terça-feira, 3 de julho de 2018

Eleições em São Tomé marcadas para Outubro. Mais do mesmo?


Evaristo Carvalho (na foto), presidente da República de São Tomé e Príncipe, anunciou que marcou as próximas eleições legislativas e autárquicas para 7 de Outubro de 2018.

Nas eleições congéneres anteriores houve “casos” que levaram à contestação de partidos opositores quando constataram a enorme vitória do partido ADI do atual primeiro-ministro Patrice Trovoada, contudo viria a ficar transparente que não existiu fraude que influísse categoricamente nos resultados eleitorais, pondo à margem que é vulgaríssimo comprar os votos aos eleitores em São Tomé (a que chamam “banho”) e foi notado e comprovado que Patrice chegou ao país cheio de dinheiro para realizar uma campanha muito sofisticada e dispendiosa, incluindo o “banho”.

Téla Nón, o jornal digital do país, deixa saber que “Evaristo Carvalho, marcou para 7 de Outubro, a realização das eleições legislativas e autárquicas. O Chefe de Estado marcou a data das eleições após ter-se reunido na semana passada com os partidos políticos actuantes na sociedade são-tomense. Por unanimidade todas as forças políticas, anunciaram após reunião com Evaristo Carvalho que a data de 7 de Outubro era consensual.”

Com mais “banho” ou menos “banho” deve ser líquido que a vitória do clã Trovoada se vai fazer anunciar lá para 8 de Outubro próximo. Afinal é como aqueles banhos de lavar rabinhos a bebés. Não custa nada e até aparenta ser carinhoso. Só na aparência. Porque democracia e liberdade é coisa cada vez mais escassa no país, segundo os santomenses.

O pior é o caminho e os escolhos por que a saga Trovoada/Evaristo Carvalho estão a levar o país. De golpada em golpada… Se ainda não é ditadura “democrática” para lá caminha. O resultado de 7 de Outubro será mais do mesmo? É que também com o candidato presidencial da ADI, Evaristo, a sua eleição suscitou muitas dúvidas. Dúvidas que só na justiça se tornaram mais claras… Talvez. (PG)

MADEM - G15 | Novo partido político na Guiné-Bissau?

À atenção da malta reunida em Congresso constituinte do “Movimento para a Alternância Democrática – Grupo 15 (MADEM – G 15)”

Abdulai Keita* | opinião

O “MADEM – G15”, pelo tudo que o autor deste texto tem vindo a registar desde a aparição deste desígnio na nossa praça pública no dia 09 de Junho deste corrente ano de 2018, ainda não ficou claro do que é que se trata. De uma agremiação política, cujos líderes se tornam profissionais políticos (portanto, um Partido político com todos os pontos e vírgulas); ou de uma agremiação política, cujos líderes não visam, senão influenciar o poder político implantado, sem contudo pretenderem participar diretamente no seu exercício (neste caso, organizações sociopolíticas, culturais, religiosas etc…).

Espero que, sobretudo, os estatutos, ou ainda (eventualmente) o programa, resoluções ou moção estratégica daquele que será eleito como o futuro líder deste ainda não claramente definido conjunto de gente, que sairão deste Congresso, tragam agora elementos precisos de esclarecimento neste ponto à opinião pública nacional e internacional.

Mas seja como for, Partido ou simples Associação e/ou Organização sociopolítica etc., a entidade resultante deste reunido Congresso constituinte será sempre manchada de ter-se resultado de um ato político de traição. Mais precisamente, ato político de indisciplina, do desrespeito das normas estatutárias partidárias e de traição; e não de dissidência política normal. Ato posto ao mundo com todas as engenharias neste sentido, tempos antes e, tendo-se apresentado ao mundo bissau-guineense no dia 23 de Dezembro de 2015 nos recintos da ANP.

O autor do presente texto está já neste momento com muita ansiedade e bem preparado de vir suster esta tese, se oportunidade houver, com todo o rigor das artes da Sociologia política (área dos estudos de relações de poder no quadro do exercício democrático nos regimes da Democracia Parlamentar Representativa e de Estado de Direito) – um caso observado na Guiné-Bissau para o tal efeito.

Do resto, e agora aqui fala o autor do presente texto, vestido da capa de um intelectual engajado e militante de convicção de longa data do PAIGC. Um, tendo sido atacado com mais de cinco centenas dos seus camaradas, com gás lacrimogénio, pela primeira vez na sua vida, na falhada tentativa da invasão da Sede Nacional deste Partido, em Bissau, nos dias 29 a noite, 30 o dia inteiro e 31 de manhã, de Janeiro último. Invasão perpetrada a mando da gente do conluiado dos destacados elementos desta malta agora reunida em Congresso constituinte. Executada nestes referidos dias, tempo antes da abertura solene do findo IX Congresso desta formação, por umas ditas “forças de ordem”. Com o propósito de sabotar a realização deste. O IX Congresso, que todavia e não obstante, realizar-se ia depois com grande sucesso, entre os dias 31.01 e 06.02.2018.

O autor fala agora aqui nesta sua indicada qualidade, para transmitir aos reunidos neste Congresso constituinte do dito “MADEM – G 15” estas palavras de três “ÔMI GARANDIS” bissau-guineenses, bem conhecedores do PAIGC (um está ainda de vida); da coragem, abnegação e combatividade deste Partido. Palavras exprimidas assim:

“Pa tudo kin ku randja projeto di bin kombati, derrota, ô mesmu, kaba ku PAIGC… Y tem ku sibi três kussas:

PAIGC y  «Rassa-Banana». Si bu kortal, y lanta mas.
PAIGC y  «Rassa-Tcheben». Si bu kai riba di el, bu mufuna. Si y kai riba di bô, bu mufuna.
PAIGC kansadu panta. Pabia, si bu pantal, bu forsa di pantal pul y pintcha fora… Si y rabida y pantau, bu ta kume kil fora.

Kin ku ka sibi, ô y diskissi tudu ês, pa y ba punta Spínola, ô restu di si rapassis di Guiné ki stá inda di vida (Galvão kila stá dja na inferno). Ô, djintis di PRID (kilis ki sobra inda na kil ladu) “.

Uns bons dias ou umas boas horas de trabalho ainda, a todos, no vosso Congresso.

Obrigado.

Pelo bem da nossa Guiné-Bissau do POVO BOM.
Que reine o bom senso.  
Amizade.
A. Keita.

Guiné-Bissau saúda contribuição do Congo para resolver crise política


O chefe da diplomacia de Bissau levou a Brazzaville uma mensagem de agradecimento pela cooperação congolesa.

O chefe da diplomacia da Guiné-Bissau, João Ribeiro Butiam Co, saudou sexta-feira, em Brazzaville, a contribuição do presidente congolês, Denis Sassou Nguesso, na resolução da crise política no seu país, de acordo com a agência Panapress.

“Agradeço muito ao Presidente Denis Sassou Nguesso pelos seus esforços com vista à estabilização da situação política no nosso país e especialmente para a ajuda prestada ao povo da Guiné-Bissau na luta contra libertação da colonização”, declarou João Ribeiro Butiam Co, portador de uma mensagem do Presidente Jose Mário Vaz ao seu homólogo congolês.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, que saudou o envolvimento do Congo na resolução da crise política que o seu país experimentou, informou ainda o chefe de Estado congolês da evolução positiva da situação política no seu país que se prepara para organizar as eleições legislativas.

África 21 Digital

Líder do PAICV acusa Governo de Cabo Verde de funcionar com base em propaganda


Janira Almada diz que o que o Governo leva ao Parlamento não corresponde àquilo que se tem visto no terreno.

A presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV – oposição), Janira Hopffer Almada, acusou o Governo de funcionar com base em propaganda e de não fazer sentir às pessoas os resultados anunciados.

“O que o Governo propala e leva ao Parlamento não corresponde àquilo que nós temos visto no terreno” disse Janira Hopffer Almada exemplificando com o caso do presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande que, conforme disse, tem vindo “a propalar que o Governo está a mandar muito mais dinheiro, que há muito mais recursos, mas esses recursos não são sentidos no terreno”.

“Não há mais emprego, não há mais saúde, não há mais educação, não há mais rendimentos e não há mais oportunidades para as famílias” afirmou Janira Hopffer Almada, considerando que se há mais dinheiro e mais crescimento, “é caso para perguntar para onde é que esse crescimento tem ido que não chega àqueles que mais precisam”.

Janira Almada: “O que mais se ouve são queixas”

A líder do maior partido da oposição considera que “se o país cresce, o normal seria que as pessoas sentissem que o país está a melhorar”, mas, afiança Janira Hopffer Almada, “o que mais se ouve são queixas, desânimo, desesperança e apelo para que o Governo comece a trabalhar com foco e ajudando as pessoas”.

Janira Hopffer Almada pediu aos Órgãos de Comunicação Social que auscultem as pessoas no mundo rural “para poderem testemunhar, efectivamente, qual é a situação”.

Hoje, a líder do PAICV e a delegação que a acompanha, integrada pelos deputados Vera Almeida, Julião Varela e Manuel Inocêncio Sousa, dedicam o dia ao concelho do Porto Novo, com visitas programadas para as localidades de Sul, Bolona e Chã de Feijoal, depois de se encontrarem com as populações de Corda e Esponjeiro e com as “forças vivas”, na cidade do Porto Novo.

África 21 Digital com Inforpress

Foto: Inforpress

DECADÊNCIA DOS EUA À VISTA


Chomsky vê a decadência dos EUA além de Trump

Bufão e desastrado, presidente é apenas um sintoma. Poder geopolítico de Washington declina, sistema político está em frangalhos e democratas investem em tola perseguição aos russos…

Entrevista a C.J. Polychroniou, no Truthout | em Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho

Depois de 18 meses com Trump na Casa Branca, a política norte-americana encontra-se numa encruzilhada. Os Estados Unidos adotaram, inequivocamente, uma nova forma de fascismo que serve aos militares e aos interesses corporativos, enquanto promovem, ao mesmo tempo, uma agenda social altamente reacionária, impregnada de conotações nacionalistas violentas e religiosas, tudo com um sinistro toque de encenação política. Nesta entrevista exclusiva à Truthout, o intelectual e linguista mundialmente renomado Noam Comsky analisa alguns dos últimos acontecimentos nos EUA e suas consequências para a democracia e a ordem mundial.

Gostaria de começar perguntando qual é a sua leitura do que aconteceu no encontro entre Trump e Kim Jong-Un, em Singapura, e o modo como esse evento foi coberto pela mídia dos EUA

Faz lembrar Sherlock Holmes e o cachorro que não latia. O importante foi o que não aconteceu. Ao contrário de seus antecessores, Trump não minou as perspectivas de avançar. Especificamente, não interrompeu o processo iniciado pelas duas Coreias em sua histórica Declaração de 27 de abril [Panmunjom], na qual elas “afirmaram o princípio de determinação do destino da nação coreana conforme seu próprio acordo” (repito: conforme seu próprio acordo), e pela primeira vez apresentaram um programa detalhado sobre como proceder. Trump tem um crédito por não minar esses esforços, e na verdade ele fez um movimento para facilitá-los ao cancelar as manobras militares EUA-Coreia do Sul, as quais, como disse ele com razão, são “muito provocadoras”. Nós com certeza não toleraríamos nada semelhante em nossas fronteiras – e em lugar algum do planeta – mesmo que eles não fossem feitos por uma superpotência que há não muito tempo tivesse devastado completamente nosso país com os pretextos mais frágeis, depois da guerra já ter efetivamente terminado, orgulhando-se dos grandes crimes de guerra que cometeu, como o bombardeio de grandes barragens, quando que não havia mais nada para bombardear.

Além do mérito de deixar as coisas prosseguirem, que não foi pequeno, nenhuma “habilidade diplomática” esteve envolvida no triunfo de Trump. A cobertura foi bastante instrutiva, em parte por causa dos esforços do Partido Democratas, para atacar Trump pela direita.

Depois de meses de retórica dura contra as práticas comerciais chinesas, Trump decidiu impor tarifas de 50 bilhões de dólares nas importações da China, levando Pequim a declarar que os EUA embarcaram numa guerra comercial e a anunciar que fará uma retaliação contra as importações norte-americanas. Primeiro, não é verdade que a China está hoje meramente praticando o mesmo tipo de políticas mercantis que os EUA e a Grã Bretanha praticaram no passado, no seu caminho para a ascendência global? Segundo, há expectativa de que mirar nas tarifas terá algum impacto na economia chinesa ou no tamanho do déficit comercial dos EUA? Finalmente, se uma nova era de protecionismo está para começar, quais poderiam ser as consequências desse fato para o reino do neoliberalismo global?

Quanto às políticas econômicas da China, sim, elas são semelhantes àquelas que foram usadas pelas sociedades desenvolvidas em geral, a começar pela Grã Bretanha e depois por sua ex-colônia norte-americana. Semelhante, porém mais limitada. A China não tem disponíveis os meios de seus predecessores. A Grã Bretanha roubou tecnologia superior à sua da Índia, Países Baixos, Irlanda e, por força de severo protecionismo, minou a economia indiana — então, a mais avançada do mundo, junto com a da China. Os Estados Unidos, sob o sistema hamiltoniano, recorreram a altas tarifas para barrar os produtos britânicos, e também apropriaram-se de tecnologia britânica de formas proibidas pelo atual sistema de comércio global liderado pelos EUA. O historiador de economia Paul Bairoch descreve os EUA como “o país-mãe e bastião do protecionismo” nos anos 1920 — bem depois de se tornarem, de longe, o país mais rico do mundo.

A prática é em geral chamada “chutar a escada” pelos historiadores de economia. Primeiro, os países usam ceras práticas para desenvolver-se; depois, impedem que os outros façam o mesmo.

(…)
Como fez, antes deles, a Grã Bretanha, os EUA passaram a reivindicar “livre comércio”, mais tarde, quando observaram que a tendência natural era tornarem-se predominantes. Depois da Segunda Guerra Mundial, quando os EUA tinham um poder incomparável, eles promoveram a “ordem mundial liberal”, a qual tem sido de enorme vantagem para o sistema corporativo dos EUA, que agora possui cerca de metade da economia global – um sucesso político espantoso.

De novo seguindo o modelo britânico, os EUA firmaram seu compromisso com o “livre comércio” em favor do poder privado doméstico. O “livre comércio” dominado pela Grã Bretanha manteve a Índia como um protetorado em grande parte fechado. Os sistema dominado pelos EUA impõe um mecanismo de patentes radical (“propriedade intelectual”), que proporciona um poder virtualmente monopolista às maiores empresas norte-americanas. O governo dos EUA fornece também enormes subsídios a indústrias de energia, ao agronegócio e a instituições financeiras. Embora os EUA reclamem da política industrial chinesa, foi crucial para a indústria moderna de alta tecnologia contar com pesquisa e desenvolvimento feitos com subsídios públicos, a tal ponto que a economia pode ser considerada como um sistema de subsídios públicos e lucros privados. E há muitos outros mecanismos para subsidiar a indústria. As compras governamentais, por exemplo, têm se mostrado poderosas. Na verdade, só o enorme sistema militar, através de aquisições, oferece um gigantesco subsídio estatal à indústria. Esses comentários apenas tocam a superfície do problema.

(…)
O governo Trump está agindo muito rápido para reprimir a imigração não autorizada no país, ao separar crianças imigrantes de seus pais. Mais de duas mil crianças viveram este drama nas últimas sete semanas, e o Procurador Geral Jeff Sessions tentou justificar esta política citando um verso da Bíblia. O que se pode dizer de uma sociedade ocidental avançada em que a religião continua a banir a razão na construção de políticas e atitudes públicas? E não é verdade que os nazistas, embora não fossem crentes, também usaram o cristianismo para justificar seus atos criminosos e imorais?

A política migratória dos EUA, sempre grotesca, desceu a níveis tão revoltantes que até mesmo muitos daqueles que promovem e exploram a xenofobia estão correndo para se proteger – como Trump, que está tentando desesperadamente culpar os democratas por ela, e a primeira-dama, que está apelando para que “ambos os lados” se unam para acabar com a obscenidade. Não deveríamos, contudo, negligenciar o fato de que a Europa está rastejando na mesma sarjeta.

Pode-se citar as escrituras para quase qualquer coisa que se queira. Sabe-se, sem dúvida, que “toda a lei” se baseia em dois mandamentos: amar a Deus e “amar ao próximo como a si mesmo”. Mas esse não é o pensamento apropriado à ocasião. É verdade, contudo, que, desde que os puritanos desembarcaram, os EUA são únicos, entre as sociedades desenvolvidas, no papel desempenhado pela religião na vida social.

Embora esteja claro que os EUA estão a caminho de se tornar uma nação pária, os democratas continuam a concentrar sua atenção principalmente no suposto conluio de Trump com a Rússia e comportamento antiético. Ao mesmo tempo, tentam ultrapassar o presidente na agenda chauvinista, adotando novas restrições para as eleições de 2020 de modo a sabotar o apoio a Bernie Sanders. Diante disso, como você descreveria a natureza da política contemporânea dos EUA?

Assim como na Europa, nos Estados Unidos as políticas de centro, que predominam há muito, estão em decadência. As razões não são obscuras. As pessoas que enfrentaram os rigores do assalto neoliberal – austeridade, na recente versão europeia – percebem que as instituições estão trabalhando para poucos, não para si. Nos EUA, as pessoas não precisam ler ciência política acadêmica para saber que uma grande maioria, aqueles que não estão próximos do alto da pirâmide de renda, estão efetivamente marginalizados, no sentido de que seus próprios representantes prestam pouca atenção às suas opiniões, dando ouvidos, ao contrário, às vozes dos ricos, à classe dos doadores. Na Europa, qualquer um pode ver que as decisões básicas são tomadas pela não eleita Troika, em Bruxelas, com os bancos do Norte espreitando por cima de seus ombros.

Nos EUA, há muito tempo o respeito pelo Congresso está num só dígito. Nas recentes primárias republicanas, quando os candidatos emergiram da base, o establishment conseguiu derrotá-los e nomear seu próprio candidato. Em 2016, isso falhou pela primeira vez. É verdade que não escapa muito da norma um bilionário com enorme apoio da mídia e fundos de campanha de quase um bilhão de dólares vencer uma eleição, mas Trump dificilmente seria a escolha das elites republicanas. O resultado mais espetacular dessas eleições não foi o fenômeno Trump. Foi, sim, o extraordinário sucesso de Bernie Sanders, rompendo drasticamente com a história política dos EUA. Sem o apoio das grandes corporações ou da mídia, Sanders bem poderia ter vencido a nomeação democrata, não fosse pelas maquinações dos dirigentes do partido de Obama-Clinton. Processos similares são visíveis nas recentes eleições europeias.

Goste-se ou não, Trump está indo bastante bem. Tem o apoio de 83% dos republicanos, algo sem precedentes a não ser em raros momentos. Quaisquer que sejam seus sentimentos, os republicanos não ousam contrariá-lo abertamente. Seu apoio geral de aproximadamente 40% não está longe da norma, mais ou menos como o de Obama em seu primeiro mandato. Ele tem sido pródigo em presentear o mundo dos negócios e os super-ricos, o autêntico eleitorado republicano (a liderança democrata não fica muito atrás). Jogou migalhas suficientes para manter os evangélicos felizes e tocou os acordes certos para os partidários do supremacismo branco. Até agora tem conseguido convencer os mineiros do carvão e os trabalhadores do aço de que é um deles. Na verdade, seu apoio entre trabalhadores sindicalizados aumentou para 51%.

Quase não há dúvidas de que Trump não dá a mínima importância ao destino do país ou do mundo. “O que importa sou eu”. Isso fica suficientemente claro por sua atitude em relação ao aquecimento global. Ele está perfeitamente consciente da terrível ameaça – às suas propriedades. Seu pedido de um paredão para proteger seu campo de golfe irlandês baseia-se explicitamente na ameaça do aquecimento global. Mas a busca pelo poder o impele a conduzir a corrida à destruição, bastante feliz, como fica evidente em suas aparições. O mesmo acontece com outras ameaças sérias, embora menores, entre elas a de que o país possa ficar isolado, desprezado, decadente – com dívidas a pagar que não serão mais de sua conta.

Os democratas estão agora divididos entre uma base popular de maioria social democrata e uma liderança dos Novos Democratas, que cede à classe dos doadores. Sob Obama, o partido foi reduzido a ruínas nos níveis local e estadual, uma questão particularmente séria porque as eleições de 2020 determinarão o redistritamento, oferecendo oportunidade ainda além da escandalosa situação de hoje para manipulações.

A falência da elite democrata é bem ilustrada pela obsessão com a suposta intromissão russa em nossas sagradas eleições. Qualquer que tenha sido – aparentemente muito pequena –, ela não pode ser comparada a “intromissão” dos fundos de campanha, que determinam os resultados eleitorais amplamente, de modo tão extenso quanto demonstraram as pesquisas, particularmente o cuidadoso trabalho de Thomas Ferguson – que ele e seus colegas estenderam agora para as eleições de 2016. Como aponta Ferguson, quando as elites republicanas se deram conta de que ia dar Trump ou Hillary, elas responderam com uma enorme onda de dinheiro de última hora, o que não só levou Hillary a cair no fim de outubro como teve também o mesmo efeito nos candidatos democratas para o Senado, numa “manobra de bloqueio”, virtualmente. É “estranho”, observa Ferguson, que o ex-diretor do FBI James Comey ou os russos “pudessem ser responsabilizados por ambos os colapsos” nos estágios finais da campanha: “Pela primeira vez em toda a história dos Estados Unidos, o resultado partidário das eleições para o Senado coincidiu perfeitamente com os resultados da votação presidencial em todos os estados.” O resultado está exatamente conforme a bem fundamentada “teoria do investimento da competição partidária” de Ferguson.

Mas fatos e lógica pouco importam. Os democratas estão empenhados em vingar-se pela derrota de 2016, tendo executado uma campanha tão podre que uma vitória que parecia “certa” escorreu entre os dedos. Evidentemente, o implacável ataque de Trump contra o bem comum é de interesse secundário, ao menos para a elite do partido.

Às vezes observa-se que os EUA não somente se intrometem, com regularidade, em eleições estrangeiras, inclusive russas, como também agem para subverter, e às vezes derrubar governos de que não gostam. Não faltam até agora consequências terríveis, da América Central ao Oriente Médio. A Guatemala tem sido uma história de horror desde que o golpe apoiado pelos EUA derrubou um governo reformista eleito em 1954. Gaza, mergulhada na miséria, pode tornar-se inviável para viver em 2020, prevê a ONU — e não pela mão de Deus.. Em 2006, os palestinos cometeram um crime grave: promoveram as primeiras eleições livres no mundo árabe, e fizeram a escolha “errada”, entregando o poder ao Hamas. Israel reagiu com a escalada da violência e um cerco brutal. Os EUA retrocederam a uma operação de procedimentos padão e prepararam um golpe militar, programado para derrubar o Hamas. Em punição por mais este crime, aumentou muito a tortura de Gaza perpetrada por Israel-EUA, não apenas pelo estrangulamento como também pelos assassinatos regulares e invasões destruidoras feitas por Israel com o apoio dos EUA, sob pretextos que não resistem a qualquer exame. Eleições com resultado errado não podem obviamente ser toleradas sob nossa política de “promoção da democracia”.

Nas recentes eleições europeias houve muita preocupação com a possível intromissão russa. Isso foi particularmente verdadeiro nas eleições alemãs de 2017, quando o partido de extrema direita Alternative für Deutschland (AfD) saiu-se surpreendemente bem, ao conquistar, pela primeira vez na História 94 assentos no Parlamento (Bundestag). Pode-se imaginar facilmente a reação, no caso de descobrir-se intromissão russa por trás desses resultados assustadores. Ocorre que foi, sim, descoberta intromissão estrangeira, mas não da Rússia. A AfD contratou uma empresa de mídia texana (Harris Media), conhecida pelo apoio a candidatos nacionalistas de direita (Trump, Le Pen, Netanyahu). A empresa está entre as que cooperam com o escritório de Berlim do Facebook, oferecendo informação detalhada sobre eleitores potenciais para uso em microabordagem daqueles que poderiam ser receptivos à mensagem da AfD. Pode ter funcionado. A história parece ter sido ignorada fora da imprensa econômica.

Se o Partido Democrata não puder superar seus profundos problemas internos e a lenta expansão da economia sob os governos Obama e Trump continuar sem interrupção ou desastre, um bola de demolição republicana pode estar balançando as fundações de uma sociedade decente, e as perspectivas de sobrevivência, por um longo tempo.

A história repete-se | O nazi-fascismo já marcha de botas cardadas na Europa


O nazi-fascismo marcha agora contra os refugiados. Até à próxima etapa, em que os visados seremos quase todos nós. Pé ante pé os sucessores de Hitler vão denunciando-se. Por agora chamam-lhe populismo ou neopopulistas mas observando a realidade das suas intenções e políticas a denominação é outra.

Carlos Tadeu, Setúbal

Populistas ou nazis? As duas coisas? Qual a diferença? Estas são questões que estão na ordem do dia. E a que a média habitual e do sistema, assim como muitos dos políticos dos vários quadrantes, apelida de populistas, nunca referindo que o populismo é a antecâmara do nazismo. Foi assim com Hitler e é assim com todos os que têm por religião e por ideologia o fascismo, o nazismo. Convém chamar os bois pelos nomes, neste caso os nazis por aqui que representaram e representam.

Por todo o mundo os nazis crescem e já estão instalados nos poderes de muitos países. Na Europa de Leste, países que até pertencem à União Europeia, está provado que os nazis já marcham com as suas botas cardadas. Mesmo no centro da Europa vimos nazis a reivindicarem semelhanças de medidas que em tempos os nazis praticaram. Uma certa direita radical europeia, até agora com falsas vestes democráticas, expande-se por toda a Europa, mais visível em países do leste europeu, vizinhos da Rússia mas seus antagónicos. Uns da UE, outros nem por isso, mas com dirigentes nazis disfarçados de democratas.

Na cimeira da UE, acerca dos refugiados, foi o que vimos. E vimos resultados em que a desumanidade é preponderante. Cedências inadmissíveis a nazis que representam Itália ou a Áustria. Até mesmo alemães. Todos eles andam por aí e muitos sentam-se em cadeiras da UE. O nazi-fascismo está instalado e em cargos de relevo em praticamente todos os pelouros da União Europeia. E crescem. Multiplicam-se como ninhadas de ratazanas. O perigo nazi reinstala-se na Europa nas barbas das populações dos países que a integram, escolhidos por uns quantos. Nada está a ser feito para deter a avalanche. A democracia vai cedendo espaço ao seu gigantesco inimigo.

Considerar de alarmismo a denúncia de tal facto é o que muitos encontram de mais fácil. E assim poderá vir a acontecer até que o nazi-fascismo puro e duro seja assumido pelos que agora se aproveitam dos valores democráticos – cada vez mais limitados – que os europeus consideram ainda vigorar nos Estados em que residem, onde vivem e cada vez pior sobrevivem. 

Não aceitar a realidade e não defender os valores da liberdade e da democracia tem sido próprio da cobardia dos povos. O que vale é que dessa mole imensa de cobardes também existem os que se revelam autênticos lutadores e heróis para vencerem o nazi-fascismo passado alguns anos. Só que enquanto tal não acontece, enquanto o humanismo, a liberdade e a democracia não é reinstalada, muitos milhões sofrem, são enclausurados ou são assassinados. A história repete-se mas a humanidade refugia-se na negação e no esquecimento, na cobardia. Os indícios e a realidade são demasiado evidentes.

Merkel e ministro do Interior chegam a acordo sobre refugiados


Após reunião em Berlim, chanceler federal e Seehofer anunciam entendimento sobre questão migratória, aliviando a crise que ameaçava derrubar o governo. Ministro, que chegou a oferecer renúncia, diz que ficará no cargo.

O atual ministro alemão do Interior e líder do partido União Social Cristã (CSU), Horst Seehofer, anunciou na noite desta segunda-feira (02/07) que chegou a um acordo com a chanceler federal Angela Merkel sobre a questão migratória e, portanto, se manterá em ambos os cargos.

O anúncio foi feito em coletiva de imprensa após uma reunião em Berlim entre os líderes dos dois partidos irmãos, tida como o último ato de uma queda de braço que vinha se estendendo há duas semanas e ameaçava derrubar o governo. Na véspera, Seehofer chegou a oferecer sua renúncia.

"Após intensas negociações entre a CDU [União Social Cristã, de Merkel] e a CSU, chegamos a um acordo sobre como podemos, no futuro, evitar a imigração ilegal na fronteira entre a Alemanha e a Áustria", disse Seehofer ao deixar a sede da CDU. "Ficou provado, mais uma vez, que vale a pena lutar por uma convicção."

A chefe de governo, por sua vez, também disse estar satisfeita com as negociações. Segundo ela, os dois partidos – que formam há décadas uma única bancada parlamentar – chegaram a um "acordo realmente bom" depois de um "duro impasse".

"Com o acordo, respeitamos o verdadeiro espírito de colaboração que reina na União Europeia e, ao mesmo tempo, damos um passo decisivo para o controle da migração secundária", disse Merkel, referindo-se aos casos em que um requerente vem de um outro país do bloco europeu. "É exatamente isso que me pareceu e me parece mais importante."

Durante as negociações, Merkel e Seehofer concordaram em estabelecer um "novo regime na fronteira" entre Alemanha e Áustria, que inclui a criação de centros de trânsito, onde seriam alocados os requerentes de refúgio que já estão registrados em outros países da UE.

Esses centros seriam edifícios controlados, de onde os migrantes não poderiam sair até que sua situação seja resolvida e seja decidido se eles podem ou não ficar na Alemanha. Em caso de negativa, os refugiados seriam transportados dali mesmo em direção ao país europeu por onde entraram.

O compromisso satisfaz ambas as partes, evitando a renúncia de Seehofer e, ao mesmo tempo, a maior crise dos quase 13 anos da era Merkel, que vinha mantendo a classe política em suspense.

Partidos reagem à crise

Ainda não está claro se o Partido Social-Democrata (SPD), o terceiro da coalizão governista, aceitará o acordo. Após a reunião na sede da CDU em Berlim, os líderes se dirigiram para a chancelaria federal para um encontro com representantes social-democratas.

Mais cedo, a presidente do SPD, Andrea Nahles, havia rejeitado o "plano mestre" sobre imigração de Seehofer, afirmando que sua legenda se manterá firme com o que determina o acordo de coalizão fechado com o bloco conservador.

Nahles, ao comentar sobre a crise em Berlim em coletiva de imprensa, a descreveu como um "drama implacável". "Minha paciência está ficando cada vez menor", afirmou.

A maioria dos partidos da oposição também disse reprovar a crise em torno do governo. A líder da bancada da sigla A Esquerda no Parlamento, Sahra Wagenknecht, afirmou que projetos importantes, como a criação de empregos seguros, estão sendo deixados de lado.

A populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), por outro lado, demonstrou satisfação com o impasse. "Eles [CDU e CSU] estão ocupados com eles mesmo – e isso pode ser atribuído a nós. Agora você vê como vai a caça. Nós estamos caçando", disse Alice Weidel, líder da bancada.

A declaração da parlamentar se referia a um comentário do copresidente da AfD, Alexander Gauland, na noite das eleições alemãs, em setembro de 2017, quando afirmara que seu partido "caçaria" o governo federal.

A guinada mais à direita no discurso de Seehofer e de sua CSU se deve também a uma questão interna: o partido perdeu espaço na Baviera para a AfD, abertamente anti-imigração, e teme encolher ainda mais se não adotar mudanças em sua política.

Impasse sobre migração

Seehofer, um veterano político bávaro, defende uma abordagem mais dura e mais independente de Bruxelas na questão migratória, em confronto direto com Merkel. No domingo, ele ameaçou renunciar, colocando em dúvida a sobrevivência do governo. 

"Não me deixarei dispensar por uma chanceler que só é chanceler por minha causa", disse o ministro do Interior nesta segunda-feira, antes da reunião com Merkel, ao jornal Die Süddeutsche Zeitung.

Isso porque, sem a CSU, a líder alemã não teria mais maioria no Parlamento para governar – a CDU depende de sua aliada bávara para manter o poder na coalizão que também inclui o SPD. A possibilidade de novas eleições não estava descartada.

Seehofer criticara os resultados obtidos por Merkel na cúpula da União Europeia, na semana passada, afirmando não terem o mesmo efeito das medidas internas defendidas por ele para impedir a chegada de requerentes de refúgio à Alemanha.

Segundo o ministro, as propostas no nível da UE são menos eficazes do que o controle de fronteiras e a rejeição de requerentes de refúgio já cadastrados em outros países europeus, duas medidas que ele defende e que estão na origem da crise dentro do governo alemão.

As últimas duas semanas confirmaram, assim, o desgaste de Merkel, desde 2015 assombrada pela questão migratória. A crise em Berlim é o mais recente sinal de divisão na União Europeia sobre como lidar com a chegada de refugiados

Ainda que tenha caído drasticamente nos último anos, o fluxo migratório continua a dar combustível a populistas de direita na Europa, que ganham terreno do establishment político.

EK/afp/dpa/efe/dw | Deutsche Welle

Na foto: Merkel e o nazi Seehofer, ministro do interior da Alemanha

União Europeia se entrega à pressão dos populistas


Sem muita resistência, bloco se curva à vontade de Salvini, Kurz e Orbán e decide fechar suas fronteiras para refugiados. CSU deveria pensar melhor nos riscos do que está fazendo, opina a correspondente Barbara Wesel.

Se o resultado da cúpula vai ou não vai salvar o mandato da chanceler federal alemã não foi decidido em Bruxelas – os neopopulistas de Munique é que terão agora de quebrar a cabeça com isso. Todo mundo sabe que essa briga pelo poder encenada em Berlim não tem nada que ver com os fatos sobre a atual migração para a União Europeia (UE). É, na verdade, uma insolência como um punhado de bávaros megalômanos tenta tomar refém a União Europeia e manipulá-la para tomar o poder da ala mais liberal do conservadorismo alemão, liderada por Merkel.

O destino quis que justamente a Áustria assumisse a presidência temporária da União Europeia pelos próximos seis meses. O chanceler Sebastian Kurz agarra com entusiasmo essa chance de dar uma guinada à direita dentro da União Europeia, a mesma que os conservadores, liderados por ele, já deram em Viena, por meio da aliança com a extrema direita do FPÖ. Esta se apresenta em íntima aliança com a Liga na Itália, onde Matteo Salvini se vê como o nove Duce, na sucessão direta de Mussolini, e eleva a misantropia a uma nova forma de arte.

E este novo eixo de extrema direita está unido em amizade também com o húngaro Viktor Orbán, o pai das campanhas difamatórias, dos discursos de ódio e do populismo desenfreado na Europa. A receita dele: basta repetir várias vezes que estrangeiros e migrantes são o inimigo para que as pessoas passem a acreditar nisso. E, na Hungria, isso funciona às maravilhas.

A CSU já parou para pensar que tipo de pregadores de ódio e demagogos ela está imitando? Será que todos esses bávaros faltaram nas aulas de história ou não entenderam os mecanismos com os quais se estabelece o autoritarismo e se destrói as estruturas democráticas? Isso é um atestado de ignorância política, ainda mais para alemães!

O complicado sistema chamado União Europeia é um produto da democracia liberal na Europa. Ele se baseia em direitos e deveres equitativos dos Estados-membros, no espírito de cooperação e de solidariedade, esta uma qualidade que praticamente já virou palavrão. O slogan "A Itália em primeiro lugar", porém, como ele é repetido pelo novo governo em Roma, é o ressurgimento do nacionalismo egoísta, um veneno mortal para a Europa. Ou vale o sistema da busca de compromissos, do equilíbrio e do interesse conjunto, ou vale o benefício próprio nacional. Os dois ao mesmo tempo não dá.

No momento parece que o novo nacionalismo está em alta. Mas a assombrosa miopia de seu defensores faz com que eles estejam cortando o galho sobre o qual todos nós estamos sentados. Orbán só consegue criar sua autocracia particular na Hungria porque está sentado sobre os bilhões que vêm de Bruxelas. Se ele ajudar a destruir a União Europeia, vai cair como um pino de boliche.

Ao longo de décadas, a União Europeia assegurou liberdade, bem-estar e paz para todos nós. Quão cegos precisam ser esses conservadores da Baviera para ignorar que eles – junto com o norte da Itália – se tornaram uma das regiões mais ricas do mundo principalmente por causa da União Europeia? Só o fechamento das fronteiras dentro do espaço de Schengen custará bilhões em curto espaço de tempo. E tudo isso por causa de uma histeria ideológica que transforma os migrantes no pior de todos os males.

E onde ficam, por falar nisso, os valores humanitários? E os chamados valores cristãos? Em vez de dependurar cruzes em repartições públicas, os bávaros deveriam cultivar a virtude da compaixão. Mas a única que ainda ousa falar, cuidadosamente, em direitos humanos, é Angela Merkel. Infelizmente quase ninguém mais dá ouvidos a ela.

Sem oferecer grande resistência, a União Europeia se entrega à pressão dos populistas. E deixa de lado seus verdadeiros problemas: a ameaçadora desmontagem da Otan, a guerra comercial com Donald Trump, as regiões e populações negligenciadas, a economia digital – não faltam coisas a fazer! Mas tudo indica que os democratas na Europa deixaram escapar a hora certa de resistir. Merkel está enfraquecida, Emmanuel Macron faz apenas cálculos de poder e, de um modo geral, falta o contrapeso político para defender o núcleo da Europa.

E justamente os conservadores da Baviera contribuem fortemente para essa situação desoladora. Porém, se a CSU, em meio à sua tentativa desesperada de se apresentar como a Liga Sul na Alemanha, der uma olhada nas pesquisas, vai ficar preocupada. Seus líderes, Horst Seehofer e Markus Söder, estão em queda livre. Um europeu convicto não tem outra opção que não seja desejar a eles que caiam ainda mais.

Barbara Wesel (as) | Deutsche Welle | opinião
Na foto: Chanceler austríaco, Sebastian Kurz, assume presidência temporária da UE

A História não se repete?


Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião

A crise migratória em curso é apenas a ponta do icebergue do que se está a passar na Europa. É a face visível de algo a emergir (ou a renascer), que a maioria de nós acreditava nunca defrontar. A recusa em prestar apoio humanitário a homens, mulheres e crianças, fugidos da guerra, fugidos da fome, à procura de uma vida digna, devia fazer corar de vergonha as velhas e novas democracias europeias. Além disso, a recusa de acolhimento contradiz a necessidade de rejuvenescimento de uma Europa envelhecida, sem vontade de contribuir para o aumento da natalidade.

Quando vemos os barcos de socorro das ONG a serem retidos pelas autoridades de Malta, ou a chanceler Merkel a ser chantageada pelo seu ministro do Interior, para não falar já da lei agora aprovada pelo regime húngaro, que condena a prisão quem auxiliar imigrantes ilegais, devemos perguntar: o que está afinal a acontecer nesta Europa construída a pensar no bem comum, seguindo a matriz dos Direitos do Homem, da igualdade, da fraternidade.

Em Itália, o impensável aconteceu. Movimentos populistas e de extrema-direita tomam o poder. E querem lançar raízes, chegar a outras geografias. São eles que estão a condicionar a política europeia, a sua força levou Bruxelas, para salvar a honra, após longas horas de negociação no último Conselho Europeu, a propor a criação de campos de imigrantes em Marrocos.

Matteo Salvini, o ministro do Interior italiano, o mesmo que impediu o acolhimento do navio Aquarius com centenas de imigrantes a bordo, lança agora as sementes para a criação de uma rede europeia de partidos nacionalistas. Basta vento de feição e o fogo propaga. E quando acordarmos, poderá ser tarde para uma reação eficaz contra a barbárie. Dizem, a História é longa e nunca se repete. Pelos sinais que nos chegam, é melhor duvidar da sentença. Talvez seja o momento de se criar uma nova divisa: não deixes que a História se repita.

*Editora-executiva-adjunta

Miudezas, Merkelices, Madonadas e o que mais couber


A imagem acima é de Pablo Picasso e tem por título La crucifixion (1932). Cruxificados é o estado da situação em que a maioria dos humanos se encontra planetáriamente. Imediatamente a seguir disponha do Expresso Curto, sem tirar nem pôr. Abre com os miúdos retidos numa caverna tailandesa. Magrinhos e fartos de esperar por salvação. Que chegou. Agora vai ser difícil saírem dali, trabalho para mais de um mês, dizem. É que as monções estão a infligir com o poder das intempéries habituais por esta época. Dramático será que as cavernas fiquem ainda mais inundadas pelas águas das chuvas torrenciais. Está ali um grande bico-de-obra. É uma questão de tempo e salvam-se todos. Oxalá. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Merkel capitulou mas os miúdos estão todos bem

Rui Gustavo | Expresso

Uma das das regras com mais exceções do jornalismo é que uma boa notícia não é notícia. “Good news, no news.” Eu devia começar pelo pacto que Angela Merkel se viu obrigada a assinar para salvar o Governo na Alemanha, mas há uma notícia melhor: as imagens que hoje vão inundar as televisões e os sites de todo o mundo mostram uns miúdos magrinhos e sorridentes numa caverna escura e húmida iluminada por lanternas de mão.

Os doze jogadores de futebol, com idades entre os 11 e os 16 anos e o seu treinador, de 25, passaram quase dez dias desaparecidos na gruta de Tham Luang, na Tailândia e mobilizaram milhares de pessoas entre militares americanos e britânicos, monges budistas e voluntários do mundo inteiro. Foram encontrados por mergulhadores britânicos e americanos, mas ainda não foram resgatados. Terão sido encurralados pelas chuvas que varreram o país e agora terão de receber um curso rápido de mergulho para conseguir escapar. Mas ainda não se sabe quanto tempo mais terão de passar na gruta. “You are very strong”, resumiu um dos mergulhadores. A prioridade agora é passar comida, água e medicamentos aos rapazes que terão passado nove dias sem comida mas conseguiram, de algum modo, sobreviver. Grande notícia.

Na Alemanha, longos dias de negociação entre a CDU e a CSU, parceiros do Governo, terminaram num acordo que evitou a demissão do ministro do Interior, Horst Seehofer e a queda do executivo. Uma hipótese, que tal como o Expresso Diário explicou, “não deveria satisfazer nenhum democrata”. Uma boa notícia.

Mas não há negociação sem cedência. O facto de ter sido Seehofer, que defende uma política mais restritiva de imigração, a anunciar o acordo e a admitir que estava “muito satisfeito”, não prenunciava nada de bom. E de facto, com um sorriso amarelo, a chanceler Angela Merkel admitia minutos depois que a Alemanha, o país europeu com uma política mais aberta e que mais migrantes recebeu, vai construir centros de asilo na fronteira com a Áustria e devolver aos países de onde vieram os migrantes apanhados em situação ilegal. Ou seja, quase todos. O New York Times diz que a chanceler, a cara e o símbolo da política de tolerância europeia na crise dos migrantes,capitulou e que se está a chegar o fim da era Merkel.

Os próximos tempos e o efeito dominó que a própria Angela Merkel dizia temer dirão se esta previsão é exagerada ou se de facto vêm aí dias ainda piores para quem é obrigado a fugir do próprio país par salvar a vida.

Os miúdos tailandeses salvaram-se e salvaram o dia.

OUTRAS NOTÍCIAS

Lisboa Don’t Preach. Hoje há assembleia municipal em Lisboa e está previsto ataque cerrado à presidência por causa da cedência de 15 lugares de estacionamento à diva pop Madonna, que escolheu a capital portuguesa para passar o outono da vida. Fernando Medina não deverá estar presente e será o número dois, Duarte Cordeiro, a andar na Borderline.

Quando o Expresso noticiou o caso, a Câmara recusou-se a dar detalhes sobre o contrato que ontem, tardiamente, decidiu tornar público. A cantora americana vai pagar 720 euros por mêspor um espaço nas traseiras do Palácio Pombal e só enquanto durarem as obras no Palácio do Ramalhete, onde decidiu morar com os filhos e restante entourage. O jornal Eco fez as contas e concluiu que se fosse um comum mortal, Madonna teria de pagar, no mínimo, mais 255 euros por mês. A opção mais cara chegaria aos 2800 euros mensais. Os vizinhos da rua das Janelas Verdes, ouvidos pela SIC, não compreendem o tratamento de exceção e vão pedir explicações ao presidente. Fernando Medina, Like a Virgin, escondeu o contrato aos vereadores da câmara e tem tentado passar entre os intervalos da trapalhada que criou. A boa notícia é que Madonna continua a postar vídeos da vida em Portugal e a fazer publicidade grátis ao nosso turismo.

Mamie Jihad é a alcunha de uma mulher francesa de 52 anos que em 2011 se converteu ao Islão e decidiu emigrar para a Síria para ir ter com o filho, Tyler Vilus, um emir do Estado islâmico. Christine Rivière foi presa e condenada em 2017 a dez anos de prisão pelo crime de apologia do terrorismo e por ter recrutado jovens para a organização terrorista. A imprensa francesa relatou o julgamento ao detalhe, explicou que a mulher agiu por amor ao filho. Hoje deverá ser conhecida a decisão do tribunal de recurso a que Mamie Jihad recorreu por considerar a pena demasiado alta.

Na edição de 23 de junho do Expresso contámos a história de Catarina Almeida, a portuguesa que foi para a Síria ao encontro do filho Dylan Omar, e acabou presa num campo para refugiados. O filho está numa cadeira de rodas mas escapou com vida. Nenhum dos dois foi ainda acusado ou julgado.

Os professores escreveram uma carta aberta ao Governo apelar a negociações. A falta de acordo por causa do descongelamento das carreiras está a provocar brechas no acordo do PS com o Bloco de Esquerda e o PCP e ainda hoje Jerónimo de Sousa diz ao I que “o mito acabou”. Os professores estão em greve, há serviços mínimos para as avaliações e várias notícias nos jornais de hoje: O JN diz que “maioria dos alunos do 10º e do Básico ainda sem notas”. O Público conta que “nunca houve tão poucos alunos a chumbar no país”, notícia já ontem revelada na edição online do Expresso.

Ainda nas manchetes de hoje, destaque para o Público (que está sem diretor depois da demissão de David Dinis) que noticia o facto de o Fisco abrir “120 processos a bancos por falhas nos dados de offshores”.

Nos desportivos, destaque para a hipótese de Cristiano Ronaldo deixar o Real Madrid para se juntar à Juventus. Seria a primeira experiência do capitão da seleção portuguesa em Itália mas provavelmente a história acabará com renovação do contrato com o Real Madrid.

É verdade que o Mundial perdeu metade da graça desde que Portugal foi eliminado num jogo madrasto contra o Uruguai. Mas continua a ser engraçado. Hoje, há um jogo de “underdogs” entre a Suécia e a Suíça, o penúltimo dos oitavos de final. A organização escandinava (que não parece estar a sentir muito a falta de Zlatan Ibrahimovic, o autoproclamado Deus dos campos) contra uns surpreendentes suíços que têm dado espetáculo muito à conta de jogadores de origem kosovar como Xhaka e Shaquiri. Aposto na Helvécia.

Depois, o desafio entre duas das equipas com melhores jogadores mas poucos títulos: Inglaterra, que apesar da soberba e dos bons jogadores não ganha nada desde 1966 e a Colômbia, que conta com alguns “portugueses” como Falcao e James Rodriguez e não tinha uma equipa tão excitante desde Valderrama e Asprilla. Meto o meu dinheiro nos “cafeteros” .

Ontem, houve duas jogatanas, talvez os melhores jogos desde que o Mundial começou: México Japão deram tudo contra Brasil e Bélgica, mas no final passaram as duas favoritas que têm equipa para levar a taça Jules Rimet para casa. Pelo menos jogam futebol espetáculo. Neymar mostrou o talento para marcar golos e fazer assistências e falta dele para a representação. A Bélgica estava a perder contra 0-2 contra o Japão a vinte minutos do fim mas duas substituições certeira do contestado selecionador Martinez, que é espanhol, deram a vitória àquela equipa que joga muito e não ganha nada. Se quisesse encarnar Zandinga, diria que os belgas são os meus favoritos à vitória. Para já, têm o Brasil pela frente.

FRASES

“Querem negociar? Convoquem-nos. Nós estamos aqui para negociar”
Mário Nogueira, líder da Fenprof, sobre o diferendo com o Governo

“Ao fazer obra no IP3, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”
António Costa, primeiro-ministro, a dar algumas pistas sobre o que os professores podem esperar das negociações para o descongelamento das carreiras

“Somos o alvo a abater”
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, a dar o mote para a nova temporada de futebol.

“A Europa é tão má como a China”
Donald Trump, numa declaração apaziguadora a prpósito da guerra comercial com a Europa

O que ando a ler

“O Bode Expiatório”

Raymond Chandler

Último romance do escritor americano que elevou o policial negro à categoria de literatura - na verdade o último a ser editado foi “A Morte veste de seda” que seria acabado por Robert Parker, já depois da morte de Raymond Chandler – conta mais um caso do detetive privado Philip Marlowe, desta vez a mãos com uma jovem viúva vítima de chantagem. Mais do que um mestre da dedução (engana-se e segue pistas erradas) ou um campeão de ação (são mais as vezes que leva pancada do que o contrário) o detetive imortalizado por Humphrey Bogart no cinema é um cínico que disfarça o facto de ser boa pessoa com humor autodepreciativo. Chandler, que criticava o estilo esquemático de Agatha Christie, prefere pôr as personagens a percorrer bares e motéis de segunda categoria enquanto se atacam umas às outras com balas e palavras. Clássico.

A Princesa de Gelo

Camilla Läckberg

Descrita na capa do livro como a “a nova Agatha Christie que vem do frio” Camilla Läckberg ainda tem de comer algum arenque fumado para lá chegar mas a sua escrita tem a eficácia de um hit dos Abba. Neste policial nórdico (é um estilo) Alexandra Wijkner é encontrada morta na banheira da casa de fim-de-semana. Tem os pulsos cortados e está congelada pelo frio escandinavo. A investigação ao aparente suicídio vem destapar segredos mal escondidos numa cidadezinha feliz e a maestria de Läckberg (era economista e está milionária com os livros que escreve) está na forma como multiplica os pontos de vista e desenvolve as histórias das diferentes personagens. E, tal como Christie, dá as pistas necessárias para resolvermos o caso. No fim pode não ficar grande coisa, mas é impossível parar de ler. Os especialistas chamam a isto um “page turner”.

Por hoje é tudo. Pode continuar a ler boas notícias e notícias boas no Expresso.pt e às seis, no Expresso Diário.

Mais lidas da semana