Manuel Molinos | Jornal de Notícias
| opinião
Só os sindicatos e a Ordem
ficaram surpreendidos com a requisição civil decretada pelo Governo na
sequência da greve dos enfermeiros. Era inevitável e adivinhava-se.
Não é possível que os doentes
fiquem reféns de uma classe profissional que tem as suas vidas nas mãos. Mas
também não é possível que um Executivo corte relações institucionais com a
Ordem que representa a classe.
No limite, esta greve é mesmo um
caso de vida ou morte e tanto a bastonária como António Costa não podem dormir
de consciência tranquila quando, à custa de um não entendimento entre as
partes, há pessoas que têm a vida em risco.
Pode-se considerar esta greve
"selvagem", mas este corte de relações mostra que a diferença
incomoda o Governo, que não está habituado nem preparado para uma bastonária
guerrilheira, e que os sindicatos perderam a primazia da luta, por muito que
isso custe à Esquerda.
O certo é que não vale tudo na
reivindicação por mais direitos nem na intransigência de quem governa. Deveria
imperar a sensibilidade e bom senso, coisa que vai faltando a todos, tão
obcecados que estão com os próprios umbigos.
Nenhum português acha que os
enfermeiros trabalham pouco e que não merecem mais. Os utentes percebem bem a
importância dos enfermeiros, que muitas vezes são bem mais do que isso: são
amigos, confidentes, solidários no ombro de quem não tem mais ninguém. Mas
também todos nós percebemos que o Estado não pode desembolsar os milhões de
euros que as reivindicações dos enfermeiros custariam.
E por isso a protelação desta
greve está a tirar aos enfermeiros o lado humano que os devia guiar. Mas a
intransigência do Governo também lhe retira humanidade. Não se pode escolher
cortar relações em detrimento de negociar mais e melhor.
A nossa saúde e as nossas vidas
estão a ser usadas como escudo numa guerra na qual não escolhemos estar. As
consequências podem ser irreversíveis e a culpa não pode outra vez morrer
solteira.
*Diretor-adjunto
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