Rui Falcão recusou-se a comentar
as acusações e disse que a província está agora com energia elétrica a partir
da barragem de Cambambe, localizada no Kwanza Norte.
Na província angolana de
Benguela, cresce a onda de contestação à liderança de Rui Falcão, governador e
primeiro secretário provincial do MPLA.
Os protestos vêem da população
que acusa o governante de não mostrar interesse em resolver os problemas que
afetam a região, nomeadamente a falta de água e energia eléctrica. Neste
sábado, 25 de maio, benguelenses vão à rua exigir a demissão do governador que
também é alvo de críticas de vários militantes do partido que o acusam de
promover para os cargos de direcção do MPLA, figuras sem nenhum currículo na
organização.
Rui Falcão foi nomeado para
governar a chamada terra das acácias rubras em 2017, e desde que tomou posse,
os populares afirmam que o governante não mostra vontade em atender às
preocupações do povo. A localidade continua a registar uma gritante falta de
água e cortes constantes de energia elétrica.
Segundo o jovem Livulo Prata, um
dos organizadores da manifestação marcada para sábado e que exige a demissão do
governador de Benguela, a província encontra-se num estado de completo
abandono. Os munícipes queixam-se da falta de quase tudo na região.
"Do Luongo até ao bairro da
Santa Cruz, há dificuldade de todo o tipo. Há outro bairro, São Pedro, onde a
população atravessa a Estrada número 100 para conseguir água numa outra
localidade, e a mesma água não é tratada. Mesmo a água canalizada em alguns bairros
da cidade de Benguela, também chega não tratada. Às vezes as pessoas são
obrigadas a recorrerem ao rio ou às cisternas. Quanto a energia, tivemos quase
uma semana de apagão em toda a cidade de Benguela, e também não houve
pronunciamento do governador”, explicou.
Para os organizadores do protesto
, o silêncio do dirigente máximo na província, viola os direitos e garantias
dos cidadãos.
As obras financiadas com o
dinheiro do Estado continuam paralisadas, muitas delas deixadas em fase de
execução pelos dois últimos ex-governadores, Armando da Cruz Neto e Isaac dos
Anjos, afirmam os benguelenses. As empresas de recolha de lixo estão igualmente
inoperantes.
Falta de diálogo
Livulo Prata, afirma em
entrevista à DW que a sociedade civil de Benguela já tentou a todo custo
dialogar com Rui Falcão, mas este nunca se mostrou disponível. Por isso, querem
o atual governador fora do palácio da Praia Morena.
"Na governação antiga
de Isaac dos Anjos, ele conseguia dialogar com a população. Mas Rui
Falcão, desde que tomou posse, governa apenas para uma elite, e só se preocupa
com a promoção do Karting (desporto motorizado), que é o desporto que
ele lidera. Quando há uma efeméride na província, ele está mais empenhado
nestes assuntos. Recentemente, tivemos um caso no Monte Belo, onde militantes
da UNITA e do MPLA entraram conflito, mas o governador incentivou os
militantes a continuarem com aquele conflito ao invés de apaziguar as pessoas”.
Por seu turno, em entrevista à DW
África, o jornalista João Marcos afirmou que o estado atual de Benguela é muito
crítico em vários domínios. A falta de programa de fomento ao emprego,
principalmente para a camada jovem, é um outro assunto que preocupa a população
que vai estar em massa na manifestação de sábado.
"Há uma série de
lacunas em relação à oferta de serviço à população. A situação não é das
melhores em termo da distribuição da energia, houve problemas com a falta de
combustíveis, a PRODEL (Empresa Pública de Produção de Eletricidad) diz que não
recebe quantidade necessária para poder fornecer convenientemente energia
a todos, e não havendo energia há essa oscilação no fornecimento da água. Há
também o problema do saneamento básico, o lixo aumenta na cidade de
Benguela, há problema com as estradas, etc.etc.... Por outro lado, os jovens
não vêem uma luz no fundo do túnel quanto aos programas de fomento de emprego
e tudo isso dá lugar a esta onda de constatação”, dublinhou João
Marcos.
Contestado no Partido
Para além das críticas da
população, Rui Falcão também está a ser contestado por um grupo de militantes
do MPLA em Benguela, onde também acumula a função de primeiro secretário do
Comité Provincial do partido. Em causa está a recente eleição de 50 membros,
sendo 2 para o Comité Central (CC) e 48 para o Comité Provincial.
O jornalista explica que os
membros do MPLA acusam Rui Falcão de ter indigitado para as duas estruturas,
gente sem qualquer currículo na organização partidária. João Marcos vai mais
longe ao afirmar que os críticos do líder do partido no poder em Benguela
poderão sofrer represálias.
"Ainda não há um
pronunciamento oficial de alguém de peso no Comité Provincial. Mas as pessoas
com quem conversei, dizem que haverá uma espécie de represália, porque, na
ótica destas pessoas, os críticos romperam com a disciplina partidária e que deviam
ter apresentado as reivindicações em fórum próprio, ou seja, dentro do
MPLA”.
Governador minimiza as críticas
À DW África, o governador de
Benguela recusou-se a comentar as acusações e disse que a província está agora
com energia eléctrica a partir da barragem de Cambambe, localizada no Kwanza
Norte.
"Cada um faz o que
quer. A democracia é isto mesmo porque a Constituição permite as manifestações,
mas estamos tranquilos. Sambemos o que estamos a fazer. Hoje mesmo,
Benguela teve uma notícia espetacular, portanto, nem se quer vou entrar neste
tipo de conversa. Benguela está finalmente ligada à rede norte de electrificação.
Portanto, temos energia eléctrica a partir de Cambambe e desligamos todos
os 'sistemas diesel' que temos aqui”, anunciou o governante.
Quanto à questão da distribuição
da água, Rui Falcão destaca que se trata de uma questão nacional e não apenas
da província de Benguela.
"Falta água no país
inteiro. Não falta água somente em Benguela, e se calhar Benguela tem mais água
que as outras províncias. Mas a vida é assim, cada um, fala o que quer”,
sublinhou o governador.
Borralho Ndomba | Deutsche Welle
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