A farsa processual está mais do
que nunca revelada e só mesmo um STF conivente ou sob chantagem pode mantê-la.
O Supremo pode e deve resgatar sua imagem.
Armando Rodrigues Coelho Neto |
GGN | opinião
Nos presídios do Brasil é muito
comum que criminosos usem telefones baratos (de poucos ‘baites’), mudem de
número ou de aparelho com frequência. As mulas flagradas com droga, no
Aeroporto de Guarulhos/SP, costumam negar saber que estão traficando. É comum
criminosos negarem seus crimes, mesmo diante de evidências. Aconteceu com os
irmãos Cravinhos (caso Richthofen), com os Nardones e com Fernandinho
Beira-Mar. Todos negaram seus crimes. É comum raposas negarem que comeram as
galinhas, mesmo com a boca cheia de penas. Afinal, vale a máxima do Latim:
“Nemo tenetur se detegere”(o direito de não produzir prova contra si mesmo).
O marreco de Maringá nunca me
enganou. Realizou a prisão ilegal de quase 300 pessoas, vazou informações
sigilosas para a imprensa, permitiu que audiência fosse transmitida por celular
para blogueiro simpatizante, exerceu ato de ofício em férias. Mandou prender
“suspeitos” dentro de hospital, condenou pessoas fora da lei e sem prova – não
raro os contrários ao seu ideário político. Leia-se, desafetos políticos. Com
sensacionalismo, aconteceu e brilhou encantando pessoas sob a bandeira de
combate à corrupção. Na leva, até corruptos ficaram contra a corrupção (Aécio,
Cunha, família Bozo). Mas, com a farsa político-policialesca, acabou
conseguindo selo de probidade, e ai de quem criticasse seus atos.
Desse modo, o marreco virou um
“Grande Homem”, de quem se espera o óbvio: grandeza. Na década de 1990, na
Suécia, a então vice-primeira ministra, Mona Sahlin, renunciou quando
descobriram que ela comprou uma barra de chocolates Toblerone com cartão
corporativo. Sem meandros ideológicos, grandes nomes quando flagrados até se
matam – seja por vergonha, vaidade, como resposta a uma grande injustiça, medo
da Justiça. Há quem queira preservar qualquer coisa num último gesto… Foi assim
com Hitler (Alemanha), Getúlio Vargas (Brasil), Pierre Bérégovoy (França) e
mais recentemente com Alan Garcia (Peru).
Que a Farsa Jato era farsa sempre
se soube, e não é hora de inventariar as provas anteriores. Os holofotes da
grande mídia projetavam na parede a figura de um pássaro gigante. Veio um certo
Glenn, jogou a luz por cima e revelou o tamanho real do marreco. Eis que ele
surge nanico e mentindo para o Brasil, dando nós em senadores mal preparados,
que com discursos longos, confusos abrem espaço para evasivas do marreco. O
ex-juiz prevaricou, sim, agiu por interesses pessoais/políticos, tramou contra
a defesa e condenou sem provas o ex-presidente Lula.
Cadê os grandes homens da Farsa
Jato? O que se esperaria? Ah, estão pondo em dúvida nosso trabalho? Aqui estão
nossos celulares, nossas contas, nosso trabalho, investiguem e apontem onde
erramos. Da associação de procuradores da República e da representação dos
juízes se esperaria o óbvio: primeiro, apoio aos seus pares. Segundo, pedir que
se investigue. Fizeram só a primeira parte, ignorando o conteúdo criminoso das
revelações. Reafirmando em síntese a infâmia: é normal o conluio de acusadores
com juízes.
Bom lembrar que a TV Globo não é
exemplo de ética jornalística. Filmagens e gravações clandestinas, as edições
criminosas contra o ex-presidente Lula falam por si. Mas, ao constatar falha na
postura de um de seus repórteres, no Caso Neymar, o afastou e emitiu nota: “Há
evidências de que as atitudes dele neste caso contrariaram a expectativa da
empresa sobre a conduta de seus jornalistas”. Na Operação Satigraha, a Globo
teve atitude semelhante, dando sinais de querer preservar sua imagem, mesmo
suja.
Toda podridão está lançada. Em
novos áudios revelados, o marreco chama de tontos os tontos do MBL. Nega
gravações, mas pede desculpas pelo que supostamente “não disse”. O afastamento
de uma procuradora “fraquinha”, a proteção a FHC, o “In Fux we trust”, o
controle de mídia são sinais inequívocos de ação manipulada. O que falta? Mais
revelações?
Durante a audiência no Senado, o
marreco revelou traços psicopatas que só a Psiquiatria Forense explica.
Enquanto isso, os oficiantes da
Farsa Jato se encolhem e, com embustes, fabricam álibis e teorias
conspiratórias. Um dos jornalistas mais premiados do mundo é
preconceituosamente desqualificado, como se estando a serviço de uma ORCRIM.
A farsa processual está mais do
que nunca revelada e só mesmo um STF conivente ou sob chantagem pode mantê-la.
O Supremo pode e deve resgatar sua imagem. A confissão do marreco quanto aos
seus próprios crimes não está nem nos autos nem nas gravações do Telegram, mas
sim na defesa pública que ele faz das provas obtidas por meios ilegais. O
marreco é réu confesso. Num “pronto falei”, é de se concluir que ele e demais
envolvidos na fraude processual agem, não com grandeza, mas com a pequenez
moral de muitos bandidos mequetrefes em programas sensacionalistas como Ratinho.
Negam tudo.
*Armando Rodrigues Coelho Neto –
jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante
da Interpol em São Paulo.
Foto: Gabriel Cardoso/SBT
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