Ativista guineense Seco Sibibé
alerta para o desrespeito dos direitos da criança nos países lusófonos. E
aponta o trabalho infantil e o tráfico de menores para a Europa como problemas
a serem combatidos.
Os direitos das crianças
continuam a não ser devidamente respeitados nos países de língua portuguesa e
ainda não são prioridade na agenda dos governos lusófonos. É o que afirma o
jovem ativista guineense Seco Ussumane Sidibé, natural de Bafatá.
Igualmente preocupante é a
problemática do trabalho infantil e do tráfico de crianças a partir dos países
africanos para a Europa, segundo disse à DW África, em Lisboa, este dinamizador
do Fórum do Parlamento Infantil da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
cuja segunda edição terá lugar em São Tomé e Príncipe, no mês de novembro.
De acordo com o ativista, uma
grande parte das crianças dos países de língua portuguesa ainda é forçada a
trabalhar. "Tem sido uma questão que retira os direitos à educação, que
tira as crianças da escola; as crianças não têm vivido a sua infância por causa
do trabalho infantil".
Seco Sidibé, de 24 anos, nasceu
num dos países onde a situação das crianças é mais precária. Na Guiné-Bissau,
23% das crianças não vão à escola e o trabalho infantil ronda os 50%. É
precisamente a dureza destes números que tem servido de motor às suas ações
para que as crianças da lusofonia tenham uma vida digna.
Direitos em causa
Segundo o ativista, os direitos
das crianças estão em causa por não serem prioridade na agenda dos governos,
"apesar dos avanços nos países que assinaram e ratificaram a Convenção
sobre os Direitos da Criança". Mas "ainda continua a haver dificuldades
na implementação" deste documento.
"Nós, enquanto organizações
que defendem os direitos da criança, sentimos que é importante trazer as
crianças no processo dessa implementação da Convenção", explica o ativista
guineense.
Outra inquietação referida por
Seco Sidibé é a temática do tráfico de crianças dos países africanos para a
Europa, via Portugal. "Agora, com a questão do futebol, também são
falsificados até os documentos [das crianças] para elas serem exploradas aqui
[na Europa]".
Seco Sidibé também alerta para
outro caso de exploração infantil: "[há] um caso específico também na
Guiné-Bissau das crianças que são levadas para aprender o Alcorão e que depois
vão ser exploradas por mestres corânicos no Senegal. Tudo isso tem sido
preocupação".
Fórum Infanto-juvenil
Estas preocupações serão
debatidas no II Fórum Infanto-juvenil da CPLP, que terá lugar a 20 de novembro,
em São Tomé e Príncipe. O ativista guineense diz que vão ser discutidas
questões que têm a ver com o "papel da criança no processo de desenvolvimento
dos países" e ressalta que "quando nós falamos dos direitos das
criança não podemos falar deles sem ouvir a opinião ou a voz das
crianças".
Para Seco Sidibé, o Fórum é o
espaço adequado para apresentar e discutir propostas concretas a submetê-las
aos governos dos países de língua portuguesa. Uma delas prende-se com a
necessidade de formatar os registos de nascimento das crianças.
"Quando uma criança não é
registada oficialmente e o sistema de registo não é rigorosamente controlado
isso também cria vulnerabilidades na questão do tráfico. E, quando as
crianças não são protegidas pelos pais, pela família, isso cria
vulnerabilidades a favor do tráfico. E nós, nas nossas reuniões, vamos
aprofundar ainda mais esse debate e fazer propostas mais concretas para abolir
esta questão", sublinha o jovem ativista guineense.
Seco Sidibé foi presidente do
Parlamento Infantil da Guiné-Bissau (2009 a 2014) e posteriormente tornou-se
coordenador do Movimento "República di Mininus Hoje", que congrega
mais de 350 organizações juvenis e infantis. Consultor internacional da CPLP
para o Fórum do Parlamento Infanto-juvenil, Sidibé tem desenvolvido várias
iniciativas em prol dos direitos das crianças da Lusofonia. É assessor do
presidente da Assembleia Nacional Popular para Assuntos da Juventude e Criança
e estuda Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Lusófona de
Bissau.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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