O secretário-geral do PCP,
Jerónimo de Sousa, defendeu hoje que o PS "não mudou" e alertou que,
se os socialistas tiverem "as mãos completamente livres", haverá
riscos de retrocessos nos direitos conquistados na atual legislatura.
"O PS não mudou, não alterou
a sua natureza nem o seu vínculo à política de direita. O PS que vimos nesta
nova fase da vida política nacional é um PS moldado às circunstâncias,
onde pesou uma nova correlação de forças na Assembleia da República e, particularmente,
a ação e intervenção do PCP e da CDU", defendeu
hoje o líder comunista, num comício em Queluz (Sintra).
Para Jerónimo de Sousa, "é
dessas circunstâncias que o PS se quer libertar para regressar sem
condicionamentos à política que ao longo de mais de 40 anos executou",
apontando o Programa de Estabilidade recentemente apresentado para o confirmar.
"Não será pelas mãos do PS
que o caminho da defesa e avanço na conquista de direitos prosseguirá, fica
mesmo evidente que, se o PS tiver as mãos completamente livres, o que foi
alcançado corre o risco sério de andar para trás", avisou.
Jerónimo de Sousa referiu ainda
que foi "na convergência com PSD e CDS que o PS
encontrou apoio para todas as medidas contrárias aos interesses do povo e do
país", dando como exemplos "os milhões concedidos à banca" ou o
que chamou de "falso programa de descentralização autárquica".
"O PS não hesitará, se tiver
condições para tal, em colocar as imposições e constrangimentos da União
Europeia à frente das respostas aos trabalhadores e ao povo", disse,
acusando o primeiro-ministro, António Costa, de usar "os mesmos
argumentos, as mesmas justificações de Passos e Portas", referindo-se os
anteriores líderes de PSD e CDS-PP que governaram o país entre
2011 e 2015.
O líder comunista considerou que
as legislativas do próximo dia 06 de outubro serão "o momento
decisivo para determinar o rumo da vida política nacional para os próximos
anos" e referiu-se aos resultados negativos do partido nas europeias como
"sinal de alerta" para a escolha a fazer nas próximas eleições.
"Os resultados das últimas
eleições para o Parlamento Europeu devem constituir um sinal de alerta para
todos quantos têm nas suas mãos o poder de decidir: se querem, com o reforço
da CDU, fazer avançar o país e as suas vidas ou se querem correr o risco
de perder o que se alcançou em direitos, salários e pensões e reformas",
alertou.
Reconhecendo que os resultados
das eleições europeias de há uma semana ficaram "aquém" das
expectativas e do trabalho dos eleitos da CDU -- a
coligação PCP/PEV foi a quarta força política, com 6,88% dos votos, e
perdeu um eurodeputado -, Jerónimo de Sousa voltou a
atribuí-los a uma "vasta e calculada campanha anticomunista"
alimentada por "uma certa comunicação social".
"Desenganem-se os agoirentos
do costume e os coveiros encartados que há anos anunciam o fim
do PCP", disse, reiterando que os comunistas partem para as eleições
de outubro com "determinação e confiança".
Apesar das críticas ao PS,
Jerónimo de Sousa elencou o que classificou de "importantes
avanços" alcançados na atual legislatura -- em que o PCP,
tal como BE e PEV, assinou uma posição conjunta que permitiu viabilizar um
governo minoritário socialista.
"Quantos há três anos e meio
julgariam que estes avanços eram possíveis?", questionou, referindo-se, em
particular, à gratuitidade dos manuais escolares até ao 12.º ano e ao
alargamento e redução dos passes sociais.
O líder comunista contrapôs,
contudo, que há ainda muitos problemas por resolver.
"Por muito que o PS e o seu
Governo queiram mostrar que encontraram a fórmula da solução da quadratura do
círculo -- ou seja, a compatibilização do cumprimento de ditames europeus com a
solução de problemas nacionais -- aí está para o desmentir a degradação dos
serviços públicos de transporte, a degradação do serviço Nacional de Saúde, da
Segurança Social", criticou.
Lusa | Notícias ao Minuto
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