Moçambique volta a registar o
rapto e assassinato de pessoas com albinismo. São os primeiros casos reportados
este ano. A Associação de Apoio a Albinos de Moçambique pede ao Governo para
agir.
O Ministério Público confirma que
este ano foram registados novos casos de rapto e assassinato de crianças com
albinismo na província de Nampula, norte de Moçambique.
"Tivemos duas
situações", diz a procuradora-geral adjunta Amabélia Chuquela.
Em março, um menino de seis anos
desapareceu no distrito de Larde e, este mês, uma menina de 11 anos foi raptada
no distrito de Murrupula e depois encontrada morta, com os membros cortados.
Estes são os primeiros casos de
rapto e assassinato de pessoas com albinismo reportados nos últimos meses no
país, depois de um período crítico em que foram registados 60 casos só em 2015.
Chuquela confessa que está
preocupada e diz que é preciso "perceber porque estão a surgir novamente
essas situações".
"Governo está a fazer
pouco"
O presidente da Associação de
Apoio a Albinos de Moçambique (ALBIMOZ) adianta uma possível causa para o
ressurgimento destes casos: a falta de coordenação entre o Governo e as
organizações no terreno.
"O Governo precisa de
respeitar as organizações", afirma William Savanguane. "As
organizações é que estão no terreno, conhecem as pessoas. Trabalham diretamente
com elas. Então, para as podermos proteger, é preciso que haja reconhecimento
dessas organizações. Não que o Governo não faça isso, reconhece, só que está a
fazer pouco."
As autoridades já estão a
investigar os dois casos reportados este ano, informou a procuradora-geral
adjunta, Amabélia Chuquela.
"No primeiro processo de
Larde ainda não são conhecidos os autores, ainda está em investigação, mas no
segundo processo, em Murrupula, já há três arguidos presos", diz Chuquela.
Associação pede lei específica
O assassinato de pessoas com
albinismo é praticado por indivíduos que acreditam em poderes mágicos de poções
e amuletos produzidos a partir de partes do corpo daquele grupo de pessoas.
Tal prática é alegadamente
promovida por médicos tradicionais. Para William Savanguane, que tem
defendido a criação de uma lei específica de proteção das pessoas com
albinismo, é necessária uma ação enérgica do Governo junto da Associação
de Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO).
"Tem que haver a realização
de campanhas de consciencialização sobre o papel da AMETRAMO e a denúncia
de práticas que não se enquadram no exercício normal da medicina
tradicional", alerta Savanguane.
A ALBIMOZ defende ainda uma
maior "consciencialização sobre o albinismo, e, nos diferentes meios de
comunicação, é preciso combater fortemente os mitos que resultam em discriminação
e exclusão."
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche
Welle
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