quinta-feira, 30 de maio de 2019

Novos casos de rapto e assassinato de albinos em Moçambique


Moçambique volta a registar o rapto e assassinato de pessoas com albinismo. São os primeiros casos reportados este ano. A Associação de Apoio a Albinos de Moçambique pede ao Governo para agir.

O Ministério Público confirma que este ano foram registados novos casos de rapto e assassinato de crianças com albinismo na província de Nampula, norte de Moçambique.

"Tivemos duas situações", diz a procuradora-geral adjunta Amabélia Chuquela.

Em março, um menino de seis anos desapareceu no distrito de Larde e, este mês, uma menina de 11 anos foi raptada no distrito de Murrupula e depois encontrada morta, com os membros cortados.



Estes são os primeiros casos de rapto e assassinato de pessoas com albinismo reportados nos últimos meses no país, depois de um período crítico em que foram registados 60 casos só em 2015.

Chuquela confessa que está preocupada e diz que é preciso "perceber porque estão a surgir novamente essas situações".

"Governo está a fazer pouco"

O presidente da Associação de Apoio a Albinos de Moçambique (ALBIMOZ) adianta uma possível causa para o ressurgimento destes casos: a falta de coordenação entre o Governo e as organizações no terreno.

"O Governo precisa de respeitar as organizações", afirma William Savanguane. "As organizações é que estão no terreno, conhecem as pessoas. Trabalham diretamente com elas. Então, para as podermos proteger, é preciso que haja reconhecimento dessas organizações. Não que o Governo não faça isso, reconhece, só que está a fazer pouco."

As autoridades já estão a investigar os dois casos reportados este ano, informou a procuradora-geral adjunta, Amabélia Chuquela.

"No primeiro processo de Larde ainda não são conhecidos os autores, ainda está em investigação, mas no segundo processo, em Murrupula, já há três arguidos presos", diz Chuquela.

Associação pede lei específica

O assassinato de pessoas com albinismo é praticado por indivíduos que acreditam em poderes mágicos de poções e amuletos produzidos a partir de partes do corpo daquele grupo de pessoas.

Tal prática é alegadamente promovida por médicos tradicionais. Para William Savanguane, que tem defendido a criação de uma lei específica de proteção das pessoas com albinismo, é necessária uma ação enérgica do Governo junto da Associação de Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO).

"Tem que haver a realização de campanhas de consciencialização sobre o papel da AMETRAMO e a denúncia de práticas que não se enquadram no exercício normal da medicina tradicional", alerta Savanguane.

A ALBIMOZ defende ainda uma maior "consciencialização sobre o albinismo, e, nos diferentes meios de comunicação, é preciso combater fortemente os mitos que resultam em discriminação e exclusão."

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

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