Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
ANA Aeroportos e CTT, duas
empresas públicas monopolistas, estratégicas e lucrativas, privatizadas pelo
Governo de PSD e CDS. Ambos os processos foram apresentados ao país como um
sucesso, mas o pouco tempo decorrido desde então revelou a podridão desta imensa
farsa.
Em troca de mais uns milhões, que
garantiram ao ex-secretário de estado Sérgio Monteiro galardões como
privatizador, a Direita entregou à multinacional Vinci o controlo dos
aeroportos nacionais, para além da construção do novo aeroporto de Lisboa; e
deu aos compradores dos CTT uma rede única, acrescida de uma licença bancária e
do exclusivo da comercialização de certificados do tesouro.
Tudo nas privatizações foi uma
mentira, e ninguém assume a responsabilidade. A ANA aumentou as taxas aeroportuárias
e agora vai decidir por nós a localização do novo aeroporto. Os CTT degradaram
o serviço, mandaram gente embora e continuam a encerrar postos dos correios.
Só em cinco anos, a ANA lucrou
€587M, 20% do valor pago pela Vinci. Nos CTT, a situação financeira assume
contornos quase criminais.
Em dezembro de 2013, 68,5% do
capital dos CTT foi disperso em Bolsa. Apesar de terem sido proprietários da
empresa por 25 dias, os acionistas decidiram para si uma choruda distribuição
dos lucros de 2013. Meses depois, os CTT valiam mais €240M. Um verdadeiro
Euromilhões para os bancos e fundos estrangeiros que tinham comprado as ações
na primeira fase de privatização. Em 2014, os restantes 31,5% foram vendidos
por menos €343M que o valor bolsista do dia anterior.
Depois do entusiasmo inicial, os
CTT começaram a cair na Bolsa. Para compensar os investidores, a empresa
distribuiu ainda mais dividendos. Em cinco anos, os Correios tiveram lucros de
€300M, mas entregaram aos acionistas €330M. Não é lapso, a administração dos
CTT entregou aos acionistas todo o lucro e ainda uma parte das reservas.
Descapitalizaram a empresa. Geriram-na de forma incompetente e, para compensar
a quebra dos lucros, prometeram a eliminação de 800 postos de trabalho. O homem
responsável por este assalto, Francisco Lacerda, era o 9.o gestor mais bem
pago do país em 2017, com um salário anual de €900 mil.
Leviandade é pouco para
caracterizar as decisões que, em poucos meses, deitaram a perder o futuro
destas empresas e poder de decisão do país sobre elas. Responsabilidade é o que
se exige ao Governo que tem nas mãos o poder de recuperar já os CTT para a
esfera pública. Quantas mais Portugal Telecom teremos de ver definhar para que
se tomem as decisões que protegem o interesse público?
*Deputada
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