sábado, 1 de junho de 2019

Angola | DAS ÁRVORES QUE MORREM DE PÉ - Martinho Júnior

Martinho Júnior, Luanda 

1- No dia 30 de Maio de 2019 faleceu o camarada José Diogo dos Santos, “Olim”, um patriota, Antigo Combatente e Veterano da Pátria, membro do MPLA e preso político em São Nicolau (Bentiaba) que devotou toda a sua vida à causa da independência de Angola, de sua consolidação e da consolidação saudável do exercício de soberania.

Nos dois mandatos cessantes e durante quase dez anos, o camarada “Olim” assumiu o cargo de Presidente do Conselho Fiscal da Acção Social Para Apoio e Reinserção, ASPAR, com zelo e uma presença sempre optimista, alegre, conselheira e pronta, quaisquer que fossem os obstáculos ou as tempestades que se afigurassem nos perdidos caminhos do dia-a-dia!

Essa presença foi sempre animando as hostes, dando a sua contribuição singular para enfrentar as vicissitudes que se depararam à Associação e aos membros duma comunidade que, sob a velada justificação e pretexto de se ter de assumir a paz, foi sendo cada vez mais votada ao ostracismo e hostilizada a ponto de ter de fazer frente a uma não declarada mas evidente guerra psicológica, particularmente nos últimos 5 anos que cessaram com a IVª Assembleia Geral Ordinária (2ª sessão foi realizada a 30 de Março de 2019).

Durante esse período de quase dez anos, jamais houve manifestação pública massificada por parte dos membros dessa comunidade ainda que houvesse tantos motivos para tal, algo que demonstra o respeito que merecia seu próprio juramento de fidelidade ao estado angolano, a responsabilidade perante a paz e o rigor de sua vocação humana!

Alguns morreram ignotos, desamparados, esquecidos, na miséria e nem por isso, até ao fim de suas vidas, deixaram de corresponder aos seus juramentos de fidelidade e de coerência!

Mesmo nessas condições e conjuntura eles deixaram de corresponder acima das espectativas, cumprindo deveres e quantas vezes sem qualquer tipo de direitos, muito menos regalias!


Não quer dizer com isso que não haja nessa comunidade traumas, sequelas e alguns comportamentos transversais pouco recomendáveis, alguns dos quais pondo em causa o sentido de harmonia indispensável, mas no essencial a comunidade cumpriu e foram os mais marginalizados que deram os melhores exemplos!

Com sua modéstia, rigor e firmes convicções, o camarada “Olim” contribuiu para decifrar os conteúdos e contornos das situações, no fundo intimamente contraditórias ao fenómeno do crescimento da corrupção, do nepotismo e do abuso que alguns fizeram deliberadamente incidir sobre o estado angolano contrariando os ensinamentos e a memória de Agostinho Neto que orientava sempre que “o mais importante é resolver os problemas do povo”!

Na ASPAR, militantes do MPLA e associados seguiram ao longo de suas vidas devotadas à independência e consolidação do estado angolano, enfrentando o colonialismo português, o “apartheid” e algumas das suas sequelas, enfrentando também o inverosímil: como aqueles que haviam assegurado a segurança do estado sob juramento, que defenderam os Presidentes da República de Angola nos momentos mais decisivos e críticos em prol da consolidação da soberania, passaram a ser hostilizados e praticamente marginalizados de forma tão contraditória e insensível?!

Se isso acontecia a essa comunidade em vias de envelhecimento ou já envelhecida, que respeito então havia para com o próprio estado, para com a juventude e para com todo o povo angolano?

Havia mesmo convicção na imperiosa conduta de se combater a pobreza?...

2- O cuidadoso enfrentamento que foi feito ao longo de dez anos, quer dentro das instituições do estado, quer noutras, quer até a nível público, teve a participação do camarada “Olim”, propiciando a oportunidade para vincar uma linha de orientação e conduta que contribuiu para as alterações no sentido do estado angolano começar a ser defendido enquanto entidade soberana, fiel depositária dos interesses e das aspirações de todo o povo angolano.

Com essa meritosa contribuição da ASPAR, Instituição de Utilidade Pública, foi possível com a entrada em acção do novo executivo saído das últimas eleições gerais, foi possível ao camarada Presidente João Lourenço, reavaliar não só a situação da comunidade, mas sobretudo fazer inclinar a favor do rigor e do respeito responsável para com o estado a capacidade do exercício da soberania, “corrigindo o que está mal e melhorando o que está bem”.

Essa oportunidade foi criada com a modesta contribuição da comunidade e da ASPAR enquanto sua representativa Associação!

A ASPAR, que foi alvo de surda guerra psicológica por parte de algumas importantes entidades do executivo anterior, era refém também de interesses egoístas e com comportamento de oportunismo, próprio de subtis máfias, pelo que por tabela, com o novo executivo sente-se incomparavelmente melhor compreendida, respeitada, acarinhada e sobretudo reinserida!

Valeu e vale o esforço patriótico exemplar!

Essa alteração está necessariamente já reflectir-se nas condutas de luta contra a pobreza nas próprias fileiras, espectativa que está criada e está a ser incentivada, dando os primeiros passos com vínculos nas questões que se prendem à saúde e à educação das novas gerações.

Assim sendo, sob os auspícios das duas últimas direcções que estiveram à frente do seu destino, o camarada “Olim” deu a sua contribuição para que essas alterações fossem finalmente feitas e para a tomada de decisão de se considerar a Comunidade de Inteligência e Segurança do Estado como uma entidade integrada, articulada, responsável, digna e zeladora do estado angolano.

O papel de Instituição de Utilidade Pública foi compreendido até essa substância, que deve ser patamar de rigoroso não retorno!

As medidas que o Chefe do SINSE, camarada general Fernando Garcia Miala, decidiu tomar sob orientação do camarada Presidente João Lourenço em relação ao projecto integrado e articulado que constitui a Comunidade de Inteligência e de Segurança do Estado, reflectem pouco a pouco o pendor das correcções espectáveis e desejáveis, tornando possível a oportunidade não só para o respeito devido ao estado angolano, mas sobretudo para o respeito devido a todo o povo angolano em busca de paz com justiça social.

Assim, na hora do passamento físico do camarada José Diogo dos Santos, “Olim”, toda a comunidade deve corresponder ao momento e em todo o espaço nacional afirmar sua vontade de harmonia, de paz e de legítima reinserção social!

Era essa a vontade dele, demonstrada sempre enquanto Presidente do Conselho Fiscal da ASPAR nos dois últimos mandatos que preencheram os últimos dez anos e por isso ele manteve-se sempre presente, praticamente até quando sofreu o infortúnio do AVC que o levou à morte, manteve-se presente enquanto teve possibilidades humanas de se movimentar… até mesmo o seu próprio fim existencial!

Mérito a todos os dignos patriotas angolanos que enfrentando todo o tipo de vicissitudes, infortúnios e obstáculos, tornaram possível levar por diante o Movimento de Libertação em África!

Mérito merecido para o camarada e patriota José Diogo dos Santos, “Olim” e para a dignidade de sua vida e do seu exemplo!

Martinho Júnior - Luanda, 1 de Junho de 2019

Imagens:
01- O camarada “Olim” no acto do lançamento da primeira pedra para a construção da sede nacional da ASPAR ao Zango III (14 de Dezembro de 2011);
02- Representação da ASPAR no desfile comemorativo do 40º Aniversário da Independência de Angola (11 de Novembro de 2015);
03- O camarada “Olim” numa das suas últimas fotos, na 2ª sessão da IVª Assembleia Geral Ordinária da ASPAR, recebendo das mãos do Presidente da Direcção executiva cessante, o camarada Alexandre Moreira Bastos, “Sacha”, o Diploma de Mérito pelo seu desempenho e trabalho na Associação e na comunidade (30 de Março de 2019).

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