Ontem, segunda-feira, os
movimentos neofascistas Vem Pra Rua e NasRuas avisaram que não pretendem
atender ao chamado de Bolsonaro para as manifestações.
Começou a fazer água, nas últimas
horas, a tentativa do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de se contrapor ao
movimento social que tomou as ruas, praças e avenidas das grandes cidades, na
semana passada, no primeiro grande protesto contra as medidas de bloqueio dos
investimentos em Educação, quatro meses após a instalação do atual governo.
Bolsonaro tenta convocar seus apoiadores a uma manifestação de apoio pessoal,
dentro de alguns dias, mas a adesão tem sido mínima.
Nesta segunda-feira, os
movimentos neofascistas Vem Pra Rua e NasRuas avisaram que não pretendem
atender ao chamado, que tem circulado nas redes sociais e aplicativos de
celulares.
“Não apoiamos políticos nem
governos, apoiamos ideias e iniciativas. A Nova Previdência, a Reforma
Tributária e o Pacote Anticrime são ideias que apoiamos. Mas as pautas dessas
manifestações do dia 26 são confusas e dispersas”, diz Adelaide Oliveira,
coordenadora nacional do Vem Pra Rua.
Tomé Abduch, porta-voz do outro
grupo, acrescentou a um site de extrema direita que “o Movimento Nas Ruas não
está administrando ou organizando a manifestação divulgada”.
Renúncia
Acuado com o escândalo de
corrupção que atinge um de seus filhos, o senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), sem o mínimo de articulação com os partidos no
Congresso Nacional e tendo enfrentado as maiores manifestações até agora contra
o seu governo, Bolsonaro recorre aos mais diversos expedientes na tentativa de
se manter no cargo.
Na sexta-feira, o presidente
divulgou um texto que faz alusão a “forças ocultas” de um “Brasil
ingovernável”, remetendo à famosa carta renúncia do ex-presidente Jânio
Quadros. E, no final de semana, tentou uma medida desesperada, para que seus
apoiadores saiam às ruas no próximo domingo.
O risco, segundo o cientista
político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(Fespsp) Paulo Niccoli Ramirez, é a maioria da população se voltar contra e
transformando a data em mais um protesto contra o governo.
A situação remete a Fernando
Collor quando, em 1992, o então presidente, também acuado por uma forte crise
econômica e escândalos de corrupção, sugeriu que a população saísse às ruas com
as cores da bandeira. Em vez disso, as pessoas escolheram o preto para
manifestar a generalizada insatisfação.
Lula Livre
O “tiro no pé” não é um alerta
apenas do professor, que falou aos jornalistas da Rádio Brasil
Atual, nesta manhã. Integrantes do próprio PSL, como a deputada estadual
Janaína Paschoal (PSL), e grupos de extrema-direita que trabalharam pela
eleição de Bolsonaro e sempre se mostraram simpáticos ao governo, como o
MBL, também criticaram a convocatória do presidente.
Outra “trapalhada” do governo,
também no fim de semana, foi a hashtag #BoldonaroNossoPresidente, com o erro de
grafia denotando o uso de “robôs” para fazer aparecer o termo no topo das
expressões mais utilizadas no Twitter. Se não bastasse, outro filho do presidente,
o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), ao participar de um game num
programa da Rede TV, pronunciou, por duas vezes, o nome do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como “dica” para uma outra participante da brincadeira
associar à palavra “livre”.
A última iniciativa de Bolsonaro,
que postou vídeo de um pastor congolês que o intitula como “enviado de Deus”
também não ajuda, segundo Ramirez. Ele diz que o messianismo evangélico pode
estimular ainda mais atritos com os militares do governo, de tradição
positivista, que preza pela rígida separação entre Igreja e Estado.
‘Pessoalzinho’
Para o professor da Fespsp, com
todas essas ações que apontam para uma total falta de inabilidade política,
Bolsonaro perde peças a cada rodada política. O principal erro foi ter chamado
os professores e estudantes de “idiotas úteis“.
— Quando um governo ataca seu
povo, a tendência é que seu povo ataque também — diz o professor. Ele
acrescenta que Bolsonaro, com a sua falta de habilidade política, “perde peças”
a cada rodada do xadrez da política.
O presidente ainda reiterou a
declaração, voltando a se referir aos manifestante, no fim de semana, como
“este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba”. Bolsonaro ainda
foi alvo, no último domingo, de editoriais negativos dos três principais
jornais conservadores do país.
Rei messiânico
Segundo Ramirez, a tendência é
que Bolsonaro renuncie ou busque uma guinada mais autoritária para o seu
governo. Para a primeira hipótese, que em caso de renúncia ou impeachment nos
dois primeiros anos de mandato, a Constituição prevê a convocação de novas
eleições.
Para efetivar o plano
autoritário, no entanto, Bolsonaro precisaria ainda mais do apoio dos militares
e setores da população, o que também não parece o caso. Voltando à metáfora do
xadrez político, ele chama o presidente de um “rei messiânico” que
está encurralado por boa parte da sociedade.
— A questão agora é aguardar o
xeque-mate — avalia.
‘Surreal’
O isolamento de Bolsonaro é
tamanho que até o deputado federal Marcelo Ramos (PR-AM), presidente da
Comissão Especial da reforma da Previdência na Câmara, na base do governo,
afirmou, nesta tarde, que o ato marcado para o próximo domingo é “surreal”, por
investir contra o Congresso Nacional e contra o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ).
Segundo o parlamentar, deputados
do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, atacam a tramitação da medida sem
nem saber o que se passa na comissão.
— Os partidos de centro não são
responsáveis pela falta de articulação do governo — concluiu.
Correio do Brasil
Imagem: Janaína publicou severas
críticas a Jair Bolsonaro e não recomenda o apoio às manifestações do próximo
domingo
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