sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Cabo Verde | PAICV acusa o Governo de querer utilizar fundos alheios para financiar o Fundo Soberano


Cidade da Praia, 01 Fev (Inforpress) – O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) acusou hoje o Governo de querer utilizar os fundos alheios e o endividamento para financiar o Fundo Soberano com o mero intuito de cumprir uma promessa eleitoral.

Em conferência de imprensa hoje, na Cidade da Praia, o secretário-geral do PAICV, Julião Varela, disse que nesta questão constata-se uma “grande falha” do Estado que não programou o cumprimento tempestivo de compromissos decorrentes da lei, com impacto negativo na credibilidade do soberano.

“A falha vem desde o anterior Governo do MpD em que Ulisses Correia e Silva, actual primeiro-ministro, era ministro das Finanças, pois, a lei do Trust Found não chegou a ser completada com a regulamentação sobre a aquisição dos Títulos Consolidados de Mobilização Financeira, TCMF), disse.

Conforme indicou, esta questão devia ter sido obrigatoriamente tratada no orçamento do Estado de 2018, já que os títulos venciam no decurso do ano, mais concretamente em Agosto.

“Ao contrário, vem-se assistindo a uma lamentável manifestação de irresponsabilidade e incompetência no tratamento do assunto pelo Governo que começou por ligar a resolução do problema à constituição de um Fundo Soberano de Garantia. Ora, por esta via a solução parece inviável”, disse Julião Varela.

Segundo explicou, não tendo o Estado resgatado os títulos como estipulava a Lei nº 69 e 70/V/98, cuja data de vencimento ocorreu a 18 de Agosto de 2018, esses recursos não pertencem ao soberano, mas sim aos seus donos que são o BCV, o BCA e outras instituições.

“Nem o BCV, por razões legais, nem o BCA, por limitações na assunção de risco, poderiam satisfazer as pretensões do Governo. Tanto assim é que o Governo acabou de anunciar a compra da parte referente ao BCA”, frisou.

Entretanto, indicou que contra todas as expetactivas vem agora Governo, através de um diploma regulamentar, “de forma atabalhoada e incoerente” anunciar a aquisição dos TCMF financiada com recurso à emissão de dívida pública.

“Para onde quer este Governo levar o País em termos de endividamento que em três anos aumentou de 200 para 247 mil milhões de contos e que já mereceu um veemente reparo do Grupo de Apoio Orçamental”, questionou.

Por outro lado, acusou o Governo de estar a agir em causa própria, enquanto devedor, servindo-se das suas prerrogativas enquanto legislador para pôr em causa os interesses dos credores.

“De um lado o Governo fixa unilateralmente os termos para a emissão de títulos para o financiamento da aquisição e por outro determina as condições para a negociação da troca de títulos com os credores”, sustentou.

Uma situação que na perspectiva do PAICV não favorece o desenvolvimento do mercado da dívida, uma vez que se pretende fazer a colocação dos títulos fora do mercado, penalizando fortemente os credores e prejudicando o desenvolvimento do mercado financeiro.

Conforme o anúncio do vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, o Fundo Soberano vai ser dotado de 90 milhões de euros. Questionado como o mesmo vai ser capitalizado, Olavo Correia limitou-se a dizer que o Governo tem uma “solução inteligente” para solucionar esse problema.

O secretário-geral do PAICV disse que o partido e a sociedade estão expectantes para ver essa solução, esperando que seja uma criatividade que não viole as leis do país, nomeadamente a orgânica do Banco de Cabo Verde (BCV) e a própria lei que constituiu o Trust Found.

“Os fundos do Trust Found e das TCMF não pertencem ao Estado, e o Estado se quer constituir um Fundo Soberano terá que ter fundos próprios como acontecem em outros países em que os fundos soberanos são constituídos com excedentes nomeadamente da venda dos recursos naturais como o petróleo e os minérios”, sustentou.

MJB/FP | Inforpress

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