Tribunal decretou prisão
preventiva de Ndambi Guebuza, filho do ex-Presidente moçambicano Armando
Guebuza.
O filho do ex-Presidente Armando
Guebuza, Ndambi Guebuza, viu ser-lhe aplicada esta segunda-feira (18.02.) a
medida de coação máxima que corresponde a prisão
preventiva, enquanto responde no caso relacionado com as dividas ocultas
que lesou o Estado moçambicano em mais de dois mil milhões de dólares.
À saída da audiência, o advogado
de defesa, Alexandre Chivale disse que "em termos de estado de espírito do
próprio Ndambi, logicamente ele entende que isto é uma questão política, tem
que vêr com eleições, tem que vêr com quem quer salvar a pele".
Questionado pelos jornalistas a
quem é que o arguido se referia quando disse que a sua detenção "tem que
vêr com quem quer salvar a pele", Alexandre Chivale afirmou que "(ele
) não disse, fez apenas referência a motivações políticas que têm que vêr com
eleições".
Moçambique vai realizar no
próximo mês de outubro eleições para a escolha do Chefe do Estado, do
Parlamento e pela primeira vez dos Governadores e dos Conselhos provinciais.
Indiciações apresentadas pelo MP
Durante o interrogatório
realizado esta segunda-feira no Tribunal Judicial da cidade de Maputo, o
arguido Ndambi Guebuza foi ouvido por um juiz de instrução criminal e
confrontado com as indiciações apresentadas pelo Ministério Público.
As acusações que pesam sobre
Ndambi não são do domínio público. Os jornalistas pediram ao advogado Alexandre
Chivale que revelasse quais são essas indiciações.
"Não sou o Ministério
Público para dizer, quem está a investigar... isto é o Ministério Público. Sei
qual é o posicionamento dele (o arguido), o que ele defende, mas naturalmente
não vou aqui tecer isso senão estaria a imiscuir-me em matérias do processo e
aí estaria a violar as normas deontológicas", afirmou o advogado.
Alexandre Chivale disse que durante
o interrogatório Ndambi Guebuza informou que desde 2015 a sua família tem sido
alvo de perseguições, e de campanhas difamatórias nas redes e não só e que teme
pela sua vida.
Nove arguidos
Ndambi Guebuza faz parte dos nove
arguidos que foram
detidos em Moçambique desde a última quinta-feira (14.02.) no âmbito
da investigação das dívidas ocultas.
Tal como Ndambi outros sete viram
legalizada a sua prisão preventiva no último sábado (16.02.), e apenas um
(Elias Moiane) foi concedida liberdade provisória.
Figuram entre os sete detidos,
António do Rosário, Administrador delegado das três empresas envolvidas na
contracção dos empréstimos ilegais,
Gregório Leão, ex-Director do
Serviço de Informação e Segurança do Estado,SISE, e Bruno Tandane operativo
daqueles serviços da Secreta moçambicana.
O grupo inclui Inês Moiane,
ex-secretária particular do antigo Presidente Armando Guebuza e Teófilo
Nhagumele, que teria desenhado o projeto das empresas envolvidas no desfalque.
A liberdade provisória foi
concedida a Elias Moiane, mediante o pagamento de caução no valor de um milhão
de meticais, o equivalente a cerca de 14 mil euros.
Detenções tardias
Comentando para a DW África, o
investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), Baltazar Fael, observou
que as primeiras detenções em Moçambique em ligação com as dívidas ocultas
aconteceram depois de ter sido capturado na África do Sul o ex-ministro das
Finanças, Manuel Chang, a pedido da justiça norte americana.
"As detenções tinham que
acontecer, elas simplesmente pecam por ser tardias e de alguma forma surgem
como uma resposta àquilo que foi a actuação das autoridades americanas que de
alguma forma podemos dizer que até conferiram alguma celeridade na forma de
actuação na justiça moçambicana que estava completamente letárgica no
seguimento deste processo".
Três anos meio de
investigação
Essas detenções são as primeiras
feitas pela justiça moçambicana após três anos e meio de investigação, e
aconteceram depois de a justiça norte-americana ter mandando prender Manuel
Chang, antigo ministro das Finanças de Moçambique, detido a 29 de dezembro
quando viajava pela África do Sul, onde aguarda por extradição - também
disputada por Moçambique.
A acusação norte-americana contém
correspondência e documentos que a levam a concluir que três empresas públicas
moçambicanas de pesca e segurança marítima terão servido para um esquema de
corrupção e branqueamento de capitais, com vista ao enriquecimento de vários
suspeitos, passando por contas bancárias dos EUA.
Fontes ligadas ao caso admitem
que novas detenções aconteçam nos próximos dias, dentro da lista de 18 arguidos
revelada pela justiça moçambicana em janeiro, ao mesmo tempo que decorre a
apreensão de vários bens.
Leonel Matias (Maputo), ar |
Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário