Milhares de estudantes vão às
ruas, em dezenas de estados, contra o corte de verbas. No ensino médio,
multiplicam-se atos criativos. Truculência do governo desencadeará nova
“Primavera Secundarista”?
Lucas Scatolini | Outras Palavras
Milhares de alunos do tradicional
Colégio Pedro II, no centro do Rio, paralisados e nas ruas. Protestos em
solenidade de que participava Jair Bolsonaro. Início de mobilização nos
Institutos Federais (IFs) de 21 Estados. Bloqueio de rodovias. Começou assim –
ágil, massiva e difundida – a resposta dos estudantes secundaristas ao corte de
verbas do sistema de ensino, decretada pelo ministro da Educação, Abraham
Weintraub. São só os primeiros passos. Já se fala em greve nacional, no próximo
dia 15, quando também pararão dezenas de milhares de professores e funcionários
das universidades e do ensino médio. Estará começando uma nova “primavera
secundarista”? Só as próximas semas dirão, mas a largada foi bastante promissora.
Em ofensiva aos ataques do
governo contra a educação, que ameaça a interrupção de atividades e até o
fechamento de universidades e instituições de ensino em todo o país, estudantes
secundaristas se mobilizam nas redes sociais em torno
da hashtag #TiraAMãoDoMeuIF. Além de publicações nas redes, com vídeos e fotos
de estudantes portando cartazes e bradando em coro sua indignação, grêmios de
colégios públicos convocaram pais e alunos a protestarem contra as recentes
medidas tomadas por Bolsonaro. No Rio de Janeiro, os atos registraram ocupação
massiva em evento que contava com a participação do presidente.
Os cortes foram anunciados em 30
de março. Weintraub determinou o bloqueio de 30% de três das principais
universidades do país – a de Brasília (UnB), Federal Fluminense (UFF) e da
Bahia (UFBA). Afirmou que punia instituições onde havia “balbúrdia”. Diante da
acusação de que promovia interferência política, estendeu a medida a todas as
universidades federais e aos IFs. Na Bahia, reitores demonstram
preocupação e suspendem editais de incentivos à pesquisa com impacto
social, além de temerem não conseguir arcar com custeios básicos como energia,
água e segurança.
Mas é entre os secundaristas que
o protesto pegou fogo. Nota divulgada pela União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (UBES) ontem (6/5) afirma que mais de 100 institutos e colégios
federais haviam aderido ao movimento até então. Nas mídias sociais, os vídeo e
fotos revelam a participação ampla em diversas regiões do país – com destaque
para o Rio de Janeiro.
Na capital fluminense, o maior
ato reuniu milhares de pessoas em frente ao Colégio Militar – local que contou
com a presença de Jair Bolsonaro em razão da comemoração dos 130 anos da
instituição. O grosso da manifestação foi representado por alunos dos
principais centros educacionais públicos da cidade, como o Colégio Pedro II,
IRFJ, CEFET, CAp-UFRJ e UERJ. Segundo o site “Esquerda Diário”, em certo
momento houve aplausos por parte dos alunos
do Colégio Militar.
No Nordeste, cerca de 400
estudantes, professores e funcionários da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) e do Instituto Federal da Paraíba (IFBP) se uniram na manhã desta
terça-feira (7) e bloquearam as duas faixas da pista da BR-230, na saída da cidade
de Cajazeiras, sertão da Paraíba. Segundo a organização, o protesto durou cerca
de duas horas.
Caminhamos para uma paralisação
nacional?
Os primeiros sinais de fumaça
neste mês de maio já indicam que as provocações de Weintraub podem ser um tiro
pela culatra. Os secundaristas sinalizam que estão em pé guerra. E sua
mobilização pode somar-se à mobilização dos trabalhadores, que durante a
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), entidades do setor
da educação já convocaram todas as categorias para uma greve nacional, no dia
15 de maio, em defesa da educação pública e contra a Reforma da Previdência.
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