Jorge Rocha* | opinião
À distância de alguns meses não é
difícil imaginar a Noite das Facas Longas, que ocorrerá no Largo do Caldas,
quando se confirmar eleitoralmente a irrelevância política do CDS para servir
de instrumento eficiente às direitas ideológicas, que nele se abrigam. Se
Assunção Cristas viu na desagregação do PSD a ocasião de ouro para se proclamar
líder das direitas, as sondagens vão-na dissuadindo da possibilidade de chegar
a tal condição, sequer por aproximação. Pouco a pouco vai mitigando a expressão
desse objetivo, ciente de como ele soa ridículo a quem, de fora, vai detetando
a diferença entre os seus sonhos e as incontornáveis realidades.
Nesse sentido talvez se
compreenda melhor a súbita desafeição de Adolfo Mesquita Nunes do
comprometimento político ativo preferindo abrigar-se na bem mais bem paga
atividade profissional. Perdeu-se assim o único comentador, conotado com o CDS,
que se tolerava ouvir, por usar a inteligência argumentativa em vez da
habitual, e contínua, enunciação dos preconceitos dos companheiros de partido.
Ele adivinhou o que significará a viragem política decorrente da derrota
eleitoral no princípio do outono: muito mais à direita do que ele, e até de
Cristas, os militantes alinharão facilmente com os jovens «populares»,
ideologicamente conotados com Nuno Melo, que não esconde a ambição de vir a
substituir a atual líder, demasiado «centrista» para o seu gosto. E não se
atarda a mostrar ao que virá: numa recente demonstração da sua conhecida
«sofisticação intelectual» defendeu o acesso às armas por todos quantos desejem
possui-las, por muito que não sejam polícias, nem militares.
Não deixa de ser curiosa essa
sintonia com o bolsonarismo e o trumpismo por parte do provável rosto do
partido mais à direita no parlamento. O problema para aquele que, de entre os
deputados portugueses ao Parlamento Europeu, é o mais absentista, é não faltar
gente mais esperta para prosseguir a condução desse tipo de agenda próxima da
extrema-direita. Não serão porventura André Ventura ou Santana Lopes, qualquer
deles ridículos na intenção de se verem promovidos a «presidentes da Junta»,
para utilizarmos uma conhecida figura hermaniana. Mas Miguel Morgado ou José
Adelino Maltês poderão ser as eminências pardas de um qualquer Luís Montenegro
que, acolitado pelas agendas bem preenchidas de Miguel Relvas e Dias Loureiro e
os muitos milhões propiciados pelos financiadores do «Observador», tenderão a
querer o reatamento do processo interrompido com as eleições de 2015. Quem quer
que suceda a Cristas à frente do CDS terá sempre como provável horizonte o
retrocesso até à dimensão do partido do táxi, tal qual foi umas
décadas atrás...
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