JOSÉ MÁRIO VAZ QUEBRA A
“MALDIÇÃO” E CHEGA AO FIM DO MANDATO
Humberto
Monteiro* | Gazeta Notícias | editorial
José Mário Vaz dobra hoje (20.6) o cabo
do seu mandato de CINCO anos como Presidente da República da Guiné-Bissau, país
independente há sensivelmente 46 anos. Para a posteridade fica o registo
de ter sido o PRIMEIRO dos DOZE presidentes, dos quais quatro eleitos
democraticamente, a completar o mandato presidencial sem ser cerceado do cargo
por um golpe de estado ou doença.
Até aqui, a “Turpesa” (cátedra em
crioulo) da Praça dos Heróis Nacionais tem sido ocupada por políticos “eleitos
democraticamente” mas que não concluem os respectivos mandatos em conformidade
com a Constituição da República. Nino Vieira, Koumba Yalá e Malam Bacai Sanhá,
todos eleitos depois da introdução do pluralismo democrático em 1991, não
chegaram ao fim dos mandatos. Vieira em 1998 viria a ser assassinado em 2009, e
Yalá em 2013, foram afastados por golpes de estado, enquanto Bacai Sanhá foi
vitimado por uma doença.
Luís Severiano de Almeida
Cabral – O primeiro Presidente da Guiné-Bissau foi deposto, a 14 de
Novembro de 1980, por um golpe militar consumado pelo Movimento Reajustador
chefiado por Nino Vieira, então Comissário Principal (equivalente a
primeiro-ministro).
João Bernardo Vieira – De 14
Novembro de 1980 a
14 de Maio de 1984 chefiou o país, cedendo temporariamente, por dois dias, o
cargo à Carmen Pereira então presidente da ANP.
Cármen Pereira – Em Maio de
1984 chefiou o país por dois dias. Na altura era presidente da ANP.
João Bernardo Vieira – Retoma o
cargo a 16 de Maio de 1984. Continuou em funções até o conflito
político-militar liderado pelo recém-demitido chefe do Estado-Maior General das
Forças, general Ansumane Mané, que durou onze meses (7 de junho de 1998 a 7 de maio de 1999).
Malam Bacai Sanhá – Chefiou
o país até à realização da segunda volta das eleições presidenciais, em janeiro
de 2000.
Kumba Yalá – Em janeiro de
2000, então líder do Partido da Renovação Social (PRS), a maior formação
política da oposição, vence as eleições. Viria a ser deposto do cargo por um
golpe de estado três anos depois.
Veríssimo Correia Seabra – O
general dirigiu o país durante 14 dias na sequência do golpe de estado
perpetrado a 14 de setembro de 2003 pelo autoproclamado Comité Militar para a
Restituição da Ordem Constitucional e Democrática, de que era líder, que depôs
Kumba Yalá. Cumprindo os preceitos constitucionais, o General Veríssimo Correia
Seabra delegou ao empresário Henrique Pereira Rosa, a chefia do país.
Henrique Pereira Rosa –
Chefiou o país durante o período de transição que se seguiu ao golpe de estado
de setembro de 2003, que prolongou até a realização das eleições presidenciais
em junho de 2005.
João Bernardo Vieira – Seis
anos após o exílio em Portugal, regressou ao país. Sem se filiar a qualquer
partido político, em 2005 candidatou-se às presidenciais e derrotou Malam Bacai
Sanhá à segunda volta.
Raimundo Pereira – Dois dias
após o assassinato de Nino Vieira, a 2 de Março de 2009, na qualidade de
presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Chefe de Estado interino, foi
chamado a preparar, no prazo de 60 dias, as eleições presidenciais.
Malam Bacai Sanhá – Eleito
presidente em 28 de Junho de 2009, presidiu o país até a sua morte por doença a
9 de janeiro de 2012 em Paris.
Raimundo Pereira – Na
sequência do falecimento de Malam Bacai Sanhá, na qualidade de Presidente da
ANP, foi chamado a preparar, no prazo de 60 dias, as eleições presidenciais.
Chefiou o país de 9 janeiro de 2012
a 12 de abril de 2012, altura em que a transição foi
interrompida por um golpe militar.
Mamadu Turé “N’Kruma” – Como
presidente do Comando Militar, dirigiu o país na sequência do golpe militar de
12 de abril de 2012 até a outorga do poder aos civis a 11 de Maio do mesmo ano.
Manuel Serifo Nhamadjo – Em
pleno exercício como presidente da ANP, na sequência do golpe de estado foi
indigitado Presidente da República de Transição de 11 de Maio a 22 de Junho de
2014.
Dirigiu o período de transição
que se seguiu ao golpe de estado de 12 de Abril de 2012, a partir de 11 de
Maio de 2012, que se prolongou até a realização das eleições gerais em 2014,
cujas legislativas foram vencidas pelo PAIGC e as presidenciais por José Mário
Vaz que foi investido ao novo cargo em 23 de Junho de 2014.
José Mário Vaz – Cujo
mandato finda hoje foi eleito, com o apoio do PAIGC, à segunda vota das
eleições presidenciais realizadas a 18 de Maio de 2014, tendo sido investido ao
cargo de Presidente da República em 23 de Junho de 2014.
Como se pode observar a maioria
dos Presidentes da Guiné-Bissau presidiu o país de forma INTERINA. Dos 12
(doze) presidentes que passaram pela “TURPESA” da Praça dos Heróis Nacionais,
apenas QUATRO FORAM ELEITOS diretamente em eleições pluralistas livres justas e
transparentes – João Bernardo Vieira, Kumba Yala, Malam Bacai Sanhá e José
Mário Vaz.
Nunca uma presidência ganha em
eleições pluralistas chegou ao fim. “Nino” Vieira venceu as presidenciais de
1994 e foi derrubado no conflito militar de 1998/99, Kumba Ialá venceu as
eleições de 2000 e foi afastado três anos depois e, novamente, Nino Vieira,
eleito em 2005, após seis anos de exílio em Portugal, foi violentamente assassinado
em 2009.
Agora que o elo da “maldição” foi
quebrado os guineenses torcem para que os presidentes próximos cheguem ao fim
do mandato sem serem apeados por qualquer golpe que signifique alteração da
ordem constitucional e democrática.
*Gazeta Notícias | editorial
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