São muitos os crimes nos quais
estão envolvidos menores. A entrada de inimputáveis para as práticas ilegais
pode começar em casa, mas, na maioria dos casos, os grupos abrem-lhes as
portas. Nos registos do Serviço de Investigação Criminal, os nomes de “gangs”
continuam a aumentar.
No município do Cazenga, os mais
famosos são os “PM”, “APG” e “Caso Porra”. No Rangel, os “Mini Capucho”, “Mini
Mais Dois” e os “Pica na Veia”. No Sambizanga, estão os “De Toque” e os “To de
Buzz”. Os “B4” e os “Black Stars” são os mais conhecidos no Rocha Pinto e
Catintom. Até a Centralidade do Sequele não escapa. Lá estão “Os DFN”. Há ainda
grupos em outros lugares. São os casos dos “Tira Rabão”, “Trombeta”, “Os 58” , os “Da Légua”, os “11 de
Novembro”, os “Terroristas”, os “Quentes de Pausa”, os “Mini Kapucho”, os “Mini
Maia” e os “K.K”, que actuam na Terra Nova, Rangel, Marçal e Sambizanga. Os
grupos têm menos de 15 anos nas suas fileiras.
São 19h30 de domingo, 21 de Abril. Quatro jovens pertencentes aos “De Rasta” estão a caminho do bairro Patrício, no Cazenga. Munidos de facas, garrafas, catanas e paus, vão ao encontro dos “De Kota”. Todos têm entre oito e 15 anos. O encontro resulta numa batalha campal. A Polícia acorre ao local. Mas já é tarde para salvar Joaquim Garrafa, 15 anos, estudante, supostamente integrante dos “De Kota”.
As rixas são frequentes, no Sambizanga, segundo o Serviço de Investigação Criminal (SIC). A zona da Frescura, rua da Grécia, bairros Lixeira e Santo Rosa são os mais problemáticos. Maria Fernandes, moradora local, que vende pequenos produtos à porta de casa, já presenciou vários confrontos entre grupos. Não importa a hora do dia. A brutalidade é tal, que as pessoas são obrigadas a fugir, para não serem apanhadas no meio da barbárie, que já deixou mortos e feridos entre inocentes.
“Aqui no bairro é assim. Quando estes miúdos estão a lutar, todos temos de fugir, porque eles não querem saber se há inocentes”, desabafa, para concluir que “eles matam mesmo”. E lembra uma rixa entre “gangs” rivais, há uma semana, na zona do Jiló, no Sambizanga, que só não terminou em tragédia porque a Polícia chegou a tempo. Na fuga, os meliantes abriram caminho sobre quintais e tectos das casas. Hoje, ainda há chapas destruídas.
No ano passado, segundo Maria Fernandes, também no Santo Rosa, um menor foi morto com golpes de catana, paus e pedras, depois de ser reconhecido como integrante de um grupo rival.
Miguel Joaquim, 72 anos, residente no bairro da Lixeira, também já se cansou de testemunhar rixas de gangs e lamenta que os grandes criminosos tenham sempre discípulos no bairro. Além das rixas pelo controlo de determinada área, as gangs também cometem assaltos, roubam artigos na via pública e em residências.
No Distrito Urbano do Kima Kieza, bairro da Mabor, rua do Conga, há registo de roubo de um telemóvel e 18 mil kwanzas. O assaltante tinha menos de 15 anos e empunhava uma AKM, arma de uso do Exército, que tem capacidade de 10 tiros por segundo e um alcance de
Gangs em escolas
A luta entre “gangs” acontece também em escolas ou nos arredores, com envolvimento de alunos. Em Viana, o chefe interino da Brigada de Segurança Escolar, inspector José Francisco, fala em roubos e furtos de pastas e telefones, além do uso de estupefacientes, principalmente liamba, por menores, entre os 12 e os 18 anos.
A luta entre “gangs” acontece também em escolas ou nos arredores, com envolvimento de alunos. Em Viana, o chefe interino da Brigada de Segurança Escolar, inspector José Francisco, fala em roubos e furtos de pastas e telefones, além do uso de estupefacientes, principalmente liamba, por menores, entre os 12 e os 18 anos.
Há vezes em que a confusão começa no bairro e é transportada para a escola, por adolescentes que usam paus, catanas, garrafas e pedras para atacar quem lhes aparece à frente. José Francisco afirma que, quando detectados pelas forças policiais, o destino é o mesmo: Julgado de Menores.
“Em tempos, encontrámos um menino de 13 anos, na Escola 5011, com liamba no bolso. Foi encaminhado ao procurador junto do Julgado de Menores, mas, devido à pouca idade, acabou solto. Esta situação tem encorajado outros menores a seguir a mesma prática, por saberem que nada lhes acontece”, lamentou.
A Brigada de Segurança Escolar de Viana tem ainda um Gabinete de Aconselhamento e Apoio à Prevenção Criminal, que segue alguns estudantes menores de 15 anos, que cometem “acções tipificadas como crime”. No caso, o menor é acompanhado, seja em casa ou na unidade, durante 45 dias. São obrigadas a fazer tarefas comunitárias, sob supervisão dos pais ou de especialistas da Polícia Nacional.
José Francisco afirma que alguns até chegam a mudar de comportamento. Em caso de reincidência, o destino é o Julgado de Menores. O inspector revela que as rixas envolvendo menores de 15 anos nas escolas são privilégios de rapazes. No ano passado, 30 meninas foram submetidas a acompanhamento.
“Também fazem parte dos grupos. Quando revistadas, encontramos, frequentemente, lâminas, tesouras, facas, cacos de garrafas e pacotes de uísque nas mochilas”, explicou o responsável da Brigada de Segurança Escolar. Sublinhou que, em casos do género, o acompanhamento pode levar três meses. Durante este tempo, a menina continua a frequentar as aulas.
André da Costa | Jornal de Angola
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