A notícia não devia ser o
lapso de Nuno Melo quanto à fundação de Joe Berardo, mas antes
que os «berardos» desta vida não existem desligados de interesses pelos
quais os centristas dão a cara.
AbrilAbril | editorial
Em tempo de campanha eleitoral,
quase tudo o que (alguns) candidatos afirmam se torna viral. Ontem, foi a vez
do já conhecido «lapso» do cabeça-de-lista do CDS-PP, Nuno Melo, que trocou o
nome à fundação de Joe Berardo onde foram parar mais de 350 milhões de euros do
banco público para comprar títulos do BCP.
Uma semana depois do circo
mediático do madeirense na Assembleia da República, que fez corar de raiva
quem diariamente luta pela sobrevivência, o assunto ainda mexe. «É natural»,
dirão os leitores. Pois é! Mas aproveitá-lo para branquear responsabilidades e
fazer de conta que os «berardos» desta vida existem desligados de interesses
pelos quais os centristas dão a cara, isso sim, devia merecer escrutínio.
A indignação de Nuno Melo e
toda a discussão em torno das comendas atribuídas ao empresário, que
(agora todos parecem estar de acordo) lhe deveriam ser retiradas, não é mais do
que uma tentativa de branquear o passado.
Da mesma forma que, em tempos, o
País estendeu a passadeira a Joe Berardo, também o CDS-PP teve gente sua nas cadeiras de administração do banco
público, de onde partiram muitos dos desmandos que levaram ao buraco
financeiro. Por outro lado, convém não esquecer os planos dos centristas
para privatizar a CGD, no último governo com o PSD.
Num ano marcado pelo debate sobre
a divulgação de notícias falsas vs. a necessidade de mais rigor por
parte dos órgãos de comunicação, e quando os populismos avançam em nome do «desinteresse»
dos cidadãos pela política, seria bom aproveitar a oportunidade dos actos
eleitorais para esmiúçar o historial dos candidatos e respectivos
partidos.
Primeiro, para se perceber que
não são todos iguais e, não menos importante, para avaliar quem realmente está
interessado em servir o interesse nacional.
Foto: Nuno Veiga / Agência LUSA
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