No dia consagrado ao continente
mais jovem, juventude pede reflexão sobre a liderança, condena o
conservadorismo de uma elite política velha e exige mais espaço de intervenção.
77% dos africanos têm menos de 35
anos, segundo o Banco Mundial. No entanto, a realidade não reflete as
estatísticas, quando se fala de participação na vida pública, dizem jovens
ouvidos pela DW África em Angola, a propósito do Dia de África, que se assinala
este sábado, 25 de maio.
Se há quem reconheça alguns
avanços tímidos em alguns países do continente no que toca à inserção de jovens
em cargos de relevo, muitos são os que apontam o conservadorismo de uma elite
envelhecida que procura chamar a si todo o protagonismo.
É o caso do jovem politólogo
Jorge Marcos Benedito, que, em entrevista à DW, afirma que o continente é
gerido ainda por uma geração de políticos pouco atenta à ideia da abertura
política e observância do espaço da juventude nesta esfera.
"A juventude africana, de um
modo geral, tem tido pouca influência na tomada de decisões, porque a elite
governante ainda é bastante conservadora, e demonstra uma certa insensibilidade
do ponto de vista da audição democrática aos jovens", considera.
Participação política - "o
calcanhar de Aquiles"
Em muitos países africanos, as
lideranças ainda não atribuem espaço e influência aos jovens, nomeadamente na
definição das politicas públicas e projetos que os beneficiem, como estabelece
o artgo 11 da Carta Africana da Juventude que insta os Estados membros da União
Africana a "garantir a participação dos jovens no Parlamento e noutros
órgãos de decisão, de acordo com as leis em vigor".
Para o jovem académico Jorge
Benedito, apesar de alguns países do continente terem somado alguns avanços, é
importante que estados africanos apliquem, de facto, o espírito e letra da
Carta da Africana da Juventude, quanto ao mecanismo de participação dos jovens
na vida pública que, no seu entender, continua a ser o "calcanhar de
Aquiles".
"Existem ainda muitos
mecanismos pouco eficientes em relação à participação da juventude que fazem
com que a opinião juvenil e a sua participação não seja a mais adequada",
sublinha.
Para Elias Kalende, jovem
engenheiro agrónomo, o continente tem de fazer uma transição geracional ao
nível da sua liderança, por forma a garantir a presença de mais jovens em
postos de tomada de decisão. Para o jovem angolano, a elite que lutou para a
libertação de África continua amarrada a pensamentos que não se adaptam ao
contexto atual.
"Ao comemorarmos o dia do
continente, devemos refletir sobre a liderança. Facilmente chegamos à conclusão
de que ela falhou, porque não conseguiu fazer a transição geracional no
continente, nem tão pouco aplicar os instrumentos democráticos para a promoção
das democracias internas", explica.
Jovens são "placas
publicitárias"
O jovem engenheiro agrónomo
entende que grande parte dos países africanos, ainda não observa o direito à
participação da juventude na vida pública. Na sua opinião, os jovens têm sido
usados pelos líderes muitas vezes, mas apenas em causas sem
interesse.
"O futuro do continente e
dos nossos países depende da juventude, mas o que temos notado é que os jovens
são usados como placas publicitárias, para fazer de conta. No essencial, não
temos grande protagonismo na gestão e decisão do futuro", sublinha Elias Kalende.
Por sua vez, o jovem contabilista
Carlos Lichony, que já viveu em vários países da África Austral, afirma que os
políticos africanos têm muito receio em atribuir cargos de relevo aos jovens e
lança o alerta: a manter-se o atual paradigma, dificilmente o continente
conhecerá outros níveis de desenvolvimento. Carlos Lichony afirma ainda que a
elite está agarrada a causas e modelos de gestão corruptos que não se adaptam
ao contexto da globalização e transparência.
José Adalberto (Huambo) |
Deutsche Welle
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