Próxima eleição presidencial
promete ser decisiva para o país abalado por crises e guerra e dividido entre a
Rússia e o Ocidente. Candidato favorito é um humorista de TV, mas sua vitória
está longe de garantida.
Poucas vezes o resultado de uma
eleição presidencial na Ucrânia esteve tão em aberto quanto a da que se realiza
neste domingo (31/03). Trata-se da primeira desde o pleito antecipado de maio
de 2014, motivado pela fuga para a Rússia do então presidente Viktor
Yanukovych, diante dos protestos dos oposicionistas.
Na época, a surpreendente
vitória, já no primeiro turno, coube ao político e empresário Petro Poroshenko.
Agora ele tem motivos para duvidar de sua reeleição, e um outro outsider está
em rápida ascensão.
Cerca de 36 milhões de
eleitores escolhem entre um total de 38 candidatos, a maioria sem qualquer
chance. Segundo as pesquisas de intenção de voto, só três deles poderão
participar do segundo turno, em 21 de abril.
O favorito é o apreciado
humorista de TV Wolodymyr Selensky, a quem as diferentes fontes atribuem entre
20% e quase 30% dos votos, à frente do atual presidente Poroshenko e da
ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, ambos com cerca de 17%.
Selensky, de 41 anos, é conhecido
por diversos shows satíricos e pela série cômica Sluha Narodu (Servidor
do povo), em que representa um professor secundário que se torna presidente do
país. A terceira temporada foi lançada poucos dias antes do pleito.
Ele se aproveita da imagem de
forasteiro e preenche a demanda por uma cara nova, emplacando entre os
eleitores jovens e concentrando em si as expectativas por uma espécie de
salvador que resolverá os muitos problemas do país.
Em contrapartida, Poroshenko e Timoshenko
são vistos como representantes do velho sistema, percebido como ineficaz. O
chefe de Estado é de malquisto a odiado por muitos. Também devido às recentes
revelações de corrupção na indústria armamentista estatal, o político de 53
anos parece abatido. Suas vitórias na política externa, como a isenção de visto
para ucranianos na União Europeia, não anulam a decepção com os preços
crescentes e o nepotismo.
Aos 58 anos, Timoshenko tem
possivelmente a melhor oportunidade em sua carreira de tornar-se a primeira
presidente da Ucrânia. No entanto, ela polariza fortemente e tem fama de
inescrupulosa e sedenta de poder. Sua principal desvantagem, contudo, é estar
há mais de 20 anos na política ucraniana, sendo, portanto, tudo, menos uma cara
nova.
Ainda assim, não se pode dar como
certa uma vitória de Selensky. Seu eleitorado potencial parece se concentrar
nas regiões de idioma russo, no Leste e no Sul do país. Além disso, os
detratores o acusam de ser uma "marionete" do oligarca Ihor
Kolomoyskyi.
Ambos rechaçam a acusação, mas
estão conectados nos negócios. Kolomoyskyi trava contra Poroshenko uma espécie
de briga pessoal devido a conflitos anteriores, por exemplo no setor
bancário. No fim das contas, Selensky também polariza muito e é considerado
pró-russo, o que pode afastar os eleitores do Oeste do país.
Poroshenko apela principalmente
aos ucranianos de espírito patriótico, apresentando-se como supremo comandante
na luta contra os separatistas pró-russos do Leste ucraniano, e insinua que
seus principais adversários seriam uma quinta coluna da Rússia. Ele dá peso aos
próprios êxitos na política externa e pretende impulsionar o afastamento em
relação à Rússia e a associação ao Ocidente.
Timoshenko aposta
sobretudo na política interna, promete um recomeço e a reforma da
Constituição no sentido de uma democracia puramente parlamentar. A promessa de
gás mais barato visa os eleitores mais pobres. Ela quer também aproximar a
Ucrânia da UE e da Otan.
Em seu programa eleitoral,
Selensky fica basicamente em promessas vagas, de cunho populista. Entre outros
pontos, ele quer adotar mais democracia direta, através de referendos, e coloca
o dedo nas feridas de numerosos ucranianos, como, por exemplo, a alta
corrupção, salários e aposentadorias baixos ou o crescente imigração de
trabalhadores.
Eleições anteriores no país foram
obscurecidas por acusações de fraude e manipulação, levando à
"Revolução Laranja" de 2004. Desde então, observadores da Organização
para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) atestaram votações
relativamente justas. Agora, porém, são mais uma vez numerosas as advertências
de manipulação: segundo um relatório parcial da OSCE, haveria "muitas
acusações de compra de votos em todo o país".
Nesse contexto, aumenta a
importância das consultas de boca de urna, realizadas logo à saída dos locais
de votação. A possivelmente mais relevante entre elas é realizada por três
institutos de pesquisa de opinião, financiada, entre outros, pelos Estados
Unidos e a UE.
Além da guerra na região mineira
de Donbass e da consequente necessidade de modernização das Forças Armadas
nacionais, o novo chefe de Estado se verá diante de numerosas tarefas
hercúleas, sobretudo a luta contra a corrupção, travada à longo tempo, porém
sem convicção.
São necessárias reformas em
praticamente todos os setores importantes, da Justiça e polícia à saúde. O
futuro presidente possivelmente se confrontará com as consequências de uma
eventual suspensão do transporte de gás para a Europa, a partir de 2020, o que
pode debilitar a Ucrânia e torná-la mais vulnerável à desestabilização pela
Rússia. Por fim, ainda não está claro que efeito terá sobre a sociedade a
fundação, no fim de 2018, de uma Igreja Ortodoxa nacional independente de Moscou.
Roman Goncharenko (av) | Deutsche
Welle
Imagem: Wolodymyr Selensky: um
cômico aspira à presidência
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