terça-feira, 22 de maio de 2018

Brasil | Lula lança pré-candidatura este domingo em todo o Brasil


O lançamento da pré-candidatura de Lula da Silva às presidenciais terá lugar dia 27. A presidente do Supremo Tribunal Federal sublinha a impossibilidade de «bloqueio antecipado», sem direito de defesa.

Foi o próprio Lula da Silva que decidiu que, a 27 de Maio, a sua pré-candidatura presidencial fosse apresentada em cada terra brasileira onde o Partido dos Trabalhadores (PT) está organizado, para que «fique claro que o PT têm um só candidato às eleições de Outubro», disse ontem o deputado federal e seu advogado Wadih Damous, pouco depois de visitar o ex-presidente brasileiro na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena.

Dirigindo-se aos participantes na vigília «Lula Livre», na Praça Olga Benário, Damous disse que o ex-presidente está com «bom humor, mas preocupado com a situação do Brasil».

Transmitiu, para além disso, o convite de Lula para que a sua «militância» participe, no próximo domingo, nos lançamentos da sua pré-candidatura. «Não importa se cada acto reúne dez, 500 ou milhares de pessoas, o importante é o todo», para «deixar claro que Lula é o nosso candidato», insistiu.

Lula não quer ninguém «a falar de indulto»

O deputado e membro da equipa de defesa do ex-presidente – a cumprir pena na capital do Paraná desde 7 de Abril – disse que Lula mandou um recado: «não quer ninguém a falar de indulto, pois ele quer provar que é inocente».

«O presidente recomendou-me que dissesse a todos vocês e a todo o povo brasileiro que ele não quer saber dessa história de indulto, porque ele é inocente. O que ele quer é que se faça justiça e que [a Justiça] brasileira declare a sua inocência, porque, até hoje, aqueles que o condenaram não conseguiram provar qualquer acto ilícito praticado pelo presidente Lula», disse Wadih Damous aos presentes, citado pelo Brasil de Fato.

Sublinhou também a «indignação» de Lula pelo facto de os juízes terem sido muito rápidos a condená-lo, enquanto os recursos interpostos «não andam».

Candidatura não pode ser proibida antecipadamente

Em declarações a uma televisão, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, afirmou que a candidatura presidencial de Lula da Silva não pode ser «bloqueada antecipadamente, sem que haja contestação prévia», tal como defendem alguns membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

«Os candidatos a algum cargo eleito têm direito a solicitar o registo da sua candidatura e a enfrentar a Justiça Eleitoral», mesmo tendo sido condenados por um tribunal, disse a presidente do STF.

Cármen Lúcia rejeitou a possibilidade de «exclusão imediata» da candidatura de Lula, «sem que seja tido em consideração o direito de defesa», indica a Prensa Latina.

Timor-Leste | Tribunal de Recurso pede mais dados à CNE para avaliar recurso - presidente


Díli, 22 mai (Lusa) - O Tribunal de Recurso timorense solicitou à Comissão Nacional de Eleições (CNE) documentação adicional para avaliar um recurso aos resultados das legislativas, apresentado pela Fretilin, segundo partido mais votado, disse hoje à Lusa o presidente do órgão.

"Estamos ainda a trabalhar no recurso. Notificámos a CNE de que faltam alguns elementos necessários para resolver a questão", disse Deolindo dos Santos em declaração à Lusa.

"Estes são prazos muito curtos. Os prazos são importantes, mas estas questões são essenciais e o tribunal tem que se pronunciar", sublinhou.

Deolindo dos Santos confirmou que só depois de o Tribunal deliberar sobre o recurso é que começa a contar o prazo de 72 horas previsto na lei para que a mais alta instância do sistema judicial timorense certifique, ou não, os resultados eleitorais.

Recorde-se que no sábado a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), segundo partido mais votado nas eleições de 12 de maio - ganhas pela Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) com maioria absoluta - apresentou um recurso contra os resultados.

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e ainda primeiro-ministro, disse à Lusa que o seu partido tinha encontrado provas de "crimes eleitorais" que fazem parte da documentação que apresentou ao Tribunal de Recurso.

Apesar de a lei determinar que os recursos devem ser decididos pelos juízes em 48 horas - prazo que já terminou - Deolindo dos Santos recorda que a ata e a documentação sobre o apuramento nacional só foi entregue pela CNE ao tribunal no domingo.

"Esse prazo já seria ultrapassado, mas há documentos que são necessários pelo que ainda não podemos concluir o nosso acórdão", disse, referindo que o Tribunal de Recurso espera poder concluir as suas deliberações na quarta-feira.

"Não podemos, naturalmente, avaliar um recurso sem a documentação referente às eleições", referiu, escusando-se a revelar quaisquer pormenores sobre o processo em si ou sobre o conteúdo do recurso da Fretilin.

Só depois da decisão sobre o recurso, e como determina a lei, é que começam a contar as 72 horas de prazo para o Tribunal analisar a documentação e, se assim considerar, validar e proclamar os resultados.

Apesar deste compasso de espera todo o processo está ainda dentro do calendário eleitoral aprovado para as eleições legislativas que previa que a deliberação do Tribunal fosse feita entre os dias 23 e 26 ou 27 de maio.

Esse calendário, publicado no Jornal da República, marcava para 28 de maio a publicação do acórdão do tribunal.

Mari Alkatiri confirmou à Lusa que o partido respeitará qualquer decisão do Tribunal de Recurso.

"O Tribunal é tribunal, e num Estado de direito democrático a decisão final é do tribunal e qualquer pessoa que tenha sentido de Estado vai ter que aceitar", disse.

ASP // VM

Guiné-Bissau: Recenseamento eleitoral começa em julho


Comissão Nacional de Eleições espera registar mais eleitores do que no pleito anterior. Jovens guineenses ficaram contentes com a novidade, embora duvidem que as eleições tragam mudanças.

Faltam seis meses para as eleições legislativas na Guiné-Bissau, e a Comissão Nacional de Eleições (CNE) prevê começar a fazer o recenseamento eleitoral em julho.

Segundo o presidente da CNE, José Pedro Sambú, o recenseamento durará até ao final de agosto - ou seja, terá menos um mês do que o previsto por lei, de acordo com Sambú, para que as eleições se realizem a tempo e horas. Mesmo assim, o responsável espera registar mais eleitores do que nas eleições passadas.

"No último recenseamento eleitoral, realizado em 2014, tivemos 775.805 eleitores e a estimativa que se fez é no sentido de atingirmos um milhão de eleitores", afirmou esta segunda-feira (21.05).

Em entrevista à DW África, vários jovens mostraram-se satisfeitos com o anúncio do início do recenseamento, embora não acreditem que as eleições, por si só, resolvam a instabilidade política no país.

"As eleições futuras não vão trazer novidades, porque serão os mesmos políticos a candidatar-se. E quem sabe se esses políticos terão a capacidade de mudar as suas políticas e a sua forma de pensar", disse uma jovem.

Atmosfera de pré-campanha

A Guiné-Bissau realiza eleições legislativas a 18 de novembro, depois de uma grave crise política que paralisou o país durante três anos.

Ainda assim, já se vive uma atmosfera de pré-campanha eleitoral por parte dos partidos políticos: tem havido congressos, comícios populares, a inauguração de sedes de campanha e a entrada de novos militantes.

Sobre as próximas eleições, o presidente da Comissão Nacional de Eleições, José Pedro Sambú, frisou, no entanto, que a Guiné-Bissau ainda vive momentos de alguma crispação política e que é preciso "serenar os ânimos" para que o próximo Governo possa "trabalhar em prol do desenvolvimento" do país.

À espera de financiamento

O secretário de Estado das Comunidades da Guiné-Bissau, Queba Banjai, referiu esta segunda-feira que quer mais guineenses na diáspora a votar nas eleições previstas para 18 de novembro, porque há cada vez mais cidadãos emigrados.

Na Guiné-Bissau, as eleições legislativas elegem deputados pelo círculo de África e círculo da Europa, mas não estão incluídos todos os países. Pelo círculo da Europa, só podem votar os guineenses a viver em Portugal, Espanha e França, mas o secretário de Estado quer alargar o direito de voto aos eleitores guineenses na Alemanha e Inglaterra. No círculo de África, Banjai quer alargar o voto aos compatriotas a viver na Mauritânia e em Angola.

"No nosso entender, seria uma oportunidade perdida do Governo não contemplar a maioria dos guineenses que vivem na diáspora".

Entretanto, sobre os 7,8 milhões de dólares necessários para organizar as eleições legislativas, o primeiro-ministro Aristides Gomes disse que os parceiros ainda não desembolsaram as verbas.

"Nós demos uma participação financeira de perto de 2 milhões de euros que vai ser gerida pelo PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]. Os outros parceiros comprometeram-se, mas não houve desembolso e estamos a discutir com a comunidade internacional sobre o processo de financiamento das eleições", afirmou Gomes.

Uma comitiva governamental deverá iniciar um périplo por países da sub-região para pedir apoios para que as eleições possam ter lugar a 18 de novembro de 2018.

Braima Darame (Bissau), Agência Lusa | em Deutsche Welle

Escritor Germano Almeida vence Prémio Camões 2018


O escritor cabo-verdiano Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões 2018. O anúncio foi feito esta segunda-feira em Lisboa, após reunião do júri.

O escritor cabo-verdiano Germano Almeida afirmou-se "surpreendido", mas "muito feliz" por ser distinguido com o Prémio Camões.

"Estou contente, muito feliz por saber que o que escrevo é apreciado ao ponto de me darem um prémio tão prestigiado como o Camões", disse Germano Almeida em declarações à agência Lusa, por telefone, a partir da sua residência, na cidade cabo-verdiana do Mindelo. 

Nascido em 1945 na ilha da Boavista e a viver atualmente no Mindelo, Germano Almeida é autor de obras como "A ilha fantástica", "Os dois irmãos" e "O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo", estes dois últimos já adaptados para cinema.

"O fiel defunto" é o mais recente romance de Germano Almeida, cuja obra literária está traduzida em países como Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca.

Formado em Direito em Lisboa, é advogado e foi procurador da República de Cabo Verde. Deu os primeiros passos na literatura na década de 1980, numa altura em que cofundou a revista Ponto & Vírgula.

Segundo cabo-verdiano a vencer

Germano Almeida, um dos escritores mais lidos e traduzidos de Cabo Verde, é o segundo autor cabo-verdiano a ser distinguido com o Prémio Camões, depois de o galardão ter sido atribuído em 2009 ao poeta Arménio Vieira.

O presidente da Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL), David Hopffer Almada, manifestou "uma satisfação enorme" e "grande orgulho" pela atribuição do prémio a Germano Almeida, considerando que reconhece o "trajeto histórico" da literatura cabo-verdiana.

"É uma satisfação enorme a seguir ao Prémio Camões de Arménio Vieira. É um grande orgulho para o país, para os dois escritores cabo-verdianos e para a Academia Cabo-Verdiana de Letras", disse David Hopffer Almada à Agência Lusa.

O júri desta 30.ª edição do Prémio Camões, que distinguiu Germano Almeida por unanimidade, foi composto por Maria João Reynaud (Portugal), Manuel Frias Martins (Portugal), Leyla Perrone-Moisés (Brasil), José Luís Jobim (Brasil), Ana Paula Tavares(Angola) e José Luís Tavares (Cabo Verde).

Para Abraão Vicente, o Prémio Camões é "um contributo extraordinário de um país como Portugal" que "dá para incentivar a crítica, a produção".

O Prémio Camões, considerado o maior prémio da Língua Portuguesa, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988 com o objetivo de distinguir um autor "cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum".

O Prémio Camões foi atribuído pela primeira vez em 1989 ao escritor Miguel Torga e em 2017 ao poeta Manuel Alegre.

Agência Lusa | em Deutsche Welle

Angola: Novo Governo, velhas práticas?


Angola tem um novo Governo, mas nem tudo mudou: as manifestações continuam a ser reprimidas e as obras nas estradas são meras intervenções paliativas, denunciam analistas.

Angola tem um novo Governo desde setembro de 2017 e um novo Presidente: João Lourenço. O desejo de mudança é grande no país, mas, segundo o investigador Cláudio Fortuna, da Universidade Católica de Angola, há um longo caminho a percorrer uma vez que ainda se sentem os 38 anos de governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

"As marcas do passado dificilmente se apagam. Também estamos a dar ainda o benefício da dúvida [ao novo Governo], mas há alguns sinais que são repetitivos", comenta.

À semelhança do que acontecia antes do Presidente José Eduardo dos Santos deixar o poder, há manifestações que continuam a ser reprimidas. Em janeiro, a polícia desmobilizou protestos em Luanda que exigiam o fim da corrupção nas escolas angolanas. Em fevereiro, na Lunda-Norte, mais de 100 cidadãos foram detidos ao reivindicar a autonomia da região diamantífera das Lundas.

Angola "a duas velocidades"

A manutenção de alguns comportamentos característicos da antiga administração levam o analista Cláudio Fortuna a falar num país "a duas velocidades". "Tivemos há bem pouco tempo o problema das Luandas em que uma senhora pelo facto de participar numa manifestação viu a sua casa demolida e teve de se alojar num dos seus anexos. Isto quer dizer que as liberdades fundamentais ainda não são uniformes em todo o país”, denuncia o investigador.

Em fevereiro, cinco cidadãos foram detidos acusados de tentar assassinar o vice-Presidente da República, Bornito de Sousa. Na altura, Eugénia Lucas, esposa de um dos detidos, ficou perplexa com a atitude das autoridades. "O meu marido é chefe de família, as autoridades têm que ver esse assunto… O meu marido nunca roubou, o meu marido é um bom homem. Vivo com ele há 15 anos e tenho com ele cinco filhos. Nunca fez nada disso”, garantiu na altura a esposa do detido. Entretanto, os cidadãos foram colocados em liberdade e as autoridades descartaram a acusação de tentativa de assassinato, segundo a imprensa angolana.

Tapar buracos para as visitas do Presidente

As velhas práticas mantêm-se também noutras áreas. Nas obras públicas, por exemplo, era comum o anterior Governo mandar arranjar as estradas sempre que o Presidente fizesse uma visita de campo a um município ou província. Com o novo Executivo de João Lourenço, pouco mudou. "Nas visitas de campo que o senhor Presidente da República tem estado a realizar, notamos que há uma espécie de trabalho de campo antecipado, no sentido de o Chefe encontrar um cenário diferente daquilo que tem sido o quotidiano", observa Cláudio Fortuna.

Recentemente, o Presidente João Lourenço visitou o hospital Neves Bandinha, uma das poucas unidades de saúde vocacionadas para o tratamento de queimaduras. Nessa altura, os buracos nas estradas do "Bairro Popular" foram tapados e o lixo removido.

"Doze horas antes houve uma limpeza da zona. Limparam a área toda, deram um tratamento no saneamento, tiraram as zungueiras para que parecessem que as coisas estavam bem”, confirma o jornalista Jorge Neto, ouvido pela DW África.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Apesar de "honrado", Rafael Marques lamenta "sinais de corrupção"


O jornalista angolano Rafael Marques manifestou-se hoje "honrado" pelo prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa, atribuído pelo Instituto Internacional da Imprensa (IPI), mas sobre a situação em Angola lamentou haver "sinais de corrupção" do novo Presidente.

de facto um grande reconhecimento, pelo qual me sinto muito honrado e vem num momento em que estou precisamente a ser julgado por dizer a verdade, por tentar contribuir para que sejam corrigidos os casos de corrupção e os atos ilícitos que ocorrem muitas das vezes ao nível da administração pública", disse à agência Lusa, que o contactou telefonicamente em Luanda a partir de Lisboa.

Para o também ativista dos direitos humanos, a situação em Angola, porém, caminha para um paradoxo, uma vez que os corruptos, disse, "são os que têm o poder de ter aqueles que se opõem à corrupção no banco dos réus".

"Há muitos casos de indivíduos com provas substanciais sobre o seu envolvimento em atos de corrupção que lesam o Estado em centenas, milhões de dólares e nem um deles está a ser julgado ou detido, só a arraia-miúda e o Rafael, que se opõe à corrupção", acentuou.

Questionado sobre os sucessivos sinais de combate à corrupção que o novo Presidente angolano, João Lourenço, deu como prioridade da governação, Rafael Marques respondeu com a ideia contrária, realçando que o sucessor de José Eduardo dos Santos na chefia do Estado angolano poderá estar a formar "uma nova elite de saqueadores".

"João Lourenço também tem estado a dar sinais de que está a formar uma nova elite de saqueadores. Recentemente, criou-se aqui um consórcio privado para a realização de voos domésticos que beneficiou de uma garantia soberana do Estado angolano, as famosas garantias soberanas, para a aquisição de seis aviões no Canadá", disse.

O consórcio, acrescentou, tem como sócios o irmão do Presidente angolano, Sequeira João Lourenço, também secretário-executivo da Casa de Segurança do Chefe de Estado e proprietário da empresa de aviação SJL, o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente, Frederico Cardoso, dono da empresa Air 26, e o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente, o general Pedro Sebastião, dono da empresa Mazewa.

"São as pessoas mais próximas que rodeiam o próprio Presidente que já estão a apoderar-se daquilo que é público e estão, basicamente, a manter o estatuto de principais dirigentes do país e principais homens de negócios. Esses indivíduos já tinham as suas empresas falidas e estão agora a receber oxigénio porque João Lourenço está no poder. Isto não é uma contradição, é uma falta de vergonha", acusou.

"[João Lourenço] está a dar sinais claros, agora, com estes últimos casos, que, em relação aos esquemas de corrupção, a única coisa que algumas pessoas muito próximas de José Eduardo dos Santos, como a filha [a empresária] Isabel [dos Santos] e [o general angolano Manuel Hélder Vieira Dias] 'Kopelipa, é levarem um pontapé, e os outros, que estão do lado de João Lourenço, têm toda a proteção", frisou.

Questionado pela Lusa sobre se, na sua opinião, tal poderá significar um passo atrás no combate à corrupção defendido por João Lourenço, Rafael Marques concordou e acrescentou que o país está a voltar "à estaca zero".

"Voltamos à estaca zero e continuamos a ter muito trabalho, porque, a esse nível, não mudou a retórica do discurso político. Antes pelo contrário, o país está parado", disse.

Utilizando o prémio que acabou de ganhar, e que será entregue a 22 de junho em Abuja (Nigéria), Rafael Marques referiu que a distinção "renova as esperanças" de muitos angolanos que acreditaram no combate à corrupção anunciado por João Lourenço.

"Pensaram que [João Lourenço] iria combater a corrupção, iria imprimir uma nova dinâmica na gestão do país e, passados oito meses, estão a ver que o país está parado, que a corrupção continua galopante, porque muitos dos que transitaram da administração de José Eduardo dos Santos e os novos que entraram continuam com as mesmas práticas. Pouco ou nada mudou", argumentou.

"[O prémio] para estas pessoas, é um pequeno conforto que haja um angolano que seja reconhecido por continuar a denunciar esse tipo de situações. Se é uma bofetada de luva branca ou não, penso que isto nada tem a ver com o Presidente, mas com o facto de colegas internacionais reconhecerem um elemento seu que está a lutar num país onde as condições são completamente adversas. Onde quem está em julgamento são os que se opõem à corrupção e não os corruptos", concluiu.

Lusa | em Notícias ao Minuto

Portugal | Tirar a alma ao negócio da fraude


Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

Passou despercebido mas na passada quinta-feira o Parlamento debateu e aprovou, na generalidade, por iniciativa do Bloco, medidas importantes para promover a transparência e combater o crime económico. Ainda há, sobretudo na Associação Portuguesa de Bancos e no PSD, firme oposição à ideia de que a Autoridade Tributária deve ter acesso a informação bancária relevante. Já em 2011 PSD e CDS se tinham abstido na emenda que permitiu acesso facilitado do Ministério Público a dados bancários no contexto de investigações criminais. Independentemente da sua gestão mediática, os vários processos entretanto desencadeados reforçam uma ideia simples: não há combate eficaz à fraude fiscal e ao crime económico se as autoridades estiverem impedidas de aceder a dados bancários.

O segredo bancário tem de ser salvaguardado sempre que estiver em causa o direito à privacidade pessoal, reconhecido constitucionalmente. Mas não pode servir de abrigo àqueles que o procuram para fugir aos impostos, à justiça, ou aos princípios de boa gestão bancária. Sempre que assim é - e em Portugal tem-no sido com frequência - a democracia sai fragilizada, porque nenhuma democracia resiste à sensação generalizada de impunidade e injustiça.

As três amnistias fiscais criadas em Portugal, duas no tempo de Sócrates e uma de Passos, são um bom exemplo. O parágrafo que interessa é comum às três leis: "Nos limites do presente regime, a declaração de regularização tributária não pode ser, por qualquer modo, utilizada como indício ou elemento relevante para efeitos de qualquer procedimento tributário, criminal ou contraordenacional, devendo os bancos intervenientes manter sigilo sobre a informação prestada".

Devido a este parágrafo, cerca de 6000 milhões de euros puderam regressar ao país, pagar uma taxa inferior a 7,5%, e os seus beneficiários ficaram ilibados de quaisquer responsabilidades sobre os motivos que os levaram a não declarar o dinheiro em Portugal. Um pormenor simbólico: a última amnistia aconteceu mesmo antes da entrada em vigor de acordos de troca de informação com vários países - como a Suíça - que iriam permitir detetar as práticas entretanto amnistiadas pela mão do Governo PSD/CDS.

Esta é uma das muitas razões pelas quais era difícil levar a sério o mais recente amor do PSD à transparência e escrutínio bancário. O voto contra o novo regime de troca de informações só ajudou a desmontar a hipocrisia.

Para além deste regime, foram ainda aprovadas diferentes propostas para que se conheçam os grandes devedores em incumprimento de toda a Banca. Como escreveu recentemente Manuel Esteves, editor do "Jornal de Negócios", "Se os bancos têm sido demasiado grandes para falirem, então é preciso um escrutínio público maior sobre as suas decisões de crédito. Se os devedores são tão grandes que mandam mais do que os bancos, então devem ser conhecidos". Nem mais.

*Deputada do BE

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado… Plim


“Meio-dia e uma guitarra” – antes dizia-se assim com sentido. Na pesquisa encontrámos o referido fado (meia-noite e uma guitarra). Fado igual a destino. Pois. Bem, mas tudo isto para sinalizar que é meio-dia (12 horas) e que esta é lavra que antecede o Expresso Curto que hoje foi produto do matraquear do jornalista Rui Gustavo, do Expresso, claro.

O jornalista faz notar que hoje é o dia do abraço… e da justiça, porque “aplicou a medida de prisão preventiva a todos os 23 suspeitos que a polícia conseguiu apanhar” daqueles cerca de 50 que invadiram a academia do Sporting em Alcochete. Ralé. Filhos da plebe, decerto que marginais, produto da sociedade de esgoto pós 25 de Abril e da propalada democracia que nem por nada elimina o fosso sociocultural, económico-financeiro e etc. com que os portugueses são constantemente brindados. Justiça? Educação? Saúde? Igualdade de oportunidades? Democracia? O que seria dos advogados e todos os das ilhargas se as populações fossem impecáveis, respeitadoras das leis, do civismo e pacifismo? E até é essa categoria profissional que está em maioria na profissão da política e deputados no Parlamento… Pois. E até é verdade que os exemplos vêm de cima e devem inspirar os cidadãos… Um sorriso irónico e quase imparável é o que a realidade nos mostra acerca disso. Pois.

Agora por ali atrás mencionar saúde. O Serviço Nacional de Saúde viu o seu criador e impulsionador principal falecer, António Arnaut. Isto quando o próprio SNS está a morrer progressivamente pela mão dos que nesta “democracia” são eleitos mas não defendem como devem os interesses das populações em todo o território nacional, já nem nas grandes cidades conseguem apresentar um SNS capaz de servir adequadamente os portugueses doentes. Prova testemunhal é o artigo que encontrará a seguir com o título aqui no PG: “SNS - Serviço Nacional do Sofrimento | 70 mil portugueses não têm acesso a cuidados paliativos”.

Sim. É verdade que devido aos factos contidos na prosa e às provas já intemporais da bagunça na saúde com o propósito de entregar aos privados milhões (acção de sacanas) que achámos uma realista associação para o SNS – Serviço Nacional do Sofrimento. É, não é? Pois.

Pronto, nem vai haver mais adiante. Recorremos ao fado, aos poetas, para terminar: “tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Em resumo: existe muita trampa e muita tristeza que não deviam de existir. Pois. Abraço. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O abraço da Justiça

Rui Gustavo | Expresso

Hoje é dia do abraço. O gesto que substitui as palavras quando não sabemos o que dizer e acaba com os silêncios embaraçosos. A Justiça portuguesa decidiu dar um abraço aos jogadores e técnicos do Sporting atacados e agredidos por uma turba na Academia de Alcochete e aplicou a medida de prisão preventiva a todos os 23 suspeitos que a polícia conseguiu apanhar.

Alguns são muito jovens, com pouco mais de 20 anos, e os advogados de defesa confessaram-se “chocados” com a decisão do juiz de instrução criminal do Barreiro que tratou todos os arguidos por igual e não individualizou (ou diluiu) as responsabilidades de cada um, como pretendiam os advogados.

A medida, a mais gravosa prevista pela lei, é, como notou Miguel Sousa Tavares, “mais para ser exemplar”, e pretende dar um sinal à sociedade: atos destes não podem ser tolerados. O juiz argumentou que há perigo de fuga, continuação da atividade criminosa e alarme social.

Os interrogatórios demoraram uma semana e só nove dos suspeitos aceitaram falar. Estão indiciados por nove crimes, incluindo terrorismo, o que ainda vai dar pano para mangas no julgamento que certamente se seguirá.

O Sporting reforçou as medidas de segurança na Academia, suspendeu o apoio à Juventude Leonina, que condenou o ataque apesar de a grande maioria dos atacantes pertencer à claque. “Se os conheço? Sim. Se sou amigo deles? Sou, não vou negar”, admitiu “Mustafá”, o líder da organização. O ataque provocou ferimentos na cabeça do principal goleador da equipa Bas Dost, um olho negro ao treinador Jorge Jesus (atacado com um cinto) e queimaduras num dos preparadores físicos da equipa. Terá sido o ataque mais grave de sempre, mas já houve invasão da garagem dos Benfica, agressões a jogadores do Vitória de Guimarães e um treinador do Porto, Co Adriaanse, foi atacado com um very light por elementos da claque portista.

Basta ver as imagens captadas pelo jornalista Hugo Franco no final do jogo entre o Sporting e o Desportivo das Aves, em que os jogadores sportinguistas foram insultados pelos próprios adeptos enquanto subiam a tribuna de honra, para perceber que a semente do mal está enraizada.

Detalhe: há 50 atacantes identificados pela polícia mas só 23 foram detidos e levados à justiça. O que aconteceu aos outros? Que diligências já foram feitas? Porque é que houve elementos, como Fernando Mendes, ex-líder da claque, que estiveram na Academia e não foram ouvidos? Seria bom que não ficassem pontas soltas num caso que a Justiça quer fazer exemplar.

A crise sportinguista continua a precisar de abraços e ainda ontem a reunião de quatro horas entre a direção de Bruno de Carvalho e os órgãos sociais do clube terminou com a marcação de nova reunião para a próxima quinta-feira. O presidente mantém-se no cargo.

O Correio da Manhã noticia hoje que “Bilhetes pagam saco azul de Bruno” numa referência aos 60 mil euros encontrados no gabinete de André Geraldes, diretor do futebol e braço direito do presidente, que está indiciado por corrupção e é suspeito de liderar um esquema para influenciar o campeonato de andebol e de futebol. Uma história que ainda vai a meio.

OUTRAS NOTÍCIAS

Começa hoje no Tribunal de Sintra o julgamento de 17 polícias da esquadra da PSP de Alfragide acusados de agressões a seis jovens do bairro da Cova da Moura em fevereiro de 2015. A acusação do MP é grave e diz que os agentes tiveram comportamentos "xenófobos e racistas", agiram motivados "por ódio racial" e tiveram "prazer em provocar dor". As vítimas contaram que para além de terem sido agredidas e insultadas pelos agentes da PSP passaram uma noite no chão "algemados". A PSP mudou o comandante da Amadora e os agentes, que negam todas as acusações e alegam que se defenderam de uma "invasão da esquadra" mantêm-se de serviço. Arriscam pesadas penas de prisão.

Há 20 anos não se falava de outra coisa: era inaugurada a Expo 98 na zona ocidental de Lisboa. as dúvidas iniciais deram lugar a um dos maiores sentimentos de satisfação coletiva de que me lembro. A exposição foi um sucesso, acabou com uma zona degradada da capital e deu origem a uma nova freguesia - a "Cidade de todos os recordes", como lhe chama o jornalista Virgílio Azevedo, onde 30 mil pessoas gostam de morar, trabalhar e visitar. . Terá sido também um ponto de viragem para o turismo de qualidade que veio a Portugal e ainda hoje se mantém como uma das principais fontes de receita do país. Alguém hoje imagina Lisboa sem a Expo (como lhe chamam os lisboetas) ou o Parque das Nações, como será mais correto dizer?

António Costa, que era ministro do Assuntos Parlamentares em 1998 e responsável pela pasta, admite à Renascença que chegou a ter dúvidas sobre a realização do projeto e diz que hoje já não faria sentido realizar um evento daquela dimensão em Portugal.

As festas dos 20 anos da Expo começam na sexta-feira com vários espetáculos e o regresso há muito exigido dos olharapos. Se não sabe do que estou a falar não vale a pena ir. A Pangea, hino da exposição, vai voltar a ouvir-se.

Hoje é dia de luto nacional decretado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa pela morte de António Arnaut, fundador do PS e pai do Sistema Nacional de Saúde, uma das melhores invenções dos portugueses. O Henrique Monteiro faz-lhe justiça. A melhor homenagem que lhe podemos prestar é manter o SNS vivo.

Mark Zuckerberg está hoje no Parlamento europeu para dar um abraço de confiança a todos os utilizadores (63 mil portugueses) do Facebook chocados com o facto de os seus dados pessoais terem sido usados para fins que não adivinhavam: a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, por exemplo. A audição esteve para ser feita à porta fechada, mas, afinal, pode ser seguida em direto a partir das 18h00 de Lisboa.

Reabriu a época da pesca da sardinha. O JN diz que a rede "regressa" cheia e que o preço do símbolo dos santos populares "pode chegar aos cinco euros" por quilo.

No Público são revelados os 20 concelhos "com maior probabilidade de ter um fogo grave este verão". Não são muito diferentes dos últimos anos.

Rui Rio estará hoje na sede da Polícia Judiciária e isto não quer dizer que seja suspeito nalguma investigação. O líder do PSD dedica esta semana à Justiça e hoje vai reunir-se com o diretor Almeida Rodrigues, de saída depois de dez anos à frente da instituição.

FRASES

"A geringonça tem produzido bons resultados porque o PCP e o BE foram relativamente anestesiados pelo PS"
Francisco Assis, Público

“Foi uma reunião de reflexão e muita serenidade”
Jaime Marta Soares, presidente demissionário da AG do Sporting à saída da reunião com a direção

(...)
Silêncio de Bruno de Carvalho à saída da mesma reunião

"Com o que consta no processo, é inacreditável colocar todos os arguidos no mesmo espaço. Ser igual para os 23 arguidos… a maioria são jovens. Acho que a mão foi muito pesada”
Maria João Mata, advogada de um dos suspeitos da invasão a Alcochete

"Acreditávamos que bastava ganhar a Taça. Se não formos à Liga Europa será uma injustiça nacional"
Luiz Andrade, presidente do Aves, confrontado com o afastamento do clube da Liga Europa por razões burocráticas

O QUE ANDO A LER

Fun Home, Alison Bechdel

O talento raro desta americana, que assina o argumento e os desenhos, é conseguir transformar uma infância desgraçada (a sua) numa tragicomédia com rasgos de génio. Filha de um casal de professores que gere a funerária da família, descobre que o pai, obcecado com a decoração da casa e com o restauro de tecidos e objetos é, afinal, homossexual. Tal como ela. O drama adensa-se quando o pai morre num aparente suicídio e Alison se confronta com as dores do crescimento e um crescente gosto pelo minimalismo que horrorizaria o pai.

O QUE ANDO A VER

Cobra Kai, youtube red

Trinta anos depois dos acontecimentos relatados magistralmente na obra prima de John G. Avildsen - um especialista em filmes de porrada que ganhou o Óscar do melhor filme com Rocky - o Karate Kid cresceu e o tipo que ele derrota no fim com aquele pontapé esquisito (grou kick, a quem interesse saber) também. Daniel-san é agora um bem sucedido dono de uma cadeia de stands de automóveis e Johnny sobrevive entre biscates e garrafas de cerveja. Daniel é rico e tornou-se, talvez, um pouco arrogante; Johnny foi nunca digeriu a humilhação sofrida à frente de milhões de espectadores do mundo inteiro e decide reabrir o dojo Cobra Kai (o ninho dos vilões de Karate Kid) para treinar um nerd vítima de bullying. O confronto entre o herói e a sua Némesis é inevitável. Mas quem é agora o bom e o vilão? E será que estas divisões maniqueístas ainda fazem sentido? Cobra Kai, série de dez episódios do canal youtube red (internet), responde a esta e outras questões e resgata do limbo do esquecimento Ralph Macchio e William Zabka, os dois protagonistas da fita original que nunca atingiram o sucesso que lhes parecia destinado.

O QUE ANDO A OUVIR

"Abraço a Moçambique", vários

Dia do abraço e lembro-me logo do “Abraço a Moçambique”, uma espécie de “We Are The World” português que em 1985 juntou, entre outros, Jorge Palma, Sérgio Godinho e Paulo de Carvalho a fazer de Bruce Springsteen. A música não terá ficado para a história (M80 está nas vossas mãos corrigir esta injustiça) mas, segundo "A Bíblia dos Anos 80", além das receitas geradas pelos donativos e das vendas do disco e dos bilhetes do concerto, foram também enviadas para Moçambique 20 toneladas de produtos farmacêuticos e cinco contentores com roupa, calçado e brinquedos.

SNS - Serviço Nacional do Sofrimento | 70 mil portugueses não têm acesso a cuidados paliativos


Existem, neste momento, entre 71 mil e 85 mil portugueses que precisam de cuidados paliativos, segundo números da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos

Ainda que a sensibilização para o tema tenha aumentado nos últimos anos, são poucos os hospitais nacionais que têm unidades de internamento de cuidados paliativos. Esta “deficiência” tem um reflexo nos últimos dias de vida de muitos portugueses: entre 69 a 82% dos doentes que morrem no país necessitam desses cuidados – mas mais de 80% não os tem por falta de resposta suficiente, revela o “Jornal de Notícias” esta terça-feira.

Existem, neste momento, entre 71 mil e 85 mil portugueses que precisam de cuidados paliativos, segundo números da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Porém, não há boas notícias: em 2017, os cuidados paliativos só terão chegado a 12 mil doentes terminais portugueses.

Ao nível nacional, o Serviço Nacional de Saúde tem 42 equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos, 13 unidades de internamento com 207 camas e 14 unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, com 169 camas.

“Embora o número de equipas tenha aumentado muito nos últimos anos, a maioria tem um número reduzido de profissionais”, disse Edna Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos, em declarações ao “JN”.

“É provável que menos de 20% das pessoas que precisam tenham acesso a equipas específicas de cuidados paliativos”, denunciou.

Expresso | Foto: Ana Baião

*Título com alteração PG

BRASIL | O processo: golpe e claustrofobia


No documentário de Maria Augusta Ramos, dois destaques: os ambientes fechados do Congresso, expondo a pequenez da política imediata; e a fala autocrítica de Gilberto Carvalho

José Geraldo Couto, no blog do IMS | em Outras Palavras

A primeira imagem de O processo é uma tomada aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com a câmera avançando em direção à Praça dos Três Poderes por sobre a cerca que separa apoiadores e opositores do impeachment de Dilma Rousseff. É de um país cindido ao meio que tratará este filme impressionante, em cartaz no IMS Paulista e no IMS Rio.

O que mantém vivo e incômodo o documentário de Maria Augusta Ramos, e que o torna difícil de manusear como um ferro em brasa, é o fato de que essa cisão continua: pesquisas recentes dão conta de que metade da população brasileira acredita que Dilma foi derrubada por um golpe, enquanto a outra metade, ou hoje um pouco menos, ainda julga que o impeachment foi um processo legítimo.

Como enfrentar, num documentário, um tema tão explosivo e espinhoso? Como organizar e dar sentido a uma sequência tão confusa e vertiginosa de eventos? Para se ter uma ideia do tamanho do desafio, a diretora e sua montadora, Karen Akerman, tinham 450 horas de material filmado para condensar em pouco mais de duas horas.

Construção dramática

Sem entrar, na medida do possível, no mérito das questões discutidas na tela, pois isso já está sendo feito por ensaístas e comentaristas políticos, vamos examinar alguns dos procedimentos e opções adotados pela cineasta e os resultados assim atingidos, em termos de construção cinematográfica e eficácia dramática.

Antes de tudo, há um rígido recorte temporal. O filme começa com a abertura do processo de impeachment na Câmara e termina com sua conclusão no Senado e o consequente afastamento da presidente. A esse recorte temporal corresponde também uma delimitação geográfica: tudo se passa na Praça dos Três Poderes (em especial no Congresso Nacional) e em suas proximidades, isto é, na Esplanada dos Ministérios. O que ocorre fora desse território e que tem efeito sobre o processo é mostrado sob a forma de noticiários em telas de TV instaladas nos próprios ambientes retratados (corredores do Congresso, gabinetes de parlamentares).

A sensação de claustrofobia provocada por essa circunscrição em ambientes fechados é aliviada ocasionalmente pela inserção de planos externos abertos, em que sempre se pode ver o horizonte e o céu de Brasília. Estas imagens, em geral planos de ligação entre os nervosos embates parlamentares, têm também o efeito de instilar uma certa melancolia, um sentimento de solidão profunda, de diluição daquela agitação superficial na imensidão inamovível do país, do continente, do cosmo. O tempo incomensurável do universo contraposto ao tempo miúdo da política imediata.

Jogo de contrastes

O jogo de contrapontos parece ser a opção básica da construção dramática do filme, em vários aspectos. Há a oposição básica entre os pró e os contra o impeachment, claro. Isso se mostra não apenas na alternância de discursos de um lado e de outro e na briga de torcidas entre vermelhos e verde-amarelos, mas na maneira como são filmadas e montadas essas falas e essas palavras de ordem.

Quando a acusadora Janaína Paschoal discursa, por exemplo, vemos a reação fisionômica da senadora petista Gleisi Hoffmann; quando fala o advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, contemplamos a expressão irônica do senador tucano Aloysio Nunes, e assim por diante. Do lado de fora, os gritos de “Fora Dilma” e “Lula na prisão” são respondidos por “Fora Temer” e “Não vai ter golpe”, menos de acordo com uma sequência linear, cronológica, e mais por uma lógica, digamos, conceitual.

Mas há também contrastes de outra ordem, mais formais, por assim dizer: sequências de debates acalorados são seguidas de imagens de corredores vazios do Congresso na madrugada, ou de um ponto de ônibus num final de tarde. Há toda uma arquitetura sonora e visual em que se alternam ruído e silêncio, tumulto e calmaria, ambientes abarrotados e espaços desertos. Cada sequência de acontecimentos parece atingir um ápice de tensão antes de ser sucedida por um longo escurecimento da tela que serve não apenas para a inserção de letreiros com informações factuais e marcos temporais, mas principalmente para propiciar um tempo de assentamento, uma pausa para reflexão.

Depois de um tempo, essa alternância rítmica de agitação frenética e tempos mortos, de vociferação e silêncio, luz ofuscante e escuridão, termina por compor uma sensação de cansaço, de desalento, ou mesmo de luto – e nisso talvez esteja a tomada mais profunda de posição da cineasta. O que começa como um filme de terror, como um Kafka filmado por Fellini – o circo bizarro da votação do impeachment na Câmara, com seus discursos em defesa das criancinhas, da família e dos militares torturadores –, termina como uma elegia, um réquiem por um país que já se acreditou risonhamente cordial e que já sonhou com um futuro de justiça e prosperidade.

O tempo dos bastidores

Uma última observação sobre o evidente desequilíbrio, nas cenas de bastidores, entre o tempo dedicado às conversas entre partidários de Dilma e o dedicado aos partidários do impeachment. A produção do filme esclareceu que os políticos e advogados petistas concederam um acesso a seus gabinetes e reuniões que foi negado pelos representantes do outro lado. A julgar pelo que se soube depois, e pelo que a imprensa vem revelando a cada dia, não terá sido casual o veto às conversas dos articuladores do impeachment: elas devem ter sido muito pouco republicanas.

Das confabulações nos gabinetes petistas, para além das táticas momentâneas de enfrentamento jurídico-parlamentar, o que deve ficar para a posteridade, provavelmente, é a dura autocrítica do então ministro Gilberto Carvalho, para quem o PT deu munição a seus inimigos ao entrar no jogo de toma lá dá cá da velha política e se distanciar dos movimentos sociais que estavam na sua origem. Mas isso é assunto para analistas políticos, e eles já estão se refestelando com o material fornecido por O processo.

*José Gerado Couto é crítico de cinema e tradutor. Publica suas criticas no blog do IMS. Para ler as edições anteriores da coluna, clique aqui.

Venezuela | Abstenção deve favorecer Presidente Nicolas Maduro


As urnas em 14,5 mil centros de votação foram abertas na manhã de ontem para a eleição presidencial na Venezuela, onde, embora 20,5 milhões de pessoas estejam aptas a votar, a abstenção deve favorecer a reeleição de Nicolás Maduro para mais seis anos de mandato.

Além de Nicolás Maduro, concorrem outros três candidatos: Henri Falcón (dissidente do chavismo), o pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada. A ausência de adversários de peso deve contribuir para a vitória do Presidente. 

As urnas na capital Caracas e em outras cidades venezuelanas foram abertas de manhã, mas o pleito começou antes para cidadãos venezuelanos residentes no exterior, em países como Áustrália, China, Índia e Malásia.

A fronteira com o Brasil foi fechada sábado, para "resguardar a soberania territorial" da Venezuela e para que as Forças Armadas controlem todo território nacional, segundo explicou o cônsul-adjunto da Venezuela em Roraima, Brasil, José Martí Uriana. A medida fez com que venezuelanos procurassem rotas clandestinas para comprar mantimentos no Brasil.

O Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, foi o primeiro a votar no seu centro eleitoral, a oeste de Caracas, numa votação em que o grosso da oposição não participa por considerar o acto eleitoral fraudulento.

A principal coligação da oposição apelou à abstenção. Vão ser eleitos também os membros dos conselhos legislativos das 23 entidades federais e dos 335 municípios.

O processo eleitoral vai ser acompanhado por missões de observadores de Angola, Etiópia, Mali, Moçambique, Palestina, República Dominicana, Rússia, África do Sul e Suriname. No país encontra-se também o ex-presidente do governo espanhol José Luís Rodríguez Zapatero.

As fronteiras com a Colômbia, a Guiana e o Brasil foram encerradas na noite de sexta-feira e vão ser reabertas na noite de hoje. Trezentos mil oficiais das Forças Armadas Venezuelanas têm a missão de garantir a segurança do material eleitoral e dos centros de votação, ao abrigo da operação Plano República, na qual participa também o Ministério Público.

Papa faz apelo

O papa Francisco apelou hoje à Venezuela para que tenha “a sabedoria de encontrar o caminho da paz” e assegurou que reza por todos os presos que morreram no seguimento de um motim na prisão.

“Desejo dedicar uma oração particular à amada Venezuela. Peço que o Espírito Santo dê ao povo venezuelano e a todos os governantes a sabedoria de encontrar a via para a paz e a unidade”, disse o Sumo Pontífice após a missa de domingo no Vaticano.

Diante dos fiéis que o escutavam na Praça de São Pedro, o papa Francisco disse que reza pelos “presos que morreram sábado”, numa alusão às onze vítimas de um motim na Penitenciária Fénix de Caracas.

O apelo do pontífice argentino ocorreu no dia em que os venezuelanos estão a votar nas eleições que irão eleger o Presidente do país até 2025, num processo eleitoral muito questionado e classificado de “fraudulento” pela oposição.

Estados Unidos contra

Os Estados Unidos qualificaram ontem de “ilegítima” a eleição presidencial na Venezuela, em que Nicolas Maduro procura a reeleição num escrutínio boicotado pela oposição. “As supostas eleições na Venezuela não são legítimas”, escreveu a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert, na sua conta no Twitter.

"Os Estados Unidos estão ao lado dos países democráticos de todo o mundo que apoiam os venezuelanos e o seu direito a eleger os seus representantes através de eleições livres e justas", acrescentou.

A administração norte-americana tinha apelado a Maduro que suspendesse as eleições.

O Departamento do Tesouro anunciou por seu lado sanções contra duas dezenas de empresas, 16 das quais estabelecidas na Venezuela, e contra três indivíduos, entre os quais um antigo director dos serviços de informação financeira venezuelano.

Defesa da legitimidade

O líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, defendeu a legitimidade das eleições presidenciais na Venezuela e descreveu como “fantoches” dos Estados Unidos os países que solicitaram a sua suspensão.

Em declarações aos meios de comunicação social 'LCI' e 'RTL', Mélenchon insistiu que a data das eleições foi acordada com a aprovação do ex-presidente do Governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero.

Segundo afirmou, “não é verdade que a oposição boicotou, porque há três outros candidatos” além do presidente cessante e favorito, Nicolas Maduro, e as eleições acontecem a partir da plataforma da oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Além disso, também negou que a comunidade internacional não reconheça este processo eleitoral, uma vez que, na sua opinião “há uma série de países 'fantoches' dos EUA, que decidiram que estas eleições não lhes convêm.”

O líder da França Insubmissa reconheceu que “há uma grande dificuldade na Venezuela”, que tem origem principalmente na queda do preço do barril de petróleo. Além disso, Jean-Luc Mélenchon denunciou que “houve uma crise terrível que vem de uma parte da oposição que é violenta” e que “criou uma situação tão explosiva” que levou o governo de Maduro a reagir e com a Assembleia Constituinte a convocar estas eleições presidenciais.

“Portanto, os problemas com as eleições estão resolvidos”, concluiu. França, como os seus parceiros na União Europeia, reprovou repetidas vezes o processo eleitoral na Venezuela por considerar que viola as regras de transparência e da justiça.

Observadores

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela convidou mais de 200 observadores internacionais para acompanhar as eleições venezuelanas. Entre os convidados estão figuras conhecidas como o ex-chefe do Governo de Espanha José Luis Rodríguez Zapatero, que faz parte de uma delegação de autoridades europeias integrada também pelo ex-ministro de Relações Exteriores do Chipre, Marcos Cipriani, e o ex-presidente do Senado da França, Jean-Pierre Bel, que foi representante da Presidência da França para a América Latina durante o governo de François Hollande.

Sistema venezuelano

O juiz de direito brasileiro Dalmir Franklin de Oliveira é um dos 200 convidados do CNE venezuelano. Ele foi juiz eleitoral no município brasileiro de Passo Fundo (RS) e faz uma comparação entre os sistemas eleitorias venezuelano e o brasileiro: “O sistema venezuelano nos pareceu bastante confiável. Inclusive é até mais detalhado que o nosso, em termos de certificação e das próprias auditorias que eles relatam. Parece ser muito confiável”.

Jornal de Angola

António Guterres está atento ao Saara Ocidental


O secretário-geral da ONU, António Guterres, está a seguir “de perto a evolução da situação do Saara Ocidental”, disputada por Marrocos e a Frente Polisário e afirmou que “nenhuma acção suscetível de alterar o 'status quo' deve ser realizada”.

Numa declaração sobre o Saara Ocidental, divulgada no sábado pelo seu porta-voz Stéphane Dujarric, o secretário-geral da ONU apela à máxima moderação. Nos últimos meses, Marrocos acusou por várias vezes a Frente Polisário, um movimento independentista, de acções que têm como objectivo mudar a situação no terreno, através de movimentos de pessoas e de transferências de estabelecimentos administrativos.

Rabat rompeu em  1 de Maio as suas relações diplomáticas com o Irão, acusando o país de dar ajuda militar, com “o apoio” da Argélia, à Frente Polisário. As forças marroquinas anexaram o Saara Ocidental em 1975 e, em 1991, após 16 anos de guerra, Marrocos e a Frente Polisário, braço armado da República Árabe Saarauí Democrática (RASD) apoiado pela Argélia, assinaram um acordo de cessar-fogo mediado pela ONU, que incluía um compromisso de realizar um referendo sobre a possível autodeterminação da antiga colónia espanhola.

Quarenta anos depois da ocupação daquele território, centenas de milhares de saarauis continuam a viver em campos de refugiados no deserto da Argélia e o referendo ainda não se realizou, sobretudo devido a exigências por parte de Rabat.

Rabat considera a antiga colónia parte do seu território e uma “causa nacional”, propondo uma autonomia sob soberania marroquina, enquanto a Polisário, apoiada pela Argélia, exige o referendo sobre a autodeterminação.

Jornal de Angola

China e Estados Unidos selam acordo comercial


A China e os Estados Unidos decidiram renunciar a qualquer guerra comercial e à imposição de novas taxas aduaneiras entre os dois países, afirmou ontem o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, citado pela agência de notícias Xinhua.

“As duas partes chegaram a um consenso, não vão participar  numa guerra comercial e não vão aumentar  as respectivas taxas”, adiantou o governante, que liderou a delegação chinesa que se encontrou com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, em Washington. Nos dias 17 e 18 de Maio, Washington realizou consultas entre as delegações comerciais dos EUA e da China. Os países aprovaram uma declaração na qual prometeram adoptar medidas efectivas para reduzir o défice no comércio com a China e aumentar significativamente as exportações de bens e serviços dos EUA para a China.

“O principal resultado das negociações comerciais e económicas que ocorreram foi o consenso das partes em não iniciar uma guerra comercial e impedir a introdução de tarifas mútuas”, disse o vice-primeiro-ministro chinês, que participou nas negociações, segundo a agência de notícias Xinhua.Em Março, os Estados Unidos introduziram uma tarifa de 25 por cento sobre o aço importado e uma tarifa de dez por cento sobre o alumínio importado.

 Mais tarde, o Presidente dos EUA, Donald Trump, emitiu uma ordem de 60 mil milhões em tarifas extras sobre a China.

Em resposta, a China introduziu as suas próprias taxas sobre bens produzidos nos Estados Unidos. Já em Abril, Trump sugeriu um adicional de 100 mil milhões de dólares em tarifas contra a China em resposta à "retaliação" de Pequim.

Jornal de Angola

Diplomatas russos expulsos poderão voltar depois de matarem alguns palestinos | sátira


Waterford Whispers

Dúzias de países que em Março último expulsaram diplomatas russos concordaram em permitir o retorno dos mesmos depois serem informados que nesta semana eles atiraram e mataram palestinos na faixa de Gaza.

Deportados da Irlanda, EUA, França, Itália e Alemanha, em solidariedade com o Reino Unido sobre um alegado ataque a espião ainda envolto em mistério, mais de 150 diplomatas russos foram a Israel na semana passada com a esperança de retornarem aos países que lhes foram designados.

"Assassinar palestinos a sangue frio actualmente parece ser o único meio de caírem nas boas graças, como mostraram nossos amigos israelenses que parecem ser imunes a expulsões", explicou o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, enquanto apontava para uma parede com fotografias de homens, mulheres e crianças que os diplomatas assassinaram a sangue frio. "Assim, decidimos enviar todos os nossos diplomatas expulsos a uma orgia de matanças em Gaza a fim de apaziguar nossos senhores supremos. Felizmente parece que funcionou".

A seguir à confirmação das mortes, foi imediatamente concedido a cada diplomata o acesso ao seu país designado, com o ministro irlandês dos Negócios Estrangeiros, Simon Coveney, declarando estar muito satisfeito com o responsável russo anteriormente expulso:   "Vi fotos dos palestinos mortos que ele liquidou e estou deliciado em saudar o retorno do nosso amigo russo a Dublim para ele realizar tudo o que quiser aqui".

O ousado movimento da Rússia ocorreu depois de dúzias de palestinos terem sido mortos esta semana por soldados israelenses com pouca ou nenhuma acção internacional por parte das chamadas "nações soberanas".

"É óbvio que uma vez que estejamos ao lado dos israelenses, podemos fazer o que quer que seja com nula repercussão internacional", concluiu o ministro russo dos Negócios Estrangeiros. 

19/Maio/2018

O original encontra-se no sítio web irlandês Waterford Whispers News .

Esta sátira encontra-se em http://resistir.info/ 

Mais lidas da semana