Caso “estranho” aconteceu ontem
no aniversário do PS quando António Costa discursava. Pequeno grupo de jovens
pareceu levar por diante uma caricata e inusitada contestação relativamente à
construção do aeroporto no Montijo. Não, não era caso isolado nem o pequeno
grupo está sozinho, eles são ativistas da Extinction Rebellion - que pode visitar no Facebook. A jornalista Liliana Borges, do jornal Público, elucida-nos de quem são e o que fazem por quase todo o mundo,
a seguir. - PG
Quem é o grupo que interrompeu
Costa e que está a cortar ruas em Londres?
Integra o movimento internacional
Extinction Rebellion (Rebelião de Extinção), que pretende alertar os
responsáveis políticos para a crise do clima.
“Mais aviões só a brincar.” Foi
assim que quatro pessoas interromperam o discurso de António Costa, no 46.º
aniversário do Partido Socialista (PS). Surpreendido pelo protesto, o
primeiro-ministro não cedeu o palco — nem o microfone — e aguardou pelos
seguranças, que expulsaram o grupo do palco. Tudo isto em menos de um minuto.
Mas o protesto não é isolado. O grupo português integra um movimento de
activismo ecológico internacional que durante a última semana se tem repetido
em vários países, com especial expressão no Reino Unido.
“Lamentamos estragar a vossa
festa, mas o rio Tejo, aqui ao lado, a nossa cidade e as gerações futuras não
têm nada para celebrar”, lê-se no discurso partilhado pelo grupo.
Esta foi uma das mais mediáticas,
mas já não é o primeiro protesto pacifico do grupo. Na realidade, é já a
décima acção. Na última semana, o grupo português já tinha interrompido
a emissão matinal da CMTV com cartazes e faixas que criticavam a
“permanente deturpação que alguns órgãos praticam quando relegam a questão das
alterações climáticas para segundo ou terceiro grau”.
O grupo também já tinha estado na
sede da EDP, em Lisboa, para apelar ao encerramento centrais a carvão de Sines
e de Aboño, “"as maiores emissoras de gases com efeito de estufa de
Portugal e de Espanha”.
No protesto desta segunda-feira,
dirigiu as críticas ao projecto que pretende aumentar o aeroporto da Portela,
com a construção de um novo aeroporto no Montijo, “em plena reserva natural”.
“O aumento do tráfego aéreo é um
dos grandes responsáveis pelo aumento de emissões. As emissões dos aviões têm o
dobro do poder de efeito de estufa. Não há meio de transporte tão poluente como
este. Um voo é responsável por 30 vezes mais emissões do que a mesma viagem em
comboio de alta velocidade”, aponta o grupo no seu discurso.
“A temperatura global está a
subir e os fenómenos climáticos extremos a aumentar. Caminhamos para a sexta
extinção em massa. Para
os nossos filhos poderem viver neste planeta, temos de reduzir drasticamente as
emissões nos próximos dez anos.”
“Trazemos até vós o ruído dos
aviões, para vos lembrar de que um aeroporto no Montijo comprometeria a saúde e
a qualidade de vida de 30 mil pessoas. O aumento na Portela afectaria centenas
de milhares de habitantes, trabalhadores, estudantes e visitantes. A poluição atmosférica
e sonora dos aeroportos é causa de AVCs, doenças cardiovasculares e
respiratórias, cancros, perturbações no sono e cognitivas”, continua o
documento.
E deixou um desafio a António
Costa: “Diga a verdade sobre as relações entre o poder político, a Vinci e as
empresas que lucrarão com este projecto. Diga a verdade sobre a legislação
europeia e nacional - relativa à protecção de ecossistemas, à saúde pública, ao
direito a um ambiente são e a processos adequados de avaliação ambiental - que
está a ser violada neste processo.”
Uma rebelião internacional
O grupo que interrompeu o
primeiro-ministro inspirou-se no movimento Extinction Rebellion (Rebelião
de Extinção), que defende acções de desobediência civil pacíficas como
estratégia para sensibilizar os responsáveis políticos para a crise ambiental.
O movimento arrancou a 15 de
Abril e aposta em protestos internacionais contra as políticas ecológicas
implementadas pelos organismos governamentais. Para estes ambientalistas, as
escolhas dos governos são responsáveis pelo “actual estado de emergência
climática”.
Na última semana, o grupo
bloqueou ruas, plantou árvores na praça do Parlamento britânico e invadiu o
Museu de História Natural.
No Reino Unido, só até às 10h de
segunda-feira as autoridades britânicas já tinham detido 1065 pessoas, conta o Guardian.
O movimento tem reunido a
presença de várias figuras públicas, que pretendem ajudar na divulgação do
protesto. É o caso da actriz Emma Thompson e da banda Massive Attack, que
actuou no campo Marble Arch, em Londres.
É
também na capital de Inglaterra que está a jovem activista de 16 anos,
Greta Thunberg. A “heroína do clima”, como é apelidada, juntou-se
aos protestos esta segunda-feira.
Liliana Borges | Público
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