terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Angola | Desalojados no Zango esperam há 10 anos por casas condignas


Mais de três mil famílias que foram desalojadas da Ilha de Luanda para o distrito do Zango continuam sem o alojamento prometido pelo Governo em 2009. Muitos moradores ocuparam casas desabitadas e de lá já não saem.

Sentem-se "abandonados pelos Governo". Foram desalojados em abril de 2009 e levados para o bairro Zango I, no município de Viana. Na altura, moravam em tendas oferecidas pelo Governo. A promessa era que ficariam naquelas condições precárias durante quatro meses, no máximo. Mas passaram quase dez anos e a situação continua por resolver.

Paulo António, cozinheiro de profissão, está farto de esperar. "Há casas nos projetos Luanda Limpa e há casas no Zango I e II. Então, que nos dêem as casas. Partiram a minha casa, que o Estado não me ajudou a construir", lembra.

Muitas famílias têm vivido em casas feitas com chapa de zinco, que continuam a aumentar. Outras ocuparam casas que estavam desabitadas em projetos habitacionais do Governo, que foram construídas naquela zona.

Há jovens que chegaram ao Zango I ainda adolescentes e que hoje já são adultos e estão a constituir família no bairro. "Um filho que chegou aqui com 20 anos, hoje tem 30 anos e se calhar já tem dois ou três filhos. Se eu, como pai, não tenho casa, ele também vai fazer uma de bate chapa", conta Domingos Cayaya, outro desalojado.

Domingos Cayaya sublinha que estes jovens também merecem casas condignas, com acesso a água e eletricidade e condições básicas de saneamento. Mas no bairro falta isso tudo. "A falta de saneamento básico está associada ao surgimento de várias doenças aqui no bairro. A população é vulnerável a todo o tipo de doença, explica Luís Artur, coordenador da comissão de moradores. "Muitas doenças curáveis aqui tornam-se endémicas", lembra ainda.

Ultimato ao Governo

Boa parte dos moradores está desempregada e muitas crianças e jovens estão fora do sistema de ensino. As dificuldades motivaram, em dezembro, vários desalojados a ocupar casas desabitadas em projetos habitacionais do Governo. De lá, garantem que não vão sair.

Outros populares preparam-se para seguir o exemplo. E deram um prazo ao Governo: esta terça-feira, 15 de janeiro. "No Zango III até ao Zango IV, há muitas casas vazias. Para um indivíduo que está a sofrer há dez anos, vendo uma casa vazia, qual será a tendência dele? Se alguém lhe soprar no ouvido que vamos ocupar casa, ele vai. Por mais que a invasão não tenha líder, ele vai porque precisa de uma casa", explica Domingos Cayaya.

Paulo António garante que, se a situação não for resolvida, vai ocupar uma residência desabitada. "Ainda não ocupei nenhuma casa. Mas, até ao dia 15, se não nos derem resultados, eu vou ocupar uma casa. São dez anos e não posso morrer aqui", garante.

Para além dos desalojados da Ilha de Luanda, camponeses que alegam ser proprietários de terras no Zango também estão à espera de que lhes sejam entregues residências, desde 2011. O Governo comprometeu-se a dar residências em troca das terras que perderam com os projetos habitacionais.

No entanto, até hoje, os camponeses continuam a viver em casas feitas de chapa. E também já estão fartos, desabafa José Pimpão, coordenador do bairro Kitondo I, do Zango III. "Aqui tem espaço que chega para esta população, mas impedem-nos de construir casas. Tem casas aqui nos arredores e que as administrações vendem", lamenta.

Borralho Ndomba (Luanda) Deutsche Welle

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