domingo, 26 de agosto de 2018

Pequena reflexão sobre a guerra e a paz “civis” em pleno século XXI


Martinho Júnior | Luanda

Em plena globalização, acerca da guerra e da paz, quem domina é que utiliza o termo de "civil", pois faz parte do seu carácter e do seu ego, "lavar as mãos como Pilatus", a fim de que os bois que dormem sejam formatados na mentalidade que é de sua conveniência e tão bem lhes serve: assim, época a época, se procura esconder a raiz da barbárie, o seu promotor e beneficiário, confinando e limitando tanto quanto o possível a imagem do seu espectro inibidor!...

No poder dominante ninguém toca, por que segundo faz ele próprio constar, está longe de qualquer “guerra civil”, ou mesmo de qualquer “sociedade civil”!

Paira no éter, num denso abstraccionismo “acima” das cabeças!

Para o poder dominante do império da hegemonia unipolar, só há “guerra civil” e, por tabela, “sociedade civil” para os outros, sejam eles vassalos, subdesenvolvidos ou os das mais recônditas regiões do globo…

Os bois que dormem querem-se a ver a si e ao seu horizonte próximo, só até às montanhas que os cercam, como se fossem contemporâneos camponeses servos da gleba sob o jugo de feudais domínios que se encastelam nos céus, entre as nuvens!

Para os que dominam é extremamente importante atirar para os outros as responsabilidades das guerras (como as responsabilidades da paz em países subdesenvolvidos ou em países vassalos), para melhor provocar suas ingerências e os poder manipular, fazendo crer a todos (e a eles próprios) que nada têm a ver com elas (o segredo é a alma dos negócios), por que a sua posição é "acima" delas, é cultural e ideologicamente indolor, inodora e insípida, mas de forma persuasiva, “democrática” e ideologicamente entranhável!...

Uma parte substancial da guerra psicológica que eles, os 1%, movem contra o resto da humanidade por via do seu "soft power" que tanto tem a ver com o consumo corrente e as novas tecnologias, promove deliberada e “historicamente” a crença das "guerras civis" e das “sociedades civis”!...

… As religiões depois fazem o resto, para apagar as pistas transparentes da verdade e accionarem os dispositivos das alienações, das diversões e também do consumo (conforme se torna tão evidente nos “domesticados” berços familiares em época de comércio natalício)!...

É evidente que assim se dilui por outro lado a fronteira que também na guerra deveria ficar clara, em nome da dignidade e da consciência critica: a fronteira do que pertence à civilização e ao futuro e o que persiste de trevas que advêm da barbárie e do passado, porque todas as guerras, assim como todas as acções de paz, têm um significado cultural entre passado e futuro, entre o que é retrógrado e substantivamente futuro de sustentável progresso!...

Como a luta é um acto cultural, então o poder dominante do império da hegemonia unipolar e capitalismo neoliberal inibe o seu significado, reduzindo-o os conceitos à guerra e paz, à “guerra civil”, ou à “sociedade civil”!

Nesse sentido, por exemplo na África Austral e Central, se pretende apagar a legitimidade, a dignidade, a solidariedade, mas sobretudo o internacionalismo das lutas do movimento de libertação em África, confundindo a sua ética e a sua moral com a subversão savimbiesca, motivada toda ela por interesses transnacionais ávidos de poder, ávidos de matéria-prima e de mão-de-obra barata, que "sopraram" o monstro a partir de fora do continente!...

O Relatório Fowler expõe precisamente essa “chapa”, radiografando o poder por detrás e “acima” da guerra e seus actores locais, sem dar espaço ao conceito de luta!...

Depois da guerra, esvaziando-se o sentido da luta, fica mais fácil a quem domina manipular com a paz, por que também ela se tornou, em função dos seus interesses, na "paz da sociedade civil" e da sociedade de consumo capaz de inibir, conforme o exemplo de Luanda, até os muros das velhas fortalezas coloniais, quando chega a terapêutica do mercado!

O poder dominante, esse contudo, só pode continuar a “lavar as mãos como Pilatus”: está cinicamente longe dos poderes locais e, nos termos de guerra psicológica e de sua notável capacidade “soft power” de lavagem cerebral, estando longe, nada tem a ver com eles!...

Martinho Júnior - Luanda, 24 de Agosto de 2018.

Pintura:
Guerra e Paz, do pintor brasileiro Cândido Portinari; apesar do separador evidente no quadro, na prática do poder dominante do império da hegemonia unipolar esse poder dominante encarrega-se de tornar a fronteira tão fluida, tão nebulosa quanto lhe é possível, a fim de introduzir a paz terapêutica de sua inteira conveniência – http://revistaembarque.com/a-bordo/paris-guerra-e-paz-de-portinari-estreia-com-sucesso/

Espanha | Nazi-fascista Franco expulso do Vale dos Caídos


Franco, ditador em Espanha, foi imerecidamente honrado na morte e sepultado no Vale dos Caídos. Pelo menos lembrem-se de Guernica e dos horrores do bombardeamento da cidade pela aviação alemã, que Franco solicitou a Hitler, assassinando indiscriminadamente centenas de espanhóis, como a foto em cima documenta acerca das boas relações entre aqueles dois horríveis nazi-fascistas, criminosos da humanidade, Franco e Hitler. 

Foi há dois dias que a decisão foi oficializada por decreto: os restos mortais do ditador e criminoso nazi-fascista, Franco, vai ser expulso do Vale dos Caídos, lugar de honra de heróis e personagens relevantes de Espanha. Todos, menos os adulantes do ditador, reconhecem que Franco se manteve até agora no Vale dos Caídos sem merecer. Será expulso e a democracia espanhola sairá reforçada. Passados tantos anos é feita justiça.  (PG)

Decisão de exumar ditador espanhol "torna a democracia mais forte" - Zapatero

O antigo primeiro-ministro socialista espanhol José Luis Rodriguez Zapatero classificou hoje a decisão do governo de exumar os restos de Francisco Franco do Vale dos Caídos de "extraordinariamente positiva", considerando que "torna a democracia mais forte".

A iniciativa de retirar daquele local os restos do ditador "consolida raízes democráticas na sociedade espanhola", pois Franco "está enterrado onde estão tantas vítimas (...) do seu golpe de Estado e da sua ditadura", declarou Zapatero num encontro com militantes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) na ilha de Lanzarote, nas Canárias.

"Um ditador não pode estar num lugar de honra", adiantou.

O decreto que autoriza a exumação de Franco, aprovado no último Conselho de Ministros e publicado no sábado, indica que, a partir de agora, o Vale dos Caídos será um "lugar de comemoração, evocação e homenagem às vítimas" da Guerra Civil onde "só poderão repousar os restos mortais" daqueles que morreram na guerra.

Após a publicação do decreto real, os netos de Franco divulgaram um comunicado, afirmando que não estão disponíveis "sob nenhuma circunstância" para colaborar "ativa ou passivamente" na decisão do governo.

Acrescentam que reservam o direito de esgotar "todos os meios legais" à sua disposição para garantir os seus direitos como "únicos legitimados para decidir o destino dos restos mortais" do seu avô e expressam "confiança nos tribunais e na legislação atual", que consideram ter sido "violada gravemente" pelo texto legal.

PAL (RCR) // VAM

O Médio-Oriente prepara-se para o plano Trump-Kushner


Acabam de ter início no Oriente Médio as grandes movimentações com vista a implementar o Plano Trump-Kushner para a Palestina, qualificado como o «acordo do século».

Sabe-se muitas coisas sobre aspectos deste plano discutidos aqui ou ali, mas quase nada com certeza, excepto que todos os Palestinos deveriam obter uma nacionalidade (portanto, não seriam mais refugiados). O plano seria baseado, não no Direito e na Justiça, mas sobre as realidades no terreno, para pôr fim a um conflito inextricável de 70 anos.

É indispensável para a Casa Branca assegurar-se que nenhum dos inúmeros protagonistas dos conflitos regionais irá entravar a solução imaginada.

Ora, oposta à «solução de dois Estados", a Autoridade Palestiniana recusa discutir com os Estados Unidos. Enquanto que, em fins de Julho, o antigo Chefe dos Irmãos Muçulmanos da Jordânia, Salem Falahat, ameaçou (em nome do Hamas) quem quer que apoiasse o plano de Trump de ser assassinado como foi o Presidente Sadat.

Oposto, por sua vez, à «solução de um único Estado», o Primeiro-ministro Netanyahu fez aprovar uma lei fundamental definindo Israel como um Estado judeu (portanto sem os árabes, aqui incluídos drusos e cristãos).

O Rei Salman, da Arábia Saudita, reiterou que não apoiaria nenhum plano contrário às exigências da proposta de paz do Príncipe Abdallah, assumida pela Liga Árabe.

Em relação ao Irão, o Presidente Trump propôs encontrar-se directamente com seu homólogo, o Xeque Rohani, o qual não respondeu. O Secretário de Estado, Mike Pompeo, anunciou então, a 16 de Agosto, a criação do Grupo de Ação para o Irão (Iran Action Group), visando afastar o grupo do clero, representado pelo Xeque Rohani, e não a mudar o regime islâmico.

Em relação à Síria, o enviado especial do Secretário-Geral da ONU, Staffan de Mistura, poderia ser substituído em benefício do búlgaro Nikolai Mladenov. O primeiro é um dos homens de Jeffrey Feltman, enquanto o segundo (actual representante para a Palestina) está ligado a George Soros e à OTAN. Ele participou na concepção da parte económica do Plano Trump-Kushner.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, propôs, por seu turno, colocar uma força da ONU, policial ou militar, afim de garantir a segurança das populações nos Territórios Palestinianos (que seriam, portanto, privados deste atributo essencial de soberania).

Enquanto isso, a Rússia exerce pressão sobre Guterres para que ele se livre do seu incómodo adjunto, o belicista Jeffrey Feltman.

Durante uma reunião em Charlestone (Virgínia Ocidental), a 22 de Agosto, Donald Trump declarou que após a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém, é a vez dos Palestinos terem algo de bom para eles e que Israel deveria pagar o preço disso.

O plano da Casa Branca para a região poderia ser revelado pelo Presidente Trump aquando da 73ª Assembleia Geral da ONU, que começará no dia 18 de Setembro.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

Dragão asiático não está para brincadeiras


A Televisão Central da China comunicou que as medidas retaliatórias chinesas às tarifas dos EUA entraram em vigor um minuto depois das medidas norte-americanas

De acordo com a televisão, em resposta à imposição de sobretaxas de 25% sobre produtos importados da China no valor de US$ 16 bilhões no dia 23 de agosto às 12h01 (23h01 do dia 22 em Brasilia), acionou a decisão sobre a imposição de tarifas de 25% sobre as importações norte-americanas no valor de US$ 16 bilhões.

Anteriormente, Pequim apresentou uma queixa contra as ações de Washington na Organização Mundial do Comércio (OMC), argumentando que os EUA "não tomam em conta a opinião dos outros", e que suas ações violam as regras da organização.

Sputnik

"Nós realmente não temos aliados, temos satélites": como os EUA manipulam outros países


Através da ameaça de impor sanções pela compra de sistemas antiaéreos russos S-400, os EUA tentam manter sua influência em outros países, disse o ex-diplomata norte-americano Jim Jatras em uma conversa com o RT.

De acordo com Jatras, não é a questão da compatibilidade dos S-400 com os sistemas da OTAN que preocupa Washington, uma vez que muitos países do bloco já adquiriram equipamentos militares de diferentes fornecedores.

"Nós realmente não temos aliados, temos satélites, e um bom satélite faz o que é lhe dito. E se um país não quiser se comportar como um bom satélite, nós pegamos um grande porrete e começamos a ameaçar. Eu acho que a expressão correta [para descrever a política coerciva dos EUA] seria 'sanctions-happy' ('feliz com sanções')", enfatizou ele ao RT.

Mais cedo, os Estados Unidos não excluíram a imposição de sanções contra os países que quisessem comprar sistemas de defesa antiaérea S-400 Triumf russos, como afirmou a representante oficial do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert.

Já o especialista militar russo, Aleksei Leonkov, explicou que desta forma os Estados Unidos estão lutando para manter sua liderança no mercado de armamentos.

"Eles perdoam alguns e punem outros. Quando jogam assim, um porrete e depois uma cenoura, fica claro que estão lutando pelos mercados", disse o analista.

Outro cientista político militar e chefe da Cátedra de Ciência Política e Sociologia na Universidade de Economia Plekhanov, Andrei Koshkin, acredita que mesmo no contexto da atual política de sanções os EUA não vão perder seus aliados, sendo que eles "dependem economicamente dos EUA".

"Quando houver sérios protestos contra as sanções dos EUA por parte dos países ameaçados, as consequências serão irreversíveis e muito difíceis de gerenciar para Washington", explicou ele.

Duplos padrões?

Enquanto isso, Washington está disposta a fazer uma exceção para a Índia, que pretende fechar um acordo de compra de sistemas de defesa antiaérea S-400 russos até o final de 2018.

De acordo com o projeto de novo orçamento de defesa assinado pelo presidente Donald Trump em agosto, é adequado fazer uma exceção para os países que procurem reduzir sua dependência da Federação da Rússia ou expandir a cooperação com os EUA e sejam capazes de provar que eles não tentam minar os interesses de Washington.

Segundo analisa Koshkin, ao ameaçar com sanções, mas fazendo exceções para alguns Estados, os EUA estão criando uma configuração particular de geopolítica.

"Estas sanções e guerras comerciais já estão causando a criação de uma espécie de eixo entre a Turquia, Rússia, Irã e China. Se ainda incluirmos a Índia, não seria nada bom para os EUA. Além disso, devemos entender que, tradicionalmente, a Índia comprava armas ainda à URSS ", disse o analista.

"Os americanos entendem tudo, mas estão dispostos a perdoar e fechar os olhos a este acordo para continuar a influenciar a Índia", concluiu Koshkin.

Sputnik |  AP Photo / Pavel Golovkin

Um Estado gangster

Craig Murray [*]

Max Weber definiu como atributo fundamental do Estado o monopólio do exercício legítimo da violência no interior de um dado território. Para qualquer outro que não o Estado, utilizar força física substantiva contra si ou aprisioná-lo é considerado um crime extremamente grave. O próprio Estado pode, no entanto, constrange-lo, espancá-lo, aprisioná-lo e até matá-lo. Isto liga-se às mortes sob custódia policial. Também posso mencionar o assassinato pelo Estado de Jojo Jones, criança britânica de 12 anos, executado deliberadamente pelos EUA por meio de ataque de drones com a aprovação prévia do governo britânico. 

Isto é apenas um exemplo da diminuição das reticências do estado britânico quanto ao uso de violência extrema. A desavergonhada promoção de Cressida Dick para chefiar a Polícia Metropolitana como recompensa por orquestrar o assassinato a sangue-frio de um inocente e não resistente Jean Charles de Menezes é outro exemplo. O mesmo se passa quanto ao encorajamento aos EUA feito por Savid Javid [secretário do Interior britânico] para aplicar a pena de morte contra britânicos despojados de cidadania.

Há uma classe de estados onde o governo central não tem suficiente controle sobre os seus territórios para preservar o seu monopólio da violência. Isso pode incluir violência em oposição ao estado. Mas outro aspecto disso é a violência sancionada pelo Estado em prol de objectivos estatais por parte de actores não estatais, feita com um aceno e uma piscadela de olho do governo – esquadrões da morte e milícias privadas, muitas vezes promovidas pela CIA. Na América do Sul frequentemente actuaram desse modo e assim o faz ocasionalmente o estado britânico, como por exemplo no assassinato de Pat Finucane. Em alguns casos, um estado pode ser descrito apropriadamente como estado gangster, onde grupos violentos agindo para ganho pessoal agem em conjunto com autoridades estatais, com motivações de lucro financeiro pessoal em ambos os lados.

Parece-me, neste sentido, que é justo chamar a Grã-Bretanha de estado gangster. Contratou o exercício da violência do estado – em alguns casos até o ponto de morte – contra prisioneiros e imigrantes detidos a empresas como a G4S , que exercem essa violência apenas para obter lucro. É uma abominação moral que a violência deva ser exercida contra seres humanos para obter lucro – e deve ficar claro que, mesmo nas condições mais "humanitárias", a privação da liberdade física de qualquer pessoa é um exercício extremo e crónico de violência. Não nego a necessidade de tal acção ocasionalmente para proteger terceiros, mas que o Estado compartilhe seu monopólio da violência, de modo a que interesses comerciais aos quais a classe política está intimamente associada possam gerar lucro, provoca extrema repugnância moral.

Rory Stewart apareceu no Sky News esta manhã e o primeiro ponto que considerou adequado fazer foi uma apaixonada defesa encoberta da G4S. Que esta tenha sido a primeira reacção do ministro das Prisões a uma pergunta sobre o colapso da ordem na Prisão de Birmingham devido ao comportamento abjecto da G4S, mostra tanto o compromisso ideológico dos Conservadores com a privatização em quaisquer circunstâncias, especialmente onde ela comprovadamente fracassou, como também o quanto estão dependentes de interesses financeiros – e nem minimamente preocupados com o interesse público.

Deveria acrescentar a isto que os Tories incluem também os Blairistas. Blair e Brown ficaram entusiasmados com a privatização das prisões, e até mesmo desejosos de estender a contratação da violência estatal com motivos de lucro ao sector militar com a utilização de soldados mercenários, que o New Labour conscientemente rebaptizou como "empresas militares privadas". O Iraque foi um grande exercício disto, com mercenários contratados pelo governo britânico muitas vezes em maior número do que as tropas britânicas.

A razão para o Estado ter o monopólio da violência em qualquer sociedade é supostamente garantir que a mesma seja exercida só com cautela, com comedimento e proporcionalmente, unicamente em circunstâncias inevitáveis. É o dever mais profundo de um Estado assegurar que assim seja. A contratação externa de violência estatal para o lucro privado deveria ser impensável para qualquer pessoa decente. 

22/Agosto/2018

[*] Foi embaixador britânico no Uzbequistão de Agosto/2002 a Outubro/2004 e reitor da Universidade de Dundee de 2007 a 2010. 

O original encontra-se em www.craigmurray.org.uk e em www.informationclearinghouse.info/50104.htm

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Portugal | Desencalhar os salários


Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Há muito tempo que os salários de grande parte dos portugueses estão praticamente estagnados, o nível médio salarial é muito baixo e a mediana ainda mais. Estes factos tolhem o futuro das jovens gerações, consolidam a persistência de baixas pensões de reforma, são a primeira causa de pobreza e impedem o desenvolvimento do país. Mas a melhoria dos salários exige uma agenda política bem estruturada e articulada com a agenda social, exige opções económicas e práticas de gestão, privadas e públicas, que incorporem esse objetivo como estratégico.

Se a esmagadora maioria dos jovens que termina o Ensino Secundário não segue para a universidade é porque no seio das suas famílias (e na sociedade) estão instalados obstáculos que é preciso remover: o do baixo nível de rendimentos e o da insuficiência de motivações não são os únicos, mas são fortes.

Se é uma evidência que o país está depauperado com a emigração dos jovens, em particular dos mais qualificados, há mesmo que melhorar a oferta salarial a fazer-lhes, é preciso baixar o custo da habitação e melhorar condições de mobilidade. "Pacotes fiscais agressivos" também poderão ser úteis, mas são apenas complementares. Essas políticas devem estar no cerne do reacerto da matriz de desenvolvimento económico, social e cultural que queremos para o nosso futuro coletivo.

Quando António Costa reclama que "as próprias empresas têm de perceber que têm de alterar as suas estruturas salariais" e, a propósito, denuncia a desigualdade salarial, exemplificada nas retribuições escandalosas atribuídas aos supergestores - prenhes de mérito e motivação - de grandes grupos empresariais, ele apenas enuncia uma das causas da esmagadora maioria dos portugueses terem muito baixos salários.

Foram elucidativas, aliás, e de uma pobreza gritante, as respostas dadas por representantes patronais às declarações do primeiro-ministro. O presidente da CIP, num enviesamento total, comparou esses "grandes" gestores a jogadores (estrelas) do futebol e, por arrastamento, equiparou as grandes empresas às sociedades que gerem os grandes clubes. Será que a conceção de empresa moderna de António Saraiva se situa nos exemplos da indústria especulativa e do espetáculo profundamente mediatizado que marcam o futebol a que se referiu? João Vieira Lopes, presidente da CCP, afirmou que "Não cabe aos governos parametrizar situações". Será que em democracia as empresas podem ser coutadas à margem de políticas económicas, sociais e laborais gerais, sem parâmetros mínimos que a todos obrigam? É evidente que, em muitos grandes grupos empresariais, se montou um conluio vergonhoso entre acionistas e gestores de topo que têm sido, inclusive, a causa de desastres empresariais. Se existem problemas nas empresas, ou em qualquer outra área da sociedade, que estão a impedir que esta se desenvolva melhor e com mais justiça, o poder político tem o direito e o dever de observar e agir para superar esses bloqueios.

Em Portugal os salários estagnaram e paga-se muito mal aos jovens, porque a matriz de desenvolvimento que tem sido prosseguida se sustenta exatamente em políticas de baixos salários, o que agrava as condicionantes negativas externas que se fazem sentir sobre as nossas empresas e a economia. Mas a este bloqueio associam-se - ou são-lhe intrínsecos - muitos outros. O trabalho na Administração Pública tem sido desvalorizado e o Estado foi afastado de importantes alavancas (grandes grupos) da economia, o que o impede de puxar positivamente pelos salários. O desemprego tem sido elevado e muito do novo emprego é demasiado instável e precário, limitando os trabalhadores nas suas reivindicações. As sucessivas invocações de crises, a excessiva individualização das relações laborais, o enfraquecimento da contratação coletiva e a colocação dos sindicatos em "situação de necessidade" impedem a construção de uma dinâmica negocial positiva e de harmonização no progresso.

Os baixos salários resultam de políticas económicas e sociais prosseguidas ao longo dos tempos e de fatores externos negativos, quantas vezes assumidos falsamente como modernidade. Há que travar um forte combate social e político para que não vingue esta "inevitabilidade".

* Investigador e professor universitário

De Pinhal Novo a Caminha, o comboio do PS não atrasou um minuto


À tabela. Uma viagem perfeita, em que tudo correu como previsto. Foi esta a experiência que os militantes do PS tiveram no comboio que o partido fretou para os levar à rentrée, em Caminha.

Não é um comboio de alegria esfusiante, nem um comício ambulante. No interior do comboio do PS vive-se um ambiente alegre, vagamente festivo, feito sobretudo de cumplicidades e risos, e predomina um – natural e óbvio – grande sentimento de pertença. Afinal, estes passageiros comportam-se como uma grande família, trocando saudações, conversas e até farnel.

Saído do Pinhal Novo às 9h35, o comboio especial nº. 13562/3 veio meio vazio (ou meio cheio) até Pombal e Coimbra. À medida que se aproxima do Norte, contudo, mais e mais militantes vão entrando até não haver assentos disponíveis. Chega a Caminha com cerca de 600 passageiros distribuídos por seis carruagens.

Augusta Barranha é de Leiria e veio apanhar o comboio a Pombal. Diz que até já votou no PSD, mas que nunca seria do CDS ou do PCP. Decidiu-se há pouco tempo pelo PS, mas é militante assumida e embarcou pela primeira vez numa viagem organizada do partido. “Acho que é um dever participar”, diz ao PÚBLICO, enquanto informa o grupinho de socialistas que embarcou em Pombal que fez umas pataniscas para a viagem porque não sabe se o comboio tem comida. 

Ana Paula, também de Leiria, está entusiasmada com a viagem de comboio até ao Minho, mas faz questão em contar que há três semanas foi com um casal amigo e três crianças a S. Martinho do Porto, comprou bilhete de ida e volta, mas não teve comboio para regressar, tendo ficado parada na estação. Foi resgatada por uma pessoa amiga que foi buscar o malogrado grupo de banhistas abandonados pela CP. No ano passado, Ana Paula já foi no comboio do PS para Faro e está pronta para mais viagens.

Acompanha o grupo embarcado em Pombal, Luís Guerreiro Rosa, professor do Técnico que vive em Alcobaça e que vem com a mulher para a festa da rentrée. Dentro da carruagem a conversa flui, agora com camaradas de Lisboa, da secção de Alcântara. É o caso de Helena Amaral, que vem com o pai, já idoso, com o qual se desfaz em atenções, procurando que mude de lugar porque está à janela, demasiado exposto ao sol. Mas o velho recusa. Afinal está protegido na cabeça com um chapéu do PS.

Helena Amaral é habitué nestas lides e já foi, em anos anteriores, a Faro e ao Porto nos comboios do PS. “É uma forma de reunir os amigos, os militantes e também para cativar os simpatizantes. Assim conhecemo-nos todos melhor. E o virmos de comboio dá para circularmos e ir a outras carruagens conhecer outros socialistas. De autocarro não podíamos fazer isso. Já viu o que era irmos de autocarro para Caminha?”.

Este é um comboio “pas  comme  les  autres” porque há uma vivência especial a bordo, mesmo sem grande agitação nem bandeiras. O especial nº 13562/3 tem paragem em Aveiro, Ovar, Gaia, Porto-Campanhã, e em todas as estações vão entrando mais militantes.

Ao bar começam a afluir cada vez mais passageiros e em breve há fila para tomar café. Um grupo do Porto espalha nas mesas um farto farnel composto por bôla, pastéis de bacalhau e sandes de salpicão. E escorre de um garrafão um vinho espadal (rosé de vinho verde). “Comprei isto na tasca da Badalhoca, ali na Boavista. É para quem quiser. Afinal somos todos camaradas!”, diz um entusiasmado militante, que insiste em publicitar “o espadal de Santo Tirso, que é uma autêntica maravilha”.

Na carruagem de 1ª classe (a única do comboio porque é a mesma do bar), o ambiente é mais calmo. De vez em quando um grupo de passageiros, que percorre a composição de ponta a ponta, chega ali e detém-se. “Olha, o comboio acaba aqui! Ali é a carruagem do maquinista, já não podemos seguir”, diz uma senhora, constatando que o seu passeio termina por ali.

Sentado discretamente em frente a um computador portátil viaja o secretário de Estado da Educação, João Costa. É o único governante a bordo. Deputados, estão presentes Idália Serrão e Maria da Luz Rosinha. Esta viaja no bar, apinhado, de pé, junto à janela e não esconde que está deliciada com a paisagem do Alto Minho. “Isto é muito bonito. Sou utente habitual do comboio. Todos os dias vou de Vila Franca de Xira para o Oriente e depois para Entrecampos. E ainda ontem vim de Lagos para Lisboa de comboio”.

A deputada reconhece que o serviço de suburbanos da CP já funcionou melhor e foi mais pontual. “Agora há alguns atrasos. O troço da linha do Norte até à Azambuja é muito utilizado e quando falha uma composição, isso atrasa logo os outros comboios. Mas acho que vamos ultrapassar estes problemas e que vamos ganhar esta aposta na ferrovia”. E acrescenta: “Isso é determinante para o futuro do país”.

E como é composto este comboio pelo qual o PS pagou 13 mil euros para ir do Pinhal Novo a Caminha e voltar? São seis carruagens denominadas Corail, fabricadas na então Sorefame, na Amadora, mas de tecnologia e patente francesa. São cinco de 2ª classe e uma de 1ª classe com bar. A locomotiva que reboca isto tudo é, obviamente, alemã. De marca Siemens.

Em Contumil, porém, a tracção muda. A locomotiva eléctrica é substituída por uma velha máquina britânica, a diesel, que traz atrelado um furgão com um gerador. Como a linha do Minho ainda não está electrificada (as obras para tal deverão terminar no fim do ano), a energia eléctrica para a iluminação e ar condicionado da composição é fornecida através daquele veículo, determinante para o bem-estar dos passageiros.

O comboio do PS não se atrasa. E, aparentemente, não prejudica a vida de outras circulações. É certo que em Pombal houve um comboio regional para Coimbra que teve de encostar para uma linha de resguardo para ser ultrapassado pelo especial. Mas foram só uns breves minutos. A prova, contudo, de que este serviço até nem é alvo de um tratamento especial por parte da CP vê-se agora mesmo, em Barcelos, em que os 600 socialistas (agora o comboio já vai cheio) esperam 10 minutos para cruzar com outro comboio. É que a linha é de via única e os cruzamentos só podem ser feitos nas estações.

Até que aparece em sentido contrário um comboio... de mercadorias. Ao qual, pelos vistos, foi dada prioridade. A menos – teoria da conspiração! – que a poderosa Mota Engil tenha metido uma cunha a pedir privilégios porque o comboio, carregado de madeira, é da sua empresa Takargo.

De agora em diante a linha aproxima-se muitas vezes da costa a avista-se o mar e as praias do Alto Minho, paisagens que não deixam os passageiros indiferentes e que os leva a apressarem-se para a fotografar pela janela. Já antes, no Porto, ao cruzar o Douro, houve uma excitação entre os passageiros pela vista da Invicta desde a ponte de S. João. Há militantes de base que, reconhecem, poucas vezes andaram de comboio e esta viagem – vê-se-lhes nos rostos – tem um certo sabor a aventura.

Quem está zangada é uma militante de uma secção de Lisboa que não quis dar o nome. No Oriente, reparou que havia uns penetras. “Eu conheço-os. São de direita, são uns fascistas, que lata meterem-se aqui dentro. Ninguém controla isto?”, contou, indignada.

Coisa rara na linha do Minho, o comboio passa por Viana de Castelo sem paragem e pouco depois, após vencer um percurso sinuoso, entra num túnel e começa a afrouxar para, mal se avista a luz do dia, deslizar lentamente pela estação de Caminha, no preciso momento em que o relógio marca 15 horas e 43 minutos. À tabela.

Carlos Cipriano | Público

Comboio da festa


Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Os vícios do poder assomam nas pequenas coisas. Nos gestos aparentemente inofensivos. Na falta de cuidado com o ser e o aparentar ser. Nos partidos, começam devagarinho nos corredores do favorzinho e acabam frequentemente em investigações judiciais que, à força de serem tantas e tão diversas, também acabam em nada. É verdade.

A um partido, e a um partido do poder que governa, exige-se contenção na exposição pública desse poder. Exige-se transparência e boas contas éticas e morais de quem rodeia e influencia a cadeira do dito poder. Mas não faltam exemplos, da Esquerda à Direita do arco da governação, em que nada conta e nada vale. Adiante.

Fretar comboios especiais para transportar militantes entra no domínio da duplicidade da relação de um partido com o Estado. Percebe-se bem a ecologia da opção justificada pelo PS para levar os seus fiéis do Sul ao Norte para a festa da rentrée em Caminha. E o convívio que proporciona, menos fechado do que em autocarros, sempre tão mobilizador para os tempos que aí vêm. Ano eleitoral, Orçamento do Estado em negociação com os partidos que suportam o Governo, e uma Direita incapaz de se unir, quanto mais de ter um projeto para o país.

Percebe-se até bem que os comboios especiais da CP, um serviço cada vez mais utilizado por escolas, municípios ou empresas, representem uma estratégia para aumentar os clientes e as receitas. E até se percebe melhor que o PS, como partido responsável de Governo, queira dar um contributo e o exemplo.

O que já não se percebe é que o comboio fretado tenha prioridade sobre todos os outros, num momento em que o desinvestimento na ferrovia ultrapassa todos os limites, em que o serviço prestado é terceiro-mundista, com atrasos recorrentes, suspensão de percursos por falta de ar condicionado, viagens infernais descritas pelos passageiros.

Nada que suceda no comboio da festa. Porque também aí o serviço é especial.

*Diretor-executivo

Foto em jornal Público

Benfica empatou com o Sporting | Porto perdeu com o Guimarães


Nani marcou, Félix empatou. Benfica 1 - 1 Sporting

Sporting inaugurou o marcador aos 64 minutos. Benfica chega à igualdade ao minuto 85.

Benfica e Sporting empataram a um golo no Estádio da Luz. Nani inaugurou o marcador aos 64 minutos, mas o "miúdo" João Félix empatou para o Benfica aos 86. Com este empate, ambas as equipas somam sete pontos.

Nani marcou primeiro no Estádio da Luz com um penálti aos 64 minutos.

O sportinguista bateu com o pé direito para o seu lado esquerdo e Vlachodimos atirou-se para o lado oposto.

No alto dos seus 18 anos, João Félix (Benfica) marcou de cabeça, ao segundo poste, na resposta a um cruzamento da direita de Rafa.

Na noite de ontem (sábado) realizou-se o primeiro encontro entre Benfica e Sporting da época 2018/2019. À partida para este jogo, a contar para a terceira jornada da Primeira Liga, águias e leões partiam em igualdade absoluta: seis pontos, duas vitórias, cinco golos marcados e dois sofridos.


 Reviravolta no Dragão vale derrota aos campeões nacionais. FC Porto 2 - 3 Vitória SC

A noite parecia começar bem para o FC Porto, com Brahimi a marcar o primeiro golo da noite. O argelino marcou aos 37 minutos e deu alento à equipa portista. Cinco minutos depois, era André Pereira quem cabeceava para o fundo das redes e fazia o 2-0.

Aos 63 minutos, houve falta de Sérgio Oliveira sobre Ola John, dentro da grande área portista. André André converteu a grande penalidade e fez o 2-1. Tozé, aos 76 minutos completou a retoma dos vimaranenses e, com um bom remate, empatou o jogo no Dragão.

O balde de água fria chegou aos 87 minutos, quando Davidson completou a reviravolta no marcador e fez o terceiro do Vitória SC.

Com esta vitória, os pupilos de Luís Castro conquistaram os primeiros três pontos do campeonato. Já o FC Porto somou a primeira derrota: os dragões não perdiam em casa, para o campeonato, com os vimaranenses desde 1996.

*Com TSF

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