Presidente angolano visitou duas
das três províncias angolanas assoladas pela seca e pela fome. No Namibe e no
Cunene, João Lourenço constatou a situação da população. Governos provinciais
anunciaram investimentos.
A visita do Chefe de Estado
angolano ao sul do país começou na província do Namibe. Na localidade do
Coroca, município do Tômbwa, João Lourenço foi elucidado sobre a situação das
mais de três mil famílias e várias cabeças de gado afetadas pela seca e pela fome.
"A situação da seca aqui é preocupante, não chove há três anos. E as
pessoas estão a deslocarem-se para outras regiões", disse à imprensa
estatal o soba António Mbeiapé.
"Números arrepiantes"
A província do Cunene, na
região sul de Angola, é a mais afetada pela seca e pela fome. Em fevereiro
deste ano, o Governo local decretou mesmo "estado de calamidade"
devido à seca.
Os números apresentados, esta
sexta-feira (03.05), ao chefe de Estado angolano, não deixam dúvidas: "são
arrepiantes". "Até 30 de abril, foram afetadas 175 mil famílias que
perfazem 880 mil pessoas e 488 mil escolas, nas quais estão matriculados 91.917
alunos.
Em pelo menos três destas escolas, as aulas encontram-se interrompidas.
O gado bovino é o principal ativo económico da província e principal
riqueza do povo, em especial que reside no meio rural. Estão afetados cerca de
um milhão e cem mil bovinos, tendo morrido já 26. 267 animais".
Este sábado (04.05), último dia
da sua visita ao sul do país, João Lourenço deslocou-se à localidade de
Mbalaiamongo, município da Ondjiva.
Soluções definitivas?
Várias são as medidas que serão
levadas a cabo para a inversão do atual quadro. O Governo da província do
Namibe anunciou a disponibilização de mil milhões de kwanzas para mitigar a
seca no Coroca. Mas não só. Alexandre Nhuca, administrador do Tômbwa, garantiu
que haverá avanços no combate à escassez de água.
"Acreditamos nos resultados
positivos da visita do Presidente da República. Recebemos algumas garantias de
apoio e também recebemos orientações de como trabalhar naquilo que podemos
fazer. O grande problema é a questão da seca e o pensamento da administração
municipal é que esse problema pode ser resolvido de forma definitiva. É uma
proposta que nós apresentamos, aproveitando o rio Cunene", explicou.
Para o Cunene, estão disponíveis
3,9 mil milhões de kwanzas. Valores que, somados a outros apoios que estão a
ser dados pelo Governo Central, poderão mitigar a situação, considera o
governador. "Com a disponibilização oportuna de 3,9 mil milhões de kwanzas,
estamos a concluir os procedimentos concursais obrigatórios destinados à
aquisição urgente de meios e equipamentos para aumentar exponencialmente a
capacidade da província de captação, transporte, armazenamento e distribuição
de água às pessoas e, sempre que possível, ao gado", disse o
governador local, Virgílio Tchova.
Novo hospital
Para além da constatação da seca
e da fome nesta região do país, o Presidente angolano João Lourenço reinaugurou
também, durante esta visita, o Hospital Provincial Ngola Kimbanda, no
Namibe, parado há dez anos.
Segundo o jornal de Angola, a
partir de segunda-feira (06.05), a unidade sanitária vai colocar à disposição
dos utentes máquinas sofisticadas nunca antes usadas naquela região nem noutras
unidades hospitalares da província do Namibe. Assim sendo, na Unidade de
Tratamento Intensivo, 14 camas equipadas com monitores e ventiladores estarão à
disposição dos doentes que derem aqui entrada em estado grave.
Da teoria à prática
Recentemente, o Bispo
da Diocese da Ondjiva, Dom Pio Hipunhati, manifestou-se preocupado com a
situação. Falando à imprensa, depois da audiência com João Lourenço, esta
sexta-feira (03.05), o pastor da igreja católica mostrou-se esperançoso, mas
com algumas reticências.
"Esperemos que desta vez
passemos do teor a prática para execução das acções. Recebemos garantia de que
o Executivo está seriamente empenhado e queremos fazer votos para que, de
facto, isso se concretize. Não sejam defraudadas as legítimas expectativas das
pessoas", afirmou.
Dom Pio Hipunhati diz ainda que é
importante que o Governo compare as condições em que vivem as populações
angolanas com as da vizinha Namíbia. "Tem que se fazer uma comparação: Por
que é que os mais velhos da Namíbia têm todos pensão e os nossos não? Por que é
que os outros têm hospitais no meio rural e nós não? Por que é que os outros
têm água canalizada, até nas aldeias, e nós não temos?", questiona.
Em entrevista à DW África, o
analista político Augusto Báfuabáfua, afirma que, na sua opinião, o
"Presidente da República não tinha uma noção fiel daquilo que se estava a
passar nas províncias da Huíla, Namibe e Cunene".
Augusto Báfuabáfua acrescentou
ainda que, depois desta visita, o chefe de Estado terá de reconhecer que há sim
fome em Angola. "Não é possível que o Presidente mantenha a mesma opinião,
depois de tantas reclamações e depois de ter feito esta visita de constatação.
Não é possível voltar com a mesma opinião. Com toda a humildade que lhe é
reconhecida, vai reconhecer que há fome em Angola", disse.
E a região dos Gambos?
A região dos Gambos, na província
da Huíla, é outra parcela angolana assolada pela estiagem e, consequentemente,
pela fome, apesar de não ter constado na agenda presidencial. Nos últimos anos,
o padre Pio Wacussanga, pároco da igreja católica local, tem denunciado a morte
de pessoas e de gado. Questionado sobre a situação nesta região, o mesmo
analista angolano diz que:
"Tem havido falta de vontade
política ao nível da base, do intermédio, no sentido de passar a mensagem a
quem é de direito, nesse caso o Presidente da República, para resolver essa
situação. E sabemos que os problemas quando não são resolvidos no principio
tendem a piorar e foi exatamente o que aconteceu".
Para o analista Augusto
Báfuabáfua, "o Padre Pio Wacussanga tem ido à Angola profunda, vai aos
municípios, comunas, vilas e aldeias da Huíla e, em particular, à região dos
Gambos. Ele tem feito muito ativismo social, demonstrando quão mau estão as
coisas", concluiu.
Manuel Luamba (Luanda), rl |
Deutsche Welle
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