quarta-feira, 19 de junho de 2019

Angola | Médicos e enfermeiros em pé de “guerra”


Médicos e enfermeiros angolanos estão de costas voltadas. Em causa estão os pronunciamentos da bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, Elisa Gaspar, que supostamente desvaloriza os enfermeiros.

Os médicos e os enfermeiros angolanos estão em pé de "guerra”. Em causa estão os pronunciamentos da Bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, Elisa Gaspar, que supostamente desvaloriza os enfermeiros. Está quarta-feira (19.06.), as organizações socioprofissionais da saúde chamaram a imprensa para apresentar o que chamam de "protesto” e exigem desculpas públicas da responsável.

As supostas declarações de bastonária da Ordem dos Médicos de Angola foram proferidas no dia 25 de maio deste ano, na província angolana do Cunene.

No áudio apresentado esta quarta-feira em conferência de imprensa pelas organizações socioprofissionais, a responsável teria dito que os enfermeiros não podiam passar receita médica e que um "médico é um Deus na terra”. Elisa Gaspar também denunciou a existência de falsos médicos cubanos.

"Mas como é que um enfermeiro vai discutir um problema clínico? É impossível porque cientificamente não está qualificado para a discussão do caso e, as vezes quer discutir com o médico porque ele é o diretor da unidade hospitalar. Diretor clínico só pode ser médico. Nalgumas províncias os enfermeiros assinam certidões de óbito. O que é que ele entende da nomenclatura para assinar as certidões? Acabar com os enfermeiros que passam as receitas médicas”.

Protesto junto do Ministério da Saúde

Estes pronunciamentos enfureceram a classe de enfermagem que apresentou protestos a ministra da Saúde Sílvia Lutucuta e a Ordem dos Médicos de Angola.

No encontro com os jornalistas, presidido pelo Paulo Luvualo responsável da Ordem dos Enfermeiros de Angola, a classe acusa Elisa Gaspar de preconceituosa. "Achamos ser desequilibrada no tempo e no espaço”. Parece estar declarada a "guerra” entre os médicos e os enfermeiros. A ordem dos médicos questiona a autenticidade do áudio que já circula nas redes sociais e, em nota tornada pública, no dia 1 de junho ameaça com um processo judicial contra os enfermeiros.

Por sua vez, Paulo Luvualo diz estar a espera da referida intimação. "As organizações socioprofissionais estão a espera que a senhora bastonária dos médicos nos processe e a nossa reação será no tribunal”.

Pedido de desculpa

Enquanto se espera, o bastonário afirma que o Sindicato Nacional dos Enfermeiros de Angola, Ordem dos Enfermeiros de Luanda, Sindicato Nacional Independente dos Trabalhadores da Saúde e Função Pública e o Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda, organizações presentes na conferência de imprensa desta quarta-feira, exigem um pedido de desculpa pública por parte de Elisa Gaspar. Os protestantes dão um ultimato de 72 duas.

"É o mínimo que os enfermeiros de Angola estão a exigir. Porque se ela não fizer isso, neste momento a bola está aqui no centro, está com a Ordem dos Enfermeiros de Angola... por isso é que colocamos os sindicatos nos extremos. Eu como sou o número nove, se não houver uma resposta dentro do prazo, então vamos passar a bola para os extremos e os extremos saberão como irão reagir”.

Atendimento dos pacientes

A DW África tentou sem sucesso ouvir Elisa Gaspar. Mas questionou ao bastonário da Ordem dos Enfermeiros de Angola se esta luta não influenciaria negativamente o atendimento aos pacientes.

"Logicamente se houver uma guerra entre a classe médica e classe de enfermagem quem vai sofrer é a população. E nós, os enfermeiros, estudamos para defender a população. O nosso propósito não é tentar desencadear uma guerra com a Ordem dos Médicos para prejudicarmos a população”.

Dados disponíveis indicam que Angola conta apenas com 3500 médicos angolanos e mais de 35 mil profissionais de enfermagem.

Manuel Luamba (Luanda)

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