Jorge Rocha* | opinião
É uma chatice ver chegado o
final de um mandato em funções a termo e saber-se à beira de procurar novo modo
de vida. No entanto, enquanto é possível, esbraceja-se, estica-se o corpo
na ponta dos pés, faz-se os possíveis por arranjar quem interceda em seu favor.
Nos últimos dias esse tipo de
situação repetiu-se com Francisco Assis e com António Filipe Pimentel.
O primeiro foi um notório
opositor à opção do Partido Socialista em coligar-se com os partidos à
esquerda, sendo-lhe conhecidas afirmações enfáticas em como seria lícito que,
após as eleições de 2015, fosse Passos Coelho a liderar o governo com a
abstenção ativa do que seria o principal partido da oposição.
Pode-se imaginar como teria
involuído o país se a vontade de Assis tivesse sido satisfeita? Agora, estando
em vias de perder as mordomias do precário cargo, desdobrou-se em entrevistas
lançando a António Costa o insólito recado: ele que liderara a lista socialista
nas europeias anteriores, predispunha-se a abdicar dessa primazia conquanto
fosse considerado para lugar elegível.
António Costa fez orelhas moucas
à cantilena a lembrar uma canção do Sérgio Godinho («Arranja-me um emprego!») e
dispensou a oferta do camarada a quem não deixará de agradecer pelo
«contributo» desenvolvido nos últimos anos.
Com o ainda diretor do Museu
Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, acontece algo de semelhante.
Nos últimos anos ele tem participado ativamente na contestação à política ao
governo socialista a quem exigiu aquilo que nunca obtivera, quando estivera em
funções o anterior de quem era assumido simpatizante. Aliás, foi notória a sua
passagem por um cenáculo do CDS, há um par de anos, em que exagerou nas
críticas à tutela vindo logo penitenciar-se, quando compreendeu o risco de ver
acelerado o processo de ser devolvido à procedência.
Agora, com a intenção do governo
em lançar um concurso internacional para a indigitação de um novo diretor para
a instituição, anunciou-se indisponível para continuar num cargo para o qual
teria de se bater, de igual para igual, com outros candidatos e
multiplicando as críticas ao Ministério da Cultura. Lamentavelmente a RTP
prestou-se a servir de altifalante ao iminente desempregado, dando-lhe o ensejo
de dizer-se disposto a continuar se lhe satisfizessem todas as birras.
O caso lembra o da antecessora,
Dalila Rodrigues, cuja substituição pelo governo Sócrates motivou críticas de
Cavaco Silva e manifestações no jardim da Rua das Janelas Verdes. A exemplo do
que sucederá a António Filipe Pimentel, a então diretora era elogiada pelo
trabalho feito, que a tornariam imprescindível. O resultado viu-se: quase nove
anos depois quem ainda se lembra que Dalila existiu?
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