24 partidos concorrem aos 102
assentos do parlamento. No entanto, diferem os motivos e objetivos da
candidatura de cada um. Há quem procure apenas "mordomias" ou
"imunidade parlamentar", diz analista.
O Supremo Tribunal de Justiça
afixou as listas que os partidos entregaram e que evidenciam que quase toda a
gente "quer ser deputado na Guiné-Bissau". Empresários,
juristas, professores, jornalistas, paramilitares, jovens emigrantes, pastores,
desportistas, entre outros, figuram nas listas dos partidos.
24 partidos para menos de um
milhão de eleitores
Em entrevista à DW África, o
analista político Lourenço da Silva, afirma que é de "saudar que haja uma
tomada de consciência da grande maioria da camada juvenil" para a situação
atual do país.
Aos olhos deste analista,
"há uma nova tendência da classe [jovem] em integrar a vida política ativa
para dar a sua contribuição. O que é deplorável é ver que estamos numa situação
em que podia ser balizado o cenário melhor para diminuir essa proliferação, não
só dos partidos, mas também dos candidatos a deputados. Porque é um
desperdício, no meu ponto de vista, ter 24 partidos políticos às eleições para
menos de um milhão de eleitores, e ter milhares de candidatos para apenas 102
cadeiras de deputado".
Quais os verdadeiros interesses?
Lourenço da Silva diz que é
compreensível esta proliferação de candidaturas a deputados no país, uma vez
que, constata, "tem sido moda na Guiné-Bissau".
"As pessoas vão lá porque
sabem que depois das eleições, são eleitos deputados, são nomeados para cargos
executivos ou podem beneficiar de mordomias pela contribuição que deram durante
as eleições, por um ou outro partido", explica.
Ou seja, diz, muitos dos
candidatos "não vão lá por nenhuma ideologia política, nem se quer
projeto. Não levam em conta qualquer problemática que tenha a ver com a própria
sociedade para a qual se candidatam para esse cargo. Há ainda a situação dos
que vão lá porque alguém os arrastou por causa de uma conveniência
profissional, étnico-religiosa ou familiar".
Em busca da "imunidade"
Lourenço da Silva, que liderou
durante vários anos organizações da sociedade civil guineense, sublinha ainda o
facto de haver muitos antigos e atuais governantes, empresários e outros, que
lutam a todo custo para ser deputado apenas para ter a imunidade parlamentar,
podendo assim fugir à justiça por alegadas corrupções ou crimes que praticaram.
Halen Napoco é um dos candidatos.
Este jovem jurista concorre a deputado no círculo eleitoral 27, e é uma das
muitas estreias. Em entrevista à DW África afirma que deixa o seu escritório de
advocacia e consultoria jurídica para ajudar a implementar mudanças necessárias
no aparelho de Estado.
"Reformas no Estado
precisam-se", diz candidato
"Temos que ser capazes de
identificar os problemas cujas soluções teriam um efeito dominó na nossa
sociedade. Falei na necessidade da criação de instituições fortes, capazes de
se afirmarem como autoridade na nossa sociedade”, diz este jurista que entende
também que são necessárias mudanças no campo da justiça: "não podemos
ambicionar mais investimentos, mais educação, mais saúde, se não formos capazes
de chamar à responsabilidade os servidores públicos, os dirigentes
políticos", diz.
O conhecido jovem advogado da
praça pública afirma ainda que se dedica à política para lutar no sentido de
garantir a despartidarização da administração pública com urgência: "a
partir do momento em que começamos a debater sobre a importância de termos uma
administração acima de qualquer interesse partidário, aí sim estaremos a criar
condições para que haja produção de soluções que vão de encontro com as
necessidades das populações. É um desafio da geração. Esta geração deve quebrar
esses tabus que existem no aparelho de Estado", afirma.
Também o jovem Mamadú Iaia Djaló
decidiu fundar, em setembro do ano passado, o partido Aliança Para República
(APR), com o qual pretende disputar o poder. Despertou a curiosidade dos
guineenses por se apresentar nas reuniões sozinho, tal como sucedeu no ato da
entrega das candidaturas no Supremo Tribunal, e concorre num único círculo
eleitoral, por ser também único candidato do partido.
Recorde-se que o Supremo Tribunal
de Justiça está a analisar a lista das candidaturas entregues pelos partidos
políticos, enquanto se debate nas ruas esta nova tendência do país de ser
deputado.
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
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