requisitos formais para fazê-lo.

Contudo, pesquisas eleitorais realizadas pelo Datanalysis, instituto mais frequentemente citado na Venezuela, indicam que Falcón pode vencer, se houver um grande comparecimento às urnas. Antes de confirmar sua candidatura, Falcón obteve fortes garantias junto à autoridade eleitoral do país, garantindo transparência, acessibilidade eleitoral e votação secreta, como houve em todas as contestadas eleições anteriores, desde que Chávez assumiu o poder em 1999.

Mas o governo Trump, depois de ameaçar Falcón com sanções financeiras individuais se não desistisse de sua candidatura, apoiou a o boicote eleitoral promovido por setores mais linha dura da oposição.  Eles veem o candidato, que era aliado de Chávez até 2010, como alguém que, se eleito, estaria disposto a entrar em acordo com os chavistas. O governo dos EUA ameaçou até mesmo aumentar sanções contra o petróleo venezuelano, se as eleições forem realizadas. Fontes indicam que quando ambos, Falcón e o governo venezuelano, solicitaram que a ONU enviasse uma equipe observadora internacional para monitorar as eleições, funcionários dos EUA intervieram para garantir que esse esforço de monitoramento não acontecesse.

Com o governo norte-americano e a oposição da Venezuela fazendo todo o possível para reforçar a campanha dos linhas-duras pelo boicote, há uma grande possibilidade de que seja baixo o comparecimento às urnas no campo da oposição, e que Maduro vença as eleições por uma larga margem. Pode-se esperar que o governo Trump faça a imediata denúncia de um processo “fraudulento” e “ilegítimo”, tomando atitudes que tornarão a vida dos venezuelanos comuns ainda mais difícil.

Mudança de regime: uma política norte-americana permanente

Vale notar que a política de Trump para a Venezuela é principalmente uma continuação da política de Obama para o país, embora o embargo financeiro e apelo a um golpe militar sejam particularmente ultrajantes e desprezem o direito internacional e as normas das nações civilizadas. As sanções de Trump aumentam o regime de sanções de Obama que identificam a Venezuela como uma “ameaça extraordinária à segurança nacional”.

Quando Obama começou o processo de normalização de relações com Cuba, ele começou a mirar os bens de vários altos funcionários e indivíduos associados com o governo Maduro.

Sob Obama, o governo dos EUA continuou, como na era-Bush, a financiar organizações políticas de oposição na Venezuela, e mais uma vez fez lobby junto a governos regionais para censurar a o país em organizações multilaterais, como na Organização dos Estados Americanos (OEA). Washington também recusou-se a aceitar um embaixador venezuelano em Washington – embora convidasse um cubano – e alinhou-se a membros linha-dura da oposição quando recusou-se a reconhecer a vitória eleitoral de Maduro em abril de 2013.

Essencialmente, o governo de Obama – como o de Bush, que esteve envolvido no golpe de vida curta em 2002 contra Hugo Chávez – tinha uma política de promover uma “mudança de regime” na Venezuela. Com Trump, aquela política tomou uma direção mais agressiva, aberta e perigosa.

Infelizmente não tem havido praticamente nenhuma crítica aos esforços do governos dos EUA para derrubar o governo venezuelano na grande mídia. No Congresso dos EUA, onde um grande número de legisladores agora se opõem ao embargo contra Cuba, por exemplo, há pouco clamor, com a importante exceção do um pequeno grupo de democratas progressistas que se opuseram às sanções contra a Venezuela, sob Obama e Trump. A maior parte do establishment político e da mídia parece acreditar que Trump tem a agenda política certa para a Venezuela, com vários liberais justificando as duras medidas com casos de corrupção, violação de direitos humanos e outros crimes que supostamente envolvem funcionários venezuelanos.

Entretanto, nenhuma dessas críticas pede sanções econômicas contra países latino-americanos com registro de muito mais violência e repressão. Contra Honduras, por exemplo, onde os militares recentemente reprimiram violentamente manifestações pacíficas após eleições fraudulentas, que o governo dos EUA reconheceu. Ou contra a Colômbia  e o México, onde nos últimos meses dezenas de candidatos políticos e líderes sociais foram assassinados com impunidade.

A Venezuela é tratada de modo diferente pelos EUA por razões óbvias: tem um governo que busca ser independente de Washington e se encontra sobre reservas de centenas de bilhões de barris petróleo, que – quando a economia da Venezuela finalmente se recuperar – irão possibilitar ao governo ter influência regional de longo alcance.

De fato, isso é exatamente o que aconteceu durante o governo Chávez. Aumentou a popularidade da Venezuela na América Central e no Caribe graças em grande parte à generosa iniciativa Petrocaribe do governo, que trouxe benefícios econômicos tangíveis a muitos países da região. Ela teve também influência na construção de instituições regionais tais como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) e a União das Nações Sul Americanas (Unasur), que eram muito mais independentes dos EUA do que a Organização dos Estados Americanos, localizada em Washington.

A despeito de como cada um se sinta, em relação ao atual governo da Venezuela, é tempo de se dar conta de que a política dos EUA com relação a esse pais está tornando as coisas piores. Está gerando maior sofrimento econômico, instabilidade e polarização política e minando as chances de alcançar uma solução pacífica para a crise política do país.

Os comentários sobre golpe e intervenção militar na Venezuela, ou em qualquer outro lugar da América Latina, precisam retornar a seu prévio status de tabu, particularmente por causa da receptividade a ideias absurdas da atual liderança dos EUA. Em vez disso, é hora de esfriar as cabeças em todo o espectro político para trabalhar juntos por uma mudança na direção política em relação à Venezuela. Primeiro, os cidadãos dos EUA que se importam com os Estados Unidos devem organizar-se para forçar Trump a levantar o embargo financeiro; depois, é preciso encorajar os esforços para construir confiança e diálogo entre os setores políticos, ao mesmo tempo em que marginalizamos linhas-duras que se opõem a qualquer forma de acordo.

Foto: Membro da oposição linha-dura, apoiada por Washington. Podendo chegar ao governo, grupos boicotam eleições e pedem intervenção militar — interna ou externa. Para converter a Venezuela numa Líbia, na América do Sul?

Ler em Página Global

VATICANO DENUNCIA O CAPITAL FINANCEIRO


Até o Vaticano denuncia as malfeitorias do capital financeiro ! O documento agora distribuído pela Santa Sé intitula-se "Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro" e é subscrito por dois dos seus departamentos. 

Nele se constata que "aumentaram as desigualdades entre os vários Países e ao interno dos mesmos. Além disto continua a ser ingente o número de pessoas que vivem em condições de extrema pobreza" (sic). Depois de condenar a utilização de derivativos como os Credit Default Swaps (CDS) que causam "substanciais danos para inteiros países e milhões de famílias", o Vaticano propõe "uma nova regulamentação da atividade financeira, neutralizando os aspectos predatórios e especulativos, e valorizando o serviço à economia real" (sic). 

Além disso faz uma condenação dos administradores que realizam "políticas econômicas voltadas não a incrementar a saúde econômica das empresas que serviam, mas as meras vantagens dos acionistas (shareholders), prejudicando assim aos legítimos interesses dos quais são portadores todos aqueles que com o trabalho e os serviços operam em vantagem da empresa mesma, e também os consumidores e as várias comunidades locais (stakeholders) " (sic). 

Como se verifica, a fase da financiarização do capitalismo ganha uma condenação cada vez mais universal. Mas muitos, como o Vaticano, não querem a superação do capitalismo e sim andar para trás no tempo – para uma fase anterior à sua financiarização. No entanto, o parasitismo financeiro e a explosão do volume de capital fictício foram uma fuga à crise sistémica do capitalismo. Por isso, vãs tentativas de voltar para trás estão fadadas ao fracasso. 


Lisboa | Milhares de professores enchem a Avenida da Liberdade


Dezenas de milhares de professores e educadores de todo o País vieram este sábado até Lisboa, para participar na manifestação nacional, em que exigem a contagem de todo o tempo de serviço congelado.

Do Marquês de Pombal até ao Rossio, dezenas de milhares de professores e educadores responderam ao apelo da frente sindical e marcharam em Lisboa para «exigir respeito» do Governo, a quem acusam de não honrar a sua palavra.

A manifestação nacional foi convocada por uma ampla frente de dez estruturas sindicais, entre as quais a Federação Nacional de Professores (Fenprof/CGTP-IN e a Federação Nacional da Educação (FNE/UGT).

Entre as muitas bandeiras e placartas com emojis zangados, «9A-4M-2D» é a uma das mensagens replicada em cartazes, folhetos e t-shirts, referindo-se aos nove anos, quatro meses e dois dias de serviço congelado que os professores exigem que seja contabilizado.

Em causa está a intransigência do Governo e a sua intenção em apagar cerca de 70% do tempo de serviço congelado, insistindo nos dois anos e dez meses, uma perda que, para os professores, é «inaceitável». Estes exigem a contagem dos mais de nove anos, de forma faseada, seguindo a resolução aprovada na Assembleia da República, que recomenda a contabilização de todo o tempo de serviço congelado nas carreiras da Administração Pública, inclusive previsto no Orçamento do Estado para 2018.

Outros motivos são os carregados horários de trabalho, que não cumprem a duração legal semanal e infligem «grande desgaste» sobre os docentes, o acelerado envelhecimento dos professores e a ausência de medidas por parte do Ministério para contrariar os efeitos, tal como discutir a aposentação e os elevados níveis de precariedade nas escolas.

Os professores exigem um regime especial de aposentação, ao fim de 36 anos de serviço, uma revisão dos horários de trabalho no que diz respeito ao que é considerado componente lectiva e não lectiva e medidas que combatam o desgaste físico e psicológico causado pela profissão.

Caso o governo não ouça as reivindicações, os sindicatos admitem a realização de uma greve em época de provas nacionais, como disse à Lusa o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, em vésperas da manifestação.

AbrilAbril com Agência Lusa

Bruno de Carvalho apontou nomes e zurziu em jornalistas, televisões e jornais

Com vídeo da conferência de imprensa
Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, interrompeu o período de jejum da comunicação social numa conferência de imprensa em que zurziu em jornalistas e respetivos jornais e televisões que têm produzido abundantes manchetes acerca do "caso Sporting" relativo ao acontecido na Academia em Alcochete.

Bruno foi contido mas não manso, principalmente com o Correio da Manha e o Expresso. Praticamente na generalidade os jornalistas foram sensacionalistas, mentirosos, manipuladores e cúmplices no terror que Bruno tem vivido nestes dias. Em síntese foi a mensagem que deixou.

Via Expresso pode ler o que Bruno disse durante cerca de Duas horas em completo monologo, depois encerrou a "sessão" talvez com 15 minutos de perguntas-respostas. Terminando com ar agastado a responder ao Correio da Manha que processará e que espera desta vez que seja feita justiça. Siga para o que extraímos do Expresso, com a vénia habitual. (PG)

Bruno de Carvalho em direto: "Não vou ao Jamor, não estão criadas as condições para lá estar"

Uma hora e um quarto depois da hora marcada, Bruno de Carvalho sentou-se numa das cadeiras da mesa de conferências do auditório, ladeado por Carlos Vieira, o seu número dois, munido de vários jornais e começou por pedir desculpa pelo atraso. Depois, passou em revista o que acha ser uma campanha para o fazer cair

16h15
ANDRÉ GERALDES
"O que tenho a certeza é que o André nada fez e vocês [jornalistas do CM] são uns criminosos"

16h10
BMW
"A polícia tem todas as gravações, todos os documentos. Aconselho a ouvir melhor a entrevista, que aquilo foi de uma atrapalhação, estava mal encenado. O Sporting não deu autorização àquele carro para entrar. O responsável de segurança é uma pessoa extremamente cuidadosa, um GNR, e de certeza que já está a investigar quem entrou. Da administração de certeza que aquele carro não teve autorização. Nunca autorizei carro nenhum, nem do primeiro-ministro, nem do Presidente da República"

16h04
NOVAMENTE OS JOGADORES
"Eu sou um ser humano, sou pai e já disse várias vezes que eles para mim são família. As pessoas que estavam no World Trade Center, onde já tinha havido um ataque, não estavam à espera que viesse um avião. Neste momento as pessoas estão a viver a sua vida, a seguir a sua vida. Eu estou a assistir ao ato mais vil da minha vida e estou aqui, porque amo o meu clube. Os jogadores, o único que lhes transmiti, presencialmente pedi desculpa e também por escrito e depois não tenho dúvidas que muitos deles estão chocados, mas que temos de ser profissionais e seguir. A sua entidade patronal vai fazer tudo para que possam fazer a sua vida normal. Eu também estou aqui, somos profissionais"

15h55
NÃO VAI AO JAMOR
"Não, não vou ao Jamor, não estão criadas as condições para lá estar. Não, eu não mereço o que se está a passar. Mas pelo Sporting e pela festa e para que não haja constrangimentos dos órgãos de soberania. Com muita mágoa e frustração"

15h43
QUEM ESTÁ POR TRÁS?
"Neste momento Portugal aproveitou para destruir o seu enfant terrible. Começou por uma intenção. Isto já é de uma dimensão… porque as pessoas não gostam que eu afronte o Presidente da República. Eu digo o que tenho a dizer sobre o secretário de estado, IPDJ, Liga, Governos, tudo. E isso não agrada. Não sou o português comum do come e cala. É um golpe palaciano de uma oposição irresponsável, iniciada por Jaime Marta Soares e com o apoio do nosso rival. Toda a teia de influência de Ricciardi e seus muchachos, de Marta Soares e seus muchachos, com o rival a rir"

15h20
JAIME MARTA SOARES
"O porquê das reviravoltas de Jaime Marta Soares.... Jaime Marta Soares veio propôr-me uma cimeira secreta com o amigo Luís Filipe Vieira. Numa noite desejou-me sorte para a gravidez da filha e no dia seguinte pediu a demissão. Diz que recebeu muitas pressões. Também mentiu na televisão quando disse que apenas trocámos parcas palavras, quando trocámos várias horas de conversa a falar. Estive a falar com vários jogadores, um deles Bruno Fernandes, à frente de Jaime Marta Soares, com aquele ar bonacheirão. E o Bruno Fernandes também me disse que não ia para o norte como se andava a dizer na TV. Relembro-vos as palavras de Jorge Jesus ontem à SIC: 'Quando vi a notícia que eu teria provas de que teria sido o mandante foi ligar para o presidente'. Vocês estão a participar no maior ato terrorista sobre uma pessoa que alguma vez foi feito. Já chegou ao cúmulo de ter dois jornalistas da SIC a baterem-me à porta durante hora e meia, à porta... Chamámos à polícia e eles foram identificados. Eu, neste momento, não sei onde está a minha filha Diana, porque a minha ex-mulher despareceu com a minha filha Diana. Se esta direção cair, o Jaime Marta Soares irá colocar aqui uma comissão de gestão durante seis meses, impedindo-me de recandidatar. Nós vamos fazer três sessões de esclarecimento: norte, centro e sul. E aí vamos auscultar, ouvir e dar todas as explicações necessárias. Não é este presidente da AG ou aqueles que querem tomar o Sporting de assalto outra vez, que nos vão impedir de responder a todas as dúvidas. Nós vamos dar a cara. Vamos lutar pelo Sporting. Lutar pela nossa dignidade. Nós é que nos temos de nos demitir? Enquanto outros clubes que têm e-mails, indícios... Só falta que todas as televisões convoquem Luís Filipe Vieira para comentar a crise do Sporting."

15h15
O BENFICA
"Aqui não há e-mails a pedir a nomeação de árbitros. Aqui não há contratos estranhos. Não há sacos azuis. Saberemos gerir isto. Alertamos desde já que existem jogadores em choque, mas, muitas vezes, atrás de um jogador, aproveita-se um advogado ou um agente. E vocês sabem quais têm sido as minhas posições com os bons e maus agentes. Uma coisa vos garanto: o Sporting não ficará sem os seus ativos. O Sporting tomará as medidas necessárias que jamais volte a acontecer um evento destes novamente. Porque o maior especialista, José Manuel Meirim, escreveu que nós íamos perder o caso Bruma, nós ganhámos.

15h02
RESCISÃO DOS JOGADORES
"Os nossos jogadores são muito profissionais. Por vezes, nos jogos, não dão tudo aquilo que podem dar, mas isso acontece a toda a gente. Agora, pedir rescisão por um acto que começa numa rixa, digamos assim, provocada pelos jogadores. O Rui Patrício, que tem tempo suficiente - aliás, ele disse-me que foi o único presidente que lhe pediu para deixar uma camisola no museu do Sporting -, não pode nem deve dirigir-se aos adeptos dizendo-lhes que são pagos. Houve uma reunião na segunda-feira em que eu disse que nos tínhamos de nos focar num troféu que ainda podemos conquistar esta época.Perguntei aos jogadores se estavam focados e eles responderam-me que sim. Também perguntei a um jogador se ele sabia o que era virar-se a um líder de uma claque e ele respondeu-me que tinha o sangue quente. Também lhes pedi para me alertarem se houvesse ameaças. E também lhes disse que às 16h estaria na Academia, mas as notícias do Cashball impediram-me de chegar a horas. Eu ia lá estar também e também poderia estar com fracturas, pontos. Estou em choque. Mas quando houve ataques na Academia de Guimarães, também ninguém disse nada, porque não era o Bruno. Há muita coisa para fazer na luta contra a violência no desporto. Mas não quero acreditar que haja uma rescisão de contrato por culpa de um acto que começou involutariamente nos jogadores. Eles não merecem.Isto é uma família. Ainda por cima, eu pus-me à frente de centenas de pessoas para evitar coisas piores e este silêncio dos jogadores é ensurdecedor. Nós, sim, tínhamos razões para processos disciplinares. Não me venham falar de rescisões. Pedimos encarecidamente a todos os sportinguistas que façam do jogo da Taça de Portugal. Tenham respeito pela instituição pelos nossos atletas, administração, direção."

14h50
A ACADEMIA
"Foi um acto de vandalismo e conseguiram aproveitar-se de um homem que estava em estado de choque... mas tentaram colar na opinião pública foi que eu disse que era chato. Conseguiram manipular as palavras e desonrar um homem honrado, digno e merecedor de respeito enquanto presidente do Sporting Clube de Portugal. É um acto hediondo mas que tem o seu início. Fala-se num jornal que eu teria dado aval a agressões no dia 6 de abril. Na Madeira, houve jogadores que não aguentaram os assobios, por terem o sangue quente. Foi dito por um líder da Juve Leo que disse que queria ter uma reunião na terça-feira com os jogadores. Isto teve início na Madeira porque gosto de acompanhar as modalidades. Era fortíssima convicção que, depois do resultado com o Benfica, que iríamos à Madeira ganhar. Não ganhámos, não era minimamente expectável não ganhar. Fizeram uma parangona com o dono do BMW a dizer que o responsável é o 'Bruno de Carvalho porque está sempre a dizer que vamos ser campeões'. Aquela resposta foi encomendada, mas a verdade é que me atinge na minha dignidade. Éramos o clube que tínhamos uma folha limpa nos últimos cinco anos - ao contrário, morreram adeptos nossos. Há uma campanha montada pela teia cartilheira do Benfica a dizer que era o autor direto, depois moral depois direto e outra vez moral. Havia testemunhas fidedignas... Eu seu pai. Os meus atletas são como família. Jamais em tempo algum deixava que fizessem mal à minha família."

14h30
JOSÉ MARIA RICCIARDI
"Quanto a José Maria Ricciardi é o estratega de tudo isto que se está a passar. Com a promessa de entrada de milhões no Sporting com o seu amigo Álvaro Sobrinho... A verdade é que nestes anos foi só um acerto de uma centenas de milhares de euros e uma carrinha. Agora, já dizem que têm milhões. José Maria Ricciardi é um sobrevivente, que passa entre os pingos da chuva. Com a sua empresa, ele quis assessorar a negociação de um empréstimo e como foi recusada, começou a sua campanha. José Maria Ricciardi continuava a achar que era dono do Sporting. Chamou gente como Mário David e Álvaro Sobrinho e outras pessoas que lhe têm medo - nós, direção, estamos sob um clima de terror. Estas pessoas sempre estiveram à espera, à espreita daquele momento em que pudessem sair da hipocrisia. Ricciardi fala de muitas promessas e uma delas foi um incremento de 15 milhões de euros quando renovámos com Jorge Jesus. Mais uma vez, falhou. E tivemos de ser nós, direção e administração, a trabalhar mais esse problema dentro do Sporting Clube de Portugal".

14h20
A HOLDIMO
"Agora, Álvaro Sobrinho aparece quase como um herói nacional, porque o que ele diz, tem relevância para a sociedade e para o Sporting. Dos 20 milhões que eles colocaram na altura do Eng.º Godinho Lopes. A Holdimo não é uma marca ideal para dar nome e prestígio ao Sporting e vocês próprios o disseram, atacando-nos. Quando fomos buscar Jorge Jesus, foi porque tínhamos o dinheiro sujo de Álvaro Sobrinho".

14h15
A COMUNICAÇÃO SOCIAL
"Há um jogo que tem de ser uma festa e que vai ser com certeza uma festa. Ma há uma série de coisas que estão a ocorrer que exigem máxima serenidade, mas hoje chegou a um ponto inaceitável. Nós somos pais, somos filhos, somos maridos. Nós temos a nossa dignidade, a nossa honra, a nossa respeitabilidade. E esta campanha que se instalou, cuja comunicação social dá eco, chegou ao limite de, hoje, na capa do Expresso, se dizer - e estamos a falar de um jornal de referência - 'Brunos de Carvalhos devem ser mortos à nascença'. Temos capas de jornais com caricaturas de mim com uma moca a dizer: 'Bruno deu aval às agressões'. Outra que diz que os jogadores não querem o Bruno no Jamor. Outra que tentámos comprar atletas. Outra que faltam duas demissões para o Bruno cair. E mais e mais e mais e mais. Isto já nem é uma questão de processos a estas pessoas... Isto já é um total desrespeito pelo sentido das regras mais basilares da democracia. Um total desrespeito pelos direitos humanos. Estamos a ser alvo - e aqui falo de mim e dos meus colegas, que muito lhes agradeço o sportinguismo e o sentido de responsabilidade - de bullying, terrorismo. Neste momento, a única coisa que falta é entrar aqui um grupo de pessoas e arrancarem-nos partes do corpo. Os sportinguistas estão a ser levados numa teia de perceções. Vou dizer isto que fique claro na memória da nossa televisão: vamos fazer um exercício que não queríamos fazer. Tenho pena que a comunicação social, assim como eu alertei os sportinguistas, esteja a contribuir para atos de terrorismo. Sempre disse aos sportinguistas que se não os tivesse comigo, me matavam. Neste momento, perante o ataque mais vil, pessoal, indigno que me estão a fazer, não vejo onde estão as pessoa que sabiam da capacidade de manipulação da comunicação social e estão a deixar morrer aquele presidente que daria 24 horas do seu tempo ao clube, dando o corpo às balas e denunciado as coisas más do desporto. Aquela AG foi importantíssima, não foi apego ao poder. Ficámos nas mãos de 25% dos associados e 90 por cento dos sportinguistas disseram que queriam esta forma, este estilo, esta gestão - e que estariam sempre a apoiar esta direção e este Conselho de Administração. A Holdimo é um caso muito curioso... Álvaro Sobrinho era dos homens mais mal falados - e ainda é - por todos os motivos: pelo BESA, pelo congelamento de contas, problemas em vários países..."

Expresso

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Portugal | Violência subterrânea

Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Introdução. Vamos lá usar a linguagem dos agentes policiais no terreno. Há um "modus operandi" na forma como uma certa elite chega a elite. É gente que traz pouco de trás, permitam lá a cacofonia, que subiu nos redemoinhos das jotas, a manobrar e a vergar desde cedo, que cresce nos urros das claques, nos gabinetes ministeriais ou institucionais, numa certa forma de dobrar as costas quando posta a mesa. A olhar o prato com medo que fuja.

Parecem subservientes. Serventes. Mas não. São perigosos. Porque há um dia em que tomam conta da mesa. Na política. Nas empresas. Nas instituições. Da bola, às associações. Os fenómenos de violência e de corrupção, não do pequeno jeito no cheiro dos hospitais públicos, quando se pede ao porteiro das Urgências um favorzinho para deixar entrar mais um, mas a da grande, que nos admira quando se destapa, nascem assim.

Desenvolvimento. Dos eleitos e dos nomeados esperamos sempre que ajam em interesse das populações e do crédito das ações. Que sejam consequentes. Nas palavras e nos atos. Contra o compadrio, a tragédia, ou a agressão. Em suma, que governem, seja o Governo do país ou das empresas.

Percebe-se por isso muito as reações duras contra a violência a que assistimos em Alcochete. É um país "vexado", como sintetizou o presidente da República. Percebe-se por isso menos quando o primeiro-ministro decide criar mais um gabinete para estudar a violência no futebol, quando a escalada é generalizada há anos e o que falta é atuação. Levem os filhos aos estádios e expliquem-lhes a violência dos cânticos, ou as tochas a arder nos relvados.

Percebe-se menos ainda quando o primeiro-ministro tem necessidade de dizer que o Governo nada fará para apoiar um clube em areias movediças internas, a que se juntam fenómenos de violência e de investigação policial. Mas passou pela cabeça de alguém "ajudar"? E percebe-se por isso menos ainda que individualidades (o palavrão é propositado), que o são por representarem num dado momento da pequena história um cargo institucional, confundam a gravata que usam com as cores do equipamento por que vibram, numa evidente diluição de papéis que só contribui para adensar a introdução.

Levem os filhos aos estádios e expliquem-lhes que o que veem não é bem o que veem, porque grassam suspeitas de corrupção sobre o que veem.

Conclusão. As declarações oficiais, as medidas e falta delas, mostram a dificuldade que temos em lidar com os monstros que se agigantam do tanto espaço que ganham à mesa. Mas a pior sensação é a de que ainda há tantas portas abertas. E que, de uma vez, precisamos de um abanão que nos obrigue a limpar a sala.

* Diretor-executivo

Portugal condena com veemência atentados contra cristãos e autoridades na Indonésia


Lisboa, 17 mai (Lusa) -- O Governo português condenou hoje em comunicado os atentados perpetrados nos últimos dias em Surabaya, na Indonésia, que provocaram pelo menos 14 mortos, incluindo os autores.

"O Governo Português condena de forma veemente a vaga de atentados perpetrados nos últimos dias contra cristãos e agentes de autoridade, em Surabaya, na Indonésia", lê-se na nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

De acordo com o comunicado, "a instrumentalização de crianças para a realização destes ataques acentua ainda mais a barbaridade dos seus responsáveis e merece o absoluto repúdio da comunidade internacional".

"Estes lamentáveis acontecimentos corroboram a necessidade de reforçar a cooperação internacional, no sentido de prevenir o extremismo e reprimir o terrorismo, em todas as suas formas e manifestações", lê-se no documento.

A nota referiu ainda que "o Governo Português está solidário com o Governo e a população indonésios, cuja tradição de pluralismo e tolerância, consagrada nos princípios da 'Pancasila', não será afetada por estes atos ignóbeis e apresenta as suas condolências às famílias das vítimas, fazendo votos de rápida recuperação dos feridos".

Na segunda-feira passada, a Indonésia foi palco de um ataque, em Surabaya, onde uma família de cinco pessoas, incluindo uma criança, perpetrou um atentado suicida perto de uma esquadra da polícia, ferindo pelo menos 10 pessoas.

Este ataque ocorreu depois de diferentes atentados suicidas, perpetrados um dia antes contra três igrejas cristãs da cidade. Pelo menos oito pessoas, que assistiam à missa, morreram, bem como seis membros de uma das famílias que realizaram os atentados.

Os ataques de domingo são os mais mortíferos na Indonésia desde os atentados de 2005 em Bali, nos quais morreram 20 pessoas e mais de 100 ficaram feridas.

CSR // EL | Foto: Rony Muharrman/EPA

Timor-Leste/Eleições | Fretilin apresenta recurso contra apuramento nacional de resultados


Díli, 19 mai (Lusa) - A Fretilin, segundo partido mais votado nas eleições de sábado em Timor-Leste, apresentou hoje no Tribunal de Recurso, em Díli, um recurso contra a ata de apuramento nacional dos resultados, confirmaram à Lusa fontes judiciais e do partido.

"O recurso foi entregue aqui hoje. Ainda está a ser considerado. O Tribunal tem 48 horas para se pronunciar, segundo a lei", confirmou à Lusa uma fonte do Tribunal de Recurso.

Fonte da Fretilin tinha confirmado também à Lusa a entrega do recurso, escusando-se no entanto a revelar o conteúdo do mesmo.

O assunto foi uma das questões abordadas hoje numa reunião do Comité Central da Fretilin (CCF) na sede do partido em Díli onde hoje se celebra.

Na quinta-feira, o líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e ainda primeiro-ministro, Mari Alkatiri confirmou que o partido estava a realizar investigações a supostas irregularidades durante a votação, particularmente centradas no enclave de Oecusse.

"Quando está a decorrer a investigação ninguém fale sobre ela. E eu não vou falar sobre isso. Não falo sobre isso porque deixo os investigadores fazer o seu trabalho", afirmou Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), em declarações aos jornalistas.

Questionado pela Lusa sobre se as investigações se centravam no enclave, Oecusse confirmou que "não é só nesse" caso, mas que as atenções se concentram "fundamentalmente" aqui.

Recorde-se que um dos resultados mais surpreendentes da votação de sábado ocorreu na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), em que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) bateu a Fretilin de Mari Alkatiri - que geriu a região durante vários anos - por uma diferença de mais de 11.600 votos.

Apesar de líderes da Fretilin continuarem a gerir a região, o partido obteve apenas 10.800 votos contra os mais de 22.400 da AMP.

A derrota levou Arsénio Bano - que ficou a assumir o cargo de presidente interino da RAEOA em substituição de Mari Alkatiri, quando este assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2017 - a fazer um pedido de desculpa público no Facebook.

O escrutínio municipal e apuramento nacional confirmaram que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) venceu as eleições legislativas com mais de 305 mil votos, ou 49,6% do total, o que lhe dá 34 dos 65 mandatos do Parlamento Nacional e a possibilidade de formar o VIII Governo constitucional sem necessitar de qualquer apoio adicional.

Em segundo lugar ficou a Fretilin, que liderou a coligação minoritária do anterior Governo, e que obteve mais de 213 mil votos, ou 34,2% do total, mantendo o mesmo número de deputados, 23.

No Parlamento estará também o PD, parceiro da Fretilin no VII Governo, e que perdeu dois deputados para cinco, tendo obtido mais de 50 mil votos ou 8,1% do total, e a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) que obteve 34 mil votos (5,5%) do total e 3 deputados.

Moçambique | Governo e nova liderança da RENAMO retomam diálogo de paz


Filipe Nyusi anunciou esta quinta-feira que reiniciou conversações com o principal partido da oposição. As duas partes estão esperançadas na finalização em breve do processo de descentralização e desarmamento da RENAMO.

O Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) retomaram o diálogo de paz ao mais alto nível que tinha sido interrompido, na sequência da morte do líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, no dia 3 de maio.

A nova liderança da RENAMO tem à cabeça Ossufo Momade, que foi eleito coordenador da Comissão Política do partido, na sequência da morte de Afonso Dhlakama.

"Espero que se finalize o pacote legal de descentralização [cuja proposta já se encontra depositada no Parlamento] com a maior celeridade possível, o que implicará uma revisão pontual da constituição da república", afirmou o Presidente da República, Filipe Nyusi, durante um banquete de Estado em honra do seu homólogo do Uganda, Yoweri Museveni, de visita a Moçambique.

Divergências em torno dos administradores

O porta-voz da RENAMO, José Manteigas, confirmou a DW África a retoma dos contactos, manifestando a expectativa de que o processo termine o mais rapidamente possível. Segundo José Manteigas, a RENAMO acredita que todo o Parlamento está disponível, ou pelo menos manifesta a intenção, de corresponder às expectativas do país e aos entendimentos alcançados entre o Presidente Nyusi e Afonso Dhlakama.

Recentemente, a chefe da bancada parlamentar da RENAMO, Ivone Soares, afirmou que mantinham-se as divergências quanto à indicação do administrador do distrito. Enquanto o maior partido da oposição exige que seja nomeado pelo governador de província, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) defende a sua nomeação ao nível central pelo titular do pelouro.

Nesta retomada do diálogo com o Presidente da República, o pacote sobre descentralização "é o ponto principal", diz José Manteigas, "porque era o único ponto não consensual" na altura da morte do líder da RENAMO.

"Esperamos que ao longo destes dias consigamos, de facto, alcançar um consenso ou, pelo menos, um entendimento", adianta o porta-voz à DW África.


Questões militares para breve

Outro ponto na agenda das negociações são as questões militares. "Esperamos em simultâneo finalizar os assuntos militares, que comportam o desarmamento, desmobilização e reintegração dos elementos armados da RENAMO, processo que já possui bases suficientes para ser iniciado", afirmou o Presidente Filipe Nyusi.

O porta-voz da RENAMO confirmou que existem já elementos suficientes para que as questões militares tenham o seu desfecho. No entanto, lembrou que Nyusi e Dhlakama tinham acordado que os processos de descentralização e de desarmamento "tinham de andar", embora um pudesse "ser mais veloz que o outro".

O atual diálogo entre o Presidente Nyusi e a nova liderança da RENAMO decorre num ambiente positivo, segundo José Manteigas. "Até aqui não temos motivo de queixa, há receptividade de ambas as partes e estamos esperançados que o ambiente vai continuar cordial e saudável como tem acontecido até aqui", disse."Ainda não houve um encontro tête-à-tête com o Presidente da República, mas através das pessoas que têm tido o papel de mediar e os contactos telefónicos [entre o Presidente e o coordenador da Comissão Política da RENAMO, Ossufo Momade] revela-se um bom ambiente e isso é muito positivo", concluiu o porta-voz da RENAMO.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Fotos: 1 – Filipe Nyusi; 2 - Ossufo Momade

“São Tomé e Príncipe a caminho da ditadura” - diz Adelino Cassandra


Assembleia Nacional são-tomense vai analisar e votar "nos próximos dias" um projeto de lei para a "nomeação excecional" de Juízes do Supremo (STJ). Enquanto isso a crise político-institucional agudiza-se.

São Tomé e Príncipe atravessa uma grande crise político-institucional depois da Assembleia Nacional, por intermédio dos deputados do partido no poder ADI (Ação Democrática Independente), com apoio dos colegas da bancada do maior partido da oposição MLSTP/PSD (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata), ter exonerado três  magistrados que decidiram sobre o caso da cervejeira Rosema a favor do empresário Angolano Mello Xavier. Os partidos políticos e a comunidade jurídica condenaram a decisão e consideraram-na de ilegal, enquanto o Governo considerou-a vinculativa.

Por seu turno, o Presidente da República, Evaristo de Carvalho, na sua primeira intervenção pública depois de eclodir a crise, apelou na passada terça-feira (15.05) para que "tudo o que diga respeito à justiça seja por todos apreciado com ponderação acrescida, objetividade incontestável e responsabilidade". Segundo o estadista "a reforma da justiça não poder servir para dividir os são-tomenses”.

Na ocasião, o Presidente são-tomense, anunciou  que remeteu para o Tribunal Constitucional um pedido de avaliação do conflito que opõe Governo e Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

Ouvido pela DW África sobre esta crise o analista são-tomense Adelino Cassandra, garantiu que o pais está a caminhar para uma ditadura.

DW África: Como vê esta crise em São Tomé e Príncipe?

Adelino Cassandra (AC): No mínimo estamos a caminho de uma ditadura, através de métodos que visam alcançar objetivos de natureza política. Mesmo os procedimentos de natureza democrática, que deveriam ser feitos dentro da legalidade, separação de poderes estão ser violados na nossa terra, e neste momento a única coisa que nos resta como prestígio da democracia ou da prática democrática é a realização periódica de eleições.

DW África: No seu entender qual será a saída para a crise que opõe o Governo e os Tribunais?

(AC): É muito difícil encontrar uma saída tendo em conta o papel e o procedimento do poder vigente na nossa terra. Como é que se compreende que num contexto democrático, haja por parte do poder executivo do primeiro-ministro a veleidade de subverter a ordem constitucional vigente pondo em causa a legalidade e a  separação dos poderes. Isso manietou completamente o poder judicial que neste momento em São Tomé e Príncipe, eu não sei podemos falar na emergência e sinais de plenitude do poder judicial. Não se sabe quem é responsável pela legalidade porque o próprio Ministério Público, que tem a função importante para minimizar os riscos que estamos a correr, se transformou numa espécie de um corpo em hibernação. Estamos numa situação insustentável e com sinais muito evidentes de uma espécie de presidencialismo do primeiro-ministro. É ele que praticamente manda no país, nas instituições do Estado, do poder judicial, da própria Assembleia Nacional. Todos estão convertidos numa espécie de corpo inerte sem expressão e sem eficácia. Até mesmo o Presidente da República.

DW África: No seu ponto de vista o que que está por detrás deste imbróglio entre o Governo e os Tribunais?

(AC): Acho que pode ser uma agenda muito pessoal do primeiro-ministro em defesa de interesses muitos específicos de grupos que ele mesmo é um defensor sem uma agenda contratualizada com o povo. Eu acho que todos os sinais que ele dá, são preocupantes. O tribunal emitiu uma sentença e qual foi o resultado? Em contra resposta a Assembleia Nacional decidiu exonerar os três juízes que estiveram envolvidos no processo.

DW África: Como é que vê o posicionamento do Presidente da República, Evaristo de Carvalho face a este diferendo?

(AC): É triste e politicamente insustentável. O que ele faz é uma espécie de hibernação com medo de ser alguém que deveria dar um contributo para a resolução da crise. Ate é perigoso esta conduta do Presidente da República e lamento que assim seja.

DW África: E como encara o futuro de São Tomé e Príncipe?

(AC):Com muita preocupação porque o problema é muito complicado. Não há legalidade, não há separação de poderes, o Presidente da República  acantonou-se, o Ministério Público também e os partidos políticos não tem possibilidades de passarem as suas mensagens nos órgãos de comunicação social do país, públicos e privados. O que nos resta é muito pouco.  

Ramusel Graça | Deutsche Welle

Maior banco angolano com buraco de mais de 5.000 milhões de dólares


O BPC, o maior banco angolano, totalmente detido pelo Estado, fechou 2017 com um buraco de 5.200 milhões de dólares (4.300 milhões de euros), essencialmente devido ao crédito malparado, o segundo pior registo da história da banca em Angola.

Os dados constam do prospeto da emissão de 'eurobonds' de 3.000 milhões de dólares (2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano - concretizada pelo Estado angolano este mês -, que foi enviado aos investidores e ao qual a Lusa teve acesso.

No documento de mais de 200 páginas de suporte à operação de colocação de títulos da dívida pública angolana em moeda estrangeira, a segunda do género feita pelo país e denominada "Palanca 2", é referido que em dezembro de 2017, o Banco de Poupança e Crédito (BPC) tinha aproximadamente 874 mil milhões de kwanzas (5.200 milhões de dólares) de ativos com baixo desempenho e em incumprimento.

No mesmo mês, o Estado angolano já tinha emitido títulos de dívida pública no valor de 231 mil milhões de kwanzas (1.080 milhões de euros) a favor da sociedade estatal Recredit, para compra de valor equivalente de crédito malparado do BPC, que tentará depois cobrar.

O Estado angolano é acionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75%), do Instituto Nacional de Segurança Social (15%) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10%), que suportaram em 2017, na proporção da sua participação, o financiamento do aumento de capital do banco, no âmbito do processo de reestruturação em curso.

Em 2014, um volume de crédito malparado superior a 5.700 milhões de dólares (4.755 milhões de euros) obrigou à intervenção do Estado no Banco Espírito Santo Angola (BESA), constituindo este o maior buraco da banca do país. Após o colapso da BES português, o BESA foi transformado, por decisão dos novos acionistas e conforme exigência do banco central angolano, em Banco Económico, a 29 de outubro de 2014, avançando também um aumento de capital e a entrada da petrolífera Sonangol no capital social (39,4%).

Em 2017, a administração do BPC constituiu 72,7 mil milhões de kwanzas (392,2 milhões de euros) para "imparidades e provisões" do exercício de 2016, refletindo nas contas uma perda potencial ou efetiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.

"Esta iniciativa será reforçada em 2017, com o intuito de assegurar o saneamento efetivo da carteira de crédito do banco e atingir um rácio de transformação abaixo dos 70,0%", anunciou ainda a administração do BPC, na altura.

Esta medida foi então acompanhada de um reforço dos fundos próprios do banco pelos acionistas, em 26,9%, face a 2015, passando para 171,9 mil milhões de kwanzas (927,4 milhões de euros).

Em 2015, o BPC tinha 406 agências em todo o país, com 5.354 trabalhadores, números que subiram, respetivamente, para 443 e 5.530 até final do ano seguinte.

Entretanto, a instituição iniciou um processo de redução do número de agências em todo o país.

"O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único acionista", disse anteriormente o ministro das Finanças, Archer Mangueira.

O plano de recapitalização do banco, explicou a instituição, envolve várias ações que "visam assegurar a manutenção de uma posição financeira sólida e de um nível de rendibilidade sustentável e adequado ao perfil de risco do BPC".

Nomeadamente o aumento do capital social por subscrição de ações ordinárias pelos acionistas, no montante de 90 mil milhões de kwanzas (485,5 milhões de euros) e com a venda da carteira de saneamento (crédito malparado) à Recredit, uma espécie de ?banco mau' criado pelo Estado para gerir os ativos de cobrança duvidosa da banca angolana.

Envolve ainda a emissão de instrumentos de dívida subordinada convertível elegíveis para fundos próprios base no valor global de 72 mil milhões de kwanzas (388,4 milhões de euros).

"A utilização de fundos públicos é razão mais do que determinante para que o atual conselho de administração encare esta situação como um desafio a vencer, em nome de todos os angolanos. O conselho de administração está ciente dos desafios que tem pela frente, e acredita genuinamente, que num contexto normal de evolução do mercado, o BPC irá voltar a liderar o sistema financeiro angolano, no apoio às famílias, às instituições e às empresas nacionais", conclui o banco, na mesma informação, de 2017.

Lusa | em Notícias ao Minuto

O “Golpe de Mestre” dos Estados Unidos contra a Venezuela (Documento do Comando Sul)


Stella Calloni*

As negociações em torno da península de Coreia e a retirada norte-americana do acordo sobre o programa nuclear iraniano (JCPOA ou Acordo dos 5+1) não devem interpretar-se como um reposicionamento das Forças Armadas dos Estados Unidos. Sem importar que Administração esteja no Poder em Washington, o Pentágono segue em frente com o seu plano de domínio à escala mundial. Stella Calloni revela que o SouthCom (o tristemente célebre “Comando Sul”) tem planificada uma operação militar contra a Venezuela, antes da eleição presidencial de 20 de Maio. Baseando-se num documento interno do Pentágono, Stella Calloni põe a nu a implicação da Argentina, Colômbia, Brasil, Guiana e Panamá nesse projecto de derrube de um Poder democrático, nascido do voto popular. É um plano de destruição de toda uma sociedade. As Forças Armadas dos Estados Unidos estão de volta contra os povos na América Latina.

Os Estados Unidos e seus sócios preparam em silencio um brutal «Plano para acabar com a ditadura da Venezuela»: o «Golpe de Mestre» («Masterstroke») [1], que já está em marcha e cuja primeira parte começaria antes das próximas eleições venezuelanas e que, se não tiverem êxito em derrubar o Presidente Nicolás Maduro com a nova ofensiva, que utilizará todo o aparelho propagandístico e mediático mais acções violentas em «defesa da democracia», acionarão o Plano B, o qual incluirá vários países impondo uma «força multilateral» para intervir militarmente.

Panamá, Colômbia, Brasil, Guiana são pontos-chave da operação militar, com o apoio da Argentina e de «outros amigos», sob controle do Pentágono. Já têm preparadas nas bases que ocuparão, nos países de apoio directo (fronteiriços), até hospitais e centros de provisão de víveres para os seus soldados.

Tudo isso aparece especificado num documento real, de 11 páginas, que leva a assinatura do Almirante Kurt Walter Tidd, actual Comandante-em-chefe do Comando Sul [SouthCom] norte-americano, documento ainda não divulgado.

O documento analisa a situação actual ratificando a guerra que se trava contra a Venezuela, mas também o preverso esquema de guerra psicológica que permite entender a perseguição, o assédio, o descrédito, a mentira criminosa que se utilizam para acabar não só com as líderanças populares mas também contra os povos da região.

Ao referir-se à situação actual na Venezuela, o Plano menciona que titubeia a «ditadura venezuelana chavista como resultado dos seus problemas internos, da grande escassez de alimentos, do esgotamento das fontes de dinheiro externo e de uma corrupção desenfreada, que diminuiu o apoio internacional, ganho com petrodólares, e que o valor da moeda nacional dura pouco tempo e o poder aquisitivo da moeda nacional está em queda constante».

Assumem que este cenário, que admitem ter criado eles próprios, com uma impunidade que aterra, não mudará. Assim, justificam as suas acções afirmando que o governo venezuelano recorrerá a novas medidas «populistas» para conservar o Poder.

Assombra o lugar em que colocam a oposição que os próprios Estados Unidos manejam, aconselham e pagam, ao assumir que «o corrupto regime de Maduro colapsará, mas lamentavelmente as forças opositoras, defensoras da democracia e do bem-estar do seu povo, não têm poder suficiente para pôr fim ao pesadelo da Venezuela» por disputas internas e até por «corrupção semelhante à dos seus rivais, bem como a escassez de raízes» que não lhes permite tirar «o máximo proveito desta situação e dar o passo necessário para ultrapassar o estado de penúria e a situação precária em que o grupo de pressão que exerce a ditadura de esquerda submergiu o país».

O que é aterrador é que embora considerem que se está perante «uma ação criminosa sem precedentes na América Latina», referindo-se ao governo da Venezuela —um governo que nunca actuou contra nenhum dos seus vizinhos e que tem sido de uma forte solidariedade regional e mundial—, o Plano norte-americano sustenta que a «democracia avança na América, continente no qual o populismo radical estava destinado a tomar o controle». Argentina, Equador e Brasil são exemplos disso. «Este renascimento da democracia (como a chamam) é apoiado pelas mais valiosas determinações e as condições da região estão a seu favor. Este é o momento para que os Estados Unidos provem, com acções concretas, que estão empenhados nesse processo, no qual o derrube da ditadura venezuelana seguramente representará um ponto de inflexão continental».

Por outro lado, eles encorajam o Presidente dos EUA, Donald Trump, a agir considerando que «esta é a primeira oportunidade da Administração Trump para demonstrar e levar avante a sua visão de democracia e segurança» e convencê-lo de que «a sua participação activa é crucial, não apenas para a Administração, mas, também para o continente e o mundo. Chegou o momento».

Isso significa «intensificar o derrube definitivo do chavismo e a expulsão do seu representante, minar o apoio popular» ao governo e «Incentivar a insatisfação popular, aumentando o processo de desestabilização e de falta de abastecimento» [para] «garantir a deterioração irreversível do seu actual ditador».

Se alguém quiser entender a fundo a arte da perversão contra-insurgente basta ler a parte em que o documento se refere ao Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, encorajando a «assediá-lo, ridicularizá-lo e mostrá-lo como um símbolo de torpeza e incompetência, expô-lo como uma marionete de Cuba».

Mas também sugerem:

«Exacerbar a divisão entre os membros do grupo do governo, revelando as diferenças das suas condições de vida e dos seus seguidores e, ao mesmo tempo, incitando-os a manter essas divergências em crescendo».

O plano está destinado a ser executado rápida e furiosamente, tal como as medidas tomadas pelos mordomos de Washington, Mauricio Macri (Argentina) e Michel Temer (Brasil), ambos com uma história escandalosa de corrupção, mas transformados pelo Império em «líderes da transparência» que tomaram medidas, em horas, para a destruição dos Estados nacionais com tanta certeza como a do disparo de um míssil.

O documento assinado pelo Chefe do Comando Sul norte-americanos demanda tornar o governo de Maduro insustentável, forçando-o a claudicar, negociar ou escapar. Este Plano para acabar em curtíssimo prazo com a chamada «ditadura» da Venezuela, apela a:

«Incrementar a instabilidade interna para níveis críticos, intensificando a descapitalização do país, a fuga de capitais estrangeiros e a deterioração da moeda nacional, mediante a aplicação de novas medidas inflacionárias que incrementem essa deterioração».

Outro objectivo é «obstruir todas as importações e ao mesmo tempo desmotivar os possíveis investidores estrangeiros» para – e vejam a bondade do Império – «contribuir para tornar mais crítica a situação da população».

Também abarca o Plano nas suas 11 páginas «apelar a aliados domésticos, assim como a outras pessoas inseridas no cenário nacional, com o objectivo de gerar protestos, distúrbios e insegurança, pilhagem, saques, roubos, assaltos e sequestros de navios e de outros meios de transporte, com a intenção de cortar o abastecimento do país, através de todas as fronteiras e de outras maneiras possíveis, pondo em perigo a segurança nacional dos seus vizinhos».

Consideram importante «causar vítimas» e apontar como responsável o governo da Venezuela «ampliando, perante o mundo, a crise humanitária a que está submetido o país», usando a mentira de uma corrupção generalizada dos governantes e «ligar o governo ao narcotráfico para desacreditar a sua imagem perante o mundo e os seus seguidores internos», além de promover «o cansaço entre os membros do PSUV» [Partido Socialista Unificado da Venezuela] «incitando a discórdia entre eles próprios, para que rompam ruidosamente as relações com o governo e para que rechacem as medidas e restrições que também os afectam» e torná-los «tão débeis quanto a oposição, criando fricções entre o PSUV e Somos Venezuela».

A proposta vai aumentando de tom como quando apela a «estruturar um plano para lograr a deserção dos profissionais mais qualificados do país, para o deixá-los totalmente sem profissionais, o que agravará ainda mais a situação interna e neste sentido culpar o governo».

A mão militar

Como numa série policial, este Plano apela para «utilizar os oficiais do exército como uma alternativa de solução definitiva» e «continuar endurecendo a situação dentro das Forças Armadas para levar a cabo um Golpe de Estado, antes que finalize 2018, se esta crise não levar a que a ditadura colapse, ou se o ditador não se decide afastar-se».

Supondo que todo o exposto pode falhar, e com evidente desprezo pela oposição venezuelana, o Plano apela a «continuar o fogo contínuo na fronteira com a Colômbia, multiplicar o tráfico de combustível e outros bens, o movimento dos paramilitares, incursões armadas e tráfico de drogas, provocando incidentes armados com as forças de Segurança da Fronteira» venezuelana e além disso a «recrutar paramilitares principalmente dos campos de refugiados em Cúcuta, La Guajira e Norte de Santander, áreas sobretudo habitadas por cidadãos colombianos que emigraram para a Venezuela e que agora retornaram, fugindo do regime que intensificou a desestabilização das fronteiras entre os dois países, usando o espaço vazio deixado pelas FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia], a beligerância do ELN [Exército de Libertação Nacional (Colômbia)] e as actividades na área do Cartel do Golfo (paramilitares)».

Aqui vem a estruturação do golpe final quando se planeia «preparar o envolvimento de forças aliadas, em apoio aos oficiais do exército venezuelano, ou para controlar a crise interna no caso em que se demore muito a iniciativa (…) estabelecer um cronograma rápido que previna que o ditador continue ganhando o controle no cenário interno. Se necessário fôr, actuar antes das eleições estipuladas para o próximo mês de Abril».

Na realidade, essas eleições serão a 20 de Maio e desde já os Estados Unidos, e os seus comparsas, fizeram saber que não as reconhecem.

O cerne da questão é «Obter o apoio e cooperação das autoridades aliadas de países amigos (Brasil, Argentina, Colômbia, Panamá e Guiana). Organizar as provisões das tropas, apoio logístico e médico desde o Panamá. Fazer bom uso das instalações de vigilância eletrônica e de sinais inteligentes; de hospitais e instalações existentes em Darién (selva panamenha), do equipamento de drones do Plano Colômbia, bem como dos terrenos das antigas bases militares de Howard e Albroock (Panamá), bem como as pertencentes ao Rio Hato. Além disso do Centro Regional Humanitário das Nações Unidas, projectado para situações de catástrofe e emergência humanitárias, que conta com uma pista de aviação (aterrissagem-br) e armazéns próprios».

Como vemos, já se trata de um cenário de intervenção onde se propõe «Avançar no estacionamento de aviões de combate e helicópteros, veículos blindados, posições de inteligência e unidades militares de logística especiais (polícia, oficiais militares e prisões) (...)

«Desenvolver a operação militar sob bandeira internacional, patrocinada pela Conferência dos Exércitos Latino-Americanos, sob a protecção da OEA e a supervisão, no contexto jurídico e mediático, do Secretário-Geral [da OEA] Luis Almagro».

«Declarar a necessidade de o Comando Continental fortalecer a acção, usando o instrumento do Capítulo Democrático Inter-americano, com o objectivo de evitar a ruptura democrática».

E ainda mais «Unindo o Brasil, Argentina, Colômbia e Panamá afim de contribuir para o número apropriado de tropas, fazer uso da sua proximidade geográfica e experiência em operações em regiões de floresta ou de selva. Fortalecendo o seu status internacional com a presença de unidades de combate dos Estados Unidos e das nações mencionadas; sob o comando geral do Estado-Maior Conjunto liderado pelos Estados Unidos».

Assombra a impunidade com que tudo se está preparando nas costas dos povos, em absoluta ilegalidade. E, isto torna compreensíveis as recentes manobras militares dos Estados Unidos nesta região na fronteira do Brasil com a Venezuela (Brasil, Peru, Colômbia), no Atlântico Sul (Estados Unidos, Chile, Grã-Bretanha, Argentina), no caso argentino sem autorização do Congresso Nacional, de Outubro a Novembro passado.

«Usando as instalações do território panamenho (panamense-br) para retaguarda e as capacidades da Argentina pela segurança dos seus portos e posições marítimas (...) 

Propor ao Brasil e à Guiana fazer uso da situação migratória, a qual pretendemos incentivar na fronteira com a Guiana. 

Coordenar o apoio à Colômbia, Brasil, Guiana, Aruba, Curaçao, Trinidad e Tobago e outros Estados frente ao fluxo de migrantes venezuelanos devido aos eventos da crise».

Mas além disso, prevê-se «Promover a participação internacional neste esforço como parte da Operação Multilateral com contribuição de Estados, de organizações não estatais, e organismos internacionais, e fornecer logística adequada, inteligência, apoios, antecipando especialmente os pontos mais valiosos em Aruba, Puerto Carreño, Inirida, Maicao, Barranquilla e Sincelejo na Colômbia, e Roraima, Manaus e Boavista no Brasil».
Incrível mapa de uma guerra de intervenção anunciada.

Informação estratégica

É assombroso o plano para silenciar «o simbolismo da presença da representatividade de Chávez e o apoio popular» e manter o assédio «ao ditador como único responsável da crise em que ele mergulhou a nação», e os seus mais próximos seguidores, a quem se acusará da crise e da impossibilidade de sair da mesma.

Noutro parágrafo apela-se a «intensificar o descontentamento contra o regime de Maduro (...) assinalar a incompetência dos mecanismos de integração criados pelos regimes de Cuba e da Venezuela, especialmente a ALBA (Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América) e a Petrocaribe».

Quanto ao tema mediático, o plano desenhado pelos Estados Unidos apela a incrementar dentro do país, através dos meios de comunicação locais e estrangeiros, a disseminação de mensagens desenhadas e baseadas em depoimentos e publicações originadas no próprio país, fazendo uso de todas as capacidades possíveis, incluindo as redes sociais, e, por outro lado, «apelar através dos meios de comunicação para a necessidade de pôr fim a essa situação porque é, em essência, insustentável».

Num dos últimos parágrafos do documento, trata-se de «assegurar» ou mostrar o uso de meios violentos por parte da «ditadura» para obter apoio internacional, utilizando «todas as capacidades de Guerra Psicológica do Exército dos Estados Unidos».

Por outras palavras, repetindo os mesmos cenários de mentiras, armados de notícias, fotografias e vídeos falsos, e tudo o que já foi usado nas guerras coloniais do século XXI.

O documento também assinala igualmente que «os Estados Unidos deverão apoiar internamente os Estados americanos que o apoiam», elevar a imagem destes e da «ordem multilateral de instituições do sistema inter-americano, como instrumentos para a solução dos problemas regionais. Promover a necessidade do envio da Força Militar da ONU para imposição da paz, uma vez que a ditadura corrupta de Nicolás Maduro seja derrubada».

*Stella Calloni - Écrivain et journaliste argentine. Dernier livre publié : Operación Cóndor, pacto criminal.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

Foto: O Almirante Kurt W. Tidd, Comandante-em-chefe do Comando Sul norte-americano (SouthCom)

[1] «Plan to overthrow the Venezuelan Dictatorship – “Masterstroke”», Almirante Kurt W. Tidd, Voltaire Network 23 de febrero de 2018.


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