Há 4 anos como Presidente, Filipe
Nyusi carrega fardos sem precedentes. Apesar de certo esforço e otimismo
manifestados nos discursos sobre o estado da nação, os eventos que o país vive
deixam moçambicanos descrentes.
2014: "O empregado do
povo"
Quando foi empossado há
precisamente 4 anos, Filipe Nyusi auto-denominou-se "empregado do
povo". Herdava um país com vários problemas graves, a destacar o conflito
armado entre a RENAMO e o exército nacional e as dívidas ocultas avaliadas em 2
mil milhões de dólares, com todas as suas consequências para o país.
Relativamente à gestão da crise
da dívida, Nyusi dá sinais de não estar a servir devidamente o seu patrão
conforme prometeu. E o sociólogo Hortêncio Lopes explica: "Acho que não
mostrou competências, porque existe alguma inércia por parte do Executivo e
judiciário para agir diante de algumas situações ligadas às dívidas ocultas.
Então, penso que o Presidente não foi suficientemente inteligente para gerir
esta situação, pese embora que não seja da competência dele como Executivo, mas
penso que poderia influenciar no sentido do judiciário tomar a peito essa
questão."
2015: "O estado da nação não
é satisfatório"
Mas o "empregado do
povo" não teve de todo um mau começo: em 2015 fez um esforço para dialogar
com o falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, com vista ao alcance da paz. E
o primeiro encontro aconteceu no começo desse ano.
Mas ainda não tinha conquistas de
relevo para se gabar quanto aos "cancros". No Parlamento disse nesse
ano que "o estado da nação não era satisfatório". Mas em 2016 os
resultados do seu empenho começam a aparecer com os diálogos frequentes com
Dhlakama.
2016:"O estado da nação é
firme"
"O ponto positivo foi essa
paz temporária. O início do diálogo com o falecido presidente Dhlakama já
mostrava em si um sinal positivo, porque fez um grande esforço assim que tomou
posse cumprindo com a promessa de que seria o empregado dos moçambicanos fez um
grande esforço para acabar com a guerra. Os encontros inesperados em Gorongosa,
para mim, foi um grande ganho do Presidente", opina o sociólogo Hortêncio
Lopes.
E foi em 2016 que Filipe Nyusi
viu-se obrigado a apostar nos corredores diplomáticos para esclarecer aos
doadores o caso das dívidas ocultas e mostrar vontade em alcancar um conseno
com a RENAMO. Escalou Bruxelas e Berlim e membros do seu Governo escalaram
Washington várias vezes para prestar esclarecimentos ao Fundo Monetário
Internacional, FMI, e ao Banco Mundial.
Nesse ano Nuysi, talvez
confiante, disse que "o estado da nação era firme". Entretanto,
vários atropelos iam-se cometendo no processo das dívidas transformando o caso
numa bola de neve e assim transitou para 2017.
2017: "O estado da nação é
desafiante, mas encorajador"
Em finais desse ano começam os
ataques armados de homens não devidamente identificados até agora na
província nortenha de Cabo Delgado, evidenciando a incapacidade do Estado em impedi-los. Para
Hortêncio Lopes, é uma situação que fragiliza o Presidente
"primeiro porque não há um pronunciamento do Governo sobre o que realmente
está a acontecer, o que deixa as pessoas num nível de especulações porque não
há um pronunciamento oficial".
E ele se interroga: "Como se
deixou que o assunto chegasse a esse ponto? Já passa um ano."
Mesmo assim, no fim desse ano
Nyusi disse que o "o estado da nação era desafiante, mas
encorajador". A frequência dos ataques aumentou em 2018, cerca de 200
pessoas foram mortas e bens materiais destruídos.
2018: "A situação do país é
estável e inspirava confiança"
O país continuou com dificuldades
em pagar as dívidas, embora o FMI tenha dado um primeiro sinal positivo ao
país. Otimista, Nyusi disse no seu discurso sobre o estado da nação que "a
situação do país era estável e que inspirava confiança".
Mas foi traído pelo seu excesso
de confiança: as elites do país são alvo de um mandato de detenção por parte da
potencia mundial, os EUA, por suspeitas de crimes financeiros. O Presidente se
remeteu ao silêncio face a detenção do ex-ministro das Finanças Manuel Chang na
África do Sul. E é nestas condições que deverá concorrer a um segundo mandato
em outubro próximo.
2019: Qual será a tirada final?
O especialista em boa governação
Silvestre Baessa acha, entretanto, que Nyusi e a FRELIMO não têm muito a
oferecer: "Politicamente acho que como um Presidente que vai disputar as
próximas eleições carrega uma partido com uma reputação muito má, sem nenhuma
credibilidade e sem nenhum argumento para mostrar aos moçambicanos, para além
da paz que é instável, ele não tem argumentos se não começar a seguir uma
postura similar a do Presidente João Lourenço a Angola."
E a propósito do seu quarto ano
na liderança do país, num comunicado Nyusi fez várias promessas, entre elas
continuar a combater a corrupção, e reafirmou a vontade de continuar a servir o
povo, apesar de se mostrar ciente sobre os desafios que se impõem.
Nádia Issufo ! Deutsche Welle
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