Investigadora especial das Nações
Unidas, Agnes Callamard, diz que jornalista foi vítima de "uma execução
deliberada, premeditada" e que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin
Salman, deve ser alvo de sanções até conseguir provar que não teve qualquer responsabilidade.
As provas indicam que o príncipe
herdeiro da Arábia Saudita, o príncipe Mohammed bin Salman, assim como outros
altos responsáveis sauditas, estão envolvidos na morte do jornalista Jamal
Khashoggi, segundo o relatório da investigadora especial das Nações Unidas que
foi revelado esta quarta-feira.
Agnes Callamard, investigadora
especial para as execuções extrajudiciais, pede para que a comunidade
internacional alargue as suas sanções ao príncipe herdeiro e aos seus bens
pessoais até ele poder provar que não teve qualquer responsabilidade na morte
de Khashoggi, em outubro de 2018, no consulado saudita em Istambul.
O reino saudita tem sempre negado
o envolvimento do príncipe, alegando que a morte do jornalista resultou de uma
operação não sancionada pelas autoridades e que Bin Salman não sabia de nada.
"As provas apontam para que
a missão de 15 pessoas para executar Khashoggi precisava de coordenação,
recursos e financiamento governamental significativos", segundo Callamard. "Apesar de o governo saudita alegar que estes recursos foram
disponibilizados por Ahmed Asiri, todos os peritos consultados dizem ser
inconcebível que uma operação desta escala possa ter sido implementada sem o
príncipe herdeiro saber, no mínimo, que uma qualquer missão de natureza
criminosa, dirigida contra Khashoggi, estava a ser lançada", acrescenta o
relatório.
"Não há conclusões quanto à
sua culpa", indica o relatório em relação tanto a Bin Salman como ao
conselheiro Saud Alqahtani. "A única conclusão feita é que existem provas
credíveis que merecem uma investigação mais aprofundada por autoridades
competentes, sobre se o limite de responsabilidade criminal foi atingido",
acrescenta. Callamard defende que o secretário-geral da ONU, António Guterres,
deve lançar um inquérito penal internacional sobre a morte do jornalista
saudita.
Khashoggi, crítico do príncipe
herdeiro e colunista do The Washington Post, foi visto pela última
vez a entrar no consulado a 2 de outubro, onde tinha ido levantar uma declaração
que lhe permitiria voltar a casar. O seu corpo foi desmembrado e retirado do
edifício, nunca tendo sido encontrado.
"A conclusão da
investigadora especial é que Khashoggi foi vítima de uma execução deliberada,
premeditada, de uma morte extrajudicial pela qual o Estado da Arábia Saudita é
responsável sob as leis dos direitos humanos internacionais", disse
Callamard no relatório de mais de cem páginas, publicado após seis meses de
investigação.
O relatório parte das gravações
das conversas no interior do consulado de Istambul na altura da morte do
jornalista, que foi confrontado por oficiais sauditas. Segundo o documento,
Khashoggi "pode ter sido injetado com um sedativo e depois sufocado com um
saco de plástico".
A investigadora fala contudo nos
entraves ao seu trabalho, lembrando que só recebeu 45 minutos de áudio do
interior do consulado, quando os serviços secretos turcos falaram na existência
de sete horas de gravações. Além disso, não foi autorizada a viajar para a
Arábia Saudita.
Susana Salvador | Diário de Notícias
Na foto: O príncipe herdeiro
saudita | Reuters // Waleed Ali
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