Cerca de um quinto dos franceses
até 25 anos está desempregado. No entanto, na campanha para o Parlamento
Europeu, o tema está sendo negligenciado. Uma dinâmica que pode ser fator
decisivo nas urnas.
Um grupo de jovens parte em
diversas direções, em duplas, de Les Halles, no centro de Paris. Eles carregam
grandes cartazes pretos de papelão e panfletos verdes com os dizeres "Eu
não deixo os outros escolherem meu deputado do Parlamento Europeu". Nos
cartazes estão citações controversas de parlamentares europeus, para motivar os
passantes a uma discussão, por exemplo, sobre a política migratória.
Porém aquilo que parece óbvio
para esses ativistas, que a Europa é importante para a juventude, não ocorre a
todos os jovens franceses. Pois quase um terço deles está desempregado, muitos
se sentem desamparados na União Europeia e não veem sentido nas próximas
eleições.
"A Europa faz simplesmente
parte da normalidade para mim", diz Léo Allaire, que participa de ações
dos Jovens Europeus, como a desta sexta-feira. A associação se engaja há mais
de 30 anos por uma Europa democrática e federalista.
O rapaz de 21 anos estuda línguas
aplicadas numa universidade parisiense, e aprende alemão desde os tempos da
escola. Para ele, é normal ter amigos na Alemanha, Itália e Espanha. Mas, em
sua opinião, a UE também fornece uma vantagem profissional bem definida para os
jovens.
"Um amigo meu, por exemplo,
está fazendo estágio na Alemanha, com o apoio do programa Erasmus. E há muitas
outras iniciativas para nós, jovens, financiadas com verbas da UE. Por isso é
tão importante participar da decisão na eleição", enfatiza Allaire.
Alguns metros adiante está Marie
Pouliquen, de 23 anos, estudante ciências políticas da Universidade Sciences Po
de Paris. O slogan dos panfletos se repete em sua camiseta verde. "Não
consigo mais imaginar um mundo sem a União Europeia, isso significaria que cada
país estaria de novo só com a própria sorte", diz, com veemência.
No entanto ela tem dificuldade de
distribuir seus panfletos entre os jovens, que muitas vezes recusam com a mão e
seguem caminho. Ela atribui o fato também à atual campanha eleitoral, "uma
catástrofe absoluta". "Tudo praticamente gira em torno de
nacionalismo, e os políticos esquecem os temas mais importantes, como o
desemprego juvenil. E no entanto nós somos o futuro da Europa."
A campanha eleitoral europeia se
transformou na França num duelo entre pró-europeus, como o presidente Emmanuel
Macron, e antieuropeus, como a extremista de direita Reunião Nacional (RN,
antiga Frente Nacional), de Marine Le Pen. Isso é também consequência dos meses
de manifestações dos "coletes amarelos", que dividiram o país ainda
mais. O desemprego juvenil praticamente não é debatido – nem pelos dois
favoritos, a RN e A República em Marcha! (LREM) de Macron, nem pelos demais 32
partidos franceses.
Do ponto de vista de muitas
desempregadas e desempregados franceses, isso contribui ainda mais para que a
UE lhes pareça abstrata. Como o grupo de participantes de um seminário no
centro de trabalho para jovens Mission Locale, no departamento de
Seine-et-Marne, próximo a Paris, nessa manhã de sexta-feira.
Na região, o desemprego está até
abaixo da taxa nacional, de 19,2% para os jovens com menos de 25 anos. Ainda
assim, a procura de trabalho não é fácil, comenta Inès Hadbi, que há meses se
candidata para uma vaga no setor de administração. Ao contrário dos
universitários da associação dos Jovens Europeus, ela nunca ouviu falar do
programa de intercâmbio Eurasmus. O mesmo se aplica aos demais participantes do
seminário, alguns dos quais sequer completaram o ensino médio.
"Sinto-me abandonada pela
UE", desabafa a moça de 19 anos. "Só podemos nos ajudar a nós mesmos.
Se encontramos um emprego, é por esforço próprio, e não porque a UE faça alguma
coisa por nós. Os políticos europeus nem nos veem, a gente tanto faz para eles."
A seu lado está Roméo Oaw, também
de 19 anos, que quer ser policial. Para ele, a UE está longe de ser presente.
"Eu venho de um lugarejo de 300 habitantes. Lá, o logo europeu pode até
estar em todos os prédios públicos, mas isso não significa nada. O que vale,
quando muito, são as iniciativas locais."
Nem Hadbi nem Oaw pretendem ir às
urnas no pleito para o Parlamento Europeu, neste domingo (26/05). Christopher
Dembik, economista do Saxo Bank em Paris, entende por que a UE parece tão longe
para a juventude, mas atribui o fato também ao limitado campo de ação dela.
"A UE só pode disponibilizar
verbas através de fundos estruturais. Mas seus programas não são cunhados para
países, grupos populacionais nem mesmo classes isoladas. A Europa indica uma
direção, mas cabe aos governos nacionais agir concretamente. O caso da França é
especialmente difícil devido a sua alta taxa de natalidade, que compromete o
país a criar ainda mais vagas de trabalho, a fim de reduzir seu desemprego
juvenil.
Mesmo assim, Hagar Akhrouf, de 24
anos, vice-presidente dos Jovens Europeus, acha que os programas da UE poderiam
contribuir muito para sua qualificação. Mas ela admite que eles ainda precisam
ser ampliados, a fim de atingir mais jovens e convencê-los.
"Aqui há tanta
criatividade", diz a estudante de ciências europeias na Universidade
Sorbonne de Paris. "Podemos competir tranquilamente com o paraíso das
start-ups Silicon Valley. Somos jovens, dinâmicos e temos potencial, mas para
que o empreguemos inteiramente, a UE tem que nos apoiar mais."
No entanto é questionável se esse
tipo de programa garantirá emprego para muitos jovens sem grau universitário.
Entre os não diplomados, o desemprego é quatro vezes maior na França do que
entre os que possuem o título.
Lisa Louis (av) | Deutsche Welle
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