quarta-feira, 8 de maio de 2019

Brasil | Educação abre resistência popular a Bolsonaro


Milhares de estudantes vão às ruas, em dezenas de estados, contra o corte de verbas. No ensino médio, multiplicam-se atos criativos. Truculência do governo desencadeará nova “Primavera Secundarista”?

Lucas Scatolini | Outras Palavras

Milhares de alunos do tradicional Colégio Pedro II, no centro do Rio, paralisados e nas ruas. Protestos em solenidade de que participava Jair Bolsonaro. Início de mobilização nos Institutos Federais (IFs) de 21 Estados. Bloqueio de rodovias. Começou assim – ágil, massiva e difundida – a resposta dos estudantes secundaristas ao corte de verbas do sistema de ensino, decretada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. São só os primeiros passos. Já se fala em greve nacional, no próximo dia 15, quando também pararão dezenas de milhares de professores e funcionários das universidades e do ensino médio. Estará começando uma nova “primavera secundarista”? Só as próximas semas dirão, mas a largada foi bastante promissora.

Em ofensiva aos ataques do governo contra a educação, que ameaça a interrupção de atividades e até o fechamento de universidades e instituições de ensino em todo o país, estudantes secundaristas se mobilizam nas redes sociais em torno da hashtag #TiraAMãoDoMeuIF. Além de publicações nas redes, com vídeos e fotos de estudantes portando cartazes e bradando em coro sua indignação, grêmios de colégios públicos convocaram pais e alunos a protestarem contra as recentes medidas tomadas por Bolsonaro. No Rio de Janeiro, os atos registraram ocupação massiva em evento que contava com a participação do presidente.




Os cortes foram anunciados em 30 de março. Weintraub determinou o bloqueio de 30% de três das principais universidades do país – a de Brasília (UnB), Federal Fluminense (UFF) e da Bahia (UFBA). Afirmou que punia instituições onde havia “balbúrdia”. Diante da acusação de que promovia interferência política, estendeu a medida a todas as universidades federais e aos IFs. Na Bahia, reitores demonstram preocupação e suspendem editais de incentivos à pesquisa com impacto social, além de temerem não conseguir arcar com custeios básicos como energia, água e segurança.

Mas é entre os secundaristas que o protesto pegou fogo. Nota divulgada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) ontem (6/5) afirma que mais de 100 institutos e colégios federais haviam aderido ao movimento até então. Nas mídias sociais, os vídeo e fotos revelam a participação ampla em diversas regiões do país – com destaque para o Rio de Janeiro.

Na capital fluminense, o maior ato reuniu milhares de pessoas em frente ao Colégio Militar – local que contou com a presença de Jair Bolsonaro em razão da comemoração dos 130 anos da instituição. O grosso da manifestação foi representado por alunos dos principais centros educacionais públicos da cidade, como o Colégio Pedro II, IRFJ, CEFET, CAp-UFRJ e UERJ. Segundo o site “Esquerda Diário”, em certo momento houve aplausos por parte dos alunos do Colégio Militar.

No Nordeste, cerca de 400 estudantes, professores e funcionários da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e do Instituto Federal da Paraíba (IFBP) se uniram na manhã desta terça-feira (7) e bloquearam as duas faixas da pista da BR-230, na saída da cidade de Cajazeiras, sertão da Paraíba. Segundo a organização, o protesto durou cerca de duas horas.


Caminhamos para uma paralisação nacional?

Os primeiros sinais de fumaça neste mês de maio já indicam que as provocações de Weintraub podem ser um tiro pela culatra. Os secundaristas sinalizam que estão em pé guerra. E sua mobilização pode somar-se à mobilização dos trabalhadores, que durante a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), entidades do setor da educação já convocaram todas as categorias para uma greve nacional, no dia 15 de maio, em defesa da educação pública e contra a Reforma da Previdência.

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