sábado, 25 de maio de 2019

Angola | Governador de Benguela contestado dentro e fora do MPLA


Rui Falcão recusou-se a comentar as acusações e disse que a província está agora com energia elétrica a partir da barragem de Cambambe, localizada no Kwanza Norte.

Na província angolana de Benguela, cresce a onda de contestação à liderança de Rui Falcão, governador e primeiro secretário provincial do MPLA.

Os protestos vêem da população que acusa o governante de não mostrar interesse em resolver os problemas que afetam a região, nomeadamente a falta de água e energia eléctrica. Neste sábado, 25 de maio, benguelenses vão à rua exigir a demissão do governador que também é alvo de críticas de vários militantes do partido que o acusam de promover para os cargos de direcção do MPLA, figuras sem nenhum currículo na organização.

Rui Falcão foi nomeado para governar a chamada terra das acácias rubras em 2017, e desde que tomou posse, os populares afirmam que o governante não mostra vontade em atender às preocupações do povo. A localidade continua a registar uma gritante falta de água e cortes constantes de energia elétrica.



Segundo o jovem Livulo Prata, um dos organizadores da manifestação marcada para sábado e que exige a demissão do governador de Benguela, a província encontra-se num estado de completo abandono. Os munícipes queixam-se da falta de quase tudo na região.

"Do Luongo até ao bairro da Santa Cruz, há dificuldade de todo o tipo. Há outro bairro, São Pedro, onde a população atravessa a Estrada número 100 para conseguir água numa outra localidade, e a mesma água não é tratada. Mesmo a água canalizada em alguns bairros da cidade de Benguela, também chega não tratada. Às vezes as pessoas são obrigadas a recorrerem ao rio ou às cisternas. Quanto a energia, tivemos quase uma semana de apagão em toda a cidade de Benguela, e também não houve pronunciamento do governador”, explicou.

Para os organizadores do protesto , o silêncio do dirigente máximo na província, viola os direitos e garantias dos cidadãos.

As obras financiadas com o dinheiro do Estado continuam paralisadas, muitas delas deixadas em fase de execução pelos dois últimos ex-governadores, Armando da Cruz Neto e Isaac dos Anjos, afirmam os benguelenses. As empresas de recolha de lixo estão igualmente inoperantes.

Falta de diálogo

Livulo Prata, afirma em entrevista à DW que a sociedade civil de Benguela já tentou a todo custo dialogar com Rui Falcão, mas este nunca se mostrou disponível. Por isso, querem o atual governador fora do palácio da Praia Morena.

 "Na governação antiga de Isaac dos Anjos, ele conseguia dialogar com a população. Mas Rui Falcão, desde que tomou posse, governa apenas para uma elite, e só se preocupa com a promoção do Karting (desporto motorizado), que é o desporto que ele lidera. Quando há uma efeméride na província, ele está mais empenhado nestes assuntos. Recentemente, tivemos um caso no Monte Belo, onde militantes da UNITA e do MPLA entraram conflito, mas o governador incentivou os militantes a continuarem com aquele conflito ao invés de apaziguar as pessoas”.

Por seu turno, em entrevista à DW África, o jornalista João Marcos afirmou que o estado atual de Benguela é muito crítico em vários domínios. A falta de programa de fomento ao emprego, principalmente para a camada jovem, é um outro assunto que preocupa a população que vai estar em massa na manifestação de sábado.

 "Há uma série de lacunas em relação à oferta de serviço à população. A situação não é das melhores em termo da distribuição da energia, houve problemas com a falta de combustíveis, a PRODEL (Empresa Pública de Produção de Eletricidad) diz que não recebe quantidade necessária para poder fornecer convenientemente energia a todos, e não havendo energia há essa oscilação no fornecimento da água. Há também o problema do saneamento básico, o lixo aumenta na cidade de Benguela, há problema com as estradas, etc.etc.... Por outro lado, os jovens não vêem uma luz no fundo do túnel quanto aos programas de fomento de emprego e tudo isso dá lugar a esta onda de constatação”, dublinhou João Marcos.

Contestado no Partido

Para além das críticas da população, Rui Falcão também está a ser contestado por um grupo de militantes do MPLA em Benguela, onde também acumula a função de primeiro secretário do Comité Provincial do partido. Em causa está a recente eleição de 50 membros, sendo 2 para o Comité Central (CC) e 48 para o Comité Provincial.

O jornalista explica que os membros do MPLA acusam Rui Falcão de ter indigitado para as duas estruturas, gente sem qualquer currículo na organização partidária. João Marcos vai mais longe ao afirmar que os críticos do líder do partido no poder em Benguela poderão sofrer represálias. 

"Ainda não há um pronunciamento oficial de alguém de peso no Comité Provincial. Mas as pessoas com quem conversei, dizem que haverá uma espécie de represália, porque, na ótica destas pessoas, os críticos romperam com a disciplina partidária e que deviam ter apresentado as reivindicações em fórum próprio, ou seja, dentro do MPLA”.

Governador minimiza as críticas

À DW África, o governador de Benguela recusou-se a comentar as acusações e disse que a província está agora com energia eléctrica a partir da barragem de Cambambe, localizada no Kwanza Norte.

 "Cada um faz o que quer. A democracia é isto mesmo porque a Constituição permite as manifestações, mas estamos tranquilos. Sambemos o que estamos a fazer. Hoje mesmo, Benguela teve uma notícia espetacular, portanto, nem se quer vou entrar neste tipo de conversa. Benguela está finalmente ligada à rede norte de electrificação. Portanto, temos energia eléctrica a partir de Cambambe e desligamos todos os 'sistemas diesel' que temos aqui”, anunciou o governante.

Quanto à questão da distribuição da água, Rui Falcão destaca que se trata de uma questão nacional e não apenas da província de Benguela.

 "Falta água no país inteiro. Não falta água somente em Benguela, e se calhar Benguela tem mais água que as outras províncias. Mas a vida é assim, cada um, fala o que quer”, sublinhou o governador.

Borralho Ndomba | Deutsche Welle

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