No último domingo, o Brasil foi
surpreendido por três reportagens explosivas publicadas pelo TIB. Nelas, nós
mostramos as entranhas da Lava Jato e mergulhamos fundo em poderes quase nunca
cobertos pela imprensa. Quase todos os jornalistas que eu conheço preferem se
manter afastados disso: apontar o dedo para procuradores e juízes é, antes de
tudo, perigoso em muitos níveis – eles têm razão.
As primeiras reações dos
envolvidos no escândalo foram essas: O MPF preferiu focar em hackers, e não negou a autenticidade das
mensagens. Sergio Moro disse que não viu nada de mais, ou seja: não negou a
autenticidade das mensagens.
Moro, na verdade, se emparedou:
em entrevista ao Estadão, ele inicialmente não reconhece como
autêntica uma frase que ele mesmo disse. Mas depois diz que pode ter dito. E
depois ainda diz que não lembra se disse. Moro está em estado confusional.
Horas depois, à Folha, Moro
confirmou um dos chats que publicamos: em uma coletiva, ele chamou de “descuido” o episódio no qual, em 7 de
dezembro de 2015, passa uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP
investigue. Confessou que ajudou a acusação informalmente, o que é contra a
lei. Como dizem as piores línguas: tirem suas próprias conclusões.
Deltan Dallagnol não negou
tampouco. Ele está bastante preocupado com o que diz ser um “hacker”, mas sequer entregou seu celular para a perícia.
É evidente que nem Moro, nem
Deltan e nem ninguém podem negar o que disseram e fizeram. O Graciliano Rocha,
do BuzzFeed news, mostrou que atos da Lava Jato coincidiram com orientações de
Moro a Deltan no Telegram. Moro mandou, o MPF obedeceu. Isso não é Justiça,
é parceria. Ontem nós mostramos a mesma coisa: Moro sugeriu que o MPF atacasse
a defesa de Lula usando a imprensa, e o MPF obedeceu. Quem chefiava os procuradores? Só não vê
quem não quer.
A imprensa séria virou contra
Sergio Moro e Deltan Dallagnol em uma semana graças às revelações do TIB. O
Estadão, mesmo que ainda fortemente aliado de Curitiba, pediu a renúncia de Moro e o afastamento dos procuradores.
A Veja escreveu um editorial contundente (“Moro ultrapassou de forma
inequívoca a linha da decência e da legalidade no papel de magistrado.”) e
publicou uma capa demolidora. A Folha está fazendo um trabalho importante com
os diálogos, publicando reportagens de contexto absolutamente necessárias.
Durante cinco anos, a Lava Jato
usou vazamentos e relacionamentos com jornalistas como uma estratégia de
pressão na opinião pública. Funcionou, e a operação passou incólume, sofrendo
poucas críticas enquanto abastecia a mídia com manchetes diárias. Teve pista
livre para cometer ilegalidades em nome do combate a ilegalidades. Agora, a
maior parte da imprensa está pondo em dúvida os procuradores e o superministro.
Mas existe uma força disposta a
mudar essa narrativa. A grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da
Rede Globo – já que não podem negar seus malfeitos – é com o “hacker”. E também
nunca vimos tantos jornalistas interessados mais em descobrir a fonte
de uma informação do que com a informação em si. Nós jamais falamos em hacker.
Nós não falamos sobre nossa fonte. Nunca.
Já imaginou se toda a imprensa
entrasse numa cruzada para tentar descobrir as fontes das reportagens de todo
mundo? A quem serve esse desvio de rota? Por enquanto nós vamos chamar só de
mau jornalismo, mas talvez muito em breve tudo seja esclarecido. Nós já vimos o
futuro, e as respostas estão lá.
A ideia é tentar nos colar a
algum tipo de crime – que não cometemos e que a Constituição do país nos
protege. Moro disse que somos “aliados de criminosos”, em um ato de
desespero. Isso não tem qualquer potencial para nos intimidar. Estamos apenas
no começo.
Esse trabalho todo que estamos
fazendo só acontece graças ao esforço de uma equipe incrível aqui no TIB. De
administrativo a redes sociais, de editorial a comunicações, todos estão sendo
absolutamente fantásticos. Nós queremos agradecer imensamente por tudo, e pedir
para que vocês nos ajudem a continuar reportando esse arquivo.
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Abraços e ótimo fim de semana
Editor Executivo
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